Isabela Bolsoni

Estudante de Administração de Empresas na ESAG/UDESC. Membro do Clube de Finanças no núcleo de Macroeconomia e Renda Fixa.
Estudante de Administração de Empresas na ESAG/UDESC. Membro do Clube de Finanças no núcleo de Macroeconomia e Renda Fixa.
A EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA

A EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA

De maneira idêntica a uma pessoa comum o bom uso de crédito para o alcance de grandes ativos como a fundação de um novo negócio, o endividamento público, se bem administrado, auxilia o desenvolvimento e a estabilidade monetária de um país. Entretanto, para que o custo do empréstimo recompense, é importante se ater à qualidade do crédito público. Uma vez que, quanto maior o risco de inadimplência o devedor apresentar, maior será a lucratividade exigida pelo investidor e menor o tempo de exposição ao risco. Logo, as condições da dívida estatal estão extremamente interligadas com a credibilidade do governo para cumprir suas obrigações.

Há quatro alvos que justificam o endividamento de um país: (1) dar insumo para a execução da política monetária; (2) financiar o déficit do orçamento público; (3) dar referência as taxas básicas de juros, pois a emissão dos títulos públicos possuem menor risco de crédito em comparação a dívida privada; (4) financiar projetos, de modo que a dívida melhore a qualidade de vida da população e o seu custo seja diluído entre as gerações. Para isso, o governo pode recorrer a três meios de endividamento: dívida interna, por meio de títulos públicos; dívida externa, através de instituições internacionais; ou pela maior arrecadação de impostos.

EVOLUÇÃO DA DÍVIDA

Governo Militar - Crise do Petróleo (1970 - 1984)

No começo dos anos 70, a economia estava fluindo bem. A dívida pública estava saudável, o câmbio controlado, e o PIB crescendo em média 7% ao ano. O Brasil era nomeado como a décima maior economia mundial. No entanto, a dependência do mercado interno de 80% do petróleo importado mudou este cenário após os dois choques seguidos no preço do combustível.

A inflação de custos foi o principal impacto da crise externa no Brasil. Os produtos básicos tiveram aumento de até 227% ao ano devido ao elevado custo de produção. Com o poder de compra da população diminuindo a cada dia, os títulos públicos pré-fixados estavam cada vez menos atrativos aos investidores, pois não acompanhavam a desvalorização da moeda. Desse modo, o banco central cria títulos indexados à inflação, chamadas de ORTNs, para que assim, diminuísse a dificuldade de refinanciar a dívida interna. Este método funcionou. Em 1983, as obrigações indexadas à inflação chegaram a formar 96% do total da dívida interna mostrando o apetite dos investidores ao ativo. Como consequência, os juros das novas obrigações acompanharam a crescente inflação gerando aumento do déficit público.

Outra métrica que sofreu com o choque de preços da commodity foi a balança comercial brasileira, pois o custo das importações foi drasticamente impactado. Desse modo, o governo só autorizava a compra de petróleo e a realização de pagamento de juros da dívida externa para conter a balança de pagamentos. Entretanto, mesmo vetando a entrada de 3.500 produtos, o saldo comercial fechou em 10,5 bilhões de dólares negativos resultando em uma valorização da cotação do dólar em função da maior demanda pela moeda. Com o real desvalorizado, a dívida externa aumentou a níveis estratosféricos e, em 1983, o país recorre ao FMI (Fundo Monetário Internacional) pois não tinha mais condições de honrar com suas obrigações. Esta medida trouxe escassez de novos empréstimos externos até a era do plano real, na qual, na visão do mercado, o país trouxe novas perspectivas econômicas. Logo, com pouca disponibilidade de financiamento público e com o grave aumento do petróleo, a década de 80 ficou nomeada como “década perdida”.

José Sarney e Fernando Collor (1985 - 1992)

Após o falecimento de Tancredo Neves o governo Sarney começa com baixa popularidade. Desta forma, os métodos comuns para reduzir a alta inflação herdada do governo anterior, como o aumento das taxas de juros e controle do déficit público, não poderiam ser executados, visto que tais medidas facilitariam a volta dos militares com a execução de ações impopulares. Desse modo, criou-se um plano de contingência chamado plano cruzado. Ele consistia no congelamento dos preços e criação de uma nova moeda sem inflação. O resultado nos primeiros meses foi bom, o índice inflacionário diminuiu de 14% para 0%, os níveis de emprego aumentaram e a economia cresceu. Entretanto, como alguns produtos e serviços precisavam ter correção de preço, a população corria aos estabelecimentos para estocar suas mercadorias e, assim, aproveitar o valor sem correção, consequentemente, a inflação voltava à nova moeda.

