Conjuntura Macro / Renda Fixa

CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 1T25 - Resumo Executivo O primeiro trimestre de 2025 foi marcado por uma conjuntura econômica desafiadora, tanto no Brasil quanto no cenário… Continue reading →
CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 3T24 - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do terceiro trimestre do ano de… Continue reading →
Carta de Conjuntura Trimestral – 2T24 - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do segundo trimestre do ano de… Continue reading →
Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24 - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do primeiro trimestre do ano de… Continue reading →
Curva de Juros: Estimação, Modelos e Métodos de Otimização - A Estrutura a Termo da Taxa de Juros (ETTJ), também conhecida como Curva de Juros, expressa uma relação temporal entre… Continue reading →
Relatório Macro – Terceiro Trimestre - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do terceiro trimestre do ano de… Continue reading →
Carta de Conjuntura Macro – Junho - O avanço da atividade econômica, a decisão de aumento de juros pelo Copom e a desaceleração da inflação ganham destaque… Continue reading →
Carta de Conjuntura Macro – Maio - A melhora nos resultados domésticos relativos à atividade econômica, com destaque para o mercado de trabalho, e a piora do… Continue reading →
Carta de Conjuntura Macro – Abril - A melhora nos resultados domésticos relativos à atividade econômica, a persistência inflacionária e o aumento das incertezas globais, com a… Continue reading →
Carta de Conjutura Macro – Março - Introdução O mês de março foi marcado, principalmente, pelas consequências inflacionárias causadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, com destaque… Continue reading →
Carta de Conjuntura Mensal Agosto 2019

Carta de Conjuntura Mensal Agosto 2019

Conjuntura Internacional
No contexto da Guerra Comercial, o começo de agosto trouxe ainda mais incerteza ao mercado internacional. A escalada de tensões ocorreu em razão do anúncio por parte dos EUA, no dia primeiro, de que seriam impostas tarifas de 10% sobre outros $300 bilhões de produtos chineses, efetivamente taxando todas as mercadorias importadas. Tal movimento agitou o mercado, que esperava que a trégua anunciada por ambas as partes na reunião do G20 em junho contivesse o conflito e o levasse a um possível acordo. Consequentemente, esperamos que a disputa comercial não se resolva em um curto horizonte de tempo, podendo se estender até 2020, ano das eleições americanas.

Nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia foram as mais afetadas pela guerra comercial, devido ao setor de produção de muitas dessas companhias estar fortemente atrelado ao mercado chinês. O segmento liderou as perdas dentro do índice S&P 500 com baixa de 1,25%. Impulsionado pelos resultados negativos do setor, o S&P fechou em queda de 0,46% na última semana.

Um outro lado desse conflito internacional que recebeu destaque no começo deste mês, foi a queda do Yuan chinês para os valores mais baixos desde a crise econômica de 2008. Esse movimento, muito atrelado às tensões do comércio global, fez com que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusasse oficialmente a China de manipulação cambial. O motivo por trás dessa ação é que, mantendo a taxa de câmbio mais baixa, a potência asiática permanece competitiva mesmo com as novas tarifas anunciadas. Assim sendo, entendemos esse episódio como mais um catalisador de estresse na economia mundial.

Acerca da última reunião do Federal Reserve, nos dias 30 e 31 de julho, ocorreu um corte de 25 bps do Fed funds rate, menor que a expectativa média do mercado. Jerome Powell justificou o corte de juros como sendo um ajuste preventivo. Entendemos que as decisões subsequentes do Fed neste segundo semestre estarão atreladas fortemente a evolução da relação comercial entre os EUA e China.

Avaliamos, no entanto, que o Fed não possui muito espaço para cortar juros, com o intuito de “guardar munição” para uma situação econômica mais crítica, considerando principalmente o aumento da probabilidade de uma recessão. Além disso, a imprevisibilidade da trade war está trazendo incertezas para os mercados globais, aumentando a aversão ao risco do mercado. Com este cenário, houve uma fuga de capital para ativos notoriamente seguros, diminuindo, então, os juros em Treasury de 10 anos para 1,7% a.a, e os juros dos Bunds (títulos alemães) de 10 anos para -0.567% a.a. Isso elevou também o fluxo de capital para ativos com juros negativos, que atingiram o seu maior volume na história.

