Month: May 2024

Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24

Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24

No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do primeiro trimestre do ano de 2024, analisando os cenários econômicos nacional e internacionais.


Neste trimestre, no cenário nacional, se destacam as incertezas quanto às trajetórias da inflação e da dívida pública, assim como seus consequentes efeitos sobre a taxa de juros e a economia real.


Já no cenário internacional, se destacam as tensões no Oriente Médio e os recentes dados da economia estadunidense, que pode estar mais distante de um ciclo de corte na taxa de juros do que o esperado no final de 2023.


Evolução da inflação brasileira mostra sinais de incerteza e exige cautela por parte do Banco Central em suas próximas decisões.


No mês de janeiro a inflação teve um valor de 0,42%, acima do esperado, em razão principalmente dos preços dos alimentos, impactados pelas consequências do El Niño. Em fevereiro, o reajuste das mensalidades escolares fez com que o mês surpreendesse as expectativas, com um valor de 0,83%. Já em março, a inflação surpreendeu positivamente, tendo uma desaceleração maior do que o previsto, com 0,16% frente às projeções de mercado. Esse cenário mais benigno foi influenciado pela desaceleração do setor de alimentos e bebidas (embora ainda tenha tido a maior alta, impactado pelos fatores climáticos), além de uma deflação no segmento de combustíveis, influenciado pela queda da gasolina e das passagens aéreas.


No entanto, o alívio do setor de combustíveis pode ser passageiro, visto que, segundo dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (19/04/2024), os preços praticados pela Petrobras da gasolina e do diesel estão defasados em 27,09% e 5,41% respectivamente. A empresa brasileira realizou o último ajuste em dezembro de 2023 e provavelmente irá postergar ainda mais o reajuste, já que o presidente da corporação está com relações desgastadas com o atual governo e um eventual aumento dos preços arruinaria o relacionamento.

O índice de difusão (número de componentes que tiveram aumento de preços) caiu durante o período, tendo os valores 65%, 57% e 56% nos três primeiros meses. O número poderia ser ainda menor, mas em março houve um incremento no número de itens alimentícios com crescimento nos preços. O núcleo de serviços subjacentes (exclui os itens mais voláteis e costuma ser menos sensível à política monetária) está pressionado pelo mercado de trabalho e é observado com cautela, já que em janeiro surpreendeu com uma alta de 0,76%, apesar de abrandar para 0,45% nos dois meses seguintes.


Um dos fatores de atenção para a continuidade da menor pressão dos preços é a questão fiscal, que está cercada de incertezas. O consolidado do setor público superou as expectativas em janeiro e apresentou um superávit de R$102 bilhões, ao passo que em fevereiro teve um déficit de R$48 bilhões, além de um déficit de R$1,5 bilhão em março, totalizando um superávit acumulado de R$19,4 bilhões no primeiro trimestre, abaixo do resultado apresentado no mesmo período do ano passado. Cabe lembrar que o ano é marcado pelas eleições municipais e pelo histórico populismo econômico relacionado ao período. No entanto, existem expectativas de que as novas fontes de arrecadação (apostas esportivas, investimentos Offshore, fundos exclusivos) possam reduzir parcialmente o risco fiscal. Somente em janeiro, aproximadamente 29% dos tributos de Rendimentos de Capital tiveram como origem os fundos exclusivos.

Mercado de trabalho brasileiro segue aquecido. 

Apesar da sazonalidade de janeiro, o Brasil apresentou aceleração do emprego em fevereiro, com 306 mil vagas criadas, sobretudo no setor de serviços (63% do número). Ademais, nota-se um reaquecimento da mediana dos salários de admissão (para o primeiro trimestre de 2024, utilizou-se somente dados de janeiro e fevereiro), o que pode dificultar a desinflação de serviços. Com uma taxa de 7,8% de desemprego, número historicamente baixo, a questão do equilíbrio do mercado de trabalho pode dificultar o processo de desaceleração salarial. No último trimestre de 2023 houve um aumento da participação no mercado de trabalho e caso a tendência tenha continuidade, pode tornar o cenário mais benigno.


IBC-Br– Atividade econômica segue resiliente liderada pelo varejo. 

Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a economia avançou 0,6% em janeiro e 0,4% em fevereiro de 2024, em ambos os meses se destacou o setor de varejo, que se beneficiou da inflação controlada e o aumento da massa salarial. O comércio varejista avançou 2,5% no conceito restrito (bens não-duráveis e semi-duráveis) e 2,4% no conceito ampliado (que engloba também bens duráveis, como veículos e materiais de construção), superando os tetos das projeções e indicando resiliência no setor. No mês de fevereiro, o varejo restrito cresceu 1%, novamente superando as expectativas, resultando em uma alta acumulada de 6,1% em relação aos dois primeiros meses de 2023. Já o varejo ampliado, avançou 1,2%, perto do teto das estimativas, acumulando uma alta de 8,2% em relação ao mesmo período no ano anterior.

No mês de janeiro houve crescimento de 0,7% no setor de serviços na comparação com dezembro de 2023, com alta em quatro das cinco categorias que compõem o índice, com exceção de serviços prestados às famílias, que devolveu a forte alta do último mês do ano de 2023. O destaque ficou com o segmento de serviços de informação e comunicação, que foi impulsionado pelo crescimento da receita das empresas que atuam na produção de conteúdo para TV e streaming. Já no mês de fevereiro, o setor de serviços retraiu em 0,9%. A retração vem em linha com a expectativa de acomodação do setor em 2024, com as atuais quedas compensando os meses de alta recentes. Das 5 categorias pesquisadas, apenas o segmento de serviços prestados às famílias apresentou uma leve alta (0,4%).

No mês de janeiro a produção industrial recuou em 1,6%, com destaques positivos para o setor de bens de capital que avançou em 9,3%, enquanto o setor de bens intermediários recuou 2,7%. Da mesma forma, no mês de fevereiro o setor industrial novamente recuou 0,3%, com destaques positivos para o setor de bens duráveis (3,6%) e negativos novamente para o setor de bens intermediários (contração de 1,2%). Apesar da contração geral no setor, há uma composição positiva nos resultados, com alta relevante na fabricação de veículos e insumos para construção civil, indicando aumento de investimentos. No entanto, setores relevantes impactaram negativamente os resultados gerais, como a leve retração na produção de alimentos e a estabilidade na produção de combustíveis. No mês de fevereiro, também houve forte retração no setor químico (3,5%) e de produtos farmacêuticos (6,0%). Por fim, o mês de março finalmente registrou uma alta de 1,1% para a indústria, puxada pelo setor de derivados de petróleo.


Concessões de crédito voltam a evoluir depois de período de incertezas.

No primeiro trimestre de 2024, o efeito das políticas de afrouxamento monetário e incentivo ao consumo começaram a ser sentidos no mercado de crédito. Houve uma notável diminuição da inadimplência para pessoas físicas, decorrente não só da redução da taxa básica de juros, mas também dos programas de renegociação de dívidas promovidos pelo governo federal no último ano, permitindo um crescimento de 14,7% na concessão de crédito livre para pessoas físicas entre jan/23 e jan/24. No entanto, é necessário observar a piora na composição da carteira de crédito contratado, com aumentos na modalidade de crédito de alto custo (cheque especial, crédito pessoal, cartão parcelado, entre outros) e diminuição nas de baixo custo (crédito consignado, financiamento de veículos, entre outros).

No entanto, a inadimplência ainda é crescente entre as empresas, que sofreram não apenas com aumento do custo de crédito nos últimos anos, como também com os impactos nos custos de seus insumos e na desaceleração do crescimento da demanda. No geral, houve uma queda na concessão de crédito no começo de 2023, quando a aversão ao risco aumentou com pedidos de recuperação judicial por parte de grandes empresas, impactando principalmente modalidades de recebíveis como a de risco-sacado. Contudo, o segundo semestre de 2023 deu início a uma retomada no apetite por crédito, que continuou no primeiro mês de 2024, que registrou um aumento de 8,7% em relação a janeiro de 2023.

