Conjuntura Macro / Renda Fixa

CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 3T24 - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do terceiro trimestre do ano de… Continue reading →
Carta de Conjuntura Trimestral – 2T24 - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do segundo trimestre do ano de… Continue reading →
Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24 - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do primeiro trimestre do ano de… Continue reading →
Curva de Juros: Estimação, Modelos e Métodos de Otimização - A Estrutura a Termo da Taxa de Juros (ETTJ), também conhecida como Curva de Juros, expressa uma relação temporal entre… Continue reading →
Relatório Macro – Terceiro Trimestre - No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do terceiro trimestre do ano de… Continue reading →
Carta de Conjuntura Macro – Junho - O avanço da atividade econômica, a decisão de aumento de juros pelo Copom e a desaceleração da inflação ganham destaque… Continue reading →
Carta de Conjuntura Macro – Maio - A melhora nos resultados domésticos relativos à atividade econômica, com destaque para o mercado de trabalho, e a piora do… Continue reading →
Carta de Conjuntura Macro – Abril - A melhora nos resultados domésticos relativos à atividade econômica, a persistência inflacionária e o aumento das incertezas globais, com a… Continue reading →
Carta de Conjutura Macro – Março - Introdução O mês de março foi marcado, principalmente, pelas consequências inflacionárias causadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, com destaque… Continue reading →
Carta de Conjuntura Macro – Fevereiro - O mês de fevereiro ficou marcado pelo início do conflito no Leste Europeu, com a invasão russa à Ucrânia, culminando… Continue reading →
CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 3T24

CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 3T24

No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do terceiro trimestre do ano de 2024, analisando os cenários econômicos nacional e internacionais.

Neste trimestre, destaca-se no cenário nacional o início do aperto monetário pelo Banco Central, em um contexto de mercado de trabalho aquecido e hiato do produto positivo. Além disso, as expectativas fiscais pioraram, e o IPCA se aproxima do teto da meta, pressionado por eventos climáticos.

No cenário internacional, as tensões no Oriente Médio e no Leste Europeu persistem. Destaca-se também o início do afrouxamento monetário pelo Federal Reserve para mitigar o risco de recessão, além das políticas de estímulo do governo chinês, que visam reviver a demanda e alcançar a meta de crescimento para 2024.

 

IPCA de 4,42% se aproxima do teto estabelecido pelo BACEN e ganha desafios com recentes eventos climáticos

 

A inflação de julho (+0,38%) teve um valor acima do esperado (+0,34%), impactado pelo aumento no preço das passagens aéreas (+19,39%), contribuindo com 0,11 p.p., impulsionado pelo aumento da demanda durante as férias escolares. Outro subitem que apresenta quase 6% de peso sobre o IPCA e que mostrou inflação de 3,15% (impacto de 0,16 p.p. sobre o Índice) foi a gasolina, dado ao ajuste de preços de 7,12% no preço de venda para a distribuidora, impactando o consumidor final em mais R$ 0,15 por litro. Além desses fatores, a energia elétrica residencial impactou o índice em 0,08 p.p., dado ao acionamento da bandeira amarela na tarifa de energia. Enquanto isso, o grupo de alimentação ajudou a conter a alta, registrando uma deflação de 0,22%. A maior queda foi no preço do tomate (-31,24%), devido ao aumento da oferta desse produto no mercado.

Para agosto, o IPCA apresentou uma deflação de 0,02%, ficando ligeiramente abaixo das expectativas do mercado de uma inflação de 0,01%. A deflação foi influenciada pela queda de preços no grupo de Alimentação e Bebidas (-0,44%), contribuindo com -0,09 p.p. no índice. No grupo, os itens que registraram as maiores quedas são tubérculos, raízes e legumes, com uma deflação de 16,31% na comparação mensal, justificada pela perda de qualidade da produção, consequência da falta de chuva e do calor intenso. Outro item que impactou o Índice foi a energia elétrica residencial (-2,77%), impactando com -0,11 p.p., e que foi influenciada pela volta da bandeira tarifária verde dado o volume de chuvas na região Sul do Brasil no mês. Por outro lado, o aumento no preço da gasolina (+0,67%) evitou que a deflação fosse ainda mais acentuada.

No mês de setembro o IPCA apresentou aceleração frente a agosto registrando alta de 0,44% frente às expectativas de 0,46% do mercado. Influenciada principalmente pela energia elétrica residencial com elevação de 5,36% no mês, impactando o índice em 0,21 p.p., que é justificado pelo acionamento da bandeira tarifária vermelha I, como consequência das secas que atingiram o país. Além disso, conforme anúncio da Aneel no dia 27/09, em Outubro foi acionado a bandeira vermelha patamar 2, indicando uma maior pressão no futuro próximo. O item de carnes também apresentou elevada pressão no índice com 0,07 p.p., dada inflação registrada de 2,97%, que por conta da estiagem e clima seco do período diminuem a qualidade da pastagem, que afeta o peso do gado e por fim impactando no preço da arroba. Além disso, o mês também foi impactado pelo aumento de preços do gás de botijão (2,40%), passagem aérea (4,64%) e plano de saúde (0,58%).

Fonte: IBGE e ANBIMA; Elaboração própria.

O índice de difusão, que mede a proporção de subitens do IPCA com alta de preços, foi de 47% em julho e subiu para 56% nos dois meses seguintes, influenciado por condições climáticas adversas e queimadas. O núcleo da inflação apresentou aceleração na passagem de julho (0,24%) para agosto (0,38%) e desaceleração no mês de setembro (0,21%), afetada por fatores semelhantes aos do índice de difusão. O IPCA acumulado no ano de 2024 se encontra em 3,31%, 0,19 p.p. inferior ao mesmo período de 2023, e, no acumulado de 12 meses, 4,42%, próximo ao teto da meta estabelecida pelo Banco Central de 4,50%, exigindo uma política monetária mais restritiva.

Fonte: IBGE e ANBIMA; Elaboração própria.

Taxa de desemprego em mínimas históricas evidencia desempenho robusto do mercado de trabalho


No mês de agosto, a taxa de desemprego alcançou o nível de 6,6%, o menor desde dezembro de 2014, representando uma redução de 1,2 p.p. em relação ao mesmo período do ano anterior e uma redução na margem de 0,3 p.p. Um dos fatores que explicam o desempenho é o crescimento do número de admissões nos meses de julho e agosto — juntos, somaram 423 mil novos empregados — 17% a mais que nos mesmos meses de 2023. Em agosto, o número de pessoas na força de trabalho alcançou 109,8 milhões, com 7,3 milhões de pessoas desocupadas e 3,1 milhões de desalentados, o menor número desde maio de 2016. 

Fonte: IBGE; Elaboração própria.

No período observado, a quantidade de pessoas ocupadas no setor industrial e no setor de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas apresentou um aumento de 234 mil e 198 mil empregados, respectivamente. O número de empregadores apresentou um crescimento modesto de 1,7% na margem e uma queda de 0,02% em relação a junho. Outro ponto de destaque é a natureza do crescimento de empregos no setor privado, uma vez que se observou, no período de junho a agosto, um crescimento de 0,68% no número de empregos com carteira assinada e de 3,20% sem carteira assinada (+442 mil). No acumulado do ano até agosto, os serviços de administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviço social apresentam participação relevante no desempenho do mercado de trabalho, com o maior aumento no número de empregados, totalizando 592 mil (+3,28%).

O rendimento real médio de todos os trabalhos habituais mensais no mês de agosto foi de R$ 3.228, representando uma queda marginal de 0,09% em relação a junho e uma recuperação (+0,53%) em relação a julho, corroborando para um crescimento robusto na comparação anual, de 5,04%. No período, o salário real médio no setor privado informal apresentou um expressivo crescimento de 8,34%, assim como o setor industrial, alcançando o patamar de R$3.170 (+7,3% na comparação anual).

 

PIB do Brasil surpreende com alta de 1,4% no 2º Trimestre e projeção de crescimento para 2024 sobe para 3%

 

O trimestre também foi marcado pela divulgação do PIB do Brasil referente ao segundo trimestre de 2024. O produto interno bruto brasileiro cresceu 1,4% em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, superando tanto o resultado do trimestre passado quanto a mediana das projeções do mercado, que estimava um avanço de 0,9%. Na comparação anual, o PIB registrou um crescimento de 3,3%.