Identificamos também a possibilidade dos EUA desvalorizarem a sua moeda artificialmente, após falas do presidente Donald Trump sobre os benefícios que tal ação traria para o país. No entanto, para o curto prazo, pensamos que essa política parece improvável, visto que as reservas dos EUA necessárias não são significativas. Seria preciso uma mobilização política considerável para o governo conseguir apoio para movimentar um montante financeiro grande o suficiente que pudesse desvalorizar o dólar.

Na Europa, com a eleição de Boris Johnson, as discussões a respeito da saída do Reino Unido da União Europeia se intensificaram. O primeiro-ministro britânico adotou uma postura mais dura em relação ao Brexit, definindo uma data limite para o fim da relação. Não há um consenso entre os analistas do mercado sobre os impactos efetivos na economia do Reino Unido. Entretanto, no dia primeiro de agosto, o presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Mark Carney, disse esperar uma separação “amigável” e, caso ocorra, os juros de mercado e a libra tenderiam a subir.

Comentário Macroeconômico Brasileiro

Durante o mês de julho e início de agosto, a tramitação da reforma da previdência no congresso superou nossas expectativas. Após aprovação do texto na câmara em segundo turno, a proposta seguiu para o Senado Federal com uma economia projetada para os próximos 10 anos de R$ 933 bilhões. Dentro do Senado, a reforma passará pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa e posteriormente será votada em dois turnos em plenário. Acreditamos que o texto não sofrerá grandes desidratações e que a emenda constitucional deva ser promulgada pelo Congresso Nacional entre o fim de setembro e início de outubro.

A redução do risco de insolvência fiscal do país e o alívio no endividamento governamental devem repercutir positivamente na economia brasileira e na percepção do risco soberano. Não obstante, entendemos que a reforma do sistema previdenciário é o primeiro passo, porém, não é suficiente para maior estabilidade econômica no longo prazo. No sentido de reformas estruturais, a MP nº 881 (apelidada de MP da Liberdade Econômica) e a reforma tributária visando a simplificação de impostos, pautadas pelo governo atual, devem contribuir para um ambiente favorável ao crescimento econômico.

Como ação de recuperação da atividade no curto prazo, ao final do mês de julho, o governo anunciou novas modalidades para saque do FGTS através da MP nº 889. Acreditamos que a medida será positiva para estimular o lado da demanda, com liberação de aproximadamente R$ 30 bilhões em 2019 e R$ 12 bilhões em 2020. Através da nova regra, dada a alta propensão marginal a consumir do brasileiro, acreditamos que o consumo terá um novo catalisador no segundo semestre de 2019.

Adicionalmente, ao final do mesmo mês, o Comitê de Política Monetária decidiu cortar a meta da taxa Selic em 50 basis-points, de 6,50% a.a. para 6,00% a.a.. Acreditamos que acontecerão mais dois cortes de 50 bps até o fim do ano, alterando a taxa de juros básica para 5,00% a.a. Haja vista o histórico de ciclos de corte de juros no país, como a partir de outubro de 2016, e a atividade ainda anêmica da economia brasileira, não descartamos o cenário da Selic abaixo de 5% a.a., dependendo da inflação observada no próximo semestre.

A partir do observado, no nosso entendimento a retomada significativa da economia ainda está por vir e vislumbramos alguns sinais de que alterações estão sendo feitas para destravar o crescimento. Nos últimos meses, principalmente em junho e julho, os índices de confiança do consumidor da construção e do varejo - elaborados pela FGV - mostraram sinais otimistas em relação ao crescimento. Posto isso, com o avanço dos importantes catalisadores citados, como retomada na confiança de consumidores e empresários e fechamento do grau de ociosidade da economia brasileira, esperamos uma mudança positiva no preço dos ativos brasileiros nos próximos meses.

