Conjuntura

CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 1T25

CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 1T25

Resumo Executivo

O primeiro trimestre de 2025 foi marcado por uma conjuntura econômica desafiadora, tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Internamente, a inflação voltou a acelerar, impulsionada pelos preços de educação, alimentação e transportes, e pressionando as expectativas para o restante do ano. A atividade econômica mostrou sinais mistos: enquanto o setor de serviços e o consumo das famílias sustentaram algum dinamismo, a indústria e o varejo ampliado apresentaram desaceleração. O mercado de trabalho permaneceu resiliente, com geração líquida de empregos e crescimento do rendimento real.

Na política fiscal, o governo alcançou um superávit primário, impulsionado pelo adiamento de despesas e aumento de arrecadação, mas a trajetória da dívida pública ainda inspira preocupação. O crédito perdeu força, refletindo a seletividade dos bancos diante das elevadas taxas de juros. 

No campo internacional, a postura dos principais bancos centrais manteve-se cautelosa, refletindo as incertezas sobre crescimento, inflação e comércio global. Nos Estados Unidos, o Fed optou por aguardar novos dados antes de alterar os juros, enquanto o Banco do Japão sinalizou crescimento mais fraco e adiou sua meta inflacionária. Apesar do cenário volátil, os ativos de renda fixa nos EUA, como os títulos hipotecários, continuam entregando retornos atrativos. Inflação

Fonte: IBGE


No 1T25, a inflação brasileira apresentou uma tendência de alta (5,48% no acumulado de 12 meses, contra 3,93% no mesmo período do ano passado), refletindo pressões em diversos segmentos da economia. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou 2,0% no primeiro trimestre, com os maiores aumentos sendo Educação (5,1%), Alimentação e Bebidas (2,9%) e Transporte (2,4%). 


No que se refere ao impacto em diferentes faixas de renda, as classes médias e altas sofreram mais que a classe mais baixa, muito em linha ao aumento do preço dos Transportes e da Educação (IPEA). Ao analisar o preço da cesta básica na cidade de São Paulo (cidade com maior população do país) é possível ver que segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o valor aumentou 4,7% no 1º trimestre do ano, o aumento nos preços foi visto pela maioria dos itens da cesta (69,2%), com destaques para o Tomate (preço aumentou 56,3% no trimestre) e para a Batata (preço diminuiu 14,2%).


Fonte: Boletim Focus


As expectativas de inflação para 2025 foram revistas para cima ao longo do trimestre. Em março, o Boletim Focus indicava uma projeção de 5,65% para o IPCA de 2025, acima da expectativa de janeiro (+0,14 p.p). Esse aumento na expectativa da inflação é justificado pelo aumento da incerteza relacionada aos efeitos do aumento das tarifas, implantadas pelo governo dos Estados Unidos, este fato fez com que o dólar americano saísse de R$6,18 no início do ano e terminasse o trimestre no valor de R$5,70. 


Atividade Econômica 


Setor de serviços retoma expansão com maior ritmo em quatro meses

O PMI de serviços do Brasil, divulgado pela S&P Global, subiu de 50,6 em fevereiro para 52,5 em março, atingindo o nível mais elevado desde novembro de 2024 e sinalizando uma retomada consistente do crescimento em meio a maior demanda e volume de negócios.Os novos pedidos impulsionaram a produção, com as vendas crescendo no ritmo mais forte dos últimos quatro meses. O aumento da demanda permitiu a contratação pelo quinto mês consecutivo, embora em ritmo mais moderado do que em fevereiro. Apesar do avanço operacional, a confiança empresarial caiu para o menor nível em quase quatro anos, pressionada por inadimplência, aumento de custos de insumos e taxas de juros elevadas. Os preços tanto de insumos quanto os cobrados desaceleraram no mês, embora permaneçam elevados historicamente, pressionados por alimentos, transporte e depreciação do real.


PMI industrial desacelera, mas segue em expansão marginal

O PMI do setor industrial caiu de 53,0 em fevereiro para 51,8 em março, ainda apontando expansão leve após catorze meses consecutivos de crescimento, embora no menor ritmo desde o início do último trimestre. A produção industrial seguiu avançando, mas de forma moderada, sustentada principalmente por novos pedidos, que, apesar de ainda positivos, desaceleraram significativamente. As pressões inflacionárias sobre os custos recuaram, com aumento de preços de insumos e produtos no ritmo mais lento em três meses.

A economia brasileira manteve trajetória positiva no início de 2025. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, houve alta de 0,4% em fevereiro, na comparação com janeiro, já descontados os efeitos sazonais. A leitura de janeiro havia mostrado um avanço mais expressivo, de 0,9%, reforçando uma sequência de resultados positivos. Na comparação interanual, o IBC-Br subiu 2,5% em fevereiro e 3,6% em janeiro, ambos acima das expectativas do mercado. No acumulado em 12 meses, o indicador apresentou crescimento de 2,66%.


Fonte: Banco Central do Brasil (BCB). Dados dessazonalizados. Elaboração própria.


PIB acelera no 1º trimestre de 2025, impulsionado por agropecuária e serviços

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4 % no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao quarto trimestre de 2024. Este foi o maior avanço trimestral desde o início de 2024 e ficou em linha com as expectativas do mercado financeiro, que projetava alta entre 1,2 % e 1,7 %. A expansão foi puxada principalmente pela agropecuária, que registrou alta de 12,2 %, e por uma contribuição positiva dos serviços, com crescimento de 0,3 %. Já a indústria apresentou ligeira queda de 0,1 %, configurando estabilidade no setor. O valor do PIB somou R$ 3,0 trilhões no período, sendo R$ 2,6 trilhões referentes ao valor adicionado a preços básicos e R$ 431,1 bilhões aos impostos líquidos de subsídio. Na comparação interanual, o PIB avançou 2,9 % ante o primeiro trimestre de 2024, sustentado pelo crescimento dos três grandes setores da economia: agropecuária (+10,2 %), indústria (+2,4 %) e serviços (+2,1 %). O resultado brasileiro ainda se destaca globalmente: o país registrou a 5ª maior alta do PIB entre 49 economias que divulgaram dados para o período, superando Estados Unidos, China, Alemanha e Reino Unido.


