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CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 3T24

CARTA DE CONJUNTURA TRIMESTRAL – 3T24

No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do terceiro trimestre do ano de 2024, analisando os cenários econômicos nacional e internacionais.

Neste trimestre, destaca-se no cenário nacional o início do aperto monetário pelo Banco Central, em um contexto de mercado de trabalho aquecido e hiato do produto positivo. Além disso, as expectativas fiscais pioraram, e o IPCA se aproxima do teto da meta, pressionado por eventos climáticos.

No cenário internacional, as tensões no Oriente Médio e no Leste Europeu persistem. Destaca-se também o início do afrouxamento monetário pelo Federal Reserve para mitigar o risco de recessão, além das políticas de estímulo do governo chinês, que visam reviver a demanda e alcançar a meta de crescimento para 2024.

 

IPCA de 4,42% se aproxima do teto estabelecido pelo BACEN e ganha desafios com recentes eventos climáticos

 

A inflação de julho (+0,38%) teve um valor acima do esperado (+0,34%), impactado pelo aumento no preço das passagens aéreas (+19,39%), contribuindo com 0,11 p.p., impulsionado pelo aumento da demanda durante as férias escolares. Outro subitem que apresenta quase 6% de peso sobre o IPCA e que mostrou inflação de 3,15% (impacto de 0,16 p.p. sobre o Índice) foi a gasolina, dado ao ajuste de preços de 7,12% no preço de venda para a distribuidora, impactando o consumidor final em mais R$ 0,15 por litro. Além desses fatores, a energia elétrica residencial impactou o índice em 0,08 p.p., dado ao acionamento da bandeira amarela na tarifa de energia. Enquanto isso, o grupo de alimentação ajudou a conter a alta, registrando uma deflação de 0,22%. A maior queda foi no preço do tomate (-31,24%), devido ao aumento da oferta desse produto no mercado.

Para agosto, o IPCA apresentou uma deflação de 0,02%, ficando ligeiramente abaixo das expectativas do mercado de uma inflação de 0,01%. A deflação foi influenciada pela queda de preços no grupo de Alimentação e Bebidas (-0,44%), contribuindo com -0,09 p.p. no índice. No grupo, os itens que registraram as maiores quedas são tubérculos, raízes e legumes, com uma deflação de 16,31% na comparação mensal, justificada pela perda de qualidade da produção, consequência da falta de chuva e do calor intenso. Outro item que impactou o Índice foi a energia elétrica residencial (-2,77%), impactando com -0,11 p.p., e que foi influenciada pela volta da bandeira tarifária verde dado o volume de chuvas na região Sul do Brasil no mês. Por outro lado, o aumento no preço da gasolina (+0,67%) evitou que a deflação fosse ainda mais acentuada.

No mês de setembro o IPCA apresentou aceleração frente a agosto registrando alta de 0,44% frente às expectativas de 0,46% do mercado. Influenciada principalmente pela energia elétrica residencial com elevação de 5,36% no mês, impactando o índice em 0,21 p.p., que é justificado pelo acionamento da bandeira tarifária vermelha I, como consequência das secas que atingiram o país. Além disso, conforme anúncio da Aneel no dia 27/09, em Outubro foi acionado a bandeira vermelha patamar 2, indicando uma maior pressão no futuro próximo. O item de carnes também apresentou elevada pressão no índice com 0,07 p.p., dada inflação registrada de 2,97%, que por conta da estiagem e clima seco do período diminuem a qualidade da pastagem, que afeta o peso do gado e por fim impactando no preço da arroba. Além disso, o mês também foi impactado pelo aumento de preços do gás de botijão (2,40%), passagem aérea (4,64%) e plano de saúde (0,58%).

Fonte: IBGE e ANBIMA; Elaboração própria.

O índice de difusão, que mede a proporção de subitens do IPCA com alta de preços, foi de 47% em julho e subiu para 56% nos dois meses seguintes, influenciado por condições climáticas adversas e queimadas. O núcleo da inflação apresentou aceleração na passagem de julho (0,24%) para agosto (0,38%) e desaceleração no mês de setembro (0,21%), afetada por fatores semelhantes aos do índice de difusão. O IPCA acumulado no ano de 2024 se encontra em 3,31%, 0,19 p.p. inferior ao mesmo período de 2023, e, no acumulado de 12 meses, 4,42%, próximo ao teto da meta estabelecida pelo Banco Central de 4,50%, exigindo uma política monetária mais restritiva.

Fonte: IBGE e ANBIMA; Elaboração própria.

Taxa de desemprego em mínimas históricas evidencia desempenho robusto do mercado de trabalho


No mês de agosto, a taxa de desemprego alcançou o nível de 6,6%, o menor desde dezembro de 2014, representando uma redução de 1,2 p.p. em relação ao mesmo período do ano anterior e uma redução na margem de 0,3 p.p. Um dos fatores que explicam o desempenho é o crescimento do número de admissões nos meses de julho e agosto — juntos, somaram 423 mil novos empregados — 17% a mais que nos mesmos meses de 2023. Em agosto, o número de pessoas na força de trabalho alcançou 109,8 milhões, com 7,3 milhões de pessoas desocupadas e 3,1 milhões de desalentados, o menor número desde maio de 2016. 