Posted by Bernardo Ramos in Conjuntura Macro / Renda Fixa, 0 comments
Carta de Conjuntura Mensal Julho 2019

Carta de Conjuntura Mensal Julho 2019

Conjuntura Internacional

Nas últimas semanas, a incerteza prevaleceu no cenário internacional. Vimos os EUA ameaçando imposição de novas tarifas ao Irã, devido às declarações de que este não mais respeitaria o acordo nuclear de 2015. A reunião do G-20 no Japão deveria ter marcado o reinício das negociações pelo fim do conflito comercial sino-americano, no entanto, Trump decretou novas taxações ao aço estrutural importado do México e da China, nos levando a acreditar que o conflito não cessará tão cedo, ainda que exista a possibilidade de reinício das negociações nas próximas semanas.

Na recente fala de Jerome Powell, presidente do FED (Banco central dos EUA), para o senado americano no dia 10 de julho, foi reforçada a postura de incerteza em relação aos próximos passos da economia americana. Muitos analistas já dão como certo um corte na taxa básica de juros ainda no mês de julho, o que levou a uma queda no rendimento do título do tesouro americano de 2 anos após o discurso de Powell (o rendimento e o preço do título são inversamente proporcionais na metodologia de cálculo, o que denota um aumento na procura do título).

Um mercado de trabalho que ainda segue estável (tendo adicionado 224 mil postos de trabalho no mês de junho), somado ao aumento de esperança no corte de juros, levou o S&P a bater 3 mil pontos, algo inédito até então. Entretanto, esperamos que o ponto de inflexão do ciclo de crescimento americano esteja se aproximando.

Na semana do dia 15 de julho começará a temporada de divulgação dos balanços das empresas do S&P em relação ao 2T19, onde esperamos ver os primeiros impactos da guerra comercial. Acreditamos que alguns setores, como o financeiro e o de energia, têm boas chances de apresentarem resultados já afetados pelas tarifas impostas por Trump. Além disso, cerca de 40% das receitas totais das empresas americanas listadas no S&P derivam de suas filiais internacionais, que são afetadas pela diminuição da atividade econômica global, aumentando os riscos externos.

Na Europa, a desconfiança é gerada pela escolha do novo premier do Reino Unido, que acontecerá até 22 de julho. Os dois possíveis candidatos defendem energicamente o Brexit, até mesmo sem acordo comercial. Além disso, os dados econômicos europeus mostram o segundo mês consecutivo de corte de postos de trabalho, a quinta redução seguida do índice de produção industrial e correções negativas nas projeções de crescimento e inflação para os próximos anos.

Na China o segundo trimestre de 2019 apresentou ritmo de crescimento mais lento dentre quase 30 anos. As estimativas apontam para uma taxa de crescimento acumulada em 12 meses de 6,2%, frente a 6,4% no período de janeiro a março. Desaceleração, esta, que foi puxada pela queda nas exportações e queda maior do que a esperada nas importações, justificadas pelo contexto de conflito comercial.

Finalmente, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE tem grande potencial de incentivar ganhos de produtividade na economia sul americana. No entanto, não esperamos que esse acordo seja ratificado antes do final de 2020, devido aos numerosos trâmites necessários para sua aprovação.

Conjuntura Nacional

No cenário doméstico, as perspectivas para o crescimento em 2019 continuam desanimadoras. No primeiro trimestre, o PIB apresentou queda de 0,2%, abaixo do esperado, assim como a queda de 0,5% do IBC-Br em abril. Tal desempenho levou o Banco Central a rever duas vezes sua projeção de crescimento para esse ano, de 2,4% para 2,0% em março e para 0,8% em junho. Dados mais recentes mostram desemprego estável em 12,3% e utilização da capacidade instalada em 67%, o que explicita o hiato do produto ainda acentuado.