O setor de serviços apresentou uma alta de 1,0% na margem e 3,5% em termos anuais, sendo responsável por 2,0 pp da variação anual do PIB. Esse avanço foi generalizado, abrangendo áreas como comércio, atividades financeiras e transporte. O setor industrial também teve resultados positivos, com crescimento de 1,8% na margem e 3,9% interanual, contribuindo com 0,8 pp para o PIB. A indústria foi beneficiada pela recuperação dos investimentos e pela demanda interna robusta, especialmente nos segmentos de transformação e eletricidade.

Por outro lado, a agropecuária apresentou queda de 2,3% na margem e 2,9% na comparação anual. Essa retração foi atribuída principalmente às condições climáticas adversas, que prejudicaram a produção de culturas-chave como soja e milho.

Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 1,3% na margem, mesmo percentual de aumento registrado no consumo do governo. Em termos anuais, o consumo das famílias avançou 4,9%, impulsionado por um mercado de trabalho aquecido e pelas políticas governamentais de elevação do salário mínimo e transferências de renda. Esse componente foi o maior contribuinte para o PIB, adicionando 3,1 pp à taxa de crescimento anual.

O PIB do segundo trimestre confirmou a melhora na sua composição, marcada por mais uma forte expansão da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que cresceu 2,1% na margem e 5,7% em termos anuais. Esse aumento é atribuído ao crescimento da produção doméstica e da importação de bens de capital, além do bom desempenho nos setores de construção e desenvolvimento de sistemas de informática.

As exportações líquidas, no entanto, impactaram negativamente o crescimento, subtraindo 1,5 pp do PIB. Apesar do crescimento de 1,4% nas exportações, as importações aceleraram ainda mais, com alta de 7,6% na margem e 14,8% na comparação anual, reforçando a força da demanda interna.

Fonte: IBGE; Elaboração própria.

O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que antecipa o desempenho do PIB, recuou 0,40% em julho, após uma alta expressiva de 1,40% no mês anterior. A expectativa era de uma queda de 0,9%, mas o recuo foi menor, marcando o primeiro declínio em quatro meses. Em agosto, o índice avançou 0,23% em relação ao mês anterior, superando as projeções de estabilidade. Na comparação anual, o IBC-Br registrou um aumento de 3,1%, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses, o índice cresceu 2,5%.

A ocorrência de choques negativos, como a tragédia climática no Sul entre abril e maio, e a interrupção do ciclo de cortes na taxa Selic, decidida na reunião do Copom em junho, levou alguns analistas a revisar para baixo suas projeções para o PIB de 2024. No entanto, na divulgação mais recente, o carry-over subiu de 1,2% para 2,7%, indicando que, mesmo com estagnação nos próximos trimestres, o PIB já garantirá esse crescimento mínimo para o ano. Com isso, o Relatório Focus ajustou as expectativas para uma alta de 3%, refletindo um cenário mais otimista para 2024.

Na última ata do Copom, o Banco Central ressaltou que a atividade econômica tem mostrado um dinamismo superior ao previsto, levando à reavaliação do hiato do produto para o campo positivo. A combinação de um mercado de trabalho aquecido, política fiscal expansionista e o aumento das concessões de crédito às famílias continua a sustentar o consumo e a impulsionar a demanda agregada. Contudo, esse cenário de maior vigor econômico dificulta a convergência da inflação à meta, exigindo uma postura monetária mais contracionista para conter as pressões inflacionárias.

 

PMI Industrial e de Serviços flutuam em meio à demanda e pressões de custos no Brasil

 

Em julho de 2024, o PMI industrial atingiu 54,0 pontos, o maior nível em três meses, enquanto o PMI de serviços chegou a 56,4 pontos, o mais alto desde junho de 2022. Ambos os índices foram impulsionados pela forte demanda interna e externa. No entanto, os setores enfrentaram o impacto da desvalorização do real, que aumentou significativamente os custos dos insumos, forçando fabricantes e prestadores de serviços a reajustarem seus preços para proteger suas margens.

No mês seguinte, o cenário mudou, com o PMI industrial de agosto recuando para 50,4, indicando uma desaceleração da indústria, acompanhada por quedas na produção e nas vendas. Paralelamente, o PMI de serviços caiu para 54,2, o nível mais baixo desde abril, embora ainda se mantenha em território expansionista. Esse declínio foi impulsionado principalmente pela redução da demanda e pelas persistentes pressões inflacionárias, exacerbadas por problemas climáticos.

Já em setembro, o PMI industrial cresceu para 53,2, indicando uma melhora na produção, na criação de empregos e no aumento das vendas. No setor de serviços, o PMI subiu para 55,8, destacando-se pelo aumento expressivo dos novos pedidos, o maior registrado em 27 meses. Contudo, as pressões de custos permaneceram elevadas, especialmente em insumos como eletricidade e alimentos, resultando novamente no repasse desses encargos aos consumidores.

Fonte: Investing.com; Elaboração própria.

 

Déficit público exige que governo crie alternativas para elevar arrecadação e evitar o aumento da percepção de risco

 

O cenário fiscal do Brasil enfrenta desafios significativos devido ao aumento do déficit público e às incertezas nas contas públicas. Segundo o Ipea, os recentes ajustes de despesas visam alcançar um equilíbrio orçamentário, mas as previsões para o crescimento econômico permanecem moderadas.

O governo busca aumentar a arrecadação, e uma das medidas propostas é a “taxação das blusinhas”, que estabelece uma tarifa de 20% para compras internacionais abaixo de US$ 50. Essa nova imposição espera arrecadar cerca de R$ 700 milhões neste ano, conforme o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2025. No entanto, a implementação de reformas estruturais, como a tributária, ainda enfrenta desafios.

Além disso, o governo deve adotar uma estratégia de aumento da arrecadação para atingir a meta de resultado primário de zero déficit fiscal. Recentemente, houve uma piora nas expectativas para o resultado nominal de 2024 e 2025. As projeções passaram de -7,3% e -6,5% do PIB, segundo o relatório Focus de 26/07/2024, para -7,78% em 2024 e -7,3% em 2025, conforme o relatório Focus de 27/09/2024.

O contínuo déficit fiscal pode comprometer a confiança dos investidores e aumentar a percepção de risco, exigindo medidas fiscais mais rigorosas para estabilizar a economia e atrair investimentos estrangeiros.

 

Banco Central adota postura cautelosa frente a incertezas e instabilidades, com elevação das projeções

 

As expectativas de inflação, especialmente a do IPCA para o fim de 2024, apresentaram uma leve aceleração no último trimestre, passando de 4,1% para 4,37%. Essa variação reflete pressões ainda presentes nos preços de serviços e de alguns insumos alimentares.

Esse aumento sutil na inflação, combinado com a instabilidade do cenário interno e externo, foi influenciado por incertezas econômicas e crises geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e a instabilidade no Oriente Médio, que contribuíram para uma mudança nas expectativas de juros.

Inicialmente em 10,5%, a taxa Selic foi elevada para 10,75%, marcando o início de um novo ciclo de alta. A expectativa é que o Banco Central adote uma postura cautelosa, buscando equilibrar o controle da inflação e a manutenção do crescimento econômico. A previsão é que a taxa básica atinja 11,75% até o final de 2024. Nesse contexto, a taxa de juros neutra da economia está projetada em 4,75% desde junho, segundo o Banco Central.

Fonte: Banco Central do Brasil; Elaboração própria.

 

Impactada pelo índice de moradia, inflação nos EUA surpreende gerando incertezas sobre futuro da da política monetária

 

Durante o terceiro trimestre de 2024, o índice de inflação ao consumidor (CPI) apresentou a mesma leitura para os meses de julho, agosto e setembro, com variação de 0,2%. Em julho, o número ficou em linha com a expectativa do mercado, destacando-se o aumento de 0,4% no índice de moradia (Shelter), responsável por 90% dos itens que registraram inflação no período. Em agosto, o índice também seguiu as previsões, sendo influenciado pela aceleração do Shelter (+0,5%) e pela queda nos preços de energia (-0,8%). Setembro, por sua vez, a leitura foi ligeiramente superior às expectativas, com uma queda robusta no preço da energia (-1,9%) e um aumento significativo nos preços dos alimentos (+0,4%), que, somados ao Shelter (+0,2%), contribuíram com 75% do aumento mensal dos itens.