Atividade econômica resiliente, mas com moderação em setores industriais e sinais de esgotamento no varejo 

No primeiro trimestre de 2025, a economia brasileira demonstrou resiliência, com destaque para os serviços e o consumo das famílias. A indústria geral apresentou recuo marginal na margem em fevereiro (-0,1%), interrompendo uma sequência de altas. A indústria extrativa, embora tenha avançado na margem (2,7%), segue em queda no comparativo interanual (-5,2%), pressionada pela baixa produção de petróleo. A indústria de transformação também recuou (-0,5% MsM), apesar do dinamismo de setores como veículos e alimentos. Já os serviços cresceram 0,8% na margem, sustentados pelo consumo interno, enquanto o varejo restrito avançou 0,5%, contrastando com o varejo ampliado, que teve leve retração (-0,1%) puxada pelo atacado de alimentos e bebidas. 

A composição da demanda interna reforça esse quadro: o consumo das famílias foi revisado para cima, assim como o investimento, que foi inflado pela importação pontual de uma plataforma de petróleo. Ainda que o quadro geral se mantenha positivo, observa-se arrefecimento em setores industriais e sensíveis à renda, o que pode sinalizar limites à continuidade da expansão.


Confiança de consumidores recua com força; empresários demonstram cautela crescente 

Os índices de confiança do FGV IBRE encerraram o primeiro trimestre em queda, com deterioração mais intensa entre os consumidores. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) acumulou perdas relevantes (-8,1 pontos na média trimestral), com impacto mais severo nas faixas de renda mais baixa, refletindo o peso da inflação de alimentos no orçamento familiar. A percepção sobre a inflação futura voltou a piorar, com 72,5% dos entrevistados esperando alta nos preços – o maior patamar desde 2021. No setor empresarial, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) também recuou pelo terceiro mês consecutivo, com quedas concentradas nas expectativas futuras.

 O varejo foi o setor com maior impacto negativo, embora os demais segmentos também tenham reportado estabilidade ou leve deterioração. Prévia com dados de abril aponta continuidade desse movimento de queda, em linha com o aumento da incerteza global e o impacto esperado de políticas comerciais mais restritivas no comércio internacional.


Fonte: Boletim Macro FGV – Ibre. Dados dessazonalizados. Elaboração própria.


Crédito desacelera em março com queda nas concessões para empresas e famílias 

O mercado de crédito registrou retração em março, refletindo o ambiente de juros elevados e maior seletividade bancária. As concessões de crédito livre caíram 1,7% em termos reais com ajuste sazonal, com quedas tanto para pessoa jurídica (-2,7%) quanto para pessoa física (-0,9%).

 O crédito direcionado também cedeu fortemente (-8,3%), revertendo o desempenho positivo de fevereiro. Apesar da contração nas concessões, os indicadores de inadimplência permaneceram estáveis ou recuaram levemente: no crédito livre, a taxa para PJ caiu para 2,8% e permaneceu em 5,7% para PF. O saldo total de crédito cresceu 4,2% em termos reais em relação a março de 2024, desacelerando frente aos 5,7% registrados em fevereiro. 

O enfraquecimento no ritmo de expansão do crédito, somado à estabilidade nos spreads e à resiliência das taxas de inadimplência, sugere uma conjuntura de freio gradual na intermediação financeira, com potencial impacto sobre o consumo e o investimento no curto prazo.


Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) 

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) registrou forte aceleração em fevereiro de 2025, com alta de 13,3% frente a janeiro, na série com ajuste sazonal, segundo o Indicador Ipea Mensal de FBCF. Esse avanço sucede um crescimento moderado de 0,4% no mês anterior, consolidando uma expansão de 4,4% no trimestre móvel encerrado em fevereiro. Na comparação com fevereiro de 2024, a FBCF cresceu 22,2%, e no acumulado em 12 meses, apresenta alta de 8,5%. O destaque foi o segmento de máquinas e equipamentos, que teve crescimento de 25,3% na margem e 48,4% em relação a fevereiro de 2024, impulsionado por importações excepcionais, como a aquisição de três plataformas de petróleo. No acumulado em 12 meses, a demanda interna por bens de capital avançou 13,2%. 

A construção civil cresceu 3,7% entre janeiro e fevereiro, mas ainda acumula retração de 1,5% no trimestre móvel, apesar de apresentar variação positiva de 4,5% em 12 meses. Já o segmento de outros ativos fixos mostrou leve queda na margem (-0,3%), mas acumula crescimento de 11,4% no ano.


Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Dados com ajuste sazonal. Elaboração própria.


Mercado de Trabalho

Fonte: IBGE


O mercado de trabalho brasileiro continuou sua trajetória de criação de empregos no primeiro trimestre de 2025, segundo o novo CAGED foram criados mais 600 mil vagas de empregos não agrícolas, apesar disso, a taxa de desemprego subiu de 6,2% do trimestre anterior para 7,0% em março, ainda assim o desemprego foi menor que o mesmo período de 2024 (-0,9 p.p). A taxa de desemprego em 7,0% é o menor nível de desemprego para o primeiro trimestre desde 2012, o aumento do desemprego reflete a sazonalidade do início do ano, visto que há demissões dos funcionários temporários os quais foram contratados para atingir as demandas do final do ano.

Nesse trimestre, as pessoas ocupadas receberam um rendimento médio de R$3408 reais segundo o IPEA, esse valor representa uma alta anual de 4%.

 Assim sendo, tanto os números do desemprego, quanto da criação de empregos e do salário médio mostram que o mercado de trabalho brasileiro está aquecido.


Política fiscal e Balança comercial


No primeiro trimestre de 2025, Resultado do Tesouro Nacional (RTN) mostrou que o governo brasileiro alcançou um superávit primário de R$ 54,5 bilhões, resultado de medidas de contenção de gastos e adiamento de despesas, como o pagamento de precatórios. Esse desempenho fiscal foi 9,0% superior ao primeiro trimestre de 2024. 

No que se refere a balança comercial, o Brasil fechou o primeiro trimestre do ano em US$9,6 bilhões positivo (Secretaria de Comércio Exterior), o destaque vai para o mês de março, o qual correspondeu a mais de 81% da balança do trimestre, a China foi o principal destino das exportações brasileiras, além disso, a soja foi o produto mais exportado pelo Brasil, apenas em março o Brasil exportou US$ 5,7 bilhões (FOB) segundo o Ministério do Desenvolvimento, indústria, comércio e serviços.


Tom da ata do copom 


A ata da 269ª reunião do Copom sinalizou uma postura mais cautelosa diante do aumento das incertezas no cenário interno e externo. O Comitê ressaltou as maiores dificuldades no processo de desinflação, destacando a resiliência da atividade econômica, do mercado de trabalho e as pressões persistentes nos preços dos serviços. 