Durante o período, quatro planos econômicos foram lançados com a finalidade de conter a instabilidade monetária. Todos eles consistiam no congelamento de preços de produtos ou ativos e a medida que iam sendo implementados ocorria maior desvalorização da moeda. Assim, o Brasil se encontrava em um cenário hiperinflacionário, com índices próximos a 2.570% ao ano. Os preços chegavam a variar a cada hora e quem mais sofria com este panorama eram os mais pobres, pois, não tinham ativos variando com o índice. Seus salários demoravam meses para sofrer a correção, diminuindo ainda mais seu poder de compra. A consequência disso foi cerca de 50% da população mais carente deter apenas 10% da renda total do país, evidenciando o aumento do número da classe mais pobre no brasil.

No âmbito da dívida externa, em 1987, o Brasil precisou decretar moratória técnica, ou seja, o país não era mais capaz de pagar suas obrigações por conta do aumento da dívida decorrente da desvalorização cambial. Em razão da instabilidade financeira causada, o risco país aumentou e as instituições financeiras no mundo todo se fecharam para o Brasil, não havendo nenhuma entrada de capital externo durante o período.

Diante da instabilidade monetária, a qualidade do crédito se deteriorou e os títulos públicos indexados à inflação não eram mais atrativos aos investidores, visto que, o congelamento de preços deixava a rentabilidade de seus ativos igual a 0% nos primeiros meses. Desta forma, foi necessário a criação das Letras do Banco Central (LBC), para financiar a política monetária, e as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), para suprir os déficits públicos, e dessa forma, conseguir realizar a política de rolagem da dívida interna. Como os dois novos títulos eram indexados pela taxa SELIC, que se corrigia diariamente, e poderiam ser resgatados a qualquer momento, os investidores aderiram muito bem aos empréstimos garantindo a rolagem da dívida pública no período.

No crivo fiscal, havia 4 tipos de orçamentos governamentais: o monetário, fiscal, das estatais e da previdência. Entretanto, somente o operacional do governo passava pela aprovação do congresso e isso facilitava a manipulação das contas públicas pela falta de controle. Um exemplo disso, era o orçamento monetário que cobria a chamada conta movimento, utilizada para suprir desequilíbrios entre Banco Central (BC) e Banco do Brasil (BB). Basicamente, o BB podia emprestar dinheiro a vontade e nunca cobrar da população, pois seus prejuízos eram cobertos pelo BC. Então, após um escândalo de corrupção escancarado em todas as mídias, o governo cancelou a conta e o país caminhou para a formação da lei de responsabilidade fiscal. Assim, o orçamento começou a refletir a real saúde das contas públicas e todos os orçamentos foram unificados necessitando a validação do congresso nacional.

Em 1988 foi aprovada a nova constituição democrática. Com ela foi possível estabelecer leis para o financiamento da dívida pública: (1) orçamento da União; (2) Plano Plurianual de Investimento; e (3) Lei de diretrizes orçamentárias. Desta forma, a nova regulamentação exigiu o planejamento dos gastos já no primeiro ano de mandato dos presidentes, também permitiu que o poder legislativo pudesse dar orientações aos governantes na elaboração do orçamento e exigiu a autorização do legislativo para o endividamento do país. Foi um marco na história brasileira, pois deu regras para o endividamento público.

Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso (1993 - 2002)

Para pôr fim ao problema da hiperinflação no Brasil, o governo de Itamar Franco, criou um novo plano de estabilização da moeda nacional visando o longo prazo, o plano real.

A população, na época, não tinha mais percepção do que era caro e o que era barato, pois os preços mudavam diariamente. Para solucionar isto, criou-se a Unidade Real de Valor (URV) como uma moeda paralela que convertia os valores do cruzeiro real para o novo padrão monetário indexado ao câmbio fixo. Logo, a população poderia escolher entre a utilização da URV, que tinha inflação baixíssima, ou o cruzeiro real, que mudava de valor a todo instante e, por conta da estabilidade monetária que a nova moeda proporcionou, a população em grande parte escolheu a primeira, havendo o abandono do cruzeiro real posteriormente. Entretanto, sabendo que os principais motivos que causaram a hiperinflação foram o excesso de gasto público e a grande impressão de moeda, somente a troca monetária não solucionaria o problema. Desta forma, antes do lançamento da URV o governo precisou regular a política fiscal e monetária do país para impedir que a inflação atingisse a nova moeda.

