Bernardo Ramos

Estudante de Economia. Realiza pesquisa na área de Renda Fixa & Estratégia Macro para o Clube de Finanças. Presidente da organização no ano de 2019. linkedin.com/in/bernardosteinbach/
Estudante de Economia. Realiza pesquisa na área de Renda Fixa & Estratégia Macro para o Clube de Finanças. Presidente da organização no ano de 2019. linkedin.com/in/bernardosteinbach/
Prêmio de Risco na Curva de Juros: Caso Brasileiro

Prêmio de Risco na Curva de Juros: Caso Brasileiro

Introdução

A curva de juros é uma fonte inestimável de informações para os bancos centrais e demais agentes do mercado, visto que possibilita um feedback instantâneo e a compreensão das expectativas do mercado em resposta a mudanças nas condições econômicas. Para uma melhor compreensão da Estrutura a termo das taxas de juros (ETTJ) devemos separar expectativas para taxas de juros futuros e prêmio de risco. Em termos gerais, esse prêmio é uma ”taxa” extra exigida para compensar o risco de determinado investimento. Todavia, este, não é diretamente observável, sendo necessário estimá-lo com base em um modelo que decomponha a ETTJ, separando o que é expectativa futura da taxa de juros e prêmio de risco. Para o Brasil, expectativa futura da taxa de juros pode ser assimilada como o nível esperado para a taxa Selic no futuro

Este artigo procura abordar os conceitos centrais sobre prêmio de risco na curva de juros e algumas das principais teorias que o cercam. São abordadas ligeiramente técnicas para construir uma série para o prêmio. Posteriormente, utilizando o estudo Buratto  (2017) e Kim e Orphanides (2005) a curva de juros é decomposta através do método de pesquisa das expectativas do mercado sobre a trajetória dos juros. Desta forma, obtém-se a série do prêmio de risco na curva de juros brasileira. Tendo em vista que decompor a ETTJ através de pesquisa das expectativas dos agentes de mercado é uma técnica simples e condizente com as condições históricas da curva brasileira.

Como já mencionado, quando decompomos a curva de juros obtemos duas principais curvas: a de expectativa futura dos juros e a curva que apreça a incerteza futura. Fazer esta decomposição está longe de ser um consenso e, no geral, não é tão simples quanto parece. Algumas teorias e modelos tentam explicar e distinguir estes dois conceitos, mas vale lembrar que há relativamente pouca consonância sobre as propriedades empíricas do prêmio de risco. Como podemos observar, logo abaixo, a existência de múltiplas hipóteses. Valls e Marçal (2007) trazem a tona uma ilustração sobre os tipos de modelagem para o prêmio, visto em Curthbertson e Nitzsche (2005, p. 494-498), são eles:

  1. Hipóteses de Expectativas Puras: nesta versão o prêmio exigido é igual a zero, assumindo neutralidade ao risco dos agente e a ausência de oportunidades de arbitragem;
  2. Hipótese de Expectativas com Prêmio pelo Prazo (forma fraca): nesta versão o prêmio é dependente apenas do prazo de maturidade, o que explica o formato da curva ser em geral positivamente inclinado, mas constante ao longo do tempo;
  3. Hipótese do prêmio de risco variante no tempo: o prêmio exigido pelos agentes não depende apenas da maturidade, mas também de outros fatores como tamanho da incerteza futura, risco da taxa de juros, ciclos econômicos, risco país, habitat preferido e etc.; 
  4. Hipótese de segmentação de mercado: o valor dos ativos depende de alguma forma do estoque disponível dos mesmos e isso tem influência nos prêmios.

Conceitos e Teorias:

Hipótese das Expectativas

A teoria básica da ETTJ é a Hipótese das Expectativas (HE), abordada primeiramente por Irving Fisher (1896). Assume que os agentes são neutros ao risco e que não há oportunidades de arbitragem, assim propõe que as taxas de juros de longo prazo são formadas pela média das expectativas em relação às taxas de curto prazo futuras. Dessa forma, todas as mudanças na curva de juros são atribuídas a choques nas expectativas dos agentes de mercado. Não há prêmio.

Entretanto, em sua forma fraca, a HE assume que há um prêmio dependente do prazo de maturidade, explicando, assim, o formato da curva “normal” ser positivamente inclinada e o prêmio constante ao longo do tempo. Há, também, uma expectativa que a economia vá reagindo a esta taxa de juros e gerando uma maior inflação, sendo necessário um aumento de juros para contê-la, mas não entraremos nesse mérito.

Embora a HE possibilite uma maneira simples e intuitiva de interpretação da curva de juros e tenha um importante papel em diversos modelos macroeconômicos, é amplamente aceita na literatura¹ como insuficiente para explicar mudanças na ETTJ da maioria dos países. ¹(ver Friedman (1979), Fama e Bliss (1987), Froot (1989), Campbell e Shiller (1991), Gravelle e Morley (2005), Cochrane e Piazzesi (2005), Wright (2011), Joslin et al. (2014)).