O Brasil ocupa atualmente a 3ª posição no ranking mundial de juros reais, com uma taxa real de 8,65% ao ano, atrás apenas de Turquia e Rússia. Conforme o último boletim Focus, a inflação projetada para os próximos 12 meses está em 5,53%, acima do teto da meta do Banco Central, enquanto a taxa DI futura para junho de 2026 gira em torno de 14,67%. O mercado espera que a Selic comece a recuar gradualmente a partir do segundo semestre de 2025, caindo dos atuais 14,75% para cerca de 12,50% em 2026 e 10,50% em 2027. No entanto, a pressão inflacionária persistente, especialmente nos alimentos, e as incertezas fiscais mantêm um cenário desafiador para a política monetária. Enquanto isso, globalmente, apenas 3,64% dos países elevaram suas taxas de juros, com 68,48% mantendo-as estáveis e 27,88% já promovendo cortes, refletindo um movimento de afrouxamento monetário na maioria das economias. 

Nesse contexto, o Banco Central reforçou a necessidade de manter uma política monetária contracionista por um período prolongado, diante dos riscos fiscais e estruturais que podem elevar a taxa neutra de juros. Inicialmente fixada em 14,25%, a Selic foi elevada em 0,5 ponto percentual, alcançando 14,75%, decisão que indica menor propensão a cortes no curto prazo, com foco na preservação da credibilidade da política monetária e no compromisso com a meta de inflação.

 


FED e EUA 

O Federal Reserve optou por manter a taxa de juros dos Estados Unidos na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, adotando uma postura mais cautelosa em meio à crescente incerteza econômica gerada pelas novas tarifas comerciais impostas pelo governo Trump. Apesar da resiliência da economia americana sustentada por um mercado de trabalho ainda aquecido e pela trajetória de queda da inflação, o comitê reconheceu o aumento dos riscos tanto para a inflação quanto para o desemprego. Jerome Powell, presidente do Fed, destacou que os efeitos dessas medidas ainda não se refletiram de forma significativa nos indicadores econômicos, justificando, assim, a decisão de aguardar antes de promover qualquer ajuste na política monetária. O banco central sinalizou estar em um “modo de espera”, preferindo monitorar os desdobramentos das tensões comerciais e os próximos dados econômicos antes de decidir entre um corte ou uma nova alta nos juros. Enquanto isso, o mercado reforça as apostas em um possível corte a partir de julho, embora a ausência de dados conclusivos e os riscos associados a um cenário de estagflação mantenham a incerteza elevada. 

A economia americana continua sinalizando um pouso suave, com o Goldman Sachs estimando inicialmente em 20% a probabilidade de recessão nos próximos 12 meses, mesmo após um relatório de emprego mais fraco no mês de julho. Contudo, esse cenário passou por uma rápida reavaliação. Com a intensificação da guerra comercial e a imposição de tarifas mais severas, o banco revisou sua projeção, elevando para 45% a chance de uma recessão a segunda alta na mesma semana. Outras instituições seguiram o mesmo movimento, como o J.P. Morgan, que agora trabalha com uma probabilidade de 60%. Ainda assim, o Goldman Sachs mantém a expectativa de que o Federal Reserve promova três cortes de 25 pontos-base ao longo de 2025, com o primeiro movimento antecipado para junho, um mês antes da previsão anterior. Já a projeção de crescimento do PIB dos EUA foi ajustada de 1,5% para 1,3%, ainda acima das estimativas mais conservadoras de outras casas, como o Wells Fargo e o próprio J.P. Morgan. O cenário permanece volátil, pressionado por variáveis macroeconômicas, decisões de política monetária e, sobretudo, pelo ambiente geopolítico e comercial incerto.



Juros no Japão 

O Banco Central do Japão (BoJ) decidiu manter sua taxa de juros em 0,5% ao ano, o nível mais elevado desde 2008 apóDDs tê-la elevado de 0,25% no início de janeiro. A decisão, tomada por unanimidade, reflete uma postura de cautela da autoridade monetária diante do cenário global incerto, marcado pelas tensões comerciais envolvendo os Estados Unidos e pela expectativa em torno da próxima reunião do Federal Reserve, que também deve manter sua taxa inalterada. 

Em coletiva, o presidente do BoJ, Kazuo Ueda, afirmou que a convergência da inflação para a meta de 2% foi adiada para o segundo semestre de 2026, um atraso de cerca de um ano em relação à projeção anterior. Essa revisão reflete a persistente fragilidade da demanda doméstica e os impactos indiretos das políticas comerciais globais. Além disso, o banco revisou para baixo suas projeções de crescimento do PIB: de 1,1% para 0,5% em 2026, e de 1,0% para 0,7% em 2027, sinalizando um cenário de menor dinamismo econômico nos próximos anos.



Juros neutro 

O Banco Central destacou que a falta de disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas em relação à dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra, reduzindo a eficácia da política monetária e tornando o controle da inflação mais custoso para a economia. A instituição também reforçou a importância da harmonia entre as políticas fiscal e monetária e da preservação dos canais de transmissão da política monetária sem distorções.

 A taxa de juros neutra é definida como a taxa que mantém a economia equilibrada, sem causar pressões inflacionárias nem gerar recessão. O Banco Central estima essa taxa em 4,5% 5% ao ano . Com a Selic em 14,25% , a taxa real de juros (a diferença entre a Selic e a inflação, que foi de 5,53% é de 9,92 % ao ano , o que está consideravelmente acima da taxa neutra. Essa taxa de juros real de 8,72% está 3,72 pontos percentuais acima da taxa neutra , acima de países com maior estabilidade fiscal, como os EUA.



Mortgage backed securities 

No primeiro trimestre de 2025, os títulos hipotecários emitidos por agências públicas dos Estados Unidos apresentaram desempenho positivo, com retorno total de 2,97%. Esse resultado foi impulsionado pela queda das taxas de juros nos títulos do Tesouro, que favoreceram diversos segmentos de renda fixa, inclusive os títulos hipotecários. As taxas de juros de curto e longo prazo recuaram, com destaque para o título de 2 anos, cuja taxa caiu 36 pontos-base, e para os títulos de 10 e 30 anos, com recuos de 37 e 20 pontos-base, respectivamente. Essa queda nas taxas proporcionou ganhos expressivos, apesar de um leve aumento nos spreads de crédito. O retorno de preço foi de 1,80%, o retorno de renda foi de 0,97%, e o retorno associado ao pagamento antecipado das hipotecas ficou em 0,21%. 