Fonte: IBGE; Elaboração própria.

No período observado, a quantidade de pessoas ocupadas no setor industrial e no setor de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas apresentou um aumento de 234 mil e 198 mil empregados, respectivamente. O número de empregadores apresentou um crescimento modesto de 1,7% na margem e uma queda de 0,02% em relação a junho. Outro ponto de destaque é a natureza do crescimento de empregos no setor privado, uma vez que se observou, no período de junho a agosto, um crescimento de 0,68% no número de empregos com carteira assinada e de 3,20% sem carteira assinada (+442 mil). No acumulado do ano até agosto, os serviços de administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviço social apresentam participação relevante no desempenho do mercado de trabalho, com o maior aumento no número de empregados, totalizando 592 mil (+3,28%).

O rendimento real médio de todos os trabalhos habituais mensais no mês de agosto foi de R$ 3.228, representando uma queda marginal de 0,09% em relação a junho e uma recuperação (+0,53%) em relação a julho, corroborando para um crescimento robusto na comparação anual, de 5,04%. No período, o salário real médio no setor privado informal apresentou um expressivo crescimento de 8,34%, assim como o setor industrial, alcançando o patamar de R$3.170 (+7,3% na comparação anual).

 

PIB do Brasil surpreende com alta de 1,4% no 2º Trimestre e projeção de crescimento para 2024 sobe para 3%

 

O trimestre também foi marcado pela divulgação do PIB do Brasil referente ao segundo trimestre de 2024. O produto interno bruto brasileiro cresceu 1,4% em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, superando tanto o resultado do trimestre passado quanto a mediana das projeções do mercado, que estimava um avanço de 0,9%. Na comparação anual, o PIB registrou um crescimento de 3,3%.

O setor de serviços apresentou uma alta de 1,0% na margem e 3,5% em termos anuais, sendo responsável por 2,0 pp da variação anual do PIB. Esse avanço foi generalizado, abrangendo áreas como comércio, atividades financeiras e transporte. O setor industrial também teve resultados positivos, com crescimento de 1,8% na margem e 3,9% interanual, contribuindo com 0,8 pp para o PIB. A indústria foi beneficiada pela recuperação dos investimentos e pela demanda interna robusta, especialmente nos segmentos de transformação e eletricidade.

Por outro lado, a agropecuária apresentou queda de 2,3% na margem e 2,9% na comparação anual. Essa retração foi atribuída principalmente às condições climáticas adversas, que prejudicaram a produção de culturas-chave como soja e milho.

Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 1,3% na margem, mesmo percentual de aumento registrado no consumo do governo. Em termos anuais, o consumo das famílias avançou 4,9%, impulsionado por um mercado de trabalho aquecido e pelas políticas governamentais de elevação do salário mínimo e transferências de renda. Esse componente foi o maior contribuinte para o PIB, adicionando 3,1 pp à taxa de crescimento anual.

O PIB do segundo trimestre confirmou a melhora na sua composição, marcada por mais uma forte expansão da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que cresceu 2,1% na margem e 5,7% em termos anuais. Esse aumento é atribuído ao crescimento da produção doméstica e da importação de bens de capital, além do bom desempenho nos setores de construção e desenvolvimento de sistemas de informática.

As exportações líquidas, no entanto, impactaram negativamente o crescimento, subtraindo 1,5 pp do PIB. Apesar do crescimento de 1,4% nas exportações, as importações aceleraram ainda mais, com alta de 7,6% na margem e 14,8% na comparação anual, reforçando a força da demanda interna.

Fonte: IBGE; Elaboração própria.

O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que antecipa o desempenho do PIB, recuou 0,40% em julho, após uma alta expressiva de 1,40% no mês anterior. A expectativa era de uma queda de 0,9%, mas o recuo foi menor, marcando o primeiro declínio em quatro meses. Em agosto, o índice avançou 0,23% em relação ao mês anterior, superando as projeções de estabilidade. Na comparação anual, o IBC-Br registrou um aumento de 3,1%, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses, o índice cresceu 2,5%.

A ocorrência de choques negativos, como a tragédia climática no Sul entre abril e maio, e a interrupção do ciclo de cortes na taxa Selic, decidida na reunião do Copom em junho, levou alguns analistas a revisar para baixo suas projeções para o PIB de 2024. No entanto, na divulgação mais recente, o carry-over subiu de 1,2% para 2,7%, indicando que, mesmo com estagnação nos próximos trimestres, o PIB já garantirá esse crescimento mínimo para o ano. Com isso, o Relatório Focus ajustou as expectativas para uma alta de 3%, refletindo um cenário mais otimista para 2024.

Na última ata do Copom, o Banco Central ressaltou que a atividade econômica tem mostrado um dinamismo superior ao previsto, levando à reavaliação do hiato do produto para o campo positivo. A combinação de um mercado de trabalho aquecido, política fiscal expansionista e o aumento das concessões de crédito às famílias continua a sustentar o consumo e a impulsionar a demanda agregada. Contudo, esse cenário de maior vigor econômico dificulta a convergência da inflação à meta, exigindo uma postura monetária mais contracionista para conter as pressões inflacionárias.