Após uma das piores recessões, onde o PIB encolheu 3,8% e 3,5% em 2015 e 2016 respectivamente, o crescimento em 2017 e 2018 frustrou as expectativas e foi de apenas cerca de 1% em ambos os anos. Em 2018, incertezas perante as eleições, a crise argentina e a greve dos caminhoneiros contribuíram para um menor crescimento. Hoje, avaliamos que tais episódios já não influenciam nosso produto.

A lenta retomada do crescimento pode ser explicada pelas incertezas quanto à consolidação de reformas com alto impacto fiscal, visto que a última crise foi decorrente do descompasso entre gastos e receitas do governo. Ainda, vemos a economia brasileira no meio de um fiscal drag, conceito que representa o efeito refreador da contração de gastos públicos sobre o crescimento economia. Desde que atingimos o ápice do déficit em 2016, estamos presenciando um esforço extra, do atual e antigo governo, na mudança da trajetória fiscal. O fato é que o fiscal drag está mais intenso do que o esperado e, considerando o PIB pela ótica da demanda, a menor participação dos gastos do governo não está sendo compensada pelo crescimento dos investimentos privados.

A reforma da previdência é o carro-chefe da equipe econômica do governo. Após vagarosa tramitação, o texto base foi aprovado em primeiro turno no plenário com votação acima do esperado, o que gerou otimismo para os próximos passos. Mesmo não sendo igual a proposta original, a economia projetada de aproximadamente R$900 bilhões é bem vista. A PEC deve continuar sua trajetória em 06/08, após o recesso parlamentar e esperamos que seja aprovada no terceiro trimestre, próximo da reunião do Copom em setembro.

A inflação segue apresentando níveis tímidos, com 0,01% medido pelo IPCA de junho. Vemos isso como reflexo da lenta recuperação e alto desemprego. Em sua última ata, o Copom reconhece que houve uma interrupção do processo de recuperação da economia. O balanço de riscos sobre a inflação evoluiu favoravelmente, entretanto, o BCB continua atento à possibilidade de frustração com o avanço de reformas e ajustes, sendo esse o maior risco. O comitê pondera que o atual cenário de inflação baixa e estável, com expectativas ancoradas, somado ao lento crescimento do produto prescreve queda na taxa de juros a um ponto estimulativo. A abordagem usada foi a mais aberta até então, mas o corte está condicionado ao progresso das reformas.

As reformas e medidas do governo com viés contracionista não potencializam retomada de crescimento logo no curto prazo, porém, esperamos que elas contribuam para uma diminuição do risco de investimentos no Brasil e abram espaço para maior confiança dos empresários no médio e longo prazo, liberando investimentos contidos pelas incertezas quanto a agenda reformista. Estímulos adicionais foram sinalizados, como privatizações e liberação de saques do PIS/PASEP e FGTS equivalente a 1% do PIB para impulsionar a demanda no curto prazo.

Com a retomada de investimentos, aumento de contratações facilitadas pela alta oferta de mão de obra e maior liquidez na economia, projetamos uma retomada robusta de crescimento a partir de 2020.

Reflexo disso está na bolsa brasileira, que performou muito bem no primeiro semestre de 2019 e fechou junho com cerca de 10% de valorização no ano, batendo recordes históricos do Ibovespa. O que contribuiu, certamente, não foram os indicadores econômicos. Os vetores positivos foram: a) a forte sinalização do FED em iniciar um novo ciclo de afrouxamento monetário, atraindo o capital para ativos de risco e beneficiando os mercados emergentes; b) compromisso com a agenda de reformas, traduzindo para um menor risco país; c) sinalização de corte na Selic.

Posted by Bernardo Ramos in Conjuntura Macro / Renda Fixa, 0 comments
Debêntures? Curva de Juros? Precificando Ativos e Mensurando seus Riscos

Debêntures? Curva de Juros? Precificando Ativos e Mensurando seus Riscos

O foco do artigo é atentarmos nas debêntures e os assuntos que a tangem, será visto:

  1. Informações Gerais do Mercado de Renda Fixa;
  2. Conceitos fundamentais das Debêntures
  3. Precificação na Curva
  4. Curva de Juros
  5. Precificação a Mercado (valuation do título)
  6. Riscos e suas Mensurações
  7. Curva Forward
  8. Introdução à Estratégia de Imunização de Portfólio.

