O coronavírus causou um choque no
cenário econômico internacional no mês de fevereiro, resultando em quedas nas
bolsas europeias, americanas, asiáticas e brasileira decorrentes da preocupação
com os efeitos da doença no mercado. Nesse mês foram registrados novos casos em
diversos países, com ênfase na Itália e no Irã, que tiveram a maior taxa de
aumento de contaminação fora da Ásia. As medidas que estão sendo adotadas pelos
governos para conter a proliferação do vírus, como diminuição na mobilidade,
fechamento de portos e paralisação de trabalhadores, vêm causando uma queda nas
produções industriais locais, particularmente a queda da produção chinesa se
mostra mais perceptível devido à importância que a China tem na cadeia de
suprimentos de produtos e serviços em grande parte do mundo. O FMI reduziu para
5,6% a perspectiva de crescimento do PIB chinês, 0,4 pontos percentuais abaixo
da projeção feita em janeiro, dando continuidade às séries de desacelerações
que aparentavam ter acabado com o fim da guerra comercial. Estima-se que o
impacto econômico negativo do vírus será semelhante ao ocasionado pela epidemia
da SARS, que representou aproximadamente 0,5% do PIB da china em 2003.O mercado
financeiro chinês foi bem agitado, logo no primeiro dia do mês o índice CSI 300
fechou em queda de 7,88% em relação ao fechamento anterior, apesar disso, houve
uma recuperação progressiva ao longo do mês acarretada pelo discurso do presidente
Xi Jinping, que deu indícios de ter intenção de proporcionar estímulos econômicos
em resposta aos danos. O índice terminou fevereiro com queda de apenas 1,57%
com 3940 pontos. As bolsas europeias também registraram baixa no mês, com os
índices FTSE 100 (britânico) e Stoxx 600 (pan-europeu) tendo perdas de 9,68% e
8,54%, respectivamente, que se devem principalmente ao vírus. A saída do Reino
Unido da União Europeia ocorrida não teve grandes efeitos aparentes, no momento
o mercado não tem consenso em relação aos efeitos econômicos que o Brexit
desencadeará, mais negociações devem ser realizadas ao longo do ano para
definir as mudanças efetivas que entrarão em vigor.
No fim de fevereiro foi confirmado o
primeiro caso do coronavírus no Brasil, afetando negativamente tanto a bolsa,
que no dia teve uma queda de 6,95%, quanto o câmbio brasileiro. O índice
Bovespa teve uma queda total de 8,43% no mês, motivada principalmente pelo
temor causado pelo coronavírus e pela queda das bolsas internacionais. As
vendas brasileiras para a China (responsável por 27% das nossas exportações)
não sofreram mudança significativa em razão de grande parte dos produtos
exportados serem comumente negociados antecipadamente por meio de mercado
futuro (como soja e minério de ferro), no entanto, já é possível perceber uma
diminuição nas importações de produtos industrializados chineses consequente da
diminuição da atividade industrial. Não se espera que haja uma diminuição
drástica nas vendas para a china, pois grãos e carnes compõe quase metade do
valor das exportações totais e naturalmente alimentos não costumam ter grande
variação de demanda.
Os resultados do IBC-Br de dezembro
mostraram um fim de ano mais fraco do que o esperado. Calculado pelo Banco
Central e divulgado antes do PIB (IBGE), é um indicador utilizado pelo Copom
para estimar a evolução da atividade brasileira, como forma de tendência do
PIB, mas não como sua prévia. No mês de dezembro, o IBC-Br teve variação de
-0,27% em relação a novembro, acumulando crescimento em 2019 de 0,89%, o
resultado anual mais baixo desde 2017. Em relação ao mês de novembro, dezembro apresentou
resultados negativos na produção industrial (-0,7%), serviços (-0,1%) e vendas
no varejo (-0,1%), o que frustrou as expectativas de maior impacto sobre o
consumo da liberação de saques do FGTS, demanda que foi abalada pela forte
inflação dos alimentos no mês com destaque para a alta das carnes.
Segundo a PNAD Contínua, a taxa de
desemprego caiu para 11,2%, no último trimestre terminado em janeiro, frente a
11,6%, no trimestre de agosto a outubro de 2019. Comparando esse último trimestre
com o mesmo intervalo em 2019, a taxa teve queda de 0,8 ponto percentual.
Apesar da taxa ainda alta e recuperação gradual, em relação ao trimestre
anterior houve uma melhora na composição do índice com aumento do emprego com
carteira assinada (acréscimo de 540.000 pessoas) superior à queda no trabalho
informal (diminuição de 479.000 pessoas). O aumento da formalização se deve em
parte a empregos temporários para a temporada de fim de ano, cabendo avaliar
como se sustentará essa estrutura nos primeiros meses de 2020.
Em janeiro se observou uma dinâmica nos
preços administrados, alimentos e bebidas diferente do fim de 2019, onde estes
sofreram com grande alta no preço das carnes, gasolina e energia elétrica.
Nesse primeiro mês do ano, pode se considerar que a reversão no preço dos
alimentos (alta de 0,39% em janeiro contra 3,38% em dezembro), aliada a baixo
aumento dos demais componentes do índice, em especial os preços administrados,
foram responsáveis pela inflação abaixo da esperada pelo mercado. O IPCA de
0,21% foi o menor resultado para um mês de janeiro desde o início do Plano
Real, acumulando 4,19% nos últimos 12 meses. O IPCA-15 de fevereiro,
considerado uma prévia do IPCA, registrou alta de 0,22%, o menor resultado para
o mês em 25 anos. Os componentes com maiores altas refletem reajustes anuais de
preços nos transportes públicos e táxis e em educação. Dos nove itens que
compõem o índice, três apresentaram deflação, com destaque para alimentação e
bebidas, que variou -0,10% frente a 1,83% em janeiro. De maneira geral, tivemos
influência da redução do preço da energia elétrica, dado que em fevereiro
passou a vigorar a bandeira verde, refletindo as condições hidrológicas mais
favoráveis.