Uma forte crítica à HE é que ela ignora a aversão a risco dos investidores. A menos que um investidor compre um título de longo prazo pensando em levá-lo até o vencimento, o retorno nominal é incerto (marcação a mercado), sendo natural que o investidor exija um prêmio para compensar esse risco, segundo Hugo Takimoto (2016). Destaca, ainda, que o prêmio pode variar de acordo com o tamanho do risco percebido. Logo, é natural supor que o prêmio varie no tempo conforme muda a percepção da incerteza sobre inflação, ciclos econômicos, política monetária, liquidez dos ativos, fluxos internacionais, habitats preferidos etc.

Hipótese de Preferência por Habitat

Outra teoria que também diz respeito a curva de juros é a Hipótese de Preferência por Habitat. Em resumo, essa hipótese destaca a tendência de agentes de mercado preferirem demandar títulos em vértices específicos da curva. Desta forma, amassa o prêmio naquele vértice, em outras palavras, uma demanda maior por uma determinada maturidade afeta negativamente a taxa de juros dele. Concluindo que a oferta vs demanda por títulos de determinado vencimento tem um papel importante na explicação do prêmio de risco. Geralmente, tal hipótese pode ser vista em conjunto com outras teorias sobre este assunto. Swanson (2007), exemplifica o caso dos fundos de pensão, que atuam no longuíssimo prazo e podem estar dispostos a aceitar um prêmio menor (ou até negativo) para não terem a necessidade de rolagem de seus investimentos. Dessa forma tentam evitar o risco das taxas de juros flutuarem nos próximos períodos, pois já vão estar posicionados. Posteriormente, Swanson (2011), chega em conclusões similares quando observa a Operação Twist (trocas de títulos de curto prazo por títulos de longo prazo na carteira do Banco Central dos Estados Unidos) cujo objetivo é diminuir as taxas de juros dos títulos de longo prazo e, dessa forma, estimular a economia.

Hipótese do Prêmio de Risco Variante no Tempo

A literatura moderna sobre a ETTJ fornece maneiras alternativas para extrair o prêmio de risco da curva de juros e ainda justificar as falhas da HE. A Hipótese do Prêmio de Risco Variante no Tempo tem o nome autoexplicativo e dita o tom das pesquisas e estudos que estão a seguir:

Os primeiros estudos sobre a variabilidade do prêmio de risco ao longo tempo eram modelos puramente estatísticos
estruturados com base em regressões lineares dos principais componentes da curva: Fama e Bliss (1987), Campbell e Shiller (1991) e Cochrane e Piazzesi (2005).

O modelo de Fama e Bliss (1987) tem o objetivo de verificar se a taxa forward carrega informações sobre retornos em excesso, para isso utilizam treasuries com maturidades de um a cinco anos e comparam com taxas forward de mesma maturidade. A principal conclusão dos autores foi que há retornos em excesso e que variam ao longo do tempo. 

*Retornos em excesso: Fama e Bliss utilizam essa nomenclatura, é sinônimo de prêmio de risco. Retornos que excedem as expectativas, ou ainda, retornos extras que apreçam os risco.

**Taxa forward: como ilustrado na figura abaixo, a taxa spot, simplificadamente, é o retorno que um título possui no momento t0 (hoje) com vencimento daqui a 504 dias. A taxa Forward, por exemplo, é o retorno que um título possuí hoje para compra daqui a 252 dias com vencimento de 504 dias após a compra. Para saber mais sobre taxa forward (pag 8)

TXforward vs Txspot

Campbell e Shiller (1991) testaram se a inclinação da curva de juros pode prever mudanças futuras nas taxas de juros. Principal conclusão foi rejeitar a HE. Cochrane e Piazzesi (2005) utilizando os mesmos dados de Fama e Bliss (1987) rodam-os em outros modelos. Em suma, chegam na conclusão de que combinações lineares de taxas forward tem capacidade de antecipar os retornos em excesso de títulos de todas as maturidades e intitulam essas combinações lineares de “Fator de previsão de retorno”.

Ao mesmo tempo foram vindo à tona modelos de “não arbitragem” que mostraram ser eficientes para a decomposição da curva em mercados maduros e são utilizados até hoje. Tais modelos são similares ao de Fama e Bliss (1987), utilizam os principais componentes da ETTJ (nível, inclinação e curvatura) para tentar explicar este prêmio. No entanto partem da imposição de não arbitragem entre títulos de mesmo risco/maturidade, assim como a HE.

Essa imposição impede que um título de vencimento em um ano tenha um retorno diferente da combinação de dois títulos de seis meses onde o segundo é comprado logo após o vencimento do primeiro, por exemplo. 

A condição de não arbitragem restringe o modo que os retornos dos títulos de diferentes vencimentos podem se mover em relação ao outro, facilitando a formulação dinâmica para a curva inteira. E assim, extrair o prêmio embutido na curva torna-se um processo um pouco mais assertivo, segundo Buratto (2017).

Dentro dessa classe de modelos, merecem destaques os modelos Gaussianos do tipo Afim. Vale ressaltar que alguns desses modelos utilizam apenas os retornos dos títulos e variáveis obtidas através da interpretação da curva, como o modelo ACM (2013). Outros incluem dados de cross-section como o modelo de Kim e Wright (2005). Ainda, podem ser vistos modelos com variáveis macroeconômicas embutidas para extrair o prêmio.