Assim, o trimestre encerrou com um CPI acumulado de 12 meses de 2,4%, o menor nível desde fevereiro de 2021, mas ainda acima da meta estabelecida pelo FED, de 2%. O período foi influenciado pelos índices de moradia e alimentos, com altas de 4,9% e 2,3%, respectivamente, no acumulado. O item de energia apresentou uma expressiva queda de 6,8% nos preços, evitando uma inflação maior. Observando o core CPI, foram registradas leituras de 0,2% em julho e 0,3% em agosto e setembro, resultando em um acumulado de 3,3% nos últimos 12 meses, com uma aceleração marginal de 0,01 p.p. em relação ao acumulado de agosto. A elevação do núcleo da inflação ao fim do trimestre trouxe questionamentos ao mercado quanto à duração do ciclo de cortes nas taxas de juros adotado pelo banco central americano.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics; Elaboração própria.

 

Payroll – Iminência da recessão norte-americana surge com o trimestre e se dissipa ao decorrer do tempo

 

No terceiro trimestre de 2024, a economia americana observou um crescimento na taxa de desemprego (+0,02 p.p.) em julho, seguido de uma queda de 0,01 p.p. nos dois meses subsequentes, passando de 4,3% em julho para 4,1% em setembro.

O período foi marcado por surpresas, começando com a criação de empregos significativamente abaixo do esperado em julho (+114 mil empregos), além de um aumento expressivo no número de pessoas desempregadas (+352 mil), representando um crescimento de 21% em relação ao ano anterior. Somado a um aumento expressivo na força de trabalho (+420 mil), impulsionado pela imigração, esses dados geraram temores globais de uma recessão nos Estados Unidos. O aumento relevante da taxa de desemprego acendeu o alerta para a Sahm Rule, que indica uma recessão quando o desemprego aumenta mais de 0,5 p.p. na média móvel de três meses em relação ao valor mínimo da média móvel dos 12 meses anteriores.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics; Elaboração própria.

Em agosto, a criação de empregos novamente ficou abaixo das expectativas (+142 mil empregos), com 42 mil pessoas deixando o desemprego. Destacou-se a criação de 118 mil novos empregos no setor privado, e o aumento do rendimento médio por hora (+0,4% em relação a julho), alcançando US$35,21 por hora. O resultado do relatório de empregos (payroll) indicou que o mercado de trabalho estava desacelerando, mas sem sinais de colapso.

Por fim, em setembro, a criação de 254 mil novos empregos superou as expectativas do mercado. Essa recuperação, somada à queda na taxa de desemprego, gerou questionamentos sobre a eficácia da Sahm Rule e reduziu as preocupações de uma recessão na economia americana. O resultado foi impulsionado pela criação de empregos nos setores de educação e serviços de saúde (+81 mil), e lazer e hospitalidade (+78 mil), além de um novo aumento de 0,4% no rendimento médio por hora, que chegou a US$ 35,36.

 

Fed inicia afrouxamento monetário, mas permanece atento aos riscos inflacionários

 

Após o ciclo de alta na taxa de juros, implementado para controlar a inflação desenfreada em diversos países, observou-se o início do ciclo de queda de juros nos Estados Unidos. O Federal Reserve reduziu a taxa de juros de 5,5% para 5,0%, uma queda que superou as expectativas de alguns players do mercado, que previam uma redução para 5,25%, ou seja, uma diminuição de apenas 0,25 pp.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics; Elaboração própria.

 

Essa redução animou muitos participantes do mercado financeiro, que estavam receosos quanto a uma possível crise na principal economia do mundo. No entanto, o processo de diminuição da taxa de juros nos EUA deve ocorrer de forma gradual, uma vez que o banco central ainda considera os riscos inflacionários.

 

China passa a priorizar estímulos à demanda para atingir a meta de crescimento

 

No Plenário do Partido Comunista Chinês de julho, a ausência de novas iniciativas e estímulos gerou uma perspectiva econômica desalentadora, com a projeção de crescimento para 2024 reduzida para abaixo da meta governamental de 5,0%. A estagnação do setor imobiliário e do mercado acionário levou os investidores a buscar segurança em ativos de renda fixa e ouro, pressionando as taxas de juros para baixo. Além disso, a desaceleração na manufatura e nas exportações foi evidenciada pela queda do PMI industrial para 49,8 em julho e pelo crescimento de 7% nas exportações, abaixo do esperado.

A situação se agravou em agosto, quando a inflação anual alcançou apenas 0,6%, o menor aumento desde 1999. A inflação subjacente subiu apenas 0,3%, o nível mais baixo em três anos, o que pode adiar os gastos das famílias e o investimento empresarial. As vendas no varejo aumentaram apenas 2,1% em termos anuais, abaixo do esperado, mesmo durante o período de viagens de verão.

Em setembro, o CPI da China subiu apenas 0,4% em relação ao ano anterior, abaixo da expectativa de 0,6%. O índice de preços ao produtor (PPI) registrou uma queda de 2,8%, marcando o 24º mês consecutivo de deflação, resultado das flutuações nos preços das commodities e da demanda interna insuficiente. Para enfrentar esse cenário, o Banco Popular da China (PBoC) injetou 800 bilhões de yuans no sistema financeiro e considerou liberar mais 500 bilhões de yuans. O PBoC também reduziu a taxa de recompra reversa, a taxa de empréstimos de médio prazo e o coeficiente de reserva dos bancos, liberando 1 trilhão de yuans para aumentar o crédito. Outras medidas incluíram a diminuição da contribuição mínima para a compra de uma segunda residência e incentivos para que governos locais adquirissem imóveis não vendidos.

Fonte: Investing.com; Elaboração própria.

 

Apesar do anúncio, o mercado permanece cauteloso. As ações chinesas atingiram máximas de dois anos, aumentando 25% em poucos dias, e esse otimismo também foi sentido na bolsa brasileira, especialmente entre as exportadoras de commodities. No entanto, o mercado recuou à medida que o nervosismo aumentava devido à ausência de mais detalhes sobre os planos de gastos adicionais do governo. Essa incerteza levantou questões sobre a eficácia das medidas anunciadas, sugerindo que elas podem não ter sido suficientes para enfrentar os desafios estruturais da economia chinesa, e enfatizou a necessidade de políticas fiscais mais eficazes para combater a deflação e estimular a demanda de forma sustentável.

Nesse contexto, no dia 12 de outubro, o governo anunciou novas medidas fiscais, afirmando que ainda tem espaço para aumentar a dívida e o déficit fiscal, embora sem detalhar todas as iniciativas de estímulo. Entre as principais políticas estão a alocação de 400 bilhões de yuans para governos locais, o uso de 2,3 trilhões de yuans em bônus não utilizados e a ampliação do teto da dívida para reestruturar dívidas ocultas. Outras ações incluem a compra de terrenos ociosos e imóveis comerciais, priorizando habitações subsidiadas, além de considerar a abolição do imposto sobre valor agregado para edifícios residenciais e o aumento de subsídios para estudantes, em resposta ao recorde de desemprego juvenil em agosto. O ministro das Finanças também destacou a necessidade de reformas financeiras e tributárias para otimizar processos e estimular inovações.

 

Autores: João Pedro Melo Zimmermann, Diogo Rodrigues Machado e Vinícius Gallardo Ribeiro Rodrigues.

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Carta de Conjuntura Trimestral – 2T24

Carta de Conjuntura Trimestral – 2T24

No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do segundo trimestre do ano de 2024, analisando os cenários econômicos nacional e internacionais.

Neste trimestre, destaca-se uma conjuntura mais adversa no que se refere a economia nacional, gerando flutuações mais agressivas nas taxas de câmbio e fazendo com que o Banco Central interrompesse seu ciclo de corte nas taxas de juros.

Já no cenário internacional, os dados da economia norte-americana melhoraram ao longo dos últimos meses, dando abertura para que a autoridade monetária do país inicie um ciclo de corte de juros já no terceiro trimestre.