A desorganização do sistema fiscal brasileiro colapsou as contas do Banco Central. Um dos motivos para isto ocorrer foi o financiamento dos bancos estatais e municipais por parte do BC, ou seja, se houvesse déficit nas contas municipais, era o banco central que deveria arcar com as despesas. Desta forma, a fim de organizar as contas estatais, o governo executa a lei da responsabilidade fiscal reconhecendo várias despesas disfarçadas e exige que os governantes tenham planejamento em seus gastos. A partir de 1998, os resultados da lei começaram a surgir com os estados brasileiros mostrando superávits em seus orçamentos. Esta medida foi crucial para o sucesso do plano real, pois, após a regulação fiscal houve o maior controle sobre a emissão de moeda e dos gastos públicos.

Um dos motivos para o insucesso dos planos anteriores foi o choque de demanda após a estabilização da moeda. Para que isto não acontecesse, o governo executa a política monetária contracionista a fim de diminuir o crédito e consequentemente diminuir o incentivo ao consumo. Logo, com as consideráveis emissões de títulos públicos fundamentais para acabar definitivamente com os passivos mascarados, juntamente com as altas taxas de juros necessárias para a consolidação da estabilidade monetária e atratividade de capital externo após a crise da Ásia e da Rússia, houve o aumento grosseiro do estoque da dívida pública no período.

A balança comercial estava em constante desequilíbrio devido ao câmbio subvalorizado, tornando cada vez mais custoso a fixação do câmbio. Desta forma, o governo teve que estimular a entrada de capital através de privatizações e realizar a renegociação da moratória da dívida externa, para conseguir usufruir de crédito internacional novamente. Entretanto, diante de um cenário externo desfavorável, com a crise da ásia e da Rússia, as reservas externas brasileiras quase se esgotaram para manter a continuidade do câmbio fixo, em 1999, a crise internacional chega ao Brasil e o governo é obrigado a flutuar o câmbio.

A partir deste novo cenário, cria-se o chamado tripé macroeconômico para estabilizar a moeda, mesmo com o câmbio flutuante e passar credibilidade quanto à futura gestão do país. A nova lei consistia em 3 pilares, na qual, (1) a inflação tinha que seguir uma meta estabelecida pelo governo, de tal forma, que se não fosse cumprido o presidente do Banco Central tinha que enviar uma carta se explicando;(2) as contas tinham que manter o superávit fiscal expressivo; e (3) o câmbio tinha que flutuar.

O sucesso na estabilização da moeda, por sua vez, melhorou a qualidade do crédito ampliando os prazos da dívida pública interna para até dois anos, representando um progresso ao risco de refinanciamento do governo junto ao mercado de capitais.

Lula Inácio da Silva (2002 - 2010)

Antecedendo à eleição de Lula, o Brasil enfrenta uma grave crise no mercado de capitais. Os discursos do candidato sobre a descontinuidade do tripé macroeconômico gerou desvalorização do câmbio por conta da fuga dos investidores estrangeiros e consequentemente, a dívida externa tornou- se impagável, necessitando o auxílio do FMI. Vendo que a crise que se formava iria dificultar a implementação das propostas sociais divulgadas em seus comícios, Lula decide mudar a estratégia e atende a suplicação da população pela continuidade dos princípios macroeconômicos de FHC.

Logo, já em 2003 a economia estava novamente crescendo a médias de 4,5% ao ano. O Brasil prosperava com sua produção e consumo impulsionado pelas taxas de juros internacionais próximas a zero e pelo preço de commodities valorizado. Em razão disso, o país acumula até 206 bilhões de dólares em suas reservas internacionais em função dos superávits comerciais proporcionados pelo aumento das exportações. A população, por sua vez, estava confiante em relação ao futuro da nação e isso gerava mais crescimento e investimento por parte deles.

Com cenário favorável, o banco central decide executar uma política monetária expansionista, reduzindo as taxas de juros que, por consequência, levaram ao aumento de consumo e maior arrecadação de impostos para financiar projetos sociais. Tendo isto em vista, o governo consegue aumentar a escala do projeto bolsa família implementado por FHC. Aproximadamente 50 milhões de pessoas foram atingidas pelo programa, totalizando quase ¼ da população com orçamento de apenas 0,53% do PIB. O Brasil se tornou a sexta maior economia do mundo com a geração de uma nova classe média e com o aumento do salário mínimo.