 

PMI Industrial e de Serviços flutuam em meio à demanda e pressões de custos no Brasil

 

Em julho de 2024, o PMI industrial atingiu 54,0 pontos, o maior nível em três meses, enquanto o PMI de serviços chegou a 56,4 pontos, o mais alto desde junho de 2022. Ambos os índices foram impulsionados pela forte demanda interna e externa. No entanto, os setores enfrentaram o impacto da desvalorização do real, que aumentou significativamente os custos dos insumos, forçando fabricantes e prestadores de serviços a reajustarem seus preços para proteger suas margens.

No mês seguinte, o cenário mudou, com o PMI industrial de agosto recuando para 50,4, indicando uma desaceleração da indústria, acompanhada por quedas na produção e nas vendas. Paralelamente, o PMI de serviços caiu para 54,2, o nível mais baixo desde abril, embora ainda se mantenha em território expansionista. Esse declínio foi impulsionado principalmente pela redução da demanda e pelas persistentes pressões inflacionárias, exacerbadas por problemas climáticos.

Já em setembro, o PMI industrial cresceu para 53,2, indicando uma melhora na produção, na criação de empregos e no aumento das vendas. No setor de serviços, o PMI subiu para 55,8, destacando-se pelo aumento expressivo dos novos pedidos, o maior registrado em 27 meses. Contudo, as pressões de custos permaneceram elevadas, especialmente em insumos como eletricidade e alimentos, resultando novamente no repasse desses encargos aos consumidores.

Fonte: Investing.com; Elaboração própria.

 

Déficit público exige que governo crie alternativas para elevar arrecadação e evitar o aumento da percepção de risco

 

O cenário fiscal do Brasil enfrenta desafios significativos devido ao aumento do déficit público e às incertezas nas contas públicas. Segundo o Ipea, os recentes ajustes de despesas visam alcançar um equilíbrio orçamentário, mas as previsões para o crescimento econômico permanecem moderadas.

O governo busca aumentar a arrecadação, e uma das medidas propostas é a “taxação das blusinhas”, que estabelece uma tarifa de 20% para compras internacionais abaixo de US$ 50. Essa nova imposição espera arrecadar cerca de R$ 700 milhões neste ano, conforme o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2025. No entanto, a implementação de reformas estruturais, como a tributária, ainda enfrenta desafios.

Além disso, o governo deve adotar uma estratégia de aumento da arrecadação para atingir a meta de resultado primário de zero déficit fiscal. Recentemente, houve uma piora nas expectativas para o resultado nominal de 2024 e 2025. As projeções passaram de -7,3% e -6,5% do PIB, segundo o relatório Focus de 26/07/2024, para -7,78% em 2024 e -7,3% em 2025, conforme o relatório Focus de 27/09/2024.

O contínuo déficit fiscal pode comprometer a confiança dos investidores e aumentar a percepção de risco, exigindo medidas fiscais mais rigorosas para estabilizar a economia e atrair investimentos estrangeiros.

 

Banco Central adota postura cautelosa frente a incertezas e instabilidades, com elevação das projeções

 

As expectativas de inflação, especialmente a do IPCA para o fim de 2024, apresentaram uma leve aceleração no último trimestre, passando de 4,1% para 4,37%. Essa variação reflete pressões ainda presentes nos preços de serviços e de alguns insumos alimentares.

Esse aumento sutil na inflação, combinado com a instabilidade do cenário interno e externo, foi influenciado por incertezas econômicas e crises geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e a instabilidade no Oriente Médio, que contribuíram para uma mudança nas expectativas de juros.

Inicialmente em 10,5%, a taxa Selic foi elevada para 10,75%, marcando o início de um novo ciclo de alta. A expectativa é que o Banco Central adote uma postura cautelosa, buscando equilibrar o controle da inflação e a manutenção do crescimento econômico. A previsão é que a taxa básica atinja 11,75% até o final de 2024. Nesse contexto, a taxa de juros neutra da economia está projetada em 4,75% desde junho, segundo o Banco Central.

Fonte: Banco Central do Brasil; Elaboração própria.

 

Impactada pelo índice de moradia, inflação nos EUA surpreende gerando incertezas sobre futuro da da política monetária

 

Durante o terceiro trimestre de 2024, o índice de inflação ao consumidor (CPI) apresentou a mesma leitura para os meses de julho, agosto e setembro, com variação de 0,2%. Em julho, o número ficou em linha com a expectativa do mercado, destacando-se o aumento de 0,4% no índice de moradia (Shelter), responsável por 90% dos itens que registraram inflação no período. Em agosto, o índice também seguiu as previsões, sendo influenciado pela aceleração do Shelter (+0,5%) e pela queda nos preços de energia (-0,8%). Setembro, por sua vez, a leitura foi ligeiramente superior às expectativas, com uma queda robusta no preço da energia (-1,9%) e um aumento significativo nos preços dos alimentos (+0,4%), que, somados ao Shelter (+0,2%), contribuíram com 75% do aumento mensal dos itens.