Atividade econômica

Durante o mês de abril observou-se uma expansão da indústria brasileira, baseada no otimismo e confiança dos empresários com relação ao número de vendas. No entanto, o mês de maio foi marcado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, com os seus impactos negativos sobre a produção e logística, além do fechamento de empresas e a questão fiscal em torno da tragédia. Em junho o PMI Industrial voltou a expandir, mas de forma marginal devido à desvalorização do real. A desvalorização da moeda doméstica, cerca de 14,6% está entre as maiores do mundo em 2024 e exerce forte pressão sobre os custos das empresas, que repassam os valores e tornam-se menos competitivas internacionalmente. 

O setor de serviços ficou marcado pela resiliência, sendo que em maio atingiu o maior nível desde meados de 2022, motivado sobretudo pelo aumento da demanda. Em junho, o índice evidenciou um desaceleramento, instigado por mazelas decorrentes da tragédia no RS, bem como o aumento de custo em decorrência da questão cambial.

Atas do Copom

Na reunião de maio, o Banco Central destacou um ambiente mais adverso, em função da incerteza relacionada a política monetária dos Estados Unidos, que tem observado dados negativos que apontam para uma economia mais resiliente do que era inicialmente esperado. Por consequência, os discursos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, têm sido rígidos ao apontar para uma política monetária contracionista por um maior período.

O adiamento do afrouxamento da política monetária na maior economia do mundo exige maior cautela das economias emergentes. No caso do Brasil, o cenário internacional adverso convergiu com momentos de incerteza fiscal e consequente desancoragem das expectativas de inflação, que contribuíram para um aumento dos prêmios de risco dos ativos financeiros.

Fonte: Ipea; Elaboração Própria.

A reunião de maio também ficou marcada pela discordância entre os membros do comitê, que divergiram sobre a magnitude do corte da taxa Selic, gerando incertezas e aumento em alguns vértices mais longos da curva de juros. Os membros que votaram pelo corte de 0,50 ponto percentual alegaram que o cenário prospectivo não divergiu o suficientemente do esperado para valer o custo reputacional do comitê de não seguir guidance, o que reduziria o poder das comunicações formais do comitê. Já os membros que votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual, alegaram que mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir o guidance, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem de expectativas.

Na reunião realizada em junho, o Banco Central novamente diagnosticou a mesma conjuntura internacional adversa e um cenário doméstico mais dinâmico do que o esperado, com dados surpreendendo em relação à formação bruta de capital fixo e consumo das famílias, sustentado por um mercado de trabalho resiliente, benefícios sociais e pagamento de precatórios.

Dado esses fatores, o comitê avaliou que o hiato do produto, que se encontrava levemente negativo, agora se encontra em torno da neutralidade. Vale ressaltar que ainda há incerteza dado os efeitos econômicos do Rio Grande do Sul, tanto em relação a intensidade da queda da atividade quanto a sua recuperação.

O comitê elevou a sua estimativa de taxa neutra de juros de 4,5% para 4,75%, destacando que a falta de disciplina fiscal, a diminuição no esforço para realização de reformas estruturais e o aumento do crédito direcionada tem o potencial de elevar a taxa de juros neutra. A elevação da estimativa da taxa neutra de juros era algo esperado, com economistas do mercado alegando que, em seus modelos, essa taxa já alcança patamares em torno de 6 pontos percentuais.

Na reunião também foi enfatizado a transmissão do ciclo de afrouxamento monetário para o mercado de crédito, em linha com o esperado. Apesar do endividamento alto das famílias, a demanda por crédito por pessoas físicas segue alta. No entanto, espera-se que a elevação nas taxas de juros de médio e longo prazo tragam menor dinamismo para o mercado de crédito.

Por fim, a reunião de junho resultou na decisão da manutenção da taxa de juros, em decisão unânime que demonstrou convergência dos membros do comitê, e foi vista pelo mercado como um fator positivo para a credibilidade dos novos membros em relação ao seu compromisso com o controle da inflação.

IBC-Br demonstra resiliência da atividade econômica

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) se elevou cerca de 0,26% em abril, e 0,25% em maio, número abaixo das expectativas do mercado. Contudo, o índice mostra-se 1,30% maior do que o mesmo período em 2023, além de apresentar um crescimento acumulado em torno de 1,66% nos últimos 12 meses. Segundo o Banco Central, as vendas no varejo surpreenderam (1,2% de alta) enquanto que a indústria teve queda pelo segundo mês consecutivo.

O trimestre ainda foi marcado pela divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre de 2024, com a expansão de 0.8% na economia, motivada sobretudo pelos serviços, além de que a indústria teve uma leve queda (-0,1%) e o setor agropecuário cresceu 11,3%. Apesar do crescimento significativo demonstrado pelo setor agro, a expansão foi menor do que a observada no mesmo período em outros anos, o que afeta a balança comercial devido a importância do segmento. Uma evidência positiva foi a ampliação da Formação Bruta de Capital Fixo pelo segundo trimestre consecutivo em decorrência do setor de construção civil, desenvolvimento de software bem como a importação de bens de capital. No entanto, quando comparada em termos relativos, houve uma queda da participação do investimento no PIB, visto que no primeiro trimestre de 2023, a categoria representava 17,1%, enquanto que no trimestre anterior se reduziu para 16,9%.

Fonte: Banco Central. Elaboração própria

IPCA – No 2º trimestre de 2024, os grupos de Saúde e cuidados pessoais e de Alimentação e bebidas ganham destaque.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou um aumento de 0,38% em abril, ligeiramente acima da expectativa de 0,34%. Os principais fatores que contribuíram para o aumento foram os grupos de Saúde e cuidados pessoais (1,16%) e de Alimentação e bebidas (0,70%), que juntos responderam por 0,30 ponto percentual (pp) do índice. A alta nos preços dos produtos farmacêuticos, devido ao reajuste de até 4,50% autorizado pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), e o aumento nos preços de alimentos como mamão (22,76%), cebola (15,63%), tomate (14,09%) e café moído (3,08%), afetados por fenômenos climáticos, foram determinantes para a aceleração da inflação no mês. No caso de Artigos de residência (-0,26%), destaque para a diminuição dos preços de computadores e televisores.

Em maio, a inflação brasileira foi de 0,46%, superando a projeção de 0,41%. O maior aumento foi observado no grupo de Saúde e cuidados pessoais, com uma variação de 0,69%, destacando-se pelos aumentos nos preços de planos de saúde (0,77%) e itens de higiene pessoal (1,04%), como perfumes (2,59%) e produtos para pele (2,26%), influenciados pelo aumento sazonal da demanda durante o Dia das Mães. Em segundo lugar, o grupo de Habitação registrou um aumento de 0,67%, com destaque para a energia elétrica residencial (0,94%), afetada por reajustes tarifários em diversas cidades. O grupo de Alimentação e bebidas também teve impacto significativo, com um aumento de 0,62%, sendo os tubérculos, raízes e legumes (6,33%) os principais responsáveis por essa elevação, com a batata-inglesa liderando com um aumento de 20,61%, devido a condições climáticas adversas e mudanças nas safras no Rio Grande do Sul. Outros alimentos como cebola (7,94%), leite longa vida (5,36%) e café moído (3,42%) também contribuíram para o aumento dos preços, devido a fatores sazonais e variações no mercado internacional.

Os efeitos do desastre climático no Rio Grande do Sul (RS) já impactaram os preços desde maio, com destaque para os alimentos. Na região metropolitana de Porto Alegre (POA), que compõe 8,6% do IPCA e foi severamente afetada, o índice de preços ao consumidor subiu 0,87%, em comparação com 0,42% nas demais áreas do índice e 0,46% na média nacional. As maiores discrepâncias foram observadas no gás de botijão, com um aumento de 7,39% em POA contra 0,36% nas demais regiões, e na alimentação no domicílio, com alta de 3,64% em POA frente a 0,34% nas outras áreas. Entre os alimentos, os preços de produtos in natura foram os mais afetados, embora se espere que esses aumentos se revertam rapidamente devido ao ciclo curto de produção. No entanto, o RS, que é um importante produtor de arroz e trigo (responsável por 70% e 40% da produção nacional desses produtos, respectivamente), viu os preços desses itens subirem em maio devido ao ciclo de produção mais longo.