No âmbito da dívida interna, as relações entre governo e investidores foram melhoradas através de periódicos leilões de recompra e venda de títulos públicos garantindo maior liquidez dos ativos e trazendo mais atratividade a eles. Em 2006, o governo decidiu estimular ainda mais tal apetite aos ativos isentando o imposto de renda para investidores estrangeiros com uma nova legislação. Tal estratégia fez crescer a entrada de capital externo e elevou a demanda aos títulos. Em razão disto, o governo consegue colocar papéis prefixados com prazo de até dez anos no mercado, um marco na história da dívida pública brasileira.

Quando a crise de 2008 acontece, o sistema financeiro internacional entra em colapso e os governos acionam uma onda de injeção de estímulo fiscais com o intuito de minimizar os estragos gerados. No Brasil, o governo aumentou o gasto público para gerar mais crédito por parte dos bancos oficiais, diminuir gradativamente as taxas de juros para incentivar o endividamento familiar e assim, estimular o crescimento da demanda.

Com tais medidas a crise foi contida, porém, os estímulos econômicos não pararam. Lula cada vez mais optou pela adoção de políticas centralizadoras e com maior intervencionismo em setores selecionados da economia. O governo, através do BNDES, disponibiliza crédito mais barato que o do próprio governo utilizava para se financiar, ou seja, as taxas praticadas eram abaixo da Selic, ocorrendo a transferência de renda do tesouro nacional para empresas corruptas. Cerca de 9% do PIB, 500 bilhões de reais, foram para as contas do BNDES com o intuito de facilitar o desenvolvimento das empresas, porém, a política quanto a seleção das empresas não era clara. Por consequência, o tripé econômico utilizado para manter o gasto público sob controle foi descontinuado e o primeiro sintoma da injeção de moeda desenfreada foi a pressão inflacionária superando a meta de inflação em 2010. Em razão disto, o governo termina com reversão das políticas fiscais expansionistas dos anos anteriores juntamente com o início da redução das taxas de juros. Logo, o superávit primário foi ampliado e houve contenção do ritmo de crescimento das despesas.

Dilma Rousseff e Michel Temer ( 2011 - 2018)

A presidenta Dilma assumiu o governo com índices de crescimento não tão bons como os de seu antecessor. O cenário mundial era de estagnação com a crise do euro, desaceleração da economia chinesa e lenta recuperação estadunidense da crise de 2008. No panorama interno não era diferente. O PIB estava decrescendo e a inflação estava voltando a preocupar com a aproximação do teto da meta, o nível do endividamento familiar começa a preocupar junto com a inadimplência. Os instrumentos para contenção da estabilidade econômica começam a perder eficácia e o governo reduz a inflação artificialmente, mexendo nas tarifas de água, luz e passagem de ônibus. Por esse motivo, as contas das estatais afetadas pelo preço artificial ficaram arruinadas, como foi o caso da Eletrobras, e com isso gerou mais gastos para o estado.

A marca do governo PT foi a ajuda por meio de incentivos governamentais a classes mais baixas. Contudo, pela baixa geração de receita no período, o estado não tinha condições fiscais para dar continuidade aos projetos implementados por Lula. Assim, ocorre a realização da contabilidade criativa para mascarar o descumprimento das metas fiscais estabelecidas pelo tripé macroeconômico e conseguir continuar com políticas sociais. Uma das práticas executadas para realizar tal feito, era por meio da postergação das despesas para o ano seguinte e, dessa forma, não gerar déficit primário no ano vigente. Outro método, era o envio de dividendos do BNDES para o Tesouro nacional, porém para ocorrer a transferência o banco de desenvolvimento tinha que pedir aportes para o Banco Central. Em analogia a uma pessoa comum, era como trocar o dinheiro de um bolso para o outro e dizer que aquilo é entrada de receita. Desta forma, a dívida líquida ficou regulada artificialmente e permitiu a expansão do déficit público. Entretanto, com grande emissão de moeda na economia, a inflação aumentou e o capital externo, desconfiando da credibilidade do governo, diminuiu sua participação no país, logo, o dólar fica valorizado novamente.