Assim, o trimestre encerrou com um CPI acumulado de 12 meses de 2,4%, o menor nível desde fevereiro de 2021, mas ainda acima da meta estabelecida pelo FED, de 2%. O período foi influenciado pelos índices de moradia e alimentos, com altas de 4,9% e 2,3%, respectivamente, no acumulado. O item de energia apresentou uma expressiva queda de 6,8% nos preços, evitando uma inflação maior. Observando o core CPI, foram registradas leituras de 0,2% em julho e 0,3% em agosto e setembro, resultando em um acumulado de 3,3% nos últimos 12 meses, com uma aceleração marginal de 0,01 p.p. em relação ao acumulado de agosto. A elevação do núcleo da inflação ao fim do trimestre trouxe questionamentos ao mercado quanto à duração do ciclo de cortes nas taxas de juros adotado pelo banco central americano.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics; Elaboração própria.

 

Payroll – Iminência da recessão norte-americana surge com o trimestre e se dissipa ao decorrer do tempo

 

No terceiro trimestre de 2024, a economia americana observou um crescimento na taxa de desemprego (+0,02 p.p.) em julho, seguido de uma queda de 0,01 p.p. nos dois meses subsequentes, passando de 4,3% em julho para 4,1% em setembro.

O período foi marcado por surpresas, começando com a criação de empregos significativamente abaixo do esperado em julho (+114 mil empregos), além de um aumento expressivo no número de pessoas desempregadas (+352 mil), representando um crescimento de 21% em relação ao ano anterior. Somado a um aumento expressivo na força de trabalho (+420 mil), impulsionado pela imigração, esses dados geraram temores globais de uma recessão nos Estados Unidos. O aumento relevante da taxa de desemprego acendeu o alerta para a Sahm Rule, que indica uma recessão quando o desemprego aumenta mais de 0,5 p.p. na média móvel de três meses em relação ao valor mínimo da média móvel dos 12 meses anteriores.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics; Elaboração própria.

Em agosto, a criação de empregos novamente ficou abaixo das expectativas (+142 mil empregos), com 42 mil pessoas deixando o desemprego. Destacou-se a criação de 118 mil novos empregos no setor privado, e o aumento do rendimento médio por hora (+0,4% em relação a julho), alcançando US$35,21 por hora. O resultado do relatório de empregos (payroll) indicou que o mercado de trabalho estava desacelerando, mas sem sinais de colapso.

Por fim, em setembro, a criação de 254 mil novos empregos superou as expectativas do mercado. Essa recuperação, somada à queda na taxa de desemprego, gerou questionamentos sobre a eficácia da Sahm Rule e reduziu as preocupações de uma recessão na economia americana. O resultado foi impulsionado pela criação de empregos nos setores de educação e serviços de saúde (+81 mil), e lazer e hospitalidade (+78 mil), além de um novo aumento de 0,4% no rendimento médio por hora, que chegou a US$ 35,36.

 

Fed inicia afrouxamento monetário, mas permanece atento aos riscos inflacionários

 

Após o ciclo de alta na taxa de juros, implementado para controlar a inflação desenfreada em diversos países, observou-se o início do ciclo de queda de juros nos Estados Unidos. O Federal Reserve reduziu a taxa de juros de 5,5% para 5,0%, uma queda que superou as expectativas de alguns players do mercado, que previam uma redução para 5,25%, ou seja, uma diminuição de apenas 0,25 pp.

Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics; Elaboração própria.

 

Essa redução animou muitos participantes do mercado financeiro, que estavam receosos quanto a uma possível crise na principal economia do mundo. No entanto, o processo de diminuição da taxa de juros nos EUA deve ocorrer de forma gradual, uma vez que o banco central ainda considera os riscos inflacionários.

 

China passa a priorizar estímulos à demanda para atingir a meta de crescimento

 

No Plenário do Partido Comunista Chinês de julho, a ausência de novas iniciativas e estímulos gerou uma perspectiva econômica desalentadora, com a projeção de crescimento para 2024 reduzida para abaixo da meta governamental de 5,0%. A estagnação do setor imobiliário e do mercado acionário levou os investidores a buscar segurança em ativos de renda fixa e ouro, pressionando as taxas de juros para baixo. Além disso, a desaceleração na manufatura e nas exportações foi evidenciada pela queda do PMI industrial para 49,8 em julho e pelo crescimento de 7% nas exportações, abaixo do esperado.

A situação se agravou em agosto, quando a inflação anual alcançou apenas 0,6%, o menor aumento desde 1999. A inflação subjacente subiu apenas 0,3%, o nível mais baixo em três anos, o que pode adiar os gastos das famílias e o investimento empresarial. As vendas no varejo aumentaram apenas 2,1% em termos anuais, abaixo do esperado, mesmo durante o período de viagens de verão.

Em setembro, o CPI da China subiu apenas 0,4% em relação ao ano anterior, abaixo da expectativa de 0,6%. O índice de preços ao produtor (PPI) registrou uma queda de 2,8%, marcando o 24º mês consecutivo de deflação, resultado das flutuações nos preços das commodities e da demanda interna insuficiente. Para enfrentar esse cenário, o Banco Popular da China (PBoC) injetou 800 bilhões de yuans no sistema financeiro e considerou liberar mais 500 bilhões de yuans. O PBoC também reduziu a taxa de recompra reversa, a taxa de empréstimos de médio prazo e o coeficiente de reserva dos bancos, liberando 1 trilhão de yuans para aumentar o crédito. Outras medidas incluíram a diminuição da contribuição mínima para a compra de uma segunda residência e incentivos para que governos locais adquirissem imóveis não vendidos.

