Equity Research

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Valuation de Companhias Financeiras – Parte 1

Valuation de Companhias Financeiras – Parte 1

Atualmente cerca de 27,6% das empresas listadas no índice Ibovespa são do setor financeiro. Na maioria dos países emergentes, como no Brasil, o segmento financeiro possui a maior participação entre as empresas listadas na bolsa de valores. Mesmo em mercados desenvolvidos como o Americano ou o Europeu, as companhias financeiras continuam com uma grande participação entre as empresas listadas, chegando a 15% nos Estados Unidos. Em termos globais, cerca de 20% de todas as companhias de capital aberto são do setor financeiro. Porém as empresas financeiras possuem algumas peculiaridades em relação às outras, o que acaba tornando-as impossível de se avaliar através dos métodos tradicionais. Por isso, para podermos fazer um Valuation das companhias financeiras precisamos fazer algumas mudanças ao modelo tradicional do DCF (Discounted cash flow) ou utilizar outros modelos.

 

OS PROBLEMAS

Podemos dividir os problemas – ou peculiaridades – das empresas do setor financeiro em 3 categorias: Regulação, diferenças contábeis e dívida. Vamos explorar um pouco sobre cada tópico e mais pra frente ver como isso se torna um problema ao fazer o valuation.

Regulação

O setor financeiro é bastante vital para as economias capitalistas, não é à toa que ele é bastante regulado, além de ser o responsável por algumas crises econômicas mundiais, como por exemplo a crise de 2008. Estas regulações limitam a liberdade do setor, por isso é importante tomar cuidado com a regulação ao qual a companhia está sujeita, para não modelar cenários impossíveis.

A principal regulação do setor financeiro é a taxa compulsória, essa taxa é um limite do quanto o banco pode emprestar para os seus clientes. Porém o banco pode por escolha própria ou condições de mercado diminuir ainda mais a quantia emprestada. A soma desses dois fatores é chamada de reserva de capital, ele nada mais é do que uma porcentagem da dívida da companhia que fica reservada para diminuir o chamado multiplicador bancário e os riscos do próprio negócio da companhia. A reserva de capital é fator muito importante para os bancos e será necessário na segunda parte para fazermos o DCF.

Outros dois tipos de regulação que o setor possui é: Limitação nos tipos de produtos que o portfólio do banco pode investir, por isso ao calcularmos o retorno destes portfólios precisamos ser coerentes com os ativos ao qual eles podem investir. E por fim a entrada de novos concorrentes nesse setor é regulado, o que altera um pouco o ambiente competitivo.

Diferenças Contábeis

Grande parte dos ativos financeiros de um banco são marcados a mercado, isso faz com que seja impossível fazer qualquer tipo de comparação entre empresas do setor financeiros e empresas não financeiras, pois as empresas não pertencentes ao setor financeiro tendem a ter a balança patrimonial marcado pelo preço de aquisição.

A marcação a mercado faz com que os indicadores que utilizam a balança patrimonial mudem de sentido, por exemplo o ROA (Return on Assets), numa empresa não financeira ela é o retorno da companhia em cima do preço de aquisição dos ativos, porém em companhias financeira o ROA é o retorno da companhia em cima do preço dos ativos no momento.

Outra questão interessante é que o setor tem grandes provisões de perda, em cima dos produtos adquiridos pelos clientes e do seu portfólio. Estas provisões financeiras afetam o lucro da companhia. Por isso, para projetarmos o lucro da companhia temos que projetar as provisões da companhia, uma maneira de fazer isso é projetar uma perda esperada e assumir que as provisões serão do mesmo valor. É importante ressaltar que isso é uma hipótese e pode não se concretizar.

Bancos conservadores fazem provisões maiores que a perda projetada, ou projetam a perda com premissas mais pessimistas. Por outro lado, existe bancos que fazem provisões relativamente menores, por isso apresentam lucro contábil maior naquele período, porém não sustentável a longo prazo. É importante vermos se a empresa está assumindo provisões condizentes ou se está procurando inflar o seu lucro.

Dívidas e Reinvestimentos

A grande diferença entre companhias financeiras e as demais é a dívida. Para o setor dívida é matéria prima, elas captam dívidas dos seus clientes e transforma isso em produtos, como por exemplo, empréstimos bancários. Dívida para estas empresas não é o que ela captou de terceiros e usou para aumentar ou manter o seu modelo de negócios, mas sim o próprio modelo de negócios da empresa. Esse fato traz certos problemas ao se fazer um valuation no qual vamos explorar mais à frente.

Não é possível definir dívidas de bancos de forma correta, por exemplo, o dinheiro que o cliente depositou na conta poupança entra como uma dívida para o banco, porém não podemos contar um dos produtos do banco como sente uma dívida, isso faz com que saber o que realmente é dívida ou não para um banco se torne algo muito subjetivo e complicado.