Ainda sobre o prêmio de risco variante no tempo, temos uma abordagem alternativa que foge dos modelos puramente estatísticos e de não arbitragem. Essa abordagem procura captar as expectativas futuras de variáveis econômicas dos agentes de mercado através de pesquisas. Exemplo de pesquisas são o Boletim FOCUS (Brasil) e U.S Survey of Professional Forecasters (EUA). A lógica para a decomposição da curva é simples, o prêmio de risco é a diferença entre os rendimentos observados na curva de juros e as expectativas dos agentes para as taxas de juros.


➧ Onde  é o prêmio de risco observado na taxa de juros de mercado acumulada do período j até o período T, no momento t.
➧  é a taxa de juros acumulada do período j até o período T, no momento t.
é a expectativa do mercado para a taxa de juros de curto prazo do período j até o período T, no momento t. 

Wright (2011) realizou um estudo para mercados maduros utilizando dados de expectativas de pesquisas com agentes de mercado e outro em paralelo através do modelo de ETTJ Afim. Sua conclusão mais relevante foi que o prêmio de risco correlaciona positivamente com medidas de incerteza da inflação.

Crump (2016) utiliza uma abordagem com pesquisa e busca encontrar o prêmio de risco na ETTJ americana. Conclui que: 1. Oferta, demanda e outros fatores macroeconômicos desempenham um papel importante para compreender os prêmios. 2. A queda na inflação esperada é a maior responsável pela diminuição das taxas de médio e longo prazo, quando observamos um período grande. 3. Em boa parte dos casos a flutuação na parte intermediária e longa da curva é relacionada a variação no prêmio de risco.

Para o caso brasileiro podemos dizer que não é muito similar ao de países desenvolvidos (mercados maduros). Os históricos inflacionários foram recém estabilizados e o mercado de juros, apesar de uma grande liquidez, ainda é muito recente. Ainda, compreende profundos choques com política monetária em períodos de crise interna e externa, resultando em juros nominais altos e quebras estruturais na série histórica dos juros.

Portanto, a literatura sobre a decomposição da ETTJ para o caso brasileiro é ainda limitada a testar a hipótese das expectativas ou em tentativas de entender a dinâmica das altas taxas de juros nominais. Na maioria a HE é considerada como insuficiente para o caso brasileiro (Tabak e Andrade (2001), Brito et al. (2004), Fortunato (2006), Marçal e Valls (2007) e Guillen e Tabak (2009)).

Algumas conclusões para a ETTJ brasileira

Favero e Giavazzi (2002) concluíram, através da regra de Taylor (1993), que grande parte da taxa de juros ser elevada é devido a um alto prêmio de risco exigido pelos agentes e não a uma expectativa de alta nas taxas de juros de curto prazo.
Ganem e Baidya (2011) vão além e apontam que o prêmio de risco brasileiro é consequência do seu histórico de combate de crises através de choques positivos de juros para evitar a fuga de capitais, o que faz com que agentes do mercado demandem uma gordura extra (prêmio maior) para carregar títulos brasileiros.

Em outros estudos, são vistos que os determinantes para o prêmio de risco brasileiro é o nível de solvência do governo, oferta de títulos, liquidez internacional, composição da dívida, volatilidade da inflação e histórico de calotes (ver em Segura-Ubiergo (2012); Jaeger (2012); Guillen e Tabak (2009); Loureiro e De Holanda (2004)).

Colocando em prática

Visto que há quebras estruturais nas séries temporais de juros brasileiras, existe uma incerteza ainda maior na hora de usar modelos puramente estatísticos para decompor a curva.

Encorajado por estas conclusões e na tentativa de explorar mais a Hipótese do Prêmio de Risco Variante no Tempo, construiu-se a série do prêmio de risco para o Brasil através da modelagem de pesquisa. Foi utilizado o Boletim FOCUS para traçar a curva de expectativa e contratos futuros de DI como referência para curva de juros.

A base inicial de dados foi composta por observações diárias da curva de juros à vista e da curva de expectativas dos agentes de mercado entre 28/06/2017 e 21/06/2019. Período de 2 anos. Após certa normalização de um evento atípico nos mercados brasileiros em 17/05/2017, conhecido como “Joesley Day”.

Para a curva de juros à vista, a escolha foi o mercado futuro de DI. Entendo ter algumas vantagens sobre os outros mercados, como por exemplo LTNs e Swaps, pois é o mercado mais líquido em termos de volume e horizonte. Um obstáculo encontrado foi que em alguns vértices não há nenhuma ou quase nenhuma negociação, sendo assim estes foram excluídos da base de dados. Restou, em média, 30 contratos diários utilizados a preço de fechamento. Abaixo, o gráfico de evolução da curva à vista. Interpoladas exponencialmente – explicação do motivo de adoção deste método de interpolação é encontrado logo abaixo.

Como descrito em parágrafos anteriores, o prêmio de risco não é diretamente observável e para estimá-lo recorremos a pesquisas de expectativas do mercado sobre a trajetória da taxa básica de juros da economia (Selic), representando a taxa de curtíssimo prazo. Para a construção desta curva os dados foram extraídos do Boletim FOCUS, obtidos diariamente no Sistema Gerenciador de Séries Temporais do Banco Central Brasileiro. A coleta da FOCUS compreende tanto expectativas para Selic nos próximos 16 meses com dados de fim de cada mês e expectativas da Selic para os próximos 5 anos com dados de fim do ano. Compilando essas duas séries de dados e retirando os dados conflitantes, obtém-se, em média, 20 observações diárias. Cerca de 75% delas estão até 16 meses.
Ao longo da construção do modelo foi utilizado duas principais interpolações: Cubic Spline e Exponencial. É visto na literatura que elas têm vantagens significativa em comparação com outros tipos de interpolações. Principalmente a interpolação cúbica (C-Spline) que apresenta curvas suaves, sendo uma das principais exigências para a interpolação da curva de juros.