As taxas médias das hipotecas de 30 anos também caíram durante o trimestre, encerrando março em 6,65%. Apesar da queda, a atividade de vendas de imóveis residenciais – tanto novos quanto usados – permaneceu em níveis historicamente baixos. Em contrapartida, houve aumento no volume de solicitações de refinanciamento, que mais que dobrou no período, ainda que se mantenha abaixo da média histórica. Os preços dos imóveis continuam a subir, sustentados principalmente por uma oferta ainda restrita. 

Essa alta de preços contrasta com os níveis persistentemente baixos de acessibilidade habitacional, o que pressiona a capacidade de compra das famílias, mesmo em um cenário de leve alívio nas taxas de financiamento. O aumento da utilização de hipotecas com taxas ajustáveis também é um reflexo do alto custo dos financiamentos fixos. Embora o volume dessas operações tenha crescido desde os níveis mínimos observados em 2021, ainda está aquém dos patamares anteriores à crise de 2008. Além disso, o refinanciamento de hipotecas permanece restrito a mutuários com taxas significativamente mais altas, já que aproximadamente 85% dos financiamentos residenciais em circulação apresentam taxas inferiores ao patamar atual de 6,5%. A emissão de novos títulos hipotecários com garantia de agências caiu drasticamente nos últimos anos. 

Desde o pico de 2021, a emissão líquida de papéis vem diminuindo, acompanhando a desaceleração nas atividades de originação e refinanciamento. A redução da participação do banco central norte-americano como comprador desses títulos também é um fator importante: somente no primeiro trimestre, a autoridade monetária reduziu sua carteira em cerca de 45 bilhões de dólares. Ainda assim, a composição do portfólio permanece concentrada em títulos com cupons entre 2% e 2,5%, refletindo as aquisições feitas nos períodos de estímulo monetário pós-pandemia. O comportamento dos spreads de crédito também merece atenção. Apesar de terem aumentado 8 pontos-base no trimestre, os spreads dos títulos hipotecários de agências ainda estão mais de 30 pontos acima da média dos últimos dez anos. Comparados a títulos corporativos de grau de investimento, esses ativos oferecem remuneração superior, mesmo mantendo qualidade de crédito mais elevada. 

Enquanto os títulos hipotecários são amplamente classificados como AAA, os títulos corporativos apresentam uma distribuição mais heterogênea, incluindo faixas de risco maiores. Esses papéis também se destacam por sua alta liquidez. Com volume médio diário de negociação na casa dos 370 bilhões de dólares, formam o segundo maior mercado de renda fixa dos Estados Unidos, ficando atrás apenas dos títulos do Tesouro. Essa característica confere aos títulos hipotecários garantidos por agências uma atratividade adicional, sobretudo em contextos de instabilidade ou incerteza econômica. Diante desse panorama, observa-se que os títulos hipotecários emitidos por agências continuam a oferecer uma combinação robusta de rendimento atrativo, qualidade de crédito e liquidez. Mesmo com a saída gradual de grandes compradores institucionais, como o banco central, a base de investidores se mantém diversificada, com crescente participação de bancos e gestores de fundos. 

O ambiente de taxas mais baixas, aliado à estabilidade nos spreads e à qualidade das garantias, reforça a posição desses títulos como uma opção resiliente no universo da renda fixa. Esses fatos são extraídos exclusivamente de dados objetivos de mercado e análises técnicas consolidadas, sem depender de especulações ou hipóteses interpretativas.


Câmbio 


No primeiro semestre de 2025, o real se valorizou de forma expressiva frente às principais moedas globais, registrando alta de 8,84% em relação ao dólar, 5,44% frente à libra esterlina, 4,44% contra o euro e 8,40% em relação ao yuan chinês. 

No primeiro trimestre de 2025, o Brasil enfrentou a maior fuga de dólares já registrada, com uma saída total de US$ 15,8 bilhões entre janeiro e março. Esse montante ultrapassa o volume de dólares retirados do país durante o pico da pandemia de Covid-19, conforme informações do Banco Central. No primeiro trimestre de 2025, houve um movimento global de desmontagem de posições compradas em dólar, acompanhado pela queda das bolsas de Nova York. Esse cenário refletiu a busca dos investidores por ativos considerados baratos em outras praças.

 De acordo com dados da B3, os investidores estrangeiros reduziram suas posições compradas em dólar – por meio de instrumentos como dólar futuro, mini contrato, swap e cupom cambial – em mais de US$ 30 bilhões desde o final de 2024. Atualmente, essas posições somam pouco mais de US$ 40 bilhões. Esse ponto fez com que o real se apreciasse mesmo com a saída de dólares do País. Esse movimento de apreciação da moeda nacional foi parcialmente explicado pela entrada líquida de capital estrangeiro na B3, que somou R$ 10,70 bilhões no período — dos quais R$ 7,38 bilhões ocorreram apenas em janeiro. A maior oferta de moeda estrangeira, impulsionada por esse fluxo, contribuiu para a valorização do real ao pressionar a cotação do câmbio para baixo.



Política fiscal 

A dívida pública bruta seguiu em trajetória ascendente, encerrando o ano de 2024 com aumento da razão dívida/PIB. A redução no déficit primário, embora significativa, não foi suficiente para reverter essa dinâmica, reflexo da rigidez estrutural dos gastos e da pressão constante sobre as contas públicas. 

A melhora no resultado primário do Governo Central em 2024 decorreu de crescimento significativo das receitas e de pequena redução das despesas, em termos reais. O aumento da receita líquida (8,9%) foi influenciado, principalmente, pelo crescimento da atividade econômica, com reflexos positivos no mercado de trabalho, junto dos resultados das medidas de aumento de arrecadação aprovadas pelo Congresso Nacional em 2023.

 A redução das despesas (-0,7%) foi determinada, sobretudo, pela queda nos valores dos precatórios pagos em 2024 Em março de 2025, o setor público consolidado apresentou um superávit primário de R$ 3,6 bilhões, resultado superior ao registrado no mesmo mês de 2024, quando o superávit foi de R$ 1,2 bilhão. Nesse período, o Governo Central e as empresas estatais tiveram déficits de R$ 2,3 bilhões e R$ 566 milhões, respectivamente, enquanto os governos regionais contribuíram com um superávit de R$ 6,5 bilhões. No acumulado dos últimos 12 meses, o setor público consolidado teve um déficit primário de R$ 13,5 bilhões, equivalente a 0,11% do PIB, mostrando uma leve melhora em relação ao déficit de R$ 15,9 bilhões (0,13% do PIB) observado até fevereiro. 