Esses fenômenos podem ser explicados pela queda da taxa básica de juros e da curva longa da ETTJ, que tiveram como consequência uma queda no índice de custo de crédito brasileiro, que reduziu durante o ano de 2024. Com isso, tendências observadas no ano de 2023 começaram a ser revertidas no primeiro trimestre de 2024 e tendem a melhorar durante o resto do ano. Por exemplo, a formação bruta de capital fixo da economia brasileira que teve sucessivas quedas durante os últimos 3 trimestres do ano passado, voltou a variar positivamente no primeiro trimestre deste ano, uma notícia positiva para a produtividade do país e para o controle da inflação de longo prazo.


PMI de serviços e industrial reforçam perspectiva de resiliência da economia brasileira.

Mesmo diante do cenário de incertezas relativas à inflação e a economia internacional, a indústria brasileira tem demonstrado um crescente otimismo no último trimestre, com os dados do PMI industrial crescendo consideravelmente no primeiro trimestre de 2024. As boas perspectivas se devem principalmente à recuperação da demanda do setor, com o volume de novos pedidos aumentando pelo terceiro mês consecutivo em março, a taxa mais forte em dois anos e meio. Além disso, o setor teve um considerável aumento de produção em março, com a demanda interna sendo o principal vetor de impulso ao setor. No entanto, a demanda externa se apresentou como a maior vulnerabilidade do setor, apresentando queda pelo 25° mês seguido.

A queda da taxa de juros é um importante vetor para o crescimento da indústria nacional, com a desaceleração da inflação mais intensa do que as estimativas do mercado previam para março de 2023, reforçou-se uma perspectiva de continuidade no ritmo de corte da Selic por parte do Banco Central. No entanto, fatores externos têm impactado negativamente para que essas expectativas se concretizem, pondo em dúvida se haverá um novo fôlego substancial para a indústria, que em fevereiro aumentou seu estoque de insumos pela primeira vez em 6 meses, a fim de atender ao maior apetite dos clientes.

Já o crescimento do setor de serviços, tem se demonstrado resiliente, indicando bons sinais de otimismo que se mantiveram por boa parte do ano de 2023. Com exceção das categorias de imóveis e serviços comerciais, o setor de serviços registrou aumento no nível de atividade no primeiro trimestre, com as vendas subindo desde outubro de 2022 e o crescimento contínuo de novos negócios.


Atas do Copom.

Nas duas primeiras atas do Copom de 2024, é afirmado que os indicadores recentes de atividade econômica apontam para uma desaceleração da economia, conforme esperado pelo Comitê. No entanto, na publicação mais recente, observa-se uma moderação no crescimento econômico, porém, com maior dinamismo em alguns indicadores na margem. Isso sugere que a desaceleração pode estar ocorrendo a um ritmo mais lento do que o inicialmente previsto, e há áreas da economia que estão se expandindo de forma mais robusta. Por fim, o mercado de trabalho segue aquecido e com aceleração nos rendimentos reais.

Também é afirmado que a inflação ao consumidor está seguindo a trajetória esperada de desinflação. No entanto, os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária se situam acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes, o que difere do que foi observado na primeira ata, onde os indicadores estavam mais próximos da meta. Apesar disso, as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus mantêm-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente. 

As projeções para a inflação de preços administrados, tanto os diretamente regulados pelo governo quanto aqueles com sensibilidade reduzida aos fatores de oferta e demanda, muitas vezes devido a contratos ou acordos prévios, aumentaram de 4,2% para 4,4% para 2024 e de 3,8% para 3,9% para 2025.

Cenário fiscal – Aumentam preocupações após possíveis mudanças no PLDO, enquanto medidas tributárias mostram impacto positivo na arrecadação, apesar do gasto público acompanhar o crescimento.

As possíveis mudanças no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) aumentaram as preocupações com o cenário fiscal no Brasil. Em entrevista recente, o atual ministro da economia afirmou que o governo pretende encaminhar ao Congresso uma proposta de alteração da meta do arcabouço fiscal para 2025, a qual seria inferior à meta de superávit de 0,5% do PIB. Vale ressaltar que o arcabouço fiscal foi aprovado pelo mesmo governo em agosto do ano passado. Essa perspectiva levanta questionamentos sobre a credibilidade do arcabouço fiscal do país.