No método exponencial ou log linear (mesmos resultados apenas há variações na metodologia e cálculo) também obtivemos curvas com partes côncavas e convexas entre vértices, mas nos vértices ela forma pontas que são indesejáveis para uma boa interpolação. Mesmo assim ela atende a maioria das exigências para o construção da ETTJ.

Já o método cúbico é a forma mais bela visualmente, onde é resolvida por um sistema de equações que envolvem a curvatura, inclinação e continuidade. O ponto fraco é que os vértices do começo da curva influenciam significativamente os pontos mais distantes.
É amplamente difundido estes dois métodos no mercado financeiro brasileiro, porém no nosso caso preferimos interpolar pelo método exponencial por apresentar resultados, empiricamente, mais coerentes com as observações diárias. Isto porque 75% dos dados de pesquisa do FOCUS ficam bem no começo da curva, influenciando demasiadamente os valores no restante da ETTJ, resultando em anomalias na curva. Abaixo uma ilustração de alguns métodos de interpolação.
Então, através da equação de decomposição da curva (diferença entre os dados do FOCUS e os dados do DI futuro), foi elaborada as séries diárias do prêmio de risco da curva brasileira. O horizonte de tempo, do Boletim FOCUS, tem certas limitações. Desse modo, as séries de maturidade constantes são de 12, 24, 36, 48 e 60 meses (252, 504, 756, 1008 e 1260 dias úteis respectivamente). Abaixo as séries de maturidade constante do prêmio de risco no mercado brasileiro:
Desde do final de 2015 vem sendo feito afrouxamentos monetários na economia brasileira. Saímos de um juros nominal de 14,25% para atuais 5,5%, uma mínima histórica. De modo geral o prêmio de risco tem um comportamento anticíclico: em um momento de otimismo o investidor exige um prêmio menor do que em momentos de incerteza sobre o futuro da economia.

Podemos ver uma dependência da percepção dos agentes em relação a condução da política monetária (PM). Segundos as observações, o prêmio de risco na barriga da curva (24, 36 e 48 meses) apresenta valores negativos em quase todo segundo trimestre de 2019, conflitante com a teoria de que os agentes demandam um prêmio positivo para se expor ao risco da incerteza futura.

No gráfico abaixo, a série verde escura é a curva de expectativa com prazo de 4 anos (eixo esquerdo) e a curva verde clara é a do prêmio de risco de 4 anos (eixo direito). A partir das observações podemos ver que a curva de juros formada pelos contratos de DI oscila mais do que a curva formada pelas expectativas. Desta forma a terceira conclusão de Crump (2012) se aproxima das observações deste modelo, diz que em boa parte dos casos a flutuação na parte intermediária e longa da curva tem relação com variações no prêmio e não na expectativa. Dado que o nível de prêmio exigido pode variar conforme o tamanho do risco percebido no mercado. A curva de expectativa da taxa de juros com maturidade constante em 252 dias úteis (azul) é ilustrada apenas a fim de comparação.

No melhor dos mundos, a ideia de encontrar um valor justo do prêmio de risco em determinado momento no tempo e fazer decisões de investimentos baseada nisso, é tentadora. A realidade é que cada metodologia para decomposição da curva de juros pode trazer um valor diferente. Swanson (2007) roda alguns modelos de extração do prêmio implícito e observa estimativas diferentes para cada um dos modelos rodados, como podemos observar na imagem abaixo.

Por fim, observamos que o enfoque dos mais recentes trabalhos é encontrar variáveis que ajudem a explicar o comportamento do prêmio de risco implícito na ETTJ. Com o amadurecimento do mercado brasileiro é esperado estudos mais profundos e conclusões mais robustas acerca deste assunto.

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Carta de Conjuntura Mensal Setembro 2019

Carta de Conjuntura Mensal Setembro 2019

Comentário Macroeconômico Mundial

O cenário global viu mais uma vez a escalada de tensões da guerra comercial na terceira semana de agosto. Dessa vez, a China anunciou novas tarifas de 5-10% sobre $75 bilhões em produtos americanos, com retaliação dos EUA no dia seguinte, que anunciou o aumento de 25% para 30% em $250 bilhões em produtos chineses. Contudo, buscando acalmar o cenário antes das próximas negociações entre os países em outubro, Trump adiou a imposição das tarifas anunciadas e, em resposta, a China isentou 16 categorias de produtos de tarifas extras. Observamos que, embora a atitude dos países demonstre uma posição mais flexível, continuamos não esperando uma solução para este problema em um curto horizonte de tempo.

As consequências negativas da guerra comercial na economia chinesa mostram-se ainda mais evidentes neste mês, com a queda de 0,8% do índice de preços ao produtor (PPI), o que contabilizou a pior contração ano a ano desde 2016. Esse dado fez a Fitch revisar a projeção de crescimento da China para 6,1% neste ano e 5,7% em 2020.