Já em junho, a inflação foi de 0,21%, abaixo da expectativa de 0,29%. O grupo com maior variação foi Saúde e cuidados pessoais, que subiu 0,54%, impulsionado pelo aumento nos preços de perfumes (1,69%) e pelos reajustes nos planos de saúde (0,37%), autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) com um reajuste de até 6,91%. Este aumento teve vigência a partir de maio de 2024 e impactou diretamente o IPCA de junho, incorporando os ajustes mensais relativos a maio e junho. O grupo de Alimentação e bebidas também teve impacto significativo, com alta de 0,44%, contribuindo com 0,10 pp para o índice. No grupo de Habitação, os preços subiram 0,25%, com aumentos significativos na taxa de água e esgoto, influenciados por reajustes tarifários em várias cidades.

O núcleo do IPCA teve variações de 0,27% em abril, 0,39% em maio e 0,23% em junho. Excluindo itens voláteis como alimentos e energia, essa medida oferece uma visão clara das tendências inflacionárias e auxilia na formulação de políticas econômicas e monetárias mais eficazes.

Fonte: ANBIMA; Elaboração própria.

O grupo Transportes, que possui o maior peso no índice de inflação com cerca de 21%, apresentou variações significativas nos preços ao longo dos meses. Em abril, houve um leve aumento de 0,14%, com a queda nas passagens aéreas (-12,09%) sendo contrabalançada pelos aumentos nos combustíveis, especialmente etanol (4,56%), gasolina (1,50%), e óleo diesel (0,32%), com a gasolina contribuindo com 0,08 pp no IPCA. Em maio, o grupo registrou uma alta de 0,44%, marcada pela primeira alta do ano nas passagens aéreas (5,91%) e aumentos contínuos nos combustíveis, etanol (0,53%), óleo diesel (0,51%), e gasolina (0,45%), além de aumentos no metrô (1,21%) e táxi (0,55%). Em junho, houve uma queda de 0,19%, devido principalmente à redução nos preços das passagens aéreas (-9,88%). Os combustíveis mostraram variações mistas, com aumentos na gasolina (0,64%) e etanol (0,34%), enquanto o óleo diesel (-0,64%) e o gás veicular (-0,61%) tiveram reduções.

Fonte: IBGE; Elaboração própria.

Paridade real/dólar apresenta elevada volatilidade

No início do ano de 2024, se esperava que o FED cortasse as taxas de juros dos Estados Unidos já no mês de março, porém os dados da economia americana demonstraram resiliência do mercado de trabalho e uma inflação persistente, fazendo com que as previsões dos cortes fossem redefinidas para final do ano. Por consequência, houve uma subida nos vértices da curva de juros norte-americana, direcionando a liquidez de outros países para os Estados Unidos e apreciando a moeda norte-americana em relação às demais.

No entanto, a taxa de câmbio real/dólar passou por uma desvalorização mais significativa do que a internacional no segundo trimestre de 2024, efeito que ocorre por múltiplos fatores como a recente mudança da meta de resultado primário pelo Governo Federal, que causou perda de credibilidade do governo perante o mercado, que se mantém cético em relação ao compromisso da atual gestão em relação ao cumprimento das metas fiscais.

Fonte: Ipea; Elaboração própria.

Na economia real, as taxas de câmbio efetivas reais têm permanecido em patamares abaixo da pandemia ocorrida 2020, quando houve uma forte desvalorização nominal. Quando se aplica o INPC como deflator da taxa de câmbio, as taxas ficam em níveis similares aos do fim de 2019, indicando uma menor variação em relação ao valor de produtos manufaturados. Já quando deflacionados pelo índice IPA, as taxas estão em valores consideravelmente menores que os praticados ao final de 2019, de forma que as taxas de câmbio ajustadas diminuíram para produtos básicos e bens intermediários.

Fonte: Ipea; Elaboração própria.

Mercado de trabalho – setor público impulsiona a redução da taxa de desocupação

No trimestre de abril a junho, a taxa de desocupação alcançou 6,9%, o menor índice em 10 anos, marcando uma redução de 1,0 pp em relação ao trimestre anterior e de 1,1 pp em comparação ao mesmo período do ano passado. O número de pessoas desocupadas foi de 7,5 milhões, em uma força de trabalho total de 109,4 milhões.

O setor público destacou-se com um crescimento significativo de 5,3% no número de empregados, especialmente na Administração Pública, Defesa, Seguridade Social, Educação, Saúde Humana e Serviços Sociais, que aumentou 4,8%, acrescentando 852 mil pessoas ao contingente de trabalhadores. Os empregadores também apresentaram um crescimento notável de 4,0%, refletindo um aumento no número de empresários. Em contraste, os empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada cresceram 3,1%, indicando um aumento na informalidade, enquanto os empregados com carteira assinada tiveram um crescimento mais modesto de 1,0%.

O número de pessoas desalentadas caiu para cerca de 3,2 milhões, uma redução de 9,6% em relação ao trimestre anterior e de 11,5% em comparação ao mesmo período do ano passado. O percentual de pessoas desalentadas em relação à força de trabalho foi de 2,9%, marcando uma queda de 0,3 ponto percentual em relação ao trimestre anterior e de 0,4 ponto percentual em comparação ao ano passado.

O rendimento médio mensal real habitualmente recebido pelas pessoas ocupadas foi de R$ 3.214, com um crescimento de 1,8% em relação ao trimestre anterior e de 5,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento foi notável na Administração Pública e nas categorias da Indústria, Comércio, Transporte, Alojamento e Alimentação. Em termos de posição na ocupação, os rendimentos aumentaram para empregados com e sem carteira assinada, no setor público e trabalhadores por conta própria. A massa de rendimento real totalizou R$ 322,6 bilhões, apresentando um aumento de 3,5% em relação ao trimestre anterior e de 9,2% em relação ao ano passado, refletindo um acréscimo significativo na remuneração global.

Esse desempenho robusto do mercado de trabalho é uma das principais surpresas positivas da economia nos últimos anos, embora também represente um desafio para a política monetária.

Fonte: IBGE. Elaboração própria.

EUA

O trimestre teve sentimentos mistos na economia americana, com uma queda da produção industrial em abril, mostrando uma certa estagnação, seguida de uma expansão de 0,9% no mês de maio, atingindo o maior nível em 22 meses. Já em junho, a economia cresceu aproximadamente 0,6%, acima das expectativas do mercado, que previa uma expansão de 0,3%. No varejo a economia demonstra estagnação, com pouquíssima mudança no indicador, apesar de superar as projeções de queda. O Índice de confiança do consumidor sofreu negativamente durante o período, com o registro de três quedas consecutivas. Entre os motivos destacam-se o enfraquecimento do mercado de trabalho e a estagnação da renda.

Payroll – Mercado de trabalho dos EUA mostra estabilidade geral com uma taxa de desemprego em torno de 4%.

Os dados ajustados do payroll indicam que, em abril, foram adicionados 108.000 novos empregos, em maio, 218.000 e em junho, 206.000. Os principais setores responsáveis por esses ganhos foram saúde, governo e assistência social. O setor de varejo apresentou um aumento de 20.000 empregos em abril e continuou a crescer em maio com 13.000 novos postos, embora tenha registrado uma diminuição de 9.000 empregos em junho. Destaca-se também o setor governamental, que adicionou 70.000 empregos em junho.

Os indicadores do mercado de trabalho dos EUA mostraram estabilidade geral. A taxa de desemprego manteve-se em torno de 4%, com uma leve elevação para 4,1% em junho, enquanto o número de pessoas desempregadas variou de 6,5 milhões a 6,8 milhões. A taxa de participação na força de trabalho permaneceu estável, com 62,7% em abril e 62,6% em junho, e a razão emprego-população não apresentou mudanças significativas, situando-se em 60,2% em abril e 60,1% em maio e junho. Comparado ao ano anterior, os índices são mais altos, com a taxa de desemprego subindo de 3,6% para 4,1% e o número de desempregados aumentando de 6,0 milhões para 6,8 milhões.

Em relação aos salários, o ganho médio por hora para todos os empregados no setor privado fora do setor agrícola aumentou 0,2% em abril, 0,4% em maio e 0,3% em junho, atingindo $35,00. Ao longo dos últimos 12 meses, o ganho médio por hora cresceu 3,9%. Em junho, o ganho médio por hora dos empregados do setor privado em produção e não supervisionados aumentou para $30,05.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics. Elaboração própria.