Os juros nominais apropriados por competência somaram R$ 75,2 bilhões em março, valor superior aos R$ 64,2 bilhões registrados no mesmo mês do ano anterior. No acumulado em 12 meses, os juros nominais alcançaram R$ 935,0 bilhões, correspondendo a 7,80% do PIB — um aumento em relação aos R$ 745,7 bilhões (6,71% do PIB) acumulados até março de 2024. Somando o resultado primário aos juros nominais, o resultado nominal do setor público consolidado foi deficitário em R$ 71,6 bilhões no mês de março. 

No período de 12 meses encerrado nesse mês, o déficit nominal totalizou R\$ 948,5 bilhões, equivalente a 7,92% do PIB, levemente acima dos R$ 939,8 bilhões (7,91% do PIB) acumulados até fevereiro. Quanto ao endividamento, a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) chegou a R$ 7,4 trilhões em março, representando 61,6% do PIB — um aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao mês anterior. Essa elevação foi influenciada pelos juros nominais apropriados (+0,6 p.p.), pela valorização de 1,8% do câmbio no mês (+0,2 p.p.) e pela queda do PIB nominal (-0,5 p.p.). No acumulado do ano, a DLSP cresceu 0,1 p.p. do PIB, refletindo principalmente os efeitos dos juros nominais (+1,6 p.p.), da valorização cambial de 7,3% (+0,9 p.p.), do superávit primário (-0,7 p.p.), da redução do PIB nominal (-1,2 p.p.) e de ajustes relacionados à dívida externa líquida (-0,4 p.p.). 

Já a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que inclui o Governo Federal, INSS e governos estaduais e municipais, somou R$ 9,1 trilhões em março de 2025, o equivalente a 75,9% do PIB. Isso representa uma redução de 0,2 p.p. em relação a fevereiro. A queda foi influenciada pelo aumento do PIB nominal (-0,6 p.p.), pelos resgates líquidos de dívida (-0,3 p.p.) e pela valorização cambial (-0,1 p.p.), parcialmente compensados pelos juros nominais apropriados (+0,8 p.p.). No acumulado do ano, a DBGG caiu 0,6 p.p. do PIB, puxada pela alta do PIB nominal (-1,5 p.p.), pelos resgates líquidos de dívida (-0,9 p.p.) e pela valorização do câmbio (-0,3 p.p.), apesar da incorporação dos juros nominais (+2,2 p.p.). 

O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 projeta que a relação dívida/PIB aumente de 78,5% em 2025 para 81,8% em 2026, alcançando o nível máximo de 84,2% em 2028. A partir desse ponto, estima-se que a dívida comece a recuar, atingindo 81,6% do PIB em 2035. Essa trajetória é construída com base em premissas específicas de inflação, crescimento econômico e taxa de juros. O documento prevê que os precatórios voltarão a ser contabilizados dentro do teto de gastos a partir de 2027. Com isso, os valores destinados às despesas discricionárias devem cair de R$ 208,6 bilhões em 2026 para R$ 122,2 bilhões no ano seguinte. Desse total previsto para 2027, R$ 56,6 bilhões seriam destinados às emendas parlamentares, restando R$ 65,7 bilhões para investimentos públicos e o funcionamento do Executivo federal. Nos anos posteriores, as despesas discricionárias projetadas são de R$ 59,5 bilhões em 2028 e R$ 8,9 bilhões em 2029. A meta fiscal estabelecida para 2026 é de superávit primário de 0,25% do PIB. O PLDO apresenta uma estimativa de resultado primário de R$ 38,2 bilhões (equivalente a 0,28% do PIB), que considera a exclusão de R$ 55,1 bilhões do cálculo, sobretudo relativos ao pagamento de precatórios, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal. Com essa exclusão, o valor projetado supera em R$ 3,9 bilhões a meta central.


Considerações Finais


O primeiro trimestre de 2025 evidencia uma economia brasileira em equilíbrio delicado: há sinais de resiliência em alguns setores, como serviços e mercado de trabalho, mas também de enfraquecimento em componentes industriais e no crédito. A inflação segue pressionada, o que limita o espaço para flexibilização da política monetária. O desempenho fiscal apresentou melhora pontual, porém a trajetória da dívida ainda é motivo de preocupação.

No cenário internacional, a combinação de juros elevados, incertezas geopolíticas e volatilidade comercial impõe desafios adicionais à formulação de políticas econômicas. Em um ambiente de aversão ao risco, o investidor deve manter prudência, buscando diversificação e qualidade dos ativos em carteira.



Referências


BANCO CENTRAL DO BRASIL. Índice de Atividade Econômica – IBC-Br. Brasília: BCB, 2025. Disponível em: https://www.bcb.gov.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Estatísticas fiscais e dívida pública. Brasília: BCB, 2025. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estatisticas. Acesso em: 07 jun. 2025.

BOLETIM FOCUS. Relatório de Mercado – Focus. Brasília: Banco Central do Brasil, 2025. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus. Acesso em: 07 jun. 2025.

CNN ECONOMIA. Brasil registra maior fuga de dólares desde a pandemia, diz Banco Central. 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia. Acesso em: 07 jun. 2025.

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Custo da cesta básica – São Paulo. São Paulo: DIEESE, 2025. Disponível em: https://www.dieese.org.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

FGV IBRE – Fundação Getulio Vargas / Instituto Brasileiro de Economia. Boletim Macro FGV-Ibre. Rio de Janeiro: FGV IBRE, 2025. Disponível em: https://portalibre.fgv.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

FGV IBRE. Índices de Confiança (ICE, ICC). Rio de Janeiro: FGV IBRE, 2025. Disponível em: https://portalibre.fgv.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. Brasília: IBGE, 2025. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produto Interno Bruto – PIB Trimestral. Brasília: IBGE, 2025. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Indicador Ipea Mensal de Formação Bruta de Capital Fixo. Brasília: Ipea, 2025. Disponível em: https://www.ipea.gov.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

J.P. MORGAN. US Economic Outlook – 2025 Projections. New York: JPMorgan Chase & Co., 2025.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS. Exportações por produto e país. Brasília: MDIC, 2025. Disponível em: https://balanca.economia.gov.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

MONEYTIMES. IBC-Br: prévia do PIB brasileiro sobe 0,4% em fevereiro. São Paulo: MoneyTimes, 2025. Disponível em: https://www.moneytimes.com.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

MONTE BRAVO INVESTIMENTOS. Carta Econômica – Março de 2025. São Paulo: Monte Bravo, 2025. Disponível em: https://www.montebravo.com.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

S&P GLOBAL. PMI – Índice de Gerentes de Compras. Londres: S&P Global, 2025. Disponível em: https://www.pmi.spglobal.com/Public?language=pt. Acesso em: 07 jun. 2025.

SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. Balança Comercial Brasileira – Março de 2025. Brasília: SECEX, 2025. Disponível em: https://balanca.economia.gov.br. Acesso em: 07 jun. 2025.

WELLS FARGO. Economic Commentary – US Growth Projections. San Francisco: Wells Fargo Securities, 2025.

GOLDMAN SACHS. Macro Outlook 2025: Recession Risks and Monetary Policy. New York: Goldman Sachs, 2025.

FEDERAL RESERVE SYSTEM. FOMC Statement – March 2025. Washington, D.C.: Federal Reserve Board, 2025. Disponível em: https://www.federalreserve.gov. Acesso em: 07 jun. 2025.

BANK OF JAPAN. Outlook for Economic Activity and Prices – April 2025. Tóquio: BoJ, 2025. Disponível em: https://www.boj.or.jp. Acesso em: 07 jun. 2025.

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Carta de conjuntura Macro – abril

Carta de conjuntura Macro – abril

Overview Internacional

Criptomoedas

O boom das NFTs (non fungible token) que aconteceu mês passado, fez com que investidores ao menos lessem a respeito desses tipos de ativos, onde a liquidez do mercado secundário cresceu vertiginosamente assim como o preço das artes digitais, até os principais veículos de mídia internacional e nacionais divulgaram matérias a respeito desses ativos digitais, porém passado um mês, será que o hype e os preços desses ativos continuaram crescendo de forma exponencial?  

Como comentado na Carta de conjuntura Macro – março, o mercado de NFTs, com foco em artes digitais, músicas e vídeos se mostra um mercado muito imaturo, alguns dos motivos são: possibilidade de alteração da arte mesmo após a venda, tokenizar a mesma arte diversas vezes e as vender como únicas, incerteza com relação a percepção de valor futura, liquidez futura do mercado entre outros.

Com todas as incertezas sondando e o hype diminuindo, no mês de abril às NFTs diminuíram substancialmente seu tamanho de mercado, onde o número de vendas caiu, tanto primárias quanto secundárias, assim como a receita gerada (vendas primárias) e volume de mercado (vendas secundárias). Além do volume de negociações cair em mais de 80%, o preço dos ativos também diminuiu de forma substancial, o custo médio de uma NFT no mercado primário caiu mais de 70% e o custo médio do mercado secundário pouco mais de 50%. 

Mesmo com esses valores exorbitante de quedas, ainda se especula muito se essas são apenas temporárias ou pertinentes, o fato é que o ecossistema das criptomoedas têm muito a ser desenvolvido, além da curva de adoção ainda está em lento crescimento, com mais pessoas entrando no ecossistema de criptomoedas é possível que esse mercado volte a se desenvolver de forma sustentável. Por fim, deixo aqui a foto de uma NFT, chamada de C#2066 que foi vendida por US$ 1.459.440,00, um valor absurdo para uma imagem pixelada, que seu principal driver de valor pode ser atribuído a escassez do ativo.

FOMC

Na última semana de Abril, Jerome Powell realizou o pronunciamento sobre a decisão do FOMC, o qual manteve a taxa de juros próximas a 0% a.a. Durante a coletiva realizada, o presidente do FED comentou sobre o intuito de manter este valor baixo em razão dos dados econômicos ainda não estarem no nível pré-pandemia, mesmo com a rápida recuperação nos últimos meses.

Esta ascensão é vista nos setores americanos como: de bens, construção civil e de serviços. Estes tiveram um grande avanço em março, porém, segundo o discurso, ainda permanecem fracos. Apesar do rápido crescimento econômico, até mesmo maior do que o esperado, por enquanto a recuperação não encontra-se completa. 

Em relação ao mercado de trabalho – dado muito relevante para as decisões do FED – é possível observar uma ótima progressão em comparação ao mês anterior. Entretanto, devido a diferença de 3 milhões de empregados no momento antes e depois da pandemia, ainda existe espaço para um crescimento no mercado de trabalho. Já a taxa de desemprego nos EUA atua de forma diferente para as diversas classes sociais e econômicas do país, sendo os de classes mais baixas com dificuldades de recolocação no mercado de trabalho, dificuldade enfrentada principalmente pelos afro americanos.

Quanto à taxa de inflação, o ponto de maior preocupação entre os investidores, Powell enfatizou o intuito de que este valor deva estar próximo da meta de 2% ao ano no longo prazo. Assim, mesmo que a inflação atinja um patamar maior, como 3%  ao ano, espera-se que seja por um momento transitório devido a reabertura econômica e o choque de demanda e oferta. Porém, no longo prazo este valor tende a permanecer constante e próximo da meta.

Diante disso, a projeção para a taxa de juros americana, segundo o FED, para os próximos meses, será de estabilidade no patamar de zero por cento, ao menos que a inflação ao longo do tempo esteja muito acima da meta por um período suficientemente constante.

Se para Jerome Powell e o restante da diretoria a perspectiva de inflação não é um fator preocupante, para alguns analistas é algo a se atentar diante da alta nos preços das commodities. A liquidez nos mercados e a demanda da China por infraestrutura, faz com que alguns bens importantes para a indústria tenham um aumento significativo, liderado principalmente pelo cobre, o qual teve uma alta representativa em abril e dobrando praticamente o preço se comparado com a mínima em 2020. 

Outros produtos que tiveram uma alta expressiva no período de abril foram a soja e o milho, ingredientes importantes para a pecuária. Isso faz com que o preço da carne acabe subindo também e interfira no preço da cesta básica da população. Além disso, o trigo atingiu seu valor mais alto desde o ano de 2014, tendo como consequências o aumento no valor para os produtos derivados. 

Diante das altas das diversas commodities, cada vez é maior as pressões inflacionárias nos produtos tanto na cesta de alimentos como também de produtos indiretos que dependem de minérios como o cobre e o ferro.

Além desta liquidez no mercado afetar os preços das commodities, influencia também os mercados globais com maiores crescimentos na maioria das bolsas em 2021. Ao analisar as principais bolsas, vemos um forte aumento nos índices principalmente na bolsa americana, S & P500, o qual teve um crescimento de aproximadamente 13% entre janeiro e abril deste ano. Outras bolsas, como a de Frankfurt e do Reino Unido, tiveram altas de 10,27% e 5,41% no mesmo período, muito por causa da volta da retomada econômica e o aumento no ritmo de vacinação. Já por aqui, a bolsa brasileira ainda segue em queda se comparado com o início de 2021, muito diferente dos outros índices ao redor do mundo.