Somando-se a isso, um cenário conturbado a respeito do desenvolvimento da saída do Reino Unido da União Européia representa outro ponto de estresse para o crescimento da economia global. O primeiro ministro do RU, Boris Johnson, demonstra um forte viés para o acontecimento do Brexit, independente se este for feito sem acordo algum com a UE. Segundo Johnson, de um jeito ou de outro o RU vai sairá no dia 31 de outubro deste ano. Avaliamos que um “no-deal Brexit” seria prejudicial para a economia global, pois acarretaria no término do comércio livre da circulação de bens que os membros da UE gozam, havendo uma desvalorização da Libra. Esta queda na moeda do país causaria uma contração significativa em exportações de outros países para o RU, como os EUA, causando um impacto ainda maior na desaceleração global.

Outro ponto de destaque foi o maior grau de incertezas na conjuntura política da Argentina. O resultado das eleições primárias colocou em evidências um favoritismo pelo sucessor de Kirchner, Alberto Fernández, o que assustou investidores e acarretou uma venda massiva de ativos argentinos, desvalorizando a moeda do país em 30% em um único dia e aumentando o CDS do país para níveis não vistos desde agosto de 2016. Para tentar estabilizar o peso, o governo limitou o quanto de ativos em dólar os bancos podem ter em seu balanço. Tal medida estabilizou um pouco a situação. porém avaliamos como sendo algo provisório sem muita efetividade no longo prazo.

Em resposta a essa onda de complicações na Argentina no último mês, o FMI considerou atrasar o próximo pagamento de 5,4 bilhões dos 57 bilhões de dólares advindos do pacote de ajuda negociado com o país, até que sua situação política mostre-se mais estável. Entendemos que o pagamento por parte do FMI será postergado até os resultados eleitorais, que serão divulgados dia 27 de outubro deste ano.

Por fim, durante o mês de agosto, os dados referentes a economia global começaram a refletir todas as incertezas e o risco que observamos nos últimos meses. A zona do euro, em específico, cresceu apenas 0,2% no último trimestre, contra 0.4% do primeiro quarto deste ano. Essa desaceleração foi atribuída a queda do comércio e estagnação das exportações. Além disso, a Alemanha, que já demonstrava enfraquecimento da indústria, apresentou contração de 0,1% no PIB e pode entrar em recessão técnica no próximo trimestre. Como resposta, o BCE lançou uma nova onda de estímulos para a zona do euro, cortando as taxas de juros para -0.5% e o anunciando uma nova rodada de quantitative easing. Entendemos que esse cenário evidencia a aversão à riscos do mercado e que ele não deve ser revertido enquanto não forem encontradas soluções para o Brexit e a trade war.

Comentário Macroeconômico Brasileiro

A principal agenda de reforma do Brasil segue com tramitação dentro do legislativo, vide a aprovação da Reforma da Previdência na Câmara, a entrega do parecer da Reforma pelo relator Tasso Jereissati na CCJ do Senado e o andamento da PEC paralela para inclusão de estados e municípios, também nessa última Casa Legislativa. Mantemos a nossa expectativa de que o texto não sofrerá grandes desidratações no Senado, nem retornará à Câmara e que a promulgação pelo Congresso Nacional aconteça entre o final de setembro e início de outubro. Adicionalmente, entendemos que a aprovação da PEC paralela é um fator muito importante para a economia brasileira no longo prazo, visto a necessidade do Tesouro Nacional financiar as esferas municipais e estaduais.

Dentro do executivo, discussões acerca da Reforma Tributária continuam no Ministério da Economia, o qual busca alternativas para contornar a pequena discricionariedade dos recursos públicos e por consequência o estrangulamento das contas públicas. Durante o último mês (agosto), destacamos o resultado acima do esperado para o PIB do segundo trimestre (0,4% na comparação com o trimestre anterior frente a expectativa de 0,2%) o que fornece indícios de recuperação na economia. Também, destacamos o cenário perene na política monetária, com atividade econômica abaixo da expectativa observada no início do ano e inflação controlada, fatores que, aliados ao contexto de afrouxamento monetário no cenário internacional, contribuem para a manutenção da nossa expectativa de duas reduções de 50 bps na taxa Selic até o final do ano, com o primeiro corte na próxima reunião do Copom nos dias 17 e 18 de setembro.

Outro ponto que corrobora positivamente para o Brasil é a agenda de privatizações do governo, que aos poucos vem se desfazendo de alguns ativos – como exemplo a venda do controle da BR Distribuidora pela Petrobras no valor total de R$ 9,6 bilhões. Entendemos, também, que a saída de Marcos Cintra na Receita Federal alivia as tensões acerca de uma nova CPMF, o que, ao nosso ver, traria um problema – principalmente com desbancarização e aumento da informalidade – à economia brasileira para o longo prazo.