Fonte: Investing.com; Elaboração própria.

 

Apesar do anúncio, o mercado permanece cauteloso. As ações chinesas atingiram máximas de dois anos, aumentando 25% em poucos dias, e esse otimismo também foi sentido na bolsa brasileira, especialmente entre as exportadoras de commodities. No entanto, o mercado recuou à medida que o nervosismo aumentava devido à ausência de mais detalhes sobre os planos de gastos adicionais do governo. Essa incerteza levantou questões sobre a eficácia das medidas anunciadas, sugerindo que elas podem não ter sido suficientes para enfrentar os desafios estruturais da economia chinesa, e enfatizou a necessidade de políticas fiscais mais eficazes para combater a deflação e estimular a demanda de forma sustentável.

Nesse contexto, no dia 12 de outubro, o governo anunciou novas medidas fiscais, afirmando que ainda tem espaço para aumentar a dívida e o déficit fiscal, embora sem detalhar todas as iniciativas de estímulo. Entre as principais políticas estão a alocação de 400 bilhões de yuans para governos locais, o uso de 2,3 trilhões de yuans em bônus não utilizados e a ampliação do teto da dívida para reestruturar dívidas ocultas. Outras ações incluem a compra de terrenos ociosos e imóveis comerciais, priorizando habitações subsidiadas, além de considerar a abolição do imposto sobre valor agregado para edifícios residenciais e o aumento de subsídios para estudantes, em resposta ao recorde de desemprego juvenil em agosto. O ministro das Finanças também destacou a necessidade de reformas financeiras e tributárias para otimizar processos e estimular inovações.

 

Autores: João Pedro Melo Zimmermann, Diogo Rodrigues Machado e Vinícius Gallardo Ribeiro Rodrigues.

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Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24

Carta de Conjuntura Trimestral – 1T24

No relatório macro, o núcleo de macro e renda fixa aborda os principais acontecimentos do primeiro trimestre do ano de 2024, analisando os cenários econômicos nacional e internacionais.


Neste trimestre, no cenário nacional, se destacam as incertezas quanto às trajetórias da inflação e da dívida pública, assim como seus consequentes efeitos sobre a taxa de juros e a economia real.


Já no cenário internacional, se destacam as tensões no Oriente Médio e os recentes dados da economia estadunidense, que pode estar mais distante de um ciclo de corte na taxa de juros do que o esperado no final de 2023.


Evolução da inflação brasileira mostra sinais de incerteza e exige cautela por parte do Banco Central em suas próximas decisões.


No mês de janeiro a inflação teve um valor de 0,42%, acima do esperado, em razão principalmente dos preços dos alimentos, impactados pelas consequências do El Niño. Em fevereiro, o reajuste das mensalidades escolares fez com que o mês surpreendesse as expectativas, com um valor de 0,83%. Já em março, a inflação surpreendeu positivamente, tendo uma desaceleração maior do que o previsto, com 0,16% frente às projeções de mercado. Esse cenário mais benigno foi influenciado pela desaceleração do setor de alimentos e bebidas (embora ainda tenha tido a maior alta, impactado pelos fatores climáticos), além de uma deflação no segmento de combustíveis, influenciado pela queda da gasolina e das passagens aéreas.


No entanto, o alívio do setor de combustíveis pode ser passageiro, visto que, segundo dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (19/04/2024), os preços praticados pela Petrobras da gasolina e do diesel estão defasados em 27,09% e 5,41% respectivamente. A empresa brasileira realizou o último ajuste em dezembro de 2023 e provavelmente irá postergar ainda mais o reajuste, já que o presidente da corporação está com relações desgastadas com o atual governo e um eventual aumento dos preços arruinaria o relacionamento.

O índice de difusão (número de componentes que tiveram aumento de preços) caiu durante o período, tendo os valores 65%, 57% e 56% nos três primeiros meses. O número poderia ser ainda menor, mas em março houve um incremento no número de itens alimentícios com crescimento nos preços. O núcleo de serviços subjacentes (exclui os itens mais voláteis e costuma ser menos sensível à política monetária) está pressionado pelo mercado de trabalho e é observado com cautela, já que em janeiro surpreendeu com uma alta de 0,76%, apesar de abrandar para 0,45% nos dois meses seguintes.


Um dos fatores de atenção para a continuidade da menor pressão dos preços é a questão fiscal, que está cercada de incertezas. O consolidado do setor público superou as expectativas em janeiro e apresentou um superávit de R$102 bilhões, ao passo que em fevereiro teve um déficit de R$48 bilhões, além de um déficit de R$1,5 bilhão em março, totalizando um superávit acumulado de R$19,4 bilhões no primeiro trimestre, abaixo do resultado apresentado no mesmo período do ano passado. Cabe lembrar que o ano é marcado pelas eleições municipais e pelo histórico populismo econômico relacionado ao período. No entanto, existem expectativas de que as novas fontes de arrecadação (apostas esportivas, investimentos Offshore, fundos exclusivos) possam reduzir parcialmente o risco fiscal. Somente em janeiro, aproximadamente 29% dos tributos de Rendimentos de Capital tiveram como origem os fundos exclusivos.