Mesmo o governo apresentando superávits primários positivos em todos os anos do governo, a dívida pública federal cresceu de 1,7 bilhão de reais em dezembro de 2010 para mais de 2,1 bilhões de reais em julho de 2014. Fato que ajudou tal endividamento, foi o aumento da SELIC decorrente das políticas monetárias vigentes, o índice foi de 11,25% em 2011 para 14,25% em 2015. Com isso, o custo do rolamento da dívida no orçamento, saiu de 2,9% do PIB em 2012 para 6,7% do PIB em 2015. No final do governo, o estado não tinha mais como se financiar e houve a implementação de cortes dos gastos discricionários de cerca de 78,5 bilhões de reais, porém, não foi o bastante para diminuir o déficit orçamentário do ano.

No segundo governo de Dilma, as três pernas do tripé econômico se mostram fragilizadas e a economia entra em recessão. A governante nomeia Joaquim Levy como seu ministro da Fazenda. Porém, o representante não era visto com bons olhos pela base aliada, pelos sindicatos e nem pelos empresários, visto que, temiam a retirada de direitos trabalhistas e a elevação da carga tributária em seus empreendimentos. Juntamente com a elevação do desemprego, queda de renda dos habitantes, incertezas políticas, redução dos investimentos por parte dos empresários e diversos escândalos de corrupção fizeram com que o governo perdesse seu apoio político e popular. Isto levou à acusação de Dilma Rousseff ao crime de Responsabilidade Fiscal acarretando no impeachment da presidenta.

O novo governante, Michel Temer, escolheu a desestruturação das políticas sociais para conseguir estabilizar o cenário fiscal preocupante. A dívida pública só aumentava pois o custo de refinanciamento das obrigações internas estava cada vez mais alto decorrente da piora da qualidade do crédito. Nos primeiros 5 meses de governo, as despesas avançaram 7,3% em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Para conter este cenário, o novo governante se alia ao congresso nacional a fim de congelar o limite das despesas públicas nos próximos 20 anos com a PEC 55/24 e, desta forma, semear novamente um ambiente estável, capaz de atrair capitais estrangeiros, pois, em 2015, instituições renomadas, como a Standard & Poor ‘s, desaconselhava o investimento de capitais no país.

Todo o governo foi marcado por estagnação. O índice de crescimento médio entre 2016 e 2018 foi de 1% ano. Somente o setor agropecuário expandiu-se no período, por conta da desvalorização do real e aumento nos preços das commodities. Todos os outros apresentavam ou estagnação ou desaceleração. Desta forma, com a grave crise estabelecida, ocorre aumento substancial do trabalho informal no país. A fim de estimular a contratação novamente dos trabalhadores, o governo aprova a reforma da legislação trabalhista objetivando flexibilizar a contratação dos mesmos. A piora qualitativa do mercado de trabalho limitou o crescimento da remuneração da população que, consequentemente, reduziu o consumo das famílias e fez a inflação cair, ultrapassando a meta estipulada pelo banco central.

Jair Bolsonaro (2019 - o momento)

2019

O panorama econômico era de elevada taxa de desemprego, inflação baixa, devido à diminuição do consumo, e reservas internacionais altas. Usufruindo deste cenário, o banco central realiza política monetária expansionista a fim de impulsionar o consumo reduzindo a taxa SELIC de 6,5% para 4,5%. A queda dos juros básicos resultou na redução do custo de refinanciamento da dívida interna, que consequentemente, resultou na diminuição do superávit primário exigido para estabilizar a razão dívida/PIB do país e levou ao êxodo de capital estrangeiro para economias com juros reais mais lucrativos. Logo, o real se desvalorizou e a economia brasileira estimulou setores de exportação.

Em meio ao cenário de recessão, o governo dá continuidade às políticas de Temer, a fim de contrair o orçamento fiscal e implementar políticas para desregular o mercado e estimular o setor empresarial. Desta forma, houve a criação da lei de liberdade econômica para diminuir a burocratização de novos negócios, carteira verde amarela disponibilizando incentivos fiscais para a contratação de jovens entre 18 e 29 anos e assim diminuir o trabalho informal, venda de mais de R$ 100 bilhões de ativos estatais para regular as contas públicas e também a destinação de saques do FGTS como forma de injetar dinheiro na economia brasileira.