 

American Families Plan

O presidente norte-americano, Joe Biden, propôs um pacote de auxílio voltado às famílias, estudantes e crianças no valor de US$ 1,8 trilhões (aproximadamente R$ 9,8 trilhões), com o principal objetivo de expandir o acesso à educação, saúde e cuidados infantis . Esse valor será composto em dois blocos, US$ 1 trilhão em investimentos e US$ 800 bilhões em créditos fiscais, concedidos no decorrer de uma década. Segundo comunicado da Casa Branca, esse valor será totalmente compensado dentro de 15 anos via aumento de impostos para os mais ricos. A divisão do pacote irá ocorrer da seguinte forma:

  • Cerca de US$ 225 bi serão direcionados para creches, garantindo que as famílias paguem menos por esse serviço;

  • US$ 225 bi para criação de um programa de abrangência nacional de licença, familiar e médica, remunerada;

  • Outros US$ 200 bi serão utilizados, em parceria com os estados, para a promoção de pré-escola gratuita para crianças de 3 e 4 anos de idade;

  • Serão garantidos dois anos gratuitos em faculdades comunitárias para todos os estudantes, totalizando US$ 109 bi;

  • Cerca de US$ 85 bi serão destinados aos estudantes de baixa renda;

  • Um total de US$ 65 bi serão utilizados para aumentar a retenção dos estudantes nos cursos superiores;

  • US$ 39 bi serão utilizados para subsidiar dois anos de mensalidades de estudantes de baixa renda em universidades e faculdades;

  • Outros US$ 45 bi serão utilizados para complementar as necessidades nutricionais de crianças de famílias de baixa renda. Compra de alimentos fora do período escolar;

  • US$ 200 bi serão utilizados para estender o programa de subsídios aos planos e seguros de saúde sancionados pela “Lei de Cuidados Acessíveis”;

  • Entre outras iniciativas voltadas ao subsídio de seguros de saúde, expansão do crédito tributário infantil e crédito fiscal concedido a alguns grupos de trabalhadores.

Como dito anteriormente, o programa será financiado principalmente pelo aumento da alíquota de impostos sobre o ganho de capital (igual ou superior a US$ 1 mi) dos mais ricos e investidores. Revertendo a lei de corte de impostos aprovada no primeiro ano da administração do ex-presidente Donald Trump. A carga tributária irá aumentar para 39,6%, podendo ultrapassar 43%, levando em conta alguns impostos estaduais. Essa elevação representaria uma arrecadação de US$ 1,5 trilhões em dez anos. 

Haveria também, o estabelecimento de um imposto único no valor de 3,8% para todos aqueles com renda anual superior a US$ 400 mil, entretanto, para aqueles com renda inferior não haverá mudanças na carga tributária, segundo pronunciamento da Casa Branca.

O governo Biden apresentou também um pacote de cerca de US$ 8 bi em melhorias no sistema de transmissão de energia elétrica, conectando pontos remotos de geração de energia eólica e solar com os grandes centros urbanos. O objetivo desse pacote é financiar novas linhas de alta voltagem, assim como, promover a utilização de energia limpa expandindo a infraestrutura necessária e combatendo a mudança climática.


Pandemia e Vacinação

No mês de abril o percentual de pessoas completamente vacinadas em âmbito nacional alcançou cerca de 4,5% do total da população, ou seja, 9,6 milhões. Estima-se que pelo menos 26,2 milhões de pessoas receberam a primeira dose das vacinas, tanto da marca Corona Vac como da Oxford/AstraZeneca. Esse número corresponde a pouco mais de 12% da população brasileira.

Vale destacar o aumento do ritmo diário de vacinação do mês de abril. A soma de aplicação de primeiras e segundas doses alcançou uma média diária de 780 mil. Entretanto, no dia 8 ocorreu o maior número de óbitos em 24 horas desde o início da pandemia, totalizando 4.148 mortes (dados UFV). 

No dia 29 de abril o Brasil atingiu o montante de 400 mil mortes em decorrência do coronavírus. Apesar do aumento no número de vacinações e adoção de lockdown em diversas cidades, o ritmo de morte pela doença quadruplicou no período que compreende o mês de março e final de abril. 

Os primeiros 100 mil óbitos ocorreram em 149 dias. Dos 100 aos 200 mil óbitos em 152 dias, já dos 200 aos 300 mil óbitos apenas em 76 dias. Vale destacar a alta taxa de internação de jovens no mês de abril.

Mesmo assim, quem assumiu o posto de epicentro da epidemia de coronavírus foi a Índia. No dia 31 de março o país havia registrado 72 mil casos novos, já no dia 30 de abril o registro de novos casos em apenas 24 horas foi de 402 mil, com uma média de 364 mil casos diários nos últimos 7 dias do mês. Essa elevação expressiva de infecções e óbitos levou o país a um colapso no sistema de saúde e no sistema funerário. A explosão de uma nova onda de coronavírus deve-se à liberação por parte do governo de eventos religiosos e comícios eleitorais.

Nos Estados Unidos o total de pessoas vacinadas já corresponde a 32,3% da população, cerca de 106 milhões de habitantes. O maior destaque deve-se ao avanço da vacinação por faixa etária. Em muitos estados (34 dos 50), como New York, jovens entre 16 e 29 anos estão sendo vacinados desde o dia 6 de abril. Os adolescentes de 16 e 17 anos receberão apenas doses da Pfizer-BioNTech, a única autorizada pelo país para essa faixa etária.

O país é o que mais aplicou vacinas no mundo, sendo responsável por um quarto de todas as vacinas aplicadas até o momento. Segundo estimativas das instituições de saúde americana, será possível atingir a imunização de 75% da população dentro de três meses, caso o ritmo seja mantido.


Overview Nacional

CPI da Covid e Orçamento de 2021

No último dia 27 ocorreu a primeira reunião da CPI da Covid, instaurada para apurar irregularidades por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia da Covid-19. São alvos de investigação às 11 recusas de oferta para compras de vacina, a ausência de incentivo à adoção de medidas preventivas (como uso de máscara e distanciamento/isolamento social), bem como a compra e divulgação de tratamentos sem eficácia cientificamente comprovada (como a cloroquina), e que, dentre outras, totalizam 23 acusações de negligência. Entre os diversos convocados previstos para depor, estão os três ex-ministros da Saúde – Pazuello, Mandetta e Nelson Teich – e o atual, Marcelo Queiroga, além do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. A CPI tem duração prevista de 90 dias, podendo ser estendida até um ano, o que impacta negativamente na percepção do investidor em relação ao Brasil e aumenta o risco político do país. 