Para ver o artigo completo: Debêntures? Curva de Juros? Precificando Ativos e Mensurando seus Riscos

Posted by Bernardo Ramos in Conjuntura Macro / Renda Fixa, 0 comments
Ciclo de crédito americano: o que o futuro nos aguarda?

Ciclo de crédito americano: o que o futuro nos aguarda?

A economia americana já está há oito anos na fase de expansão de seu ciclo de crédito, que tende a durar de oito a dez anos, segundo afirma o gestor de hedge fund Ray Dalio. O ciclo de crédito acompanha a expansão e a contração do acesso ao crédito ao longo do tempo. Ele influencia o ciclo econômico como um todo: variações no acesso ao crédito afetam as habilidades dos agentes de financiar atividades de consumo e investimento.

Na fase de expansão, a injeção monetária na economia acarreta num aumento da oferta monetária por bens e serviços, estimulando a atividade econômica e o emprego. O fortalecimento econômico induz a um crescimento da confiança e, consequentemente de empréstimos bancários. A alavancagem cresce à medida que maiores taxas de crescimento induzem em mais endividamento das empresas. Os preços dos ativos – imóveis, ações, títulos – são positivamente pressionados pelo aumento da demanda daqueles agentes alavancados. Essa inflação no preço dos ativos pode desenvolver uma bolha de preços especulativa insustentável.

Desde a crise financeira global em 2007-08, políticas de Quantitative Easing foram implementadas nos Estados Unidos, Reino Unido e países da Zona do Euro. O Quantitative Easing é uma politica monetária onde um banco central cria quantidades significantes de dinheiro novo (geralmente eletronicamente) a fim de comprar títulos de dívida pública ou outros ativos financeiros para a estimular a atividade econômica, ou seja, aumentar os gastos do setor privado e levar a inflação a sua meta. Em conjunto com a compra de ativos, as autoridades monetárias destes países vêm buscando manter as taxas de juros em níveis próximos a zero.

Essa consequente injeção monetária na economia têm uma variedade de efeitos potenciais. Diretamente, a venda de ativos financeiros pode resultar num aumento das reservas bancárias. Com isso, os bancos comerciais disponibilizam de mais fundos para aumentar o crédito na economia. Este aumento do crédito e financiamento encoraja um aumento do consumo e do investimento.

Indiretamente, a compra dos ativos tende a aumentar seus preços e assim reduzir suas rentabilidades. Menores rentabilidades e juros reduzem o custo de capital para o financiamento de empresas e famílias. Isso, por sua vez, pode acarretar num aumento do consumo e do investimento. Alia-se a isso um aumento da riqueza proporcionado pelo aumento nos preços dos ativos que também incentiva um aumento do consume por bens e serviços.

Quando um banco necessita de liquidez, entrega ao banco central um ativo teoricamente livre de risco, que geralmente são títulos da dívida pública, e que funcionará como colateral. O Quantitative Easing consiste somente em ampliar o leque de ativos que podem ser entregues em troca de liquidez. Neste momento, embora o balanço do banco central sofra uma expansão, não há uma implicação de que os agregados monetários tenham se expandido também. Este incremento de liquidez será convertida em oferta de moeda apenas se aumentar a demanda por depósitos.

O Banco central aumenta a base monetária disponibilizando liquidez a médio prazo, mas a moeda só é efetivamente criada e chega à economia real quando os bancos cedem crédito, depositando esse dinheiro numa conta e assim expandindo a M2.

Como a ilustração 1 abaixo demonstra, só quando toda (ou uma parte substancial) da liquidez for efetivamente canalizada para a economia é que a oferta de massa monetária inflacionária (M2) expande, podendo aí gerar-se inflação.