Por outro lado, uma série de propostas legislativas aprovadas pelo Congresso Nacional no final de 2023 visa contribuir para a recomposição da arrecadação. Essas propostas incluem a tributação de offshores, trusts e fundos exclusivos, a taxação de apostas eletrônicas e mudanças no tratamento de subvenções concedidas pelos entes federativos. No entanto, a magnitude do impacto dessas medidas ainda é incerta e precisa ser observada ao longo do ano.

Em janeiro, as medidas de tributação tiveram um impacto positivo na arrecadação, com um aumento real de 6,9% em relação ao ano anterior. No entanto, as despesas do Governo Central também cresceram, principalmente devido aos aumentos no salário mínimo e nos salários dos servidores públicos, além da indexação dos gastos com saúde e educação. Apesar disso, o Governo Central registrou um superávit primário significativo de R$81 bilhões, impulsionado pela sazonalidade favorável. Com a contribuição dos governos subnacionais, o setor público consolidado alcançou um superávit de R$102 bilhões, semelhante ao observado em janeiro de 2023.


Banco Central – Incerteza na sucessão do presidente preocupa investidores.

Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, encerra seu mandato em 31 de dezembro deste ano. Ele é o primeiro líder da instituição desde que obteve sua autonomia. Inicialmente indicado pelo presidente em exercício na época, Campos Neto foi reconduzido após a aprovação da autonomia do BC, permanecendo até 2024. Durante sua gestão, enfrentou pressões políticas do atual chefe do executivo, que buscava uma redução mais acelerada das taxas de juros.

A escolha do novo presidente do Banco Central é prerrogativa do governo federal, que já iniciou as discussões sobre a sucessão. Entre os possíveis candidatos estão Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti, indicados por Lula e com vínculos políticos próximos. Galípolo, que teve destaque na campanha eleitoral, foi braço-direito do ministro Fernando Haddad no início do governo, enquanto Picchetti atuou como diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos. A incerteza em torno da transição no comando do Banco Central tem dificultado a convergência das expectativas de inflação para a meta de 3% nos próximos três anos, o que tem gerado preocupações entre os investidores sobre uma possível alteração na política monetária. José Júlio Senna, do FGV Ibre, ressalta que o problema da transição não está diretamente ligado aos nomes dos possíveis sucessores, mas sim à incerteza que esse processo traz.

Copom – Redução da taxa de juros e cautela diante de incertezas.

O Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano, visando à convergência da inflação para a meta ao longo do horizonte relevante. Em um cenário internacional volátil, o Comitê reforça a necessidade de cautela na política monetária, destacando desafios como a desinflação em economias desenvolvidas e o impacto fiscal sobre a demanda agregada. No cenário doméstico, apesar da desaceleração econômica esperada, há sinais de consumo resiliente e transmissão do ciclo de afrouxamento monetário para o mercado de crédito. A incerteza quanto ao cenário inflacionário e as expectativas desancoradas exigem uma atuação firme da autoridade monetária. O Comitê reconhece riscos tanto de alta, como a persistência das pressões inflacionárias globais, quanto de baixa, como uma desaceleração econômica global mais acentuada, demandando cautela na condução da política monetária.

O Comitê avalia que as informações trazidas por atualizações dos conjuntos de dados analisados serão particularmente importantes para definir o ritmo e a taxa terminal de juros. Alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir. O Comitê manteve, unanimemente, que a taxa de juros e sua respectiva trajetória serão aquelas necessárias para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária.



CPI dos Estados Unidos surpreende e põe em cheque expectativas de corte na taxa de juros.

O trimestre foi marcado pelo impacto do índice Shelter (índice de moradia) na dificuldade de desinflação da economia americana. O CPI surpreendeu em janeiro com o valor de 0,3%, influenciado também pela alta nos alimentos, sobretudo na alimentação fora de domicílio. Já em fevereiro voltou a ficar dentro do esperado, apresentando uma leitura de 0,4%, com uma retomada da inflação associada à gasolina, ao passo que os alimentos apresentaram estabilidade. Em março, o CPI avançou 0,4%, acima do consenso dos especialistas, impactado pela continuidade do processo de aumento relacionado à gasolina, bem como a questão de moradia que afetou o trimestre inteiro.