Mercado de trabalho brasileiro segue aquecido. 

Apesar da sazonalidade de janeiro, o Brasil apresentou aceleração do emprego em fevereiro, com 306 mil vagas criadas, sobretudo no setor de serviços (63% do número). Ademais, nota-se um reaquecimento da mediana dos salários de admissão (para o primeiro trimestre de 2024, utilizou-se somente dados de janeiro e fevereiro), o que pode dificultar a desinflação de serviços. Com uma taxa de 7,8% de desemprego, número historicamente baixo, a questão do equilíbrio do mercado de trabalho pode dificultar o processo de desaceleração salarial. No último trimestre de 2023 houve um aumento da participação no mercado de trabalho e caso a tendência tenha continuidade, pode tornar o cenário mais benigno.


IBC-Br– Atividade econômica segue resiliente liderada pelo varejo. 

Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a economia avançou 0,6% em janeiro e 0,4% em fevereiro de 2024, em ambos os meses se destacou o setor de varejo, que se beneficiou da inflação controlada e o aumento da massa salarial. O comércio varejista avançou 2,5% no conceito restrito (bens não-duráveis e semi-duráveis) e 2,4% no conceito ampliado (que engloba também bens duráveis, como veículos e materiais de construção), superando os tetos das projeções e indicando resiliência no setor. No mês de fevereiro, o varejo restrito cresceu 1%, novamente superando as expectativas, resultando em uma alta acumulada de 6,1% em relação aos dois primeiros meses de 2023. Já o varejo ampliado, avançou 1,2%, perto do teto das estimativas, acumulando uma alta de 8,2% em relação ao mesmo período no ano anterior.

No mês de janeiro houve crescimento de 0,7% no setor de serviços na comparação com dezembro de 2023, com alta em quatro das cinco categorias que compõem o índice, com exceção de serviços prestados às famílias, que devolveu a forte alta do último mês do ano de 2023. O destaque ficou com o segmento de serviços de informação e comunicação, que foi impulsionado pelo crescimento da receita das empresas que atuam na produção de conteúdo para TV e streaming. Já no mês de fevereiro, o setor de serviços retraiu em 0,9%. A retração vem em linha com a expectativa de acomodação do setor em 2024, com as atuais quedas compensando os meses de alta recentes. Das 5 categorias pesquisadas, apenas o segmento de serviços prestados às famílias apresentou uma leve alta (0,4%).

No mês de janeiro a produção industrial recuou em 1,6%, com destaques positivos para o setor de bens de capital que avançou em 9,3%, enquanto o setor de bens intermediários recuou 2,7%. Da mesma forma, no mês de fevereiro o setor industrial novamente recuou 0,3%, com destaques positivos para o setor de bens duráveis (3,6%) e negativos novamente para o setor de bens intermediários (contração de 1,2%). Apesar da contração geral no setor, há uma composição positiva nos resultados, com alta relevante na fabricação de veículos e insumos para construção civil, indicando aumento de investimentos. No entanto, setores relevantes impactaram negativamente os resultados gerais, como a leve retração na produção de alimentos e a estabilidade na produção de combustíveis. No mês de fevereiro, também houve forte retração no setor químico (3,5%) e de produtos farmacêuticos (6,0%). Por fim, o mês de março finalmente registrou uma alta de 1,1% para a indústria, puxada pelo setor de derivados de petróleo.


Concessões de crédito voltam a evoluir depois de período de incertezas.

No primeiro trimestre de 2024, o efeito das políticas de afrouxamento monetário e incentivo ao consumo começaram a ser sentidos no mercado de crédito. Houve uma notável diminuição da inadimplência para pessoas físicas, decorrente não só da redução da taxa básica de juros, mas também dos programas de renegociação de dívidas promovidos pelo governo federal no último ano, permitindo um crescimento de 14,7% na concessão de crédito livre para pessoas físicas entre jan/23 e jan/24. No entanto, é necessário observar a piora na composição da carteira de crédito contratado, com aumentos na modalidade de crédito de alto custo (cheque especial, crédito pessoal, cartão parcelado, entre outros) e diminuição nas de baixo custo (crédito consignado, financiamento de veículos, entre outros).

No entanto, a inadimplência ainda é crescente entre as empresas, que sofreram não apenas com aumento do custo de crédito nos últimos anos, como também com os impactos nos custos de seus insumos e na desaceleração do crescimento da demanda. No geral, houve uma queda na concessão de crédito no começo de 2023, quando a aversão ao risco aumentou com pedidos de recuperação judicial por parte de grandes empresas, impactando principalmente modalidades de recebíveis como a de risco-sacado. Contudo, o segundo semestre de 2023 deu início a uma retomada no apetite por crédito, que continuou no primeiro mês de 2024, que registrou um aumento de 8,7% em relação a janeiro de 2023.