Na primeira reunião do Copom no ano,
continuou a ser avaliado que as medidas de inflação indicando cumprimento da
meta, com expectativas bem ancoradas, o cenário externo favorável com grandes
economias também cortando juros e a alta ociosidade interna prescrevem corte na
taxa básica de juros. Agora, apesar de o comitê ainda ver a conjuntura como
prescritiva para outros cortes, foi priorizada a cautela na condução da
política monetária. Como os estímulos do ciclo de cortes agem sobre a economia
com defasagem, foi considerado necessário avaliar no futuro como se dará a
transmissão para a atividade e inflação, especialmente dado que estamos em um
cenário de juros historicamente mínimos e que recentes mudanças na
intermediação financeira e mercado de crédito podem afetar a potência e
velocidade da política. Dado isso, considera-se que nessa última carta o Copom
tenha sinalizado o fim do ciclo de cortes. Pelo boletim de expectativas Focus,
é esperado que a Selic se mantenha no patamar atual até o fim do ano. No que
tange aos efeitos do coronavírus, o comitê avaliou que há potencial para uma
maior desaceleração do crescimento mundial, sendo os efeitos relevantes dependentes
de como o surto evoluirá.
A taxa de câmbio no Brasil está
sofrendo constantes desvalorizações ao decorrer dos cortes sucessivos na taxa
de juros realizados pelo Copom desde agosto do ano passado. No início da política
monetária expansionista a volatilidade do dólar estava em 2,21% com mínima de R$/US$
3,822 e máxima de R$/US$ 3,899 no mês, já em fevereiro deste ano a volatilidade
foi de 7,62% com mínima de R$/US$ 4,237 e máxima de R$/US$ 4,498. No balanço de
pagamentos está inserido a rubrica ativos de reserva, onde registra-se as
operações cujos ativos estão sob controle do BC. O saldo da conta em janeiro apresentou
superávit de US$ 705,6 milhões (0,48% do PIB mensal) ante US$ 813,5 (0,55% do PIB
mensal) milhões do mesmo período do ano passado. Entretanto, o saldo acumulado
em 12 meses vem decaindo desde 2017 e no final de 2019 apresentou um déficit de
US$ 26 bilhões (1,42% PIB anual). A autoridade monetária se dispôs a ficar
passivo em variação cambial e ativo em SELIC ao realizar leilões tradicionais
de contratos de swap cambial com intuito de esterilizar a desvalorização e
volatilidade da moeda assim como ofertar instrumentos de hedge cambial às empresas.
O mercado aceitou 287,85 mil contratos de compra por parte da autoridade monetária
no valor nocional de US$14,3 bilhões, entretanto 70 mil contratos iniciaram em fevereiro
com valor nocional de US$ 3,5 bilhões com vencimentos em agosto, outubro e dezembro.
Em março iniciarão 3 mil contratos e em abril outros 197,85 mil com valor
nocional total de US$ 9,8 bilhões. A última oferta de leilões foi em 2018 no
valor de US$ 1,5 bilhões durante a crise econômica na Argentina, a utilização
desse instrumento não é usual e é exclusivo em períodos de grande turbulência.
Os Estados Unidos têm crescimentos do
PIB há onze anos consecutivos, sendo o maior período de crescimento já
registrado no país. Em um aspecto geral, os níveis de emprego e consumo
apresentam solidez apesar do declínio recente em manufatura, investimentos e exportações
decorrente da guerra comercial com a China. A preocupação atual do Federal Reserve
está em elevar o índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal – PCE
(Personal Consumption expenditures price index) – próximo à meta de 2% e, em
decorrência disso, Jerome Powell deixou claro na primeira reunião do FOMC no
ano que haverá pouco espaço para cortes de juros ao longo de 2020. Na reunião
de fevereiro sobre panorama econômico, o vice-presidente do Fed, Richard
Clarida, disse que o banco central americano ainda está monitorando os efeitos
do coronavírus na economia e prefere não especular sobre impactos imediatos, a
expectativa é de um choque notável na China, pelo menos neste primeiro semestre.
Ele enfatiza a eficácia da política monetária no apoio ao crescimento e
manutenção do mercado de trabalho, retoma a persistência do banco central em
cumprir a meta de inflação e diz que aplicará medidas para manter a taxa de
juros em nível apropriado conforme o surgimento de novas informações desse
período de epidemia. Sobre as eleições, em fevereiro iniciou a disputa entre os
democratas para decidir quem debaterá com o presidente Donald Trump em
setembro. Os candidatos democratas buscam angariar votos tanto dos delegados eleitos
pela população quanto da convenção composta por apoiadores (caucus). Na maioria
dos casos, os Partidos Democratas de cada estado concedem os votos do colégio
eleitoral aos candidatos que apresentaram a melhor performance nas convenções.
A primária da eleição americana começou em Iowa, onde o ex-prefeito Pete
Buttgieg obteve vantagem com 14 votos e manteve liderança com mais 9 votos em
Nova Hampshire, entretanto cedeu o primeiro lugar a Bernie Sanders em Nevada.
Por fim, Joe Biden surpreende a todos ao vencer na Carolina do Sul com 39 votos
e por conta disso decorre a desistência de Buttgieg da campanha. Biden e
Sanders acumulam 54 e 60 votos respectivamente e devem intensificar a disputa
no dia 3 de março, onde 16 estados distribuirão seus votos aos candidatos. Essa
data é conhecida como “Super-tuesday” e contém estados de grande peso como
Califórnia, Texas e Carolina do Norte.