O índice de moradia apresenta grande relevância no cálculo do CPI (cerca de 32% de peso), sendo assim o item de maior impacto. Os motivos especulados para essa persistência nos aluguéis são: a escassez de casas para equilibrar com a demanda, devido principalmente à redução da construção de moradias no período pós crise de 2008; aumento de custos de construção; defasagem do Shelter Index, representando um indicador atrasado da real expansão dos preços.


O núcleo do trimestre anualizado, que desconsidera itens voláteis como energia e alimentos, apresentou uma aceleração (4,2%) quando comparado ao último trimestre de 2023 (3,4%).


Payroll supera expectativas e reforma resiliência da economia estadunidense.

O índice de emprego urbano dos Estados Unidos surpreendeu durante o primeiro trimestre, superando as expectativas em todos os meses. Somente em março, foram criadas 303 mil vagas de emprego, enquanto que as projeções indicavam o valor de 212 mil. No entanto, apesar da força do mercado de trabalho, com exceção do mês de janeiro, o crescimento nominal dos salários esteve dentro do esperado. Um dos motivos para esse fenômeno, aparentemente inconsistente, está relacionado ao aumento da taxa de participação no mercado de trabalho, tendo como um dos principais fatores a imigração, que em 2023 atingiu 18,3% de participação. Estimativas do novo Payroll de equilíbrio ficam no intervalo de 160 a 265 mil, números bem superiores ao antigo equilíbrio estimado de 100 mil, de modo a explicar o elevado número de empregos sem pressionar os salários.


Por outro lado, um ponto de atenção refere-se à terceira queda seguida de novos empregos em tempo integral, o que está historicamente ligado a recessões. Isso ocorre quando as empresas estão receosas com o enfraquecimento da economia e acabam optando por contratações temporárias e de meio período como forma de flexibilização e redução de custos. Outra questão que se observa é o número de novos empregos gerados pelo governo, cerca de 23% do total, o que pode distorcer a real força do setor privado.

EUA – Fed adota postura restritiva, enquanto mercado enfrenta inversão na curva de juros.

Em seu mais recente pronunciamento, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (banco central americano), adotou uma postura mais restritiva, destacando as incertezas geradas pelos dados recentes de inflação quanto aos possíveis cortes de juros. O Fed mantém as taxas na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano desde julho de 2023, o maior nível em 23 anos, resultado de 11 aumentos consecutivos iniciados em março de 2022.

Desde meados de 2022, o mercado tem observado uma inversão da curva de juros nos EUA, onde as taxas de curto prazo superam as de longo prazo. Embora historicamente seja um sinal de recessão iminente, a recente redução dessa inversão sugere um retorno à normalidade. Esse movimento reflete uma percepção de que os juros de curto prazo estão excessivamente altos, indicando uma expectativa de redução futura para estimular a economia.

A explicação para essa inversão reside no expressivo aumento das taxas de curto prazo pelo Fed e na crescente demanda por Treasuries de 10 anos por investidores receosos de uma recessão. Essa tendência tem impactos significativos nas políticas monetárias e pode causar depreciação do real frente ao dólar, pressionando a inflação devido ao encarecimento de produtos importados. Ademais, a busca por maior segurança nos EUA pode desencadear uma fuga de investidores, afetando a economia brasileira.

Câmbio – BC brasileiro responde avanço do dólar e yuan enfrenta desvalorização.

Durante todo o trimestre atual, o DXY registrou um avanço de 3,17%, com um aumento adicional de 0,38% apenas no mês de março. Esse índice é utilizado para medir o desempenho do dólar americano em relação a uma cesta ponderada de moedas estrangeiras, incluindo o euro, iene, libra esterlina, entre outras. Esse aumento gerou preocupações entre os investidores, especialmente diante da saúde fiscal do Brasil, das políticas do Federal Reserve e das tensões no Oriente Médio. Como resposta a essa valorização do dólar, o Banco Central brasileiro realizou sua primeira intervenção no câmbio em cerca de 16 meses em 2 de abril, leiloando US$1 bilhão em swap cambial. Apesar de uma queda inicial no valor do dólar após a intervenção, a moeda norte-americana fortaleceu-se durante a tarde, fechando praticamente estável.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou que a instituição só intercede no mercado cambial em caso de disfunções, mantendo o câmbio como um mecanismo flutuante. Ele ressaltou a robustez das reservas cambiais brasileiras e enfatizou que intervenções extraordinárias ocorrem apenas para assegurar o bom funcionamento do mercado. Campos Neto também destacou a importância de evitar interferências em mudanças estruturais, como a política monetária dos Estados Unidos, que exerce impacto global.