Esses fenômenos podem ser explicados pela queda da taxa básica de juros e da curva longa da ETTJ, que tiveram como consequência uma queda no índice de custo de crédito brasileiro, que reduziu durante o ano de 2024. Com isso, tendências observadas no ano de 2023 começaram a ser revertidas no primeiro trimestre de 2024 e tendem a melhorar durante o resto do ano. Por exemplo, a formação bruta de capital fixo da economia brasileira que teve sucessivas quedas durante os últimos 3 trimestres do ano passado, voltou a variar positivamente no primeiro trimestre deste ano, uma notícia positiva para a produtividade do país e para o controle da inflação de longo prazo.


PMI de serviços e industrial reforçam perspectiva de resiliência da economia brasileira.

Mesmo diante do cenário de incertezas relativas à inflação e a economia internacional, a indústria brasileira tem demonstrado um crescente otimismo no último trimestre, com os dados do PMI industrial crescendo consideravelmente no primeiro trimestre de 2024. As boas perspectivas se devem principalmente à recuperação da demanda do setor, com o volume de novos pedidos aumentando pelo terceiro mês consecutivo em março, a taxa mais forte em dois anos e meio. Além disso, o setor teve um considerável aumento de produção em março, com a demanda interna sendo o principal vetor de impulso ao setor. No entanto, a demanda externa se apresentou como a maior vulnerabilidade do setor, apresentando queda pelo 25° mês seguido.

A queda da taxa de juros é um importante vetor para o crescimento da indústria nacional, com a desaceleração da inflação mais intensa do que as estimativas do mercado previam para março de 2023, reforçou-se uma perspectiva de continuidade no ritmo de corte da Selic por parte do Banco Central. No entanto, fatores externos têm impactado negativamente para que essas expectativas se concretizem, pondo em dúvida se haverá um novo fôlego substancial para a indústria, que em fevereiro aumentou seu estoque de insumos pela primeira vez em 6 meses, a fim de atender ao maior apetite dos clientes.

Já o crescimento do setor de serviços, tem se demonstrado resiliente, indicando bons sinais de otimismo que se mantiveram por boa parte do ano de 2023. Com exceção das categorias de imóveis e serviços comerciais, o setor de serviços registrou aumento no nível de atividade no primeiro trimestre, com as vendas subindo desde outubro de 2022 e o crescimento contínuo de novos negócios.


Atas do Copom.

Nas duas primeiras atas do Copom de 2024, é afirmado que os indicadores recentes de atividade econômica apontam para uma desaceleração da economia, conforme esperado pelo Comitê. No entanto, na publicação mais recente, observa-se uma moderação no crescimento econômico, porém, com maior dinamismo em alguns indicadores na margem. Isso sugere que a desaceleração pode estar ocorrendo a um ritmo mais lento do que o inicialmente previsto, e há áreas da economia que estão se expandindo de forma mais robusta. Por fim, o mercado de trabalho segue aquecido e com aceleração nos rendimentos reais.

Também é afirmado que a inflação ao consumidor está seguindo a trajetória esperada de desinflação. No entanto, os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária se situam acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes, o que difere do que foi observado na primeira ata, onde os indicadores estavam mais próximos da meta. Apesar disso, as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus mantêm-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente. 

As projeções para a inflação de preços administrados, tanto os diretamente regulados pelo governo quanto aqueles com sensibilidade reduzida aos fatores de oferta e demanda, muitas vezes devido a contratos ou acordos prévios, aumentaram de 4,2% para 4,4% para 2024 e de 3,8% para 3,9% para 2025.

Cenário fiscal – Aumentam preocupações após possíveis mudanças no PLDO, enquanto medidas tributárias mostram impacto positivo na arrecadação, apesar do gasto público acompanhar o crescimento.

As possíveis mudanças no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) aumentaram as preocupações com o cenário fiscal no Brasil. Em entrevista recente, o atual ministro da economia afirmou que o governo pretende encaminhar ao Congresso uma proposta de alteração da meta do arcabouço fiscal para 2025, a qual seria inferior à meta de superávit de 0,5% do PIB. Vale ressaltar que o arcabouço fiscal foi aprovado pelo mesmo governo em agosto do ano passado. Essa perspectiva levanta questionamentos sobre a credibilidade do arcabouço fiscal do país.

Por outro lado, uma série de propostas legislativas aprovadas pelo Congresso Nacional no final de 2023 visa contribuir para a recomposição da arrecadação. Essas propostas incluem a tributação de offshores, trusts e fundos exclusivos, a taxação de apostas eletrônicas e mudanças no tratamento de subvenções concedidas pelos entes federativos. No entanto, a magnitude do impacto dessas medidas ainda é incerta e precisa ser observada ao longo do ano.

Em janeiro, as medidas de tributação tiveram um impacto positivo na arrecadação, com um aumento real de 6,9% em relação ao ano anterior. No entanto, as despesas do Governo Central também cresceram, principalmente devido aos aumentos no salário mínimo e nos salários dos servidores públicos, além da indexação dos gastos com saúde e educação. Apesar disso, o Governo Central registrou um superávit primário significativo de R$81 bilhões, impulsionado pela sazonalidade favorável. Com a contribuição dos governos subnacionais, o setor público consolidado alcançou um superávit de R$102 bilhões, semelhante ao observado em janeiro de 2023.