CPI – Inflação estadunidense cai pela primeira vez em quatro anos, enquanto o índice de habitação mostra desaceleração em junho.

Em abril, o CPI aumentou 0,3%, abaixo da expectativa de 0,4%, com subidas em habitação e gasolina, enquanto o índice de alimentos permaneceu estável. Em maio, o índice ficou inalterado, em contraste com a previsão de 0,1% de aumento, devido à queda nos preços da gasolina compensada pelo aumento em habitação e alimentos fora de casa. Em junho, o CPI caiu 0,1%, marcando o primeiro declínio mensal desde maio de 2020, e ficou abaixo da expectativa de alta de 0,1%. A queda acentuada nos preços da gasolina e da energia superou os aumentos em habitação e alimentos fora de casa. O núcleo da inflação, excluindo alimentos e energia, apresentou aumentos menores nos três meses, com variações de 0,3% em abril, 0,2% em maio e 0,1% em junho, evidenciando uma desaceleração no crescimento dos preços subjacentes. Nos últimos 12 meses, o índice geral subiu 3,0% antes do ajuste sazonal.

Em abril e maio de 2024, o CPI Shelter (índice de habitação) subiu 0,4% em cada mês. A elevação foi impulsionada por aumentos semelhantes nos índices de aluguel e aluguel equivalente dos proprietários, enquanto a hospedagem fora de casa registrou uma leve queda. No entanto, em junho, o índice de habitação subiu apenas 0,2%, com os índices de aluguel e aluguel equivalente dos proprietários aumentando 0,3% — os menores aumentos desde agosto de 2021. Apesar da desaceleração mensal, o índice de habitação subiu 5,2% no último ano, representando quase 70% do aumento total de 12 meses no índice geral excluindo alimentos e energia.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics. Elaboração própria.

China

A economia chinesa manifesta uma estagnação econômica, evidenciada pelos fracos resultados do PMI Industrial e de serviços durante o trimestre. O governo chinês segue sob forte pressão para encontrar uma maneira de acelerar a atividade econômica, já que as medidas de estímulo ao consumo ainda não geraram os fins objetivados. Nesse contexto, há uma batalha por reacender a confiança do consumidor, que apresenta uma trajetória decrescente neste ano, apesar de alguns picos.

Fonte: Thomson Reuters; Elaboração própria.

Argentina apresenta melhoras estruturais

Na Argentina, a inflação passou de 25% ao mês em dezembro de 2023 para 4.2% em maio, com a projeção de uma inflação acumulada de 140% em 2024 frente a 211% no ano anterior. A agenda de equilíbrio fiscal é um dos principais pontos defendidos pelo novo governo, com um brusco corte nos gastos públicos e o postergamento de pagamentos que geraram um superávit de 0.4% nos cinco primeiros meses do ano. A continuidade desse reajuste depende da aplicação da Lei de Bases (aprovada com dificuldade e restrições devido à falta de poder no parlamento). Entre as principais medidas estão: a permissão para privatizar algumas estatais como a petrolífera Enarsa; flexibilização de leis trabalhistas; desregulação do mercado de gás natural.

Em relação à acumulação de reservas internacionais houve um avanço significativo, auxiliado sobretudo pela exportação do setor petrolífero e do agropecuário (historicamente forte no primeiro semestre), mas que não deve se repetir no segundo semestre, o que dificulta o processo de recomposição de reservas.

Commodities

A amenização da escalada de conflitos geopolíticos, principalmente no Oriente Médio, aliviou o preço do petróleo, com a previsão de redução dos cortes da OPEP+ em meados de 2024, além da ampliação de produção por países de fora do bloco, como Canadá. Em relação ao gás natural, houve uma elevação de preços ocasionada pelo incremento da demanda vinda da Ásia, bem como problemas de produção em locais chave e preocupação sobre o relacionamento entre a Rússia e a Europa. Cabe destacar que a Europa apresenta estoques em um nível recorde, sendo que a Rússia se tornou, novamente, em maio o maior fornecedor de gás natural do continente europeu, com cerca de 15% do market share.

A soja teve uma expansão de preço em abril e junho, sobretudo devido à valorização do dólar e às preocupações com os estragos das enchentes no sul. Entretanto, em junho, mesmo com o fortalecimento do dólar, a desvalorização da commodity na Bolsa de Chicago gerou uma retração no preço interno (resultantes de um excesso de oferta em relação à demanda). A cultura de milho também apresenta uma estagnação e retração devido à oferta elevada, com uma safra brasileira mais avançada e em razão de excelentes produções na Argentina e nos Estados Unidos.

Políticas monetárias internacionais seguem linhas divergentes

Em junho, o Banco Central europeu reduziu a sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, atingindo o patamar de 4,25%. A decisão foi tomada a medida que a inflação se aproxima da meta de 2% anteriormente estipulada. Porém, a instituição monetária não deixou um guidance claro para a decisão da próxima reunião, reforçando sua atenção com os dados que serão recebidos ao longo do tempo, principalmente relacionado aos preços atrelados à energia e serviços, que têm sido os principais componentes da inflação europeia no período recente.

Em contraste com as medidas apresentadas pelo Banco Central europeu, o Banco Central do Japão encerrou sua histórica política de taxa de juros nominal negativa no final do primeiro trimestre de 2024, com declarações de seus representantes abrindo espaço para novos aumentos nas taxas de juros. Durante o segundo trimestre o país apresentou taxas crescentes de inflação, aumentando as expectativas do mercado em relação a um aumento ainda maior nas taxas de juros do país.

As movimentações do Banco Central japonês são relevantes, pois além do país ser a quarta maior economia do mundo, também é considerado um grande exportador de poupança, que provê liquidez para o mercado financeiro global. Caso haja um aumento contínuo na taxa de juros do país, poderá haver uma maior retenção de poupança no país, retirando liquidez dos demais países e causando uma performance positiva do iene em relação às principais moedas globais, dada a diminuição do diferencial das taxas de juros entre Japão e as outras principais economias mundiais.

Apesar da melhora dos dados em relação a inflação nos últimos meses, o presidente do Banco Central norte-americano, Jerome Powell, adotou uma postura mais rígida em seus discursos durante o segundo trimestre de 2023, reforçando a postura cautelosa da autoridade monetária e arrefecendo os mercados durante o período. A estratégia tem sido bem-sucedida e se espera que, caso os dados de inflação e desemprego sigam tendência recente, haja um corte na taxa de juros dos Estados Unidos ainda no terceiro trimestre.

 

Autores: Gustavo Minatto Martins; Marcos Vinicius Thibes Petussi; João Pedro Melo Zimmermann.

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Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24

Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24

No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do primeiro trimestre do ano de 2024, analisando os cenários econômicos nacional e internacionais.


Neste trimestre, no cenário nacional, se destacam as incertezas quanto às trajetórias da inflação e da dívida pública, assim como seus consequentes efeitos sobre a taxa de juros e a economia real.


Já no cenário internacional, se destacam as tensões no Oriente Médio e os recentes dados da economia estadunidense, que pode estar mais distante de um ciclo de corte na taxa de juros do que o esperado no final de 2023.


Evolução da inflação brasileira mostra sinais de incerteza e exige cautela por parte do Banco Central em suas próximas decisões.


No mês de janeiro a inflação teve um valor de 0,42%, acima do esperado, em razão principalmente dos preços dos alimentos, impactados pelas consequências do El Niño. Em fevereiro, o reajuste das mensalidades escolares fez com que o mês surpreendesse as expectativas, com um valor de 0,83%. Já em março, a inflação surpreendeu positivamente, tendo uma desaceleração maior do que o previsto, com 0,16% frente às projeções de mercado. Esse cenário mais benigno foi influenciado pela desaceleração do setor de alimentos e bebidas (embora ainda tenha tido a maior alta, impactado pelos fatores climáticos), além de uma deflação no segmento de combustíveis, influenciado pela queda da gasolina e das passagens aéreas.