O outro problema é que não sabemos o quanto o banco reinveste. Sabemos que reinvestimento é o Capex e a necessidade de Capital de giro, porém empresas financeiras dificilmente gastam muito em ativos imobilizados, na verdade cada vez mais o reinvestimento dos bancos vem sendo através de ativos intangíveis, que são contabilizados como gastos operacionais. E se calcularmos a necessidade de capital de giro com a diferença entre Ativos Circulantes e Passivos Circulantes, vamos ter um valor muito volátil para estas empresas.

 

PROBLEMAS NO VALUATION

As peculiaridades que empresas financeiras possuem trazem certos desafios para o valuation. O fato de não conseguirmos determinar Capex nem a necessidade de capital de giro, faz com que, pelos métodos tradicionais, seja impossível chegar a um Free Cash Flow. Além disso, não saber o grau de reinvestimento da empresa faz com que nós não tenhamos como ter boas estimativas de crescimento para a companhia.

Se quisermos fazer um valuation através do DFC será necessário utilizar o FCFE, pois se utilizarmos o WACC para descontar o fluxos de caixa estaremos sobre avaliando a empresa, isso acontece pelo fato da composição da dívida da empresa conter a poupança dos seus clientes que são remuneradas a taxas baixas, como consequência o WACC também teria uma taxa baixa, porém como já mencionado não podemos contar um serviço financeiro da empresa como dívida, logo não podemos descontar os fluxos de caixa da empresa com este WACC.

Certos analistas procuram substitutos para o Free Cash Flow, como por exemplo, descontar apenas o lucro da empresa, o problema ao fazer isso é que mesmo que a empresa não reinvista nada em ativos imobilizados e distribua 100% dos seus lucros em algum momento a portfólio da companhia irá aumentar, o que fará a empresa por lei ter que aumentar a sua reserva de capital, sendo assim ela não poderá repassar todos os lucros, isso por sua vez fará o modelo refletir com menos precisão o valor da companhia.

Existe analistas que procuram criar um “Pseudo Free Cash Flow”, basicamente o que é feito é procurar estimar uma taxa de reinvestimento, o grande problema é que essa prática só é bem realizada por aqueles que conhecem muito bem a empresa, o que nem sempre é verdade para analistas que tem que olhar para outras companhias além daquela. Caso não se tenha uma forma coerente de se calcular o reinvestimento procure utilizar outros métodos, pois com este você pode chegar a preços muito diferentes do valor da companhia.

Sem dúvida nenhuma o modelo mais utilizado é descontar os dividendos da companhia, porém precisamos ficar atentos a certas coisas e assumir algumas hipóteses, sabemos que existem companhias que pagam menos dividendos do que poderiam pagar, assim como existem companhias que pagam mais dividendos do que podem. Se mantermos estes pagamentos constantes estaremos sub avaliando a companhia no primeiro caso e sobre avaliando no segundo.

Existem vários fatores que podem levar uma empresa em um determinado ano não pagar dividendos correntes com a empresa, podemos citar como exemplo a regra que impossibilita as empresas no ano de 2020 pagar mais do que 25% do lucro em dividendos. Para fazermos um valuation corrente através de dividendos precisamos checar se não há nenhum fato extraordinário que esteja influenciando os dividendos da companhia naquele ano.

Um problema ao descontarmos os dividendos é que companhias com potencial de crescimento não pagam dividendos ou pagam muito pouco, para conseguirmos estabelecer um valor para essas empresas precisamos dividir o modelo em duas ou mais partes e estabelecer períodos os períodos de transição da companhia bem como seu crescimento médio em cada período.

Caso utilizemos como amostra os últimos períodos de dividendos pagos pela companhia podemos estar estimando apenas um ciclo econômico, por exemplo, caso seja avaliado os dividendos pagos nos últimos 3 anos do banco XWZ poderemos estar pegando apenas um cenário de recessão, porém num cenário de boom econômico a companhia reportará maiores lucros, logo pagará mais dividendos. Ao fazermos a análise dos dividendos, lucros, crescimento do portfólio e provisões de perdas, temos que estar atentos para pegarmos a média da performance da companhia num ciclo inteiro.

Não importa o tipo de modelo que iremos escolher todos possuem um problema em comum, o fato do balanço da companhia ser marcado a mercado e quase todos os ativos da companhia serem produtos financeiros nos leva há um problema, como sabemos o mercado erra e esse erro as vezes pode ser grande, por exemplo a crise de 2008 que levou o valor dos títulos hipotecários dos bancos a valores irrisórios. A não ser que seja feito um estudo profundo de todos os ativos financeiros que o banco carrega e livre de viéses, iremos estar sujeitos ao risco de que o valor dos ativos seja substancialmente diferente do preço deles. A melhor forma de nos precaver contra isso é justamente escolher bancos mais conservadores.