Ilustração 1 – Quantitative Easing na Zona do Euro

No últimos anos, o  dinheiro não tem chegado integralmente à economia, fruto da consolidação das instituições financeiras. Os estímulos que tinham como objetivo final impulsionar o consumo e os investimentos resultaram no início de um novo processo de valorização dos ativos financeiros, que atingem níveis superiors ao de antes da crise de 2008 e podem indicar o começo de novas distorções. Neste ano, os níveis de empréstimos bancários e o índice S&P 500 atingiram recordes históricos. O gráfico 1 mostra a grande correlação do índice de ações americanas com o nível de empréstimos bancários americanos. As áreas em cinza representam os períodos de recessão americana.

Gráfico 1 – Empréstimos bancários mensais vs. S&P 500 mensal

A Economista e Professora da Universida de Harvard, Carmen M. Reinhart, autora do best seller “Desta vez é diferente: oito séculos de delírios financeiros”, elaborou um roteiro para o desenrolar das crises financeiras. Antes dos colapsos, os indicadores quantitativos antecedentes apontados pelo estudo são: (i) grandes fluxos de entrada de capital, (ii) forte alta nos preços dos ativos (sobretudo ações), (iii) altas pronunciadas nos preços de imóveis, (iv) trajetória de crescimento em forma de “V” invertido, (v) alta significativa no endividamento.

Além desses fatores quantificáveis, existem outros que são elencados como “amplificadores” da crise. Quais sejam: (i) políticas macroeconômicas procíclicas, (ii) dívidas ocultas (com garantias implícitas), (iii) moeda supervalorizada, (iv) regulação pobre, (v) supervisão ainda pior, (vi) fraudes e (vii) agências de classificação de risco “míopes”. Esses elementos são chamados de amplificadores, pois aumentam o período e a magnitude tanto das expansões quanto das recessões.

No momento, a atenção, novamente, está voltada para os EUA e para os riscos da política monetária expansionista até então estar gerando um processo de alto endividamento e bolhas nos preços de ativos. Após a crise do subprime e o fim da fase de retração do último ciclo de crédito em 2009, a taxa de juros administrada pelo Banco Central dos EUA (FED) permaneceu de dezembro de 2008 até novembro de 2015 no intervalo entre 0% e 0,25% ao ano. Nesse período, também foram empregadas medidas não convencionais de expansão monetária e o balanço do FED passou de US$894 bilhões para US$ 4,49 trilhões, entre o final de 2008 e o início de 2016.

Hoje, o mercado de trabalho americano está perto do pleno emprego com a taxa de desemprego em 4,7% e o produto cresce numa faixa de 2-3% ao ano. Desde novembro de 2011, início da segunda rodada de quantitative easing, o índice S&P 500 acumulou alta de 64,2% , enquanto os lucros antes dos impostos das empresas privadas cresceram apenas 1,2% em termos nominais. No mercado corporativo, a disponibilidade de recursos financeiros a baixo custo e a facilidade de se levantar recursos levaram a dívida do setor não financeiro a atingir 45% do PIB, valor  semelhante ao pré – crise.

Desde 2010, o setor corporativo americano obteve mais USD 7,8 trilhões em dívidas e outros passivos. O agravamento do endividamento das empresas pode ser evidenciado pela queda substancial no rácio de cobertura de serviços da dívida médio nos dois últimos anos, com lucros que não chegam a seis vezes o pagamento de juros. O rácio de cobertura é o número de vezes que o resultado operacional cobre os juros financeiros mais amortizações de capital a que a empresa está sujeita.

Gráfico 2 – Rácio de Cobertura Médio

(EBIT sobre pagamento de Juros)

Em 19 de abril deste ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou seu bianual Global Financial Stability Report no qual afirma: “Os fundamentos do crédito corporativo começaram a enfraquecer, criando condições que historicamente precederam retrações do ciclo de crédito.” O relatório também advertiu que a redução de impostos e a implementação de políticas de desregulamentação propostas pelo governo Trump podem acabar exacerbando fragilidades das empresas americanas. Um rápido aumento nos custos de empréstimos poderia ser uma das implicações da política fiscal expansionista de Donald Trump. Este cenário é perigoso quando têm-se um setor corporativo altamente endividado e muito vulnerável a aumentos das taxas de juros.