No entanto, o alívio do setor de combustíveis pode ser passageiro, visto que, segundo dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (19/04/2024), os preços praticados pela Petrobras da gasolina e do diesel estão defasados em 27,09% e 5,41% respectivamente. A empresa brasileira realizou o último ajuste em dezembro de 2023 e provavelmente irá postergar ainda mais o reajuste, já que o presidente da corporação está com relações desgastadas com o atual governo e um eventual aumento dos preços arruinaria o relacionamento.

O índice de difusão (número de componentes que tiveram aumento de preços) caiu durante o período, tendo os valores 65%, 57% e 56% nos três primeiros meses. O número poderia ser ainda menor, mas em março houve um incremento no número de itens alimentícios com crescimento nos preços. O núcleo de serviços subjacentes (exclui os itens mais voláteis e costuma ser menos sensível à política monetária) está pressionado pelo mercado de trabalho e é observado com cautela, já que em janeiro surpreendeu com uma alta de 0,76%, apesar de abrandar para 0,45% nos dois meses seguintes.


Um dos fatores de atenção para a continuidade da menor pressão dos preços é a questão fiscal, que está cercada de incertezas. O consolidado do setor público superou as expectativas em janeiro e apresentou um superávit de R$102 bilhões, ao passo que em fevereiro teve um déficit de R$48 bilhões, além de um déficit de R$1,5 bilhão em março, totalizando um superávit acumulado de R$19,4 bilhões no primeiro trimestre, abaixo do resultado apresentado no mesmo período do ano passado. Cabe lembrar que o ano é marcado pelas eleições municipais e pelo histórico populismo econômico relacionado ao período. No entanto, existem expectativas de que as novas fontes de arrecadação (apostas esportivas, investimentos Offshore, fundos exclusivos) possam reduzir parcialmente o risco fiscal. Somente em janeiro, aproximadamente 29% dos tributos de Rendimentos de Capital tiveram como origem os fundos exclusivos.

Mercado de trabalho brasileiro segue aquecido. 

Apesar da sazonalidade de janeiro, o Brasil apresentou aceleração do emprego em fevereiro, com 306 mil vagas criadas, sobretudo no setor de serviços (63% do número). Ademais, nota-se um reaquecimento da mediana dos salários de admissão (para o primeiro trimestre de 2024, utilizou-se somente dados de janeiro e fevereiro), o que pode dificultar a desinflação de serviços. Com uma taxa de 7,8% de desemprego, número historicamente baixo, a questão do equilíbrio do mercado de trabalho pode dificultar o processo de desaceleração salarial. No último trimestre de 2023 houve um aumento da participação no mercado de trabalho e caso a tendência tenha continuidade, pode tornar o cenário mais benigno.


IBC-Br– Atividade econômica segue resiliente liderada pelo varejo. 

Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a economia avançou 0,6% em janeiro e 0,4% em fevereiro de 2024, em ambos os meses se destacou o setor de varejo, que se beneficiou da inflação controlada e o aumento da massa salarial. O comércio varejista avançou 2,5% no conceito restrito (bens não-duráveis e semi-duráveis) e 2,4% no conceito ampliado (que engloba também bens duráveis, como veículos e materiais de construção), superando os tetos das projeções e indicando resiliência no setor. No mês de fevereiro, o varejo restrito cresceu 1%, novamente superando as expectativas, resultando em uma alta acumulada de 6,1% em relação aos dois primeiros meses de 2023. Já o varejo ampliado, avançou 1,2%, perto do teto das estimativas, acumulando uma alta de 8,2% em relação ao mesmo período no ano anterior.

No mês de janeiro houve crescimento de 0,7% no setor de serviços na comparação com dezembro de 2023, com alta em quatro das cinco categorias que compõem o índice, com exceção de serviços prestados às famílias, que devolveu a forte alta do último mês do ano de 2023. O destaque ficou com o segmento de serviços de informação e comunicação, que foi impulsionado pelo crescimento da receita das empresas que atuam na produção de conteúdo para TV e streaming. Já no mês de fevereiro, o setor de serviços retraiu em 0,9%. A retração vem em linha com a expectativa de acomodação do setor em 2024, com as atuais quedas compensando os meses de alta recentes. Das 5 categorias pesquisadas, apenas o segmento de serviços prestados às famílias apresentou uma leve alta (0,4%).

No mês de janeiro a produção industrial recuou em 1,6%, com destaques positivos para o setor de bens de capital que avançou em 9,3%, enquanto o setor de bens intermediários recuou 2,7%. Da mesma forma, no mês de fevereiro o setor industrial novamente recuou 0,3%, com destaques positivos para o setor de bens duráveis (3,6%) e negativos novamente para o setor de bens intermediários (contração de 1,2%). Apesar da contração geral no setor, há uma composição positiva nos resultados, com alta relevante na fabricação de veículos e insumos para construção civil, indicando aumento de investimentos. No entanto, setores relevantes impactaram negativamente os resultados gerais, como a leve retração na produção de alimentos e a estabilidade na produção de combustíveis. No mês de fevereiro, também houve forte retração no setor químico (3,5%) e de produtos farmacêuticos (6,0%). Por fim, o mês de março finalmente registrou uma alta de 1,1% para a indústria, puxada pelo setor de derivados de petróleo.


Concessões de crédito voltam a evoluir depois de período de incertezas.

No primeiro trimestre de 2024, o efeito das políticas de afrouxamento monetário e incentivo ao consumo começaram a ser sentidos no mercado de crédito. Houve uma notável diminuição da inadimplência para pessoas físicas, decorrente não só da redução da taxa básica de juros, mas também dos programas de renegociação de dívidas promovidos pelo governo federal no último ano, permitindo um crescimento de 14,7% na concessão de crédito livre para pessoas físicas entre jan/23 e jan/24. No entanto, é necessário observar a piora na composição da carteira de crédito contratado, com aumentos na modalidade de crédito de alto custo (cheque especial, crédito pessoal, cartão parcelado, entre outros) e diminuição nas de baixo custo (crédito consignado, financiamento de veículos, entre outros).

No entanto, a inadimplência ainda é crescente entre as empresas, que sofreram não apenas com aumento do custo de crédito nos últimos anos, como também com os impactos nos custos de seus insumos e na desaceleração do crescimento da demanda. No geral, houve uma queda na concessão de crédito no começo de 2023, quando a aversão ao risco aumentou com pedidos de recuperação judicial por parte de grandes empresas, impactando principalmente modalidades de recebíveis como a de risco-sacado. Contudo, o segundo semestre de 2023 deu início a uma retomada no apetite por crédito, que continuou no primeiro mês de 2024, que registrou um aumento de 8,7% em relação a janeiro de 2023.

Esses fenômenos podem ser explicados pela queda da taxa básica de juros e da curva longa da ETTJ, que tiveram como consequência uma queda no índice de custo de crédito brasileiro, que reduziu durante o ano de 2024. Com isso, tendências observadas no ano de 2023 começaram a ser revertidas no primeiro trimestre de 2024 e tendem a melhorar durante o resto do ano. Por exemplo, a formação bruta de capital fixo da economia brasileira que teve sucessivas quedas durante os últimos 3 trimestres do ano passado, voltou a variar positivamente no primeiro trimestre deste ano, uma notícia positiva para a produtividade do país e para o controle da inflação de longo prazo.


PMI de serviços e industrial reforçam perspectiva de resiliência da economia brasileira.

Mesmo diante do cenário de incertezas relativas à inflação e a economia internacional, a indústria brasileira tem demonstrado um crescente otimismo no último trimestre, com os dados do PMI industrial crescendo consideravelmente no primeiro trimestre de 2024. As boas perspectivas se devem principalmente à recuperação da demanda do setor, com o volume de novos pedidos aumentando pelo terceiro mês consecutivo em março, a taxa mais forte em dois anos e meio. Além disso, o setor teve um considerável aumento de produção em março, com a demanda interna sendo o principal vetor de impulso ao setor. No entanto, a demanda externa se apresentou como a maior vulnerabilidade do setor, apresentando queda pelo 25° mês seguido.

A queda da taxa de juros é um importante vetor para o crescimento da indústria nacional, com a desaceleração da inflação mais intensa do que as estimativas do mercado previam para março de 2023, reforçou-se uma perspectiva de continuidade no ritmo de corte da Selic por parte do Banco Central. No entanto, fatores externos têm impactado negativamente para que essas expectativas se concretizem, pondo em dúvida se haverá um novo fôlego substancial para a indústria, que em fevereiro aumentou seu estoque de insumos pela primeira vez em 6 meses, a fim de atender ao maior apetite dos clientes.