Na próxima parte será demonstrado modelos para resolver a maioria destes problemas ou contorná-los, além de exemplos de aplicabilidade dos modelos.

To be Continued

 

Referências Bibliográficas

DAMODARAN, Aswath. The Dark Side of Valuation: Valuing Young, Distressed, and Complex Businesses. 2. ed. New Jersey: Pearson Education, 2010.

MIYAZAKI, Emerson Tetsuo. Valuation Aplicado ao Setor Bancário: Definição de um modelo de avaliação de bancos. Brasília: Universidade de Brasília.  

PÓVOA, Alexandre. Valuation: Como Precificar Ações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2020.

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Introdução ao Balanço Patrimonial

Introdução ao Balanço Patrimonial

Dentre as diversas demonstrações contábeis, temos as 3 principais e mais usadas em todo o mundo: Demonstração do Resultado de Exercício, Demonstração do Fluxo de Caixa e Balanço patrimonial. Aqui, abordaremos toda a parte teórica do Balanço Patrimonial, desde a função, objetivos e, além disso, como analisar de forma prática um balanço patrimonial, incluindo a análise de indicadores e análise vertical e horizontal. Antes de se iniciar, é importante notar que o Balanço Patrimonial segue o regime de competência, não o ciclo de caixa, como a DFC, isto é, caso a empresa emita uma despesa em um mês, ela será dada no balanço como naquele mês, mesmo o pagamento sendo em meses seguintes ou parcelado.

Importante citar que o Balanço Patrimonial é uma foto da empresa no último dia do período analisado, ou seja, antes dessa data, a empresa pode fazer qualquer movimentação nas contas contidas no BP, inclusive injetar capital para inflá-lo e algumas outras modificações que podem ser prejudiciais a análise. É daí que vem a importância de se analisar todas as demonstrações contábeis em conjunto.

O que é, sua função e utilidade

Em sua essência, o Balanço Patrimonial (BP) é o relatório contábil feito após todas as movimentações financeiras de uma empresa em determinado período (geralmente trimestral ou anual), ou seja, através dele é que se obtém a origem de recursos da empresa. O Balanço Patrimonial é usado para obter informações cruciais da companhia analisada, como por exemplo a situação do patrimônio da empresa, como bens, direitos, dívidas e obrigações. É dele que derivam as informações relacionadas a dividas, ao capital da empresa, ao número de ativos que a empresa possui e como está sua gestão de capital de giro.

O Balanço é útil ao analisar um firma pois divide todas as suas informações relacionadas ao patrimônio em blocos, de fácil visualização. Além do que já foi citado, tais informações permitem analisar detalhes também do futuro da empresa analisando a sua situação presente, como por exemplo, analisar sua posição em caixa e reservas e endividamento para ver a possibilidade de um dividendo futuro, ou então estimar, com base em estoques e dívidas, o capital de giro futuro, muito útil para prever o comportamento da empresa.

Estrutura

O BP é dividido em 3 estruturas distintas, mas que possuem relação entre si: Ativos, Passivos e Patrimônio Líquido. Ao lado esquerdo, ficam os ativos da empresa, enquanto do lado direito os passivos, e embaixo desses o patrimônio líquido. As linhas dentro das três estruturas são agrupadas por ordem de elegibilidade e/ou liquidez, isso é, dentro dos ativos, eles são agrupados por ordem de liquidez (facilidade de transformação em dinheiro) e na parte dos passivos, não por via de regra, mas geralmente, são apresentados em forma de importância quanto ao pagamento, ou seja, a empresa elenca qual a ordem de importância de pagamento, se são os funcionários, fornecedores ou dívidas, sendo essa a mais usual. Sua estrutura contábil é dada por:

Balanço Patrimonial Arezzo – 31/12/2019 – em milhares de reais (R$)

Ativo

O ativo nada mais é que o conjunto de bens e direitos da empresa. Dentro do ativo, há duas subestruturas: Ativo Circulante (AC) e Ativo Não Circulante (ANC)
O AC são os bens/direitos que serão transformados em dinheiro dentro do período de um ano, ou seja, aqui é onde se encontra a posição em caixa, estoques, contas a receber e outras possíveis fontes de monetização da empresa.
Já no ANC, se encontram os bens/direitos que serão ou transformados em capital ou utilizados a longo prazo pela empresa, após o período de um ano, ou seja, aqui entram os investimentos de longo prazo, o realizável a longo prazo, os bens imobilizados (fábricas e máquinas).