Conforme citado anteriormente, o PIB brasileiro no segundo trimestre de 2019 avançou 0,4% em relação ao trimestre anterior e 1,02% na comparação interanual, de acordo com dados do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais divulgados pelo IBGE ao final do mês de agosto. Entendemos que, a despeito de uma expansão ainda lenta na atividade econômica em 2019, o crescimento entre o primeiro e o segundo trimestre do ano foi superior ao observado na taxa de variação do PIB no primeiro trimestre de 2019 e quarto trimestre de 2018, quando a economia brasileira permaneceu praticamente estagnada, com decréscimo de 0,12% e crescimento de 0,12%, respectivamente. Ao observar a variação do PIB pelos seus componentes de demanda, percebemos que a formação bruta de capital fixo (FBCF) apresentou oscilação significativa no segundo semestre de 2019, com crescimento de 5,27% na comparação interanual (variação do índice com ajuste sazonal) . Sendo a FBCF um dos componentes do Investimento, entendemos a variação como uma sinalização do aumento deste importante elemento do PIB.

Ademais, um fator que reforça nossa opinião é o indicador mensal de Formação Bruta de Capital Fixo calculado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Segundo o Instituto, componentes da FBCF como o Consumo Aparente de Máquinas e Equipamentos e Construção Civil avançaram 8,46% e 2,26% no trimestre (variação do índice com ajuste sazonal) na comparação com o mesmo período em 2018.

O crescimento da economia brasileira no segundo semestre também foi acompanhado de ajustes nas expectativas de crescimento do PIB em 2019. As últimas estatísticas divulgadas no Relatório Focus mostraram maior otimismo do mercado, com a mediana das previsões passando de 0,82% no final de julho para 0,87% ao final de agosto e setembro.

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Carta de Conjuntura Mensal Agosto 2019

Carta de Conjuntura Mensal Agosto 2019

Conjuntura Internacional
No contexto da Guerra Comercial, o começo de agosto trouxe ainda mais incerteza ao mercado internacional. A escalada de tensões ocorreu em razão do anúncio por parte dos EUA, no dia primeiro, de que seriam impostas tarifas de 10% sobre outros $300 bilhões de produtos chineses, efetivamente taxando todas as mercadorias importadas. Tal movimento agitou o mercado, que esperava que a trégua anunciada por ambas as partes na reunião do G20 em junho contivesse o conflito e o levasse a um possível acordo. Consequentemente, esperamos que a disputa comercial não se resolva em um curto horizonte de tempo, podendo se estender até 2020, ano das eleições americanas.

Nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia foram as mais afetadas pela guerra comercial, devido ao setor de produção de muitas dessas companhias estar fortemente atrelado ao mercado chinês. O segmento liderou as perdas dentro do índice S&P 500 com baixa de 1,25%. Impulsionado pelos resultados negativos do setor, o S&P fechou em queda de 0,46% na última semana.

Um outro lado desse conflito internacional que recebeu destaque no começo deste mês, foi a queda do Yuan chinês para os valores mais baixos desde a crise econômica de 2008. Esse movimento, muito atrelado às tensões do comércio global, fez com que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusasse oficialmente a China de manipulação cambial. O motivo por trás dessa ação é que, mantendo a taxa de câmbio mais baixa, a potência asiática permanece competitiva mesmo com as novas tarifas anunciadas. Assim sendo, entendemos esse episódio como mais um catalisador de estresse na economia mundial.

Acerca da última reunião do Federal Reserve, nos dias 30 e 31 de julho, ocorreu um corte de 25 bps do Fed funds rate, menor que a expectativa média do mercado. Jerome Powell justificou o corte de juros como sendo um ajuste preventivo. Entendemos que as decisões subsequentes do Fed neste segundo semestre estarão atreladas fortemente a evolução da relação comercial entre os EUA e China.

Avaliamos, no entanto, que o Fed não possui muito espaço para cortar juros, com o intuito de “guardar munição” para uma situação econômica mais crítica, considerando principalmente o aumento da probabilidade de uma recessão. Além disso, a imprevisibilidade da trade war está trazendo incertezas para os mercados globais, aumentando a aversão ao risco do mercado. Com este cenário, houve uma fuga de capital para ativos notoriamente seguros, diminuindo, então, os juros em Treasury de 10 anos para 1,7% a.a, e os juros dos Bunds (títulos alemães) de 10 anos para -0.567% a.a. Isso elevou também o fluxo de capital para ativos com juros negativos, que atingiram o seu maior volume na história.

Identificamos também a possibilidade dos EUA desvalorizarem a sua moeda artificialmente, após falas do presidente Donald Trump sobre os benefícios que tal ação traria para o país. No entanto, para o curto prazo, pensamos que essa política parece improvável, visto que as reservas dos EUA necessárias não são significativas. Seria preciso uma mobilização política considerável para o governo conseguir apoio para movimentar um montante financeiro grande o suficiente que pudesse desvalorizar o dólar.

Na Europa, com a eleição de Boris Johnson, as discussões a respeito da saída do Reino Unido da União Europeia se intensificaram. O primeiro-ministro britânico adotou uma postura mais dura em relação ao Brexit, definindo uma data limite para o fim da relação. Não há um consenso entre os analistas do mercado sobre os impactos efetivos na economia do Reino Unido. Entretanto, no dia primeiro de agosto, o presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Mark Carney, disse esperar uma separação “amigável” e, caso ocorra, os juros de mercado e a libra tenderiam a subir.