Na fase de expansão do ciclo de crédito, os gastos na economia crescem mais do que a produção de bens e serviços. Essa tendência acarreta numa pressão inflacionária, que é respondida pelas autoridades monetárias com uma política monetária contracionista. Uma redução na liquidez monetária e um encarecimento do crédito desaceleram a atividade econômica. A fase de retração então sucede a fase de expansão do ciclo de crédito. Quando o capital disponível dos agentes é reduzido, um declínio no preço dos ativos pode ocorrer nos mercados que haviam se beneficiado da expansão de crédito pela queda da demanda. Isto tende a causar insolvência e falência aos agentes recém chegados ao mercado. Em seguida, a solvência e lucratividade do sistema bancário é afetada, resultando numa contração generalizada do crédito. Assim, uma recessão ocorre em decorrência da contração da dívida do setor privado.

Hoje a inflação americana aproxima-se da meta de 2% ao ano. O Cômite de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed), respondeu a essa tendência aumentando as taxas de juros para o intervalo de 1,0% a 1,25% ao ano, em junho deste ano. Economistas esperam mais um aumento da taxa de juros ao longo do ano. Com isso, um possível aumento nos custos de crédito pode antecipar o fim da fase de expansão de crédito americana.

Por mais que muitos sinais indiquem que os Estados Unidos estão próximos do fim desse ciclo, é difícil afirmar de fato quando a fase de retração iniciará. O crescimento global continua lento, mas especialistas indicam que esse crescimento deve continuar. Como pode ser visto no gráfico 3, a economia americana cresce a níveis inferiores aqueles que precederam as outras crises, ou seja, a situação não é de sobreaquecimento, mas sim de moderação.

Gráfico 3 – Evolução do PIB Americano x Média

Historicamente, o Fed terminou de aumentar as taxas de juros muito antes do fim dos ciclos de crédito. As últimas duas recessões ocorreram de 9 a 18 meses depois do Fed completar o aumento das taxas. Atualmente, a política monetária do Fed é de normalizar as taxas que estavam em níveis muito baixos. A postura do Fed pode ser considerada dovish, uma vertente favorável à realização de políticas monetárias graduais e acomodatícias, tendendo a preferir proteger a atividade econômica a combater a inflação.

Hoje, os balanços de bancos estão muito mais fortes que no passado, em decorrência de reforço na regulamentação seguida a crise de 2008. Esse fortalecimento do setor bancário aliada a política monetária frouxa dos maiores bancos centrais ao redor do mundo viabilizam a continuidade do acesso ao crédito,.

O atual ciclo de crédito americano ainda não chegou ao fim e não se sabe quando a próxima fase iniciará. Ainda assim, é importante ter cautela e evitar os mercados americanos mais sensíveis a aumento de juros e taxas de incumprimento (default rates), como o mercado de high yield bonds americano.  Aliás, oscilações na economia americana impactam o mundo todo. É importante ficar de olho no que está acontecendo por lá.

Posted by Igor Lodygensky, CEA in Conjuntura Macro / Renda Fixa, 3 comments
Afinal, o que é Swap Cambial?

Afinal, o que é Swap Cambial?

Frequentemente lemos e ouvimos falar que o Banco Central realizou leilões de swap cambial e leilões de swap reverso. Ainda assim, poucos realmente entendem esse instrumento financeiro.

No Brasil, assim como em muitos outros países, o regime cambial é do tipo flutuante “sujo”. Ou seja, as taxas de câmbio oscilam diariamente, de acordo com a oferta e demanda, porém é comum intervenções das autoridades monetárias no mercado de câmbio. Essas intervenções visam levar o câmbio à níveis considerados adequados pelo governo e/ou evitar variações excessivas, que poderiam ser danosas à economia.

