Conjuntura Internacional
Nas últimas semanas, a incerteza prevaleceu no cenário internacional. Vimos os EUA ameaçando imposição de novas tarifas ao Irã, devido às declarações de que este não mais respeitaria o acordo nuclear de 2015. A reunião do G-20 no Japão deveria ter marcado o reinício das negociações pelo fim do conflito comercial sino-americano, no entanto, Trump decretou novas taxações ao aço estrutural importado do México e da China, nos levando a acreditar que o conflito não cessará tão cedo, ainda que exista a possibilidade de reinício das negociações nas próximas semanas.
Na recente fala de Jerome Powell, presidente do FED (Banco central dos EUA), para o senado americano no dia 10 de julho, foi reforçada a postura de incerteza em relação aos próximos passos da economia americana. Muitos analistas já dão como certo um corte na taxa básica de juros ainda no mês de julho, o que levou a uma queda no rendimento do título do tesouro americano de 2 anos após o discurso de Powell (o rendimento e o preço do título são inversamente proporcionais na metodologia de cálculo, o que denota um aumento na procura do título).
Um mercado de trabalho que ainda segue estável (tendo adicionado 224 mil postos de trabalho no mês de junho), somado ao aumento de esperança no corte de juros, levou o S&P a bater 3 mil pontos, algo inédito até então. Entretanto, esperamos que o ponto de inflexão do ciclo de crescimento americano esteja se aproximando.
Na semana do dia 15 de julho começará a temporada de divulgação dos balanços das empresas do S&P em relação ao 2T19, onde esperamos ver os primeiros impactos da guerra comercial. Acreditamos que alguns setores, como o financeiro e o de energia, têm boas chances de apresentarem resultados já afetados pelas tarifas impostas por Trump. Além disso, cerca de 40% das receitas totais das empresas americanas listadas no S&P derivam de suas filiais internacionais, que são afetadas pela diminuição da atividade econômica global, aumentando os riscos externos.
Na Europa, a desconfiança é gerada pela escolha do novo premier do Reino Unido, que acontecerá até 22 de julho. Os dois possíveis candidatos defendem energicamente o Brexit, até mesmo sem acordo comercial. Além disso, os dados econômicos europeus mostram o segundo mês consecutivo de corte de postos de trabalho, a quinta redução seguida do índice de produção industrial e correções negativas nas projeções de crescimento e inflação para os próximos anos.
Na China o segundo trimestre de 2019 apresentou ritmo de crescimento mais lento dentre quase 30 anos. As estimativas apontam para uma taxa de crescimento acumulada em 12 meses de 6,2%, frente a 6,4% no período de janeiro a março. Desaceleração, esta, que foi puxada pela queda nas exportações e queda maior do que a esperada nas importações, justificadas pelo contexto de conflito comercial.
Finalmente, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE tem grande potencial de incentivar ganhos de produtividade na economia sul americana. No entanto, não esperamos que esse acordo seja ratificado antes do final de 2020, devido aos numerosos trâmites necessários para sua aprovação.
Conjuntura Nacional
No cenário doméstico, as perspectivas para o crescimento em 2019 continuam desanimadoras. No primeiro trimestre, o PIB apresentou queda de 0,2%, abaixo do esperado, assim como a queda de 0,5% do IBC-Br em abril. Tal desempenho levou o Banco Central a rever duas vezes sua projeção de crescimento para esse ano, de 2,4% para 2,0% em março e para 0,8% em junho. Dados mais recentes mostram desemprego estável em 12,3% e utilização da capacidade instalada em 67%, o que explicita o hiato do produto ainda acentuado.
Após uma das piores recessões, onde o PIB encolheu 3,8% e 3,5% em 2015 e 2016 respectivamente, o crescimento em 2017 e 2018 frustrou as expectativas e foi de apenas cerca de 1% em ambos os anos. Em 2018, incertezas perante as eleições, a crise argentina e a greve dos caminhoneiros contribuíram para um menor crescimento. Hoje, avaliamos que tais episódios já não influenciam nosso produto.
A lenta retomada do crescimento pode ser explicada pelas incertezas quanto à consolidação de reformas com alto impacto fiscal, visto que a última crise foi decorrente do descompasso entre gastos e receitas do governo. Ainda, vemos a economia brasileira no meio de um fiscal drag, conceito que representa o efeito refreador da contração de gastos públicos sobre o crescimento economia. Desde que atingimos o ápice do déficit em 2016, estamos presenciando um esforço extra, do atual e antigo governo, na mudança da trajetória fiscal. O fato é que o fiscal drag está mais intenso do que o esperado e, considerando o PIB pela ótica da demanda, a menor participação dos gastos do governo não está sendo compensada pelo crescimento dos investimentos privados.
A reforma da previdência é o carro-chefe da equipe econômica do governo. Após vagarosa tramitação, o texto base foi aprovado em primeiro turno no plenário com votação acima do esperado, o que gerou otimismo para os próximos passos. Mesmo não sendo igual a proposta original, a economia projetada de aproximadamente R$900 bilhões é bem vista. A PEC deve continuar sua trajetória em 06/08, após o recesso parlamentar e esperamos que seja aprovada no terceiro trimestre, próximo da reunião do Copom em setembro.
A inflação segue apresentando níveis tímidos, com 0,01% medido pelo IPCA de junho. Vemos isso como reflexo da lenta recuperação e alto desemprego. Em sua última ata, o Copom reconhece que houve uma interrupção do processo de recuperação da economia. O balanço de riscos sobre a inflação evoluiu favoravelmente, entretanto, o BCB continua atento à possibilidade de frustração com o avanço de reformas e ajustes, sendo esse o maior risco. O comitê pondera que o atual cenário de inflação baixa e estável, com expectativas ancoradas, somado ao lento crescimento do produto prescreve queda na taxa de juros a um ponto estimulativo. A abordagem usada foi a mais aberta até então, mas o corte está condicionado ao progresso das reformas.
As reformas e medidas do governo com viés contracionista não potencializam retomada de crescimento logo no curto prazo, porém, esperamos que elas contribuam para uma diminuição do risco de investimentos no Brasil e abram espaço para maior confiança dos empresários no médio e longo prazo, liberando investimentos contidos pelas incertezas quanto a agenda reformista. Estímulos adicionais foram sinalizados, como privatizações e liberação de saques do PIS/PASEP e FGTS equivalente a 1% do PIB para impulsionar a demanda no curto prazo.
Com a retomada de investimentos, aumento de contratações facilitadas pela alta oferta de mão de obra e maior liquidez na economia, projetamos uma retomada robusta de crescimento a partir de 2020.
Reflexo disso está na bolsa brasileira, que performou muito bem no primeiro semestre de 2019 e fechou junho com cerca de 10% de valorização no ano, batendo recordes históricos do Ibovespa. O que contribuiu, certamente, não foram os indicadores econômicos. Os vetores positivos foram: a) a forte sinalização do FED em iniciar um novo ciclo de afrouxamento monetário, atraindo o capital para ativos de risco e beneficiando os mercados emergentes; b) compromisso com a agenda de reformas, traduzindo para um menor risco país; c) sinalização de corte na Selic.