Apesar de a CPI da Covid possibilitar a responsabilização do presidente Jair Bolsonaro pela negligência no enfrentamento à pandemia, a previsão é a de que as investigações e averiguações se estendam até datas próximas do início do ano eleitoral, o que não fortaleceria um possível processo de impeachment, apesar de impactar em sua reeleição.

Outro fator de incerteza no mês de abril foi a aprovação do Orçamento de 2021 pelo atual presidente Jair Bolsonaro. Sancionado no último dia 22, após o maior atraso em 15 anos, necessitou de vetos no texto inicial para que se encaixasse no teto de gastos – limite que impede o governo de elevar as despesas acima da inflação do ano anterior.

O texto subestimou o montante necessário para pagamento de despesas obrigatórias (como gastos com benefícios previdenciários e seguro desemprego) e inflou despesas com emendas parlamentares (direcionadas por deputados e senadores para obras e ações em suas regiões), sendo alvo de críticas por economistas, por forçar a administração pública a operar com déficit de recursos. 

Também chama a atenção no Orçamento de 2021 a verba direcionada para realização do Censo, que deveria ocorrer este ano. Como principal pesquisa demográfica do país, o Censo traz dados essenciais para implementação e desenvolvimento de políticas públicas, contemplando saúde, educação, emprego, renda, e acesso a saneamento, entre outros. Sem essas informações, as ações governamentais no cenário pós pandemia serão impactadas, mas mesmo assim foi destinado somente 5% do valor solicitado, inviabilizando a pesquisa.

Outro problema do Orçamento foi em relação ao Plano Safra 2021/22, programa que movimenta centenas de bilhões de reais em empréstimos ao setor agrícola. Como a maior parte das verbas previstas para o programa é proveniente de obrigações já assumidas pela União, cortes que gerem déficits em operações já contratadas podem ser interpretados como empréstimos dos bancos públicos à União, algo proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A necessidade de “criar espaço” para estes gastos fez com que o Orçamento de 2021 se utilizasse de “contabilidade criativa”: com a sanção de uma nova lei no último dia 20, a Lei de Diretrizes Orçamentárias foi alterada e agora permite a alocação de mais de R$ 100 bilhões de reais em despesas fora da meta fiscal.

Fora do teto foram alocadas despesas que visam custear medidas de enfrentamento à pandemia, sendo:

  • R$ 20 bilhões para compra de vacinas e enfrentamento da Covid-19;

  • R$ 10 bilhões para renovação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm);

  • R$ 5 bilhões para o Pronampe, programa que fornece linha de crédito para pequenas e médias empresas afetadas pela pandemia;

  • R$ 44 bilhões do auxílio emergencial e outras despesas da área da saúde já definidas fora do teto de gastos em 2020 (que serão efetivadas em 2021).

A alteração na lei e a remoção destes gastos do teto foram a fórmula legal encontrada pelo Governo para que o presidente Jair Bolsonaro não corra riscos de cometer um crime de responsabilidade fiscal. Apesar de a situação ser quase idêntica à que a ex-presidente Dilma Rousseff enfrentou em 2015, e que culminou com o seu impeachment.

As mudanças no Orçamento de 2021 impactam negativamente na situação fiscal do país, e, além de fortalecer a incerteza e o pessimismo por parte do mercado, reafirmam a existência de um problema crônico. Após as alterações, o Ministério da Economia elevou a previsão do déficit primário para R$ 286 bilhões neste ano, extrapolando a meta em quase R$39 bilhões. A nova previsão equivale a cerca de 3,85% do PIB do país, sendo este o oitavo ano consecutivo com resultados negativos.

Uma notícia positiva em abril foi a publicação pelo Banco Central da primeira projeção de crescimento para o PIB em 2021, após sete quedas consecutivas, prevendo encerramento em 3,09% para este ano. Isso mostra que, apesar de ser o mês mais letal da pandemia até o momento, houve uma significativa recuperação da atividade econômica em relação aos últimos meses.


Decisão do COPOM e Taxa de juros

Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,1 % em doze meses. A inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, acelerou de 0,86% em fevereiro para 0,93% em março, acumulando alta de 6,1% em 12 meses, acima dos 5,2% observados nos doze meses imediatamente anteriores, extrapolando também o limite máximo da meta para a inflação que é definida pelo CMN em 3,75% com intervalo de tolerância de 1,5%.

A expectativa para o IPCA em 2021, segundo a pesquisa Focus, está próxima do limite superior da meta. A expectativa do mercado para o IPCA de 2021 está em 4,92%, próxima do limite superior do intervalo de tolerância do ano (5,25%), enquanto a mediana para 2022, atualmente em 3,60%, tem subido lentamente apesar de continuar ancorada ao redor do centro da meta de 3,50%. Podemos observar alguns motivos para a inflação elevada, tanto a atual quanto a expectativa para o final do ano, alguns dos principais fatores são: (1) estímulos fiscais elevados, (2) forte valorização  das commodities, (3) depreciação cambial e (4) níveis das taxas de juros que representam um grau de estímulo monetário extraordinário. 

Para ancorar as expectativas inflacionárias e aproximá-las ao centro da meta, na reunião de março do Copom, foi decidido a elevação em 75 pontos bases para a taxa básica de juros, apontando uma elevação de mesma magnitude para a reunião do dia 5 de maio.

O Copom deve manter o aumento apontado em março, dada a necessidade do aperto monetário para ancorar as expectativas inflacionárias e refletir de forma mais fidedigna a presença de um quadro de incertezas no cenário doméstico, notadamente quanto à fragilidade das contas públicas, a deterioração do cenário político e diminuição da probabilidade de passar reformas estruturantes e privatizações.

Podemos ver a partir da curva de juros brasileira que se mantém elevado o prêmio de risco no horizonte mais longo da curva. Entre janeiro e meados de abril a curva de juros deslocou-se para cima em cerca de 2,0 p.p., mostrando assim, uma elevação na balança de riscos e o mercado precificando esse maior risco na negociação dos títulos públicos no mercado secundário.

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Autores: Artur Roman, Carolina Melo, Ricardo Pering, Vinícius Cadorin

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