Comentário Macroeconômico Brasileiro

Durante o mês de julho e início de agosto, a tramitação da reforma da previdência no congresso superou nossas expectativas. Após aprovação do texto na câmara em segundo turno, a proposta seguiu para o Senado Federal com uma economia projetada para os próximos 10 anos de R$ 933 bilhões. Dentro do Senado, a reforma passará pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa e posteriormente será votada em dois turnos em plenário. Acreditamos que o texto não sofrerá grandes desidratações e que a emenda constitucional deva ser promulgada pelo Congresso Nacional entre o fim de setembro e início de outubro.

A redução do risco de insolvência fiscal do país e o alívio no endividamento governamental devem repercutir positivamente na economia brasileira e na percepção do risco soberano. Não obstante, entendemos que a reforma do sistema previdenciário é o primeiro passo, porém, não é suficiente para maior estabilidade econômica no longo prazo. No sentido de reformas estruturais, a MP nº 881 (apelidada de MP da Liberdade Econômica) e a reforma tributária visando a simplificação de impostos, pautadas pelo governo atual, devem contribuir para um ambiente favorável ao crescimento econômico.

Como ação de recuperação da atividade no curto prazo, ao final do mês de julho, o governo anunciou novas modalidades para saque do FGTS através da MP nº 889. Acreditamos que a medida será positiva para estimular o lado da demanda, com liberação de aproximadamente R$ 30 bilhões em 2019 e R$ 12 bilhões em 2020. Através da nova regra, dada a alta propensão marginal a consumir do brasileiro, acreditamos que o consumo terá um novo catalisador no segundo semestre de 2019.

Adicionalmente, ao final do mesmo mês, o Comitê de Política Monetária decidiu cortar a meta da taxa Selic em 50 basis-points, de 6,50% a.a. para 6,00% a.a.. Acreditamos que acontecerão mais dois cortes de 50 bps até o fim do ano, alterando a taxa de juros básica para 5,00% a.a. Haja vista o histórico de ciclos de corte de juros no país, como a partir de outubro de 2016, e a atividade ainda anêmica da economia brasileira, não descartamos o cenário da Selic abaixo de 5% a.a., dependendo da inflação observada no próximo semestre.

A partir do observado, no nosso entendimento a retomada significativa da economia ainda está por vir e vislumbramos alguns sinais de que alterações estão sendo feitas para destravar o crescimento. Nos últimos meses, principalmente em junho e julho, os índices de confiança do consumidor da construção e do varejo – elaborados pela FGV – mostraram sinais otimistas em relação ao crescimento. Posto isso, com o avanço dos importantes catalisadores citados, como retomada na confiança de consumidores e empresários e fechamento do grau de ociosidade da economia brasileira, esperamos uma mudança positiva no preço dos ativos brasileiros nos próximos meses.

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Carta de Conjuntura Mensal Julho 2019

Carta de Conjuntura Mensal Julho 2019

Conjuntura Internacional

Nas últimas semanas, a incerteza prevaleceu no cenário internacional. Vimos os EUA ameaçando imposição de novas tarifas ao Irã, devido às declarações de que este não mais respeitaria o acordo nuclear de 2015. A reunião do G-20 no Japão deveria ter marcado o reinício das negociações pelo fim do conflito comercial sino-americano, no entanto, Trump decretou novas taxações ao aço estrutural importado do México e da China, nos levando a acreditar que o conflito não cessará tão cedo, ainda que exista a possibilidade de reinício das negociações nas próximas semanas.

Na recente fala de Jerome Powell, presidente do FED (Banco central dos EUA), para o senado americano no dia 10 de julho, foi reforçada a postura de incerteza em relação aos próximos passos da economia americana. Muitos analistas já dão como certo um corte na taxa básica de juros ainda no mês de julho, o que levou a uma queda no rendimento do título do tesouro americano de 2 anos após o discurso de Powell (o rendimento e o preço do título são inversamente proporcionais na metodologia de cálculo, o que denota um aumento na procura do título).

Um mercado de trabalho que ainda segue estável (tendo adicionado 224 mil postos de trabalho no mês de junho), somado ao aumento de esperança no corte de juros, levou o S&P a bater 3 mil pontos, algo inédito até então. Entretanto, esperamos que o ponto de inflexão do ciclo de crescimento americano esteja se aproximando.

Na semana do dia 15 de julho começará a temporada de divulgação dos balanços das empresas do S&P em relação ao 2T19, onde esperamos ver os primeiros impactos da guerra comercial. Acreditamos que alguns setores, como o financeiro e o de energia, têm boas chances de apresentarem resultados já afetados pelas tarifas impostas por Trump. Além disso, cerca de 40% das receitas totais das empresas americanas listadas no S&P derivam de suas filiais internacionais, que são afetadas pela diminuição da atividade econômica global, aumentando os riscos externos.

Na Europa, a desconfiança é gerada pela escolha do novo premier do Reino Unido, que acontecerá até 22 de julho. Os dois possíveis candidatos defendem energicamente o Brexit, até mesmo sem acordo comercial. Além disso, os dados econômicos europeus mostram o segundo mês consecutivo de corte de postos de trabalho, a quinta redução seguida do índice de produção industrial e correções negativas nas projeções de crescimento e inflação para os próximos anos.

Na China o segundo trimestre de 2019 apresentou ritmo de crescimento mais lento dentre quase 30 anos. As estimativas apontam para uma taxa de crescimento acumulada em 12 meses de 6,2%, frente a 6,4% no período de janeiro a março. Desaceleração, esta, que foi puxada pela queda nas exportações e queda maior do que a esperada nas importações, justificadas pelo contexto de conflito comercial.