Já o crescimento do setor de serviços, tem se demonstrado resiliente, indicando bons sinais de otimismo que se mantiveram por boa parte do ano de 2023. Com exceção das categorias de imóveis e serviços comerciais, o setor de serviços registrou aumento no nível de atividade no primeiro trimestre, com as vendas subindo desde outubro de 2022 e o crescimento contínuo de novos negócios.


Atas do Copom.

Nas duas primeiras atas do Copom de 2024, é afirmado que os indicadores recentes de atividade econômica apontam para uma desaceleração da economia, conforme esperado pelo Comitê. No entanto, na publicação mais recente, observa-se uma moderação no crescimento econômico, porém, com maior dinamismo em alguns indicadores na margem. Isso sugere que a desaceleração pode estar ocorrendo a um ritmo mais lento do que o inicialmente previsto, e há áreas da economia que estão se expandindo de forma mais robusta. Por fim, o mercado de trabalho segue aquecido e com aceleração nos rendimentos reais.

Também é afirmado que a inflação ao consumidor está seguindo a trajetória esperada de desinflação. No entanto, os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária se situam acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes, o que difere do que foi observado na primeira ata, onde os indicadores estavam mais próximos da meta. Apesar disso, as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus mantêm-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente. 

As projeções para a inflação de preços administrados, tanto os diretamente regulados pelo governo quanto aqueles com sensibilidade reduzida aos fatores de oferta e demanda, muitas vezes devido a contratos ou acordos prévios, aumentaram de 4,2% para 4,4% para 2024 e de 3,8% para 3,9% para 2025.

Cenário fiscal – Aumentam preocupações após possíveis mudanças no PLDO, enquanto medidas tributárias mostram impacto positivo na arrecadação, apesar do gasto público acompanhar o crescimento.

As possíveis mudanças no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) aumentaram as preocupações com o cenário fiscal no Brasil. Em entrevista recente, o atual ministro da economia afirmou que o governo pretende encaminhar ao Congresso uma proposta de alteração da meta do arcabouço fiscal para 2025, a qual seria inferior à meta de superávit de 0,5% do PIB. Vale ressaltar que o arcabouço fiscal foi aprovado pelo mesmo governo em agosto do ano passado. Essa perspectiva levanta questionamentos sobre a credibilidade do arcabouço fiscal do país.

Por outro lado, uma série de propostas legislativas aprovadas pelo Congresso Nacional no final de 2023 visa contribuir para a recomposição da arrecadação. Essas propostas incluem a tributação de offshores, trusts e fundos exclusivos, a taxação de apostas eletrônicas e mudanças no tratamento de subvenções concedidas pelos entes federativos. No entanto, a magnitude do impacto dessas medidas ainda é incerta e precisa ser observada ao longo do ano.

Em janeiro, as medidas de tributação tiveram um impacto positivo na arrecadação, com um aumento real de 6,9% em relação ao ano anterior. No entanto, as despesas do Governo Central também cresceram, principalmente devido aos aumentos no salário mínimo e nos salários dos servidores públicos, além da indexação dos gastos com saúde e educação. Apesar disso, o Governo Central registrou um superávit primário significativo de R$81 bilhões, impulsionado pela sazonalidade favorável. Com a contribuição dos governos subnacionais, o setor público consolidado alcançou um superávit de R$102 bilhões, semelhante ao observado em janeiro de 2023.


Banco Central – Incerteza na sucessão do presidente preocupa investidores.

Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, encerra seu mandato em 31 de dezembro deste ano. Ele é o primeiro líder da instituição desde que obteve sua autonomia. Inicialmente indicado pelo presidente em exercício na época, Campos Neto foi reconduzido após a aprovação da autonomia do BC, permanecendo até 2024. Durante sua gestão, enfrentou pressões políticas do atual chefe do executivo, que buscava uma redução mais acelerada das taxas de juros.

A escolha do novo presidente do Banco Central é prerrogativa do governo federal, que já iniciou as discussões sobre a sucessão. Entre os possíveis candidatos estão Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti, indicados por Lula e com vínculos políticos próximos. Galípolo, que teve destaque na campanha eleitoral, foi braço-direito do ministro Fernando Haddad no início do governo, enquanto Picchetti atuou como diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos. A incerteza em torno da transição no comando do Banco Central tem dificultado a convergência das expectativas de inflação para a meta de 3% nos próximos três anos, o que tem gerado preocupações entre os investidores sobre uma possível alteração na política monetária. José Júlio Senna, do FGV Ibre, ressalta que o problema da transição não está diretamente ligado aos nomes dos possíveis sucessores, mas sim à incerteza que esse processo traz.

Copom – Redução da taxa de juros e cautela diante de incertezas.

O Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano, visando à convergência da inflação para a meta ao longo do horizonte relevante. Em um cenário internacional volátil, o Comitê reforça a necessidade de cautela na política monetária, destacando desafios como a desinflação em economias desenvolvidas e o impacto fiscal sobre a demanda agregada. No cenário doméstico, apesar da desaceleração econômica esperada, há sinais de consumo resiliente e transmissão do ciclo de afrouxamento monetário para o mercado de crédito. A incerteza quanto ao cenário inflacionário e as expectativas desancoradas exigem uma atuação firme da autoridade monetária. O Comitê reconhece riscos tanto de alta, como a persistência das pressões inflacionárias globais, quanto de baixa, como uma desaceleração econômica global mais acentuada, demandando cautela na condução da política monetária.

O Comitê avalia que as informações trazidas por atualizações dos conjuntos de dados analisados serão particularmente importantes para definir o ritmo e a taxa terminal de juros. Alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir. O Comitê manteve, unanimemente, que a taxa de juros e sua respectiva trajetória serão aquelas necessárias para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária.



CPI dos Estados Unidos surpreende e põe em cheque expectativas de corte na taxa de juros.

O trimestre foi marcado pelo impacto do índice Shelter (índice de moradia) na dificuldade de desinflação da economia americana. O CPI surpreendeu em janeiro com o valor de 0,3%, influenciado também pela alta nos alimentos, sobretudo na alimentação fora de domicílio. Já em fevereiro voltou a ficar dentro do esperado, apresentando uma leitura de 0,4%, com uma retomada da inflação associada à gasolina, ao passo que os alimentos apresentaram estabilidade. Em março, o CPI avançou 0,4%, acima do consenso dos especialistas, impactado pela continuidade do processo de aumento relacionado à gasolina, bem como a questão de moradia que afetou o trimestre inteiro.

O índice de moradia apresenta grande relevância no cálculo do CPI (cerca de 32% de peso), sendo assim o item de maior impacto. Os motivos especulados para essa persistência nos aluguéis são: a escassez de casas para equilibrar com a demanda, devido principalmente à redução da construção de moradias no período pós crise de 2008; aumento de custos de construção; defasagem do Shelter Index, representando um indicador atrasado da real expansão dos preços.


O núcleo do trimestre anualizado, que desconsidera itens voláteis como energia e alimentos, apresentou uma aceleração (4,2%) quando comparado ao último trimestre de 2023 (3,4%).


Payroll supera expectativas e reforma resiliência da economia estadunidense.

O índice de emprego urbano dos Estados Unidos surpreendeu durante o primeiro trimestre, superando as expectativas em todos os meses. Somente em março, foram criadas 303 mil vagas de emprego, enquanto que as projeções indicavam o valor de 212 mil. No entanto, apesar da força do mercado de trabalho, com exceção do mês de janeiro, o crescimento nominal dos salários esteve dentro do esperado. Um dos motivos para esse fenômeno, aparentemente inconsistente, está relacionado ao aumento da taxa de participação no mercado de trabalho, tendo como um dos principais fatores a imigração, que em 2023 atingiu 18,3% de participação. Estimativas do novo Payroll de equilíbrio ficam no intervalo de 160 a 265 mil, números bem superiores ao antigo equilíbrio estimado de 100 mil, de modo a explicar o elevado número de empregos sem pressionar os salários.