Ademais, o governo, com o intuito de diminuir os gastos públicos e retomar a confiança dos empresários, aprova a reforma previdenciária, prevendo economizar cerca de R$800 bilhões ao longo de dez anos. Logo, o aumento de 2,2% da dívida sobre PIB no primeiro ano de Bolsonaro foi quase sete vezes menor do verificado durante o governo Temer. Isto se deu por conta da queda da taxa de juro real e pela contenção fiscal. Entretanto, mesmo sendo índices menores que os do governo passado, a dívida continuou a crescer.

O ano de 2019 é finalizado com saldo positivo na geração de empregos, crescimento maior que o esperado do PIB, apesar de ainda fraco, e desaceleramento do crescimento da dívida.

2020

O ano de 2020 começa com expectativas muito positivas para o Brasil em razão da agenda de reformas e privatizações. Porém, o surto de contaminação do vírus COVID-19 muda todo o cenário. Em março, a doença chega com força no país apresentando graves índices de mortes. Com isso, o governo implementa o início do isolamento social, a fim de conter o número de casos. Com a economia paralisada, os principais setores afetados foram o de serviços (setor que configura 74% do PIB brasileiro) com retração de 1,6%, no primeiro trimestre, e o setor de indústrias com -1,4% no mesmo período.

A inflação nos primeiros meses do ano desabou e chegou a 0,38% em maio , registrando a menor taxa em 22 anos, em razão da queda na demanda por produtos. Entretanto, com a retomada do comércio, início dos pagamentos do Auxílio Emergencial para trabalhadores assalariados, alta do dólar e o aumento da procura por alimentos e commodities no mercado internacional, a inflação volta a crescer e afeta, principalmente, os preços dos alimentos, dificultando a vida das famílias mais pobres.

Em meio ao cenário de crise pública, governos mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, anunciaram diversos pacotes para estimular a economia. Por sua vez, países com economia subdesenvolvida usufruíram do mecanismo de cortes de juros para estimular os investimentos de empresários na geração de mais empregos. No Brasil, a taxa selic iniciou o ano a 4,25% e diminuiu gradativamente até junho, chegando a 2%. Por conta dos juros baixos e principalmente pela elevada instabilidade política e dúvidas quanto à solvência da dívida pública, o câmbio aumentou durante o período.

Para o governo conseguir dar suporte a população com auxílio monetário a população mais necessitada e equipamentos necessários para conter o cenário de saúde pública, houve a aprovação na câmara dos deputados da PEC do ” orçamento da guerra” em maio, para possibilitar a separação dos gastos públicos realizados ao combate do covid e aos gastos operacionais do governo.

No âmbito da dívida pública, a previsão do déficit primário para o setor público aumentou de 1,7% para 11,3% do PIB. A dívida interna no Brasil totalizou 4,4 trilhões de reais, crescendo 2,47% de outubro para setembro e se aproximando do 100% do PIB, quase o dobro de países igualmente emergentes. Os investidores, pensando em custo beneficio, com menor atratividade pelo baixo lucro, maior aversão ao risco e preferência por mais liquidez nos ativos, força o Banco Central a emitir títulos pré-fixados de menor duração para atrair capital para o refinanciamento da dívida. Mesmo assim, no leilão executado no dia 5 de novembro, somente 59% dos títulos NFT foram comprados pelos investidores mostrando a dificuldade de refinanciamento com tal remuneração ofertada, revelando que a taxa de juros está artificialmente baixa.

O cenário fiscal para 2021 é preocupante. O tesouro nacional precisa pagar 643 Bilhões de reais em dívida pública logo no primeiro trimestre do ano, 15,4% do total da dívida interna brasileira, e com a recorrente dificuldade de atração de capital aos títulos do governo, isto pode gerar um problema futuro. Caso o governo realmente não consiga se financiar, há duas alternativas para o pagamento das obrigações: (1) imprimir dinheiro, guiando o risco da hiperinflação no país ou (2) elevar novamente a taxa SELIC, que por consequência, levará ao aumento da dívida.

Desta forma, tendo em vista o cenário de contínuos déficits públicos, baixo crescimento econômico e recolhimento de impostos, estimamos para o próximo ano: juros e câmbio elevados, devida a queda pela demanda do real em razão aos risco país, maior inflação, por conta do juros, fuga do capital estrangeiro e mais impostos para conseguir financiar o governo. Há também a necessidade das reformas tributária e administrativa, para retomar a confiança dos investidores e empresários e fazer a economia voltar a crescer com um estado ainda mais simplificado.

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