O yuan enfrentou uma fase de desvalorização em 2024, atingindo o seu nível mais fraco em relação ao dólar americano. A decisão do Banco do Povo da China de estabelecer uma taxa de referência diária mais baixa para o yuan onshore contribuiu para esse enfraquecimento, indicando uma possível política de desvalorização controlada da moeda. 

China – Crescimento econômico surpreende com foco em exportações.

A China cresceu 5,3% no primeiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023, resultado que superou as expectativas do mercado. Esse crescimento foi efeito de fortes investimentos governamentais no setor industrial mirando exportações, que até o momento foi capaz de reverter a crise imobiliária do país.

No entanto, a decisão da China de ampliar suas importações geraram preocupações globais por parte de outros países, que temem que suas indústrias tenham seus resultados afetados, causando demissões. Dessa forma, o ímpeto chinês pode ser eventualmente barrado por medidas protecionistas tomadas por outros países.

Os resultados do primeiro trimestre geram uma boa perspectiva para o alcance da meta do governo chinês de crescimento de 5% para 2024, meta que ganha solidez com a estabilidade de empregos e dos preços, aumento da demanda por produção e crescimento da confiança do mercado, que se reflete no crescimento do PMI industrial Chinês, que estavam em patamares de retração até fevereiro de 2024.

De acordo com o governo chinês, alguns dos riscos que podem ser atribuídos à evolução da economia nacional são as altas taxas de juros praticadas no exterior, que tiram dinheiro da China para financiar a dívida de países estrangeiros que pagam prêmios maiores pelos seus títulos.

Commodities – Cotações sujeitas a dinâmicas políticas e climáticas globais.

As tensões geopolíticas e os comunicados dos cortes voluntários da OPEP+ têm pressionado os preços do petróleo, gerando impactos sobre a inflação e incertezas quanto à trajetória da taxa de juros nos Estados Unidos. Ainda assim, a ampliação da oferta por países como Brasil, EUA e Canadá têm ajudado a aliviar os impactos da política de produção promovida pelos países da OPEP+. A dinâmica dos preços do petróleo está correlacionada a eventos incertos, como a escalada dos conflitos no Oriente Médio, a postura da OPEP+ quanto a sua produção, o ritmo de atividade na China e o crescimento da economia global, sendo que a expectativa do mercado é que a demanda por petróleo em 2024 cresça em linha com a tendência histórica.

As commodities metálicas vem sofrendo um considerável recuo no primeiro trimestre de 2024, impactadas pelo alto nível de estoques acumulados nos portos chineses e a fraca demanda do país para o setor de construção civil. Logo, a evolução dos preços de commodities como o minério de ferro dependeram das políticas adotadas pelo governo chinês.

Há uma expectativa de queda para as principais commodities agrícolas oferecidas pelo mercado brasileiro, dado as expectativas de amplos estoques de grãos dos principais produtores, o que causou o recuo da soja, milho e trigo no primeiro trimestre. Porém, com a quebra de safra esperada para o ano de 2024, o Brasil pode vir a sofrer impactos na evolução de seu PIB com essa combinação de queda na produção e pressão sobre os preços agrícolas.

Já na Ásia, os impactos climáticos como a seca na Tailândia causaram quedas na produção de arroz e açúcar, resultando em medidas protecionistas que, combinadas com as restrições para o comércio advindas da guerra da Ucrânia e das tensões do Oriente Médio, elevaram os preços das commodities agrícolas produzidas na região.

Autores: Gustavo Minatto Martins; Marcos Vinicius Thibes Petussi; João Pedro Melo Zimmermann.
Posted by Gustavo Martins in Conjuntura Macro / Renda Fixa, 0 comments