No Brasil, as preocupações das autoridades monetárias são ora com efeitos de desvalorizações do câmbio sobre a inflação, ora com efeitos de valorizações sobre a competitividade da indústria e das exportações em geral. Os swaps cambiais são ferramentas muito utilizadas pelo nosso Banco Central para tentar atingir esses objetivos.

Mas afinal o que é um Swap?

Os swaps são contratos de troca de indexadores (taxa de juros, variação cambial, variação na cotação de commodities, entre outros), comumente utilizados para gerenciar os riscos das partes envolvidas. Por exemplo, uma empresa endividada em dólares querendo proteger-se da desvalorização do câmbio realiza um contrato com uma empresa endividada em moeda local que teme um aumento nas taxas de juros.  

Num contrato de swap cambial “normal”, uma das partes, investidor ou instituição financeira, quer se proteger do risco de desvalorização da moeda local, enquanto a outra, o Banco Central, tem interesse em manter a taxa do câmbio estável, sem muita volatilidade.

Nesse contrato, o Banco Central se compromete a pagar a variação cambial (indexador #1) do período e o investidor se compromete a pagar uma taxa de juro (indexador #2) do mesmo período, ambos sobre um principal, chamado de Notional Value, previamente acordado, sem que haja a troca do valor principal, somente o pagamento das diferenças dos fluxos decorrentes dos indexadores.

Exemplo

Digamos que esteja sendo negociado um Swap Cambial com contrato de 6 meses. Ele possui tais características:swap cambial o que é finanças mercado

Notional Value do contrato: R$ 10 milhões.

Taxa de juros negociada: variação da Taxa DI (média dos juros dos depósito Interbancários).

Taxa de Câmbio negociada: Dólar spot (dólar “à vista”, diferente de dólar futuro)

Dado tal contrato, se o Banco Central comprar esse contrato ele estará realizando a operação de swap cambial “normal”. Quando o Banco Central compra o contrato, a outra parte – investidor ou instituição financeira – assume a venda desse contrato.

O Banco Central entra “comprado”/”ativo” em CDI e “vendido”/”passivo” em dólar, e o oposto acontece com a outra parte. Após o leilão de tal swap, digamos que no próximo período de 6 meses ocorreu a seguinte variação nos indexadores do contrato:

Variação CDI no período: +6,5%

Variação Cambial no período: +11,7%

Ao final do contrato, na data especificada, o Banco Central paga R$ 1,17 milhões ao investidor, referente à variação cambial sobre o Notional Value, e recebe do investidor, ou instituição financeira, R$ 650 mil, tendo como resultado líquido na operação um prejuízo de R$ 520 mil. Já a contraparte, tem como resultado líquido um ganho de R$ 520 mil.

Lembrando que o dinheiro que trocou de mãos na operação foi em moeda local e não em dólares, por isso se diz que o swap cambial normal se equivale a uma venda da moeda no mercado futuro, diferente de uma venda direta de dólares no mercado.

O Banco Central realiza essa operação buscando uma queda do dólar frente ao real, uma queda da volatilidade do câmbio, ou simplesmente pode ser utilizado pela autoridade monetária para identificar as expectativas dos agentes econômicos em relação ao câmbio.

E o reverso?

O swap reverso nada mais é do que a negociação do mesmo contrato de swap cambial, no entanto, o Banco Central realiza vendas desses contratos, assumindo, consequentemente, posição ativa em variação cambial e passiva em taxa de juros. Essa operação corresponde a uma compra da moeda no mercado futuro.

O Banco Central vende tais contratos quando julga necessário desvalorização do real frente ao dólar, ou simplesmente o controle da volatilidade no mercado de câmbio. 

Fato interessante: O Banco Central teve perda de R$ 89,7 bilhões de reais com swaps em 2015.

Posted by Felipe Zanette in Conjuntura Macro / Renda Fixa, 5 comments