Banco Central – Incerteza na sucessão do presidente preocupa investidores.

Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, encerra seu mandato em 31 de dezembro deste ano. Ele é o primeiro líder da instituição desde que obteve sua autonomia. Inicialmente indicado pelo presidente em exercício na época, Campos Neto foi reconduzido após a aprovação da autonomia do BC, permanecendo até 2024. Durante sua gestão, enfrentou pressões políticas do atual chefe do executivo, que buscava uma redução mais acelerada das taxas de juros.

A escolha do novo presidente do Banco Central é prerrogativa do governo federal, que já iniciou as discussões sobre a sucessão. Entre os possíveis candidatos estão Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti, indicados por Lula e com vínculos políticos próximos. Galípolo, que teve destaque na campanha eleitoral, foi braço-direito do ministro Fernando Haddad no início do governo, enquanto Picchetti atuou como diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos. A incerteza em torno da transição no comando do Banco Central tem dificultado a convergência das expectativas de inflação para a meta de 3% nos próximos três anos, o que tem gerado preocupações entre os investidores sobre uma possível alteração na política monetária. José Júlio Senna, do FGV Ibre, ressalta que o problema da transição não está diretamente ligado aos nomes dos possíveis sucessores, mas sim à incerteza que esse processo traz.

Copom – Redução da taxa de juros e cautela diante de incertezas.

O Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano, visando à convergência da inflação para a meta ao longo do horizonte relevante. Em um cenário internacional volátil, o Comitê reforça a necessidade de cautela na política monetária, destacando desafios como a desinflação em economias desenvolvidas e o impacto fiscal sobre a demanda agregada. No cenário doméstico, apesar da desaceleração econômica esperada, há sinais de consumo resiliente e transmissão do ciclo de afrouxamento monetário para o mercado de crédito. A incerteza quanto ao cenário inflacionário e as expectativas desancoradas exigem uma atuação firme da autoridade monetária. O Comitê reconhece riscos tanto de alta, como a persistência das pressões inflacionárias globais, quanto de baixa, como uma desaceleração econômica global mais acentuada, demandando cautela na condução da política monetária.

O Comitê avalia que as informações trazidas por atualizações dos conjuntos de dados analisados serão particularmente importantes para definir o ritmo e a taxa terminal de juros. Alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir. O Comitê manteve, unanimemente, que a taxa de juros e sua respectiva trajetória serão aquelas necessárias para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária.



CPI dos Estados Unidos surpreende e põe em cheque expectativas de corte na taxa de juros.

O trimestre foi marcado pelo impacto do índice Shelter (índice de moradia) na dificuldade de desinflação da economia americana. O CPI surpreendeu em janeiro com o valor de 0,3%, influenciado também pela alta nos alimentos, sobretudo na alimentação fora de domicílio. Já em fevereiro voltou a ficar dentro do esperado, apresentando uma leitura de 0,4%, com uma retomada da inflação associada à gasolina, ao passo que os alimentos apresentaram estabilidade. Em março, o CPI avançou 0,4%, acima do consenso dos especialistas, impactado pela continuidade do processo de aumento relacionado à gasolina, bem como a questão de moradia que afetou o trimestre inteiro.

O índice de moradia apresenta grande relevância no cálculo do CPI (cerca de 32% de peso), sendo assim o item de maior impacto. Os motivos especulados para essa persistência nos aluguéis são: a escassez de casas para equilibrar com a demanda, devido principalmente à redução da construção de moradias no período pós crise de 2008; aumento de custos de construção; defasagem do Shelter Index, representando um indicador atrasado da real expansão dos preços.


O núcleo do trimestre anualizado, que desconsidera itens voláteis como energia e alimentos, apresentou uma aceleração (4,2%) quando comparado ao último trimestre de 2023 (3,4%).


Payroll supera expectativas e reforma resiliência da economia estadunidense.

O índice de emprego urbano dos Estados Unidos surpreendeu durante o primeiro trimestre, superando as expectativas em todos os meses. Somente em março, foram criadas 303 mil vagas de emprego, enquanto que as projeções indicavam o valor de 212 mil. No entanto, apesar da força do mercado de trabalho, com exceção do mês de janeiro, o crescimento nominal dos salários esteve dentro do esperado. Um dos motivos para esse fenômeno, aparentemente inconsistente, está relacionado ao aumento da taxa de participação no mercado de trabalho, tendo como um dos principais fatores a imigração, que em 2023 atingiu 18,3% de participação. Estimativas do novo Payroll de equilíbrio ficam no intervalo de 160 a 265 mil, números bem superiores ao antigo equilíbrio estimado de 100 mil, de modo a explicar o elevado número de empregos sem pressionar os salários.


Por outro lado, um ponto de atenção refere-se à terceira queda seguida de novos empregos em tempo integral, o que está historicamente ligado a recessões. Isso ocorre quando as empresas estão receosas com o enfraquecimento da economia e acabam optando por contratações temporárias e de meio período como forma de flexibilização e redução de custos. Outra questão que se observa é o número de novos empregos gerados pelo governo, cerca de 23% do total, o que pode distorcer a real força do setor privado.