Finalmente, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE tem grande potencial de incentivar ganhos de produtividade na economia sul americana. No entanto, não esperamos que esse acordo seja ratificado antes do final de 2020, devido aos numerosos trâmites necessários para sua aprovação.

Conjuntura Nacional

No cenário doméstico, as perspectivas para o crescimento em 2019 continuam desanimadoras. No primeiro trimestre, o PIB apresentou queda de 0,2%, abaixo do esperado, assim como a queda de 0,5% do IBC-Br em abril. Tal desempenho levou o Banco Central a rever duas vezes sua projeção de crescimento para esse ano, de 2,4% para 2,0% em março e para 0,8% em junho. Dados mais recentes mostram desemprego estável em 12,3% e utilização da capacidade instalada em 67%, o que explicita o hiato do produto ainda acentuado.

Após uma das piores recessões, onde o PIB encolheu 3,8% e 3,5% em 2015 e 2016 respectivamente, o crescimento em 2017 e 2018 frustrou as expectativas e foi de apenas cerca de 1% em ambos os anos. Em 2018, incertezas perante as eleições, a crise argentina e a greve dos caminhoneiros contribuíram para um menor crescimento. Hoje, avaliamos que tais episódios já não influenciam nosso produto.

A lenta retomada do crescimento pode ser explicada pelas incertezas quanto à consolidação de reformas com alto impacto fiscal, visto que a última crise foi decorrente do descompasso entre gastos e receitas do governo. Ainda, vemos a economia brasileira no meio de um fiscal drag, conceito que representa o efeito refreador da contração de gastos públicos sobre o crescimento economia. Desde que atingimos o ápice do déficit em 2016, estamos presenciando um esforço extra, do atual e antigo governo, na mudança da trajetória fiscal. O fato é que o fiscal drag está mais intenso do que o esperado e, considerando o PIB pela ótica da demanda, a menor participação dos gastos do governo não está sendo compensada pelo crescimento dos investimentos privados.

A reforma da previdência é o carro-chefe da equipe econômica do governo. Após vagarosa tramitação, o texto base foi aprovado em primeiro turno no plenário com votação acima do esperado, o que gerou otimismo para os próximos passos. Mesmo não sendo igual a proposta original, a economia projetada de aproximadamente R$900 bilhões é bem vista. A PEC deve continuar sua trajetória em 06/08, após o recesso parlamentar e esperamos que seja aprovada no terceiro trimestre, próximo da reunião do Copom em setembro.

A inflação segue apresentando níveis tímidos, com 0,01% medido pelo IPCA de junho. Vemos isso como reflexo da lenta recuperação e alto desemprego. Em sua última ata, o Copom reconhece que houve uma interrupção do processo de recuperação da economia. O balanço de riscos sobre a inflação evoluiu favoravelmente, entretanto, o BCB continua atento à possibilidade de frustração com o avanço de reformas e ajustes, sendo esse o maior risco. O comitê pondera que o atual cenário de inflação baixa e estável, com expectativas ancoradas, somado ao lento crescimento do produto prescreve queda na taxa de juros a um ponto estimulativo. A abordagem usada foi a mais aberta até então, mas o corte está condicionado ao progresso das reformas.

As reformas e medidas do governo com viés contracionista não potencializam retomada de crescimento logo no curto prazo, porém, esperamos que elas contribuam para uma diminuição do risco de investimentos no Brasil e abram espaço para maior confiança dos empresários no médio e longo prazo, liberando investimentos contidos pelas incertezas quanto a agenda reformista. Estímulos adicionais foram sinalizados, como privatizações e liberação de saques do PIS/PASEP e FGTS equivalente a 1% do PIB para impulsionar a demanda no curto prazo.

Com a retomada de investimentos, aumento de contratações facilitadas pela alta oferta de mão de obra e maior liquidez na economia, projetamos uma retomada robusta de crescimento a partir de 2020.

Reflexo disso está na bolsa brasileira, que performou muito bem no primeiro semestre de 2019 e fechou junho com cerca de 10% de valorização no ano, batendo recordes históricos do Ibovespa. O que contribuiu, certamente, não foram os indicadores econômicos. Os vetores positivos foram: a) a forte sinalização do FED em iniciar um novo ciclo de afrouxamento monetário, atraindo o capital para ativos de risco e beneficiando os mercados emergentes; b) compromisso com a agenda de reformas, traduzindo para um menor risco país; c) sinalização de corte na Selic.

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Debêntures? Curva de Juros? Precificando Ativos e Mensurando seus Riscos

Debêntures? Curva de Juros? Precificando Ativos e Mensurando seus Riscos

O foco do artigo é atentarmos nas debêntures e os assuntos que a tangem, será visto:

  1. Informações Gerais do Mercado de Renda Fixa;
  2. Conceitos fundamentais das Debêntures
  3. Precificação na Curva
  4. Curva de Juros
  5. Precificação a Mercado (valuation do título)
  6. Riscos e suas Mensurações
  7. Curva Forward
  8. Introdução à Estratégia de Imunização de Portfólio.

Para ver o artigo completo: Debêntures? Curva de Juros? Precificando Ativos e Mensurando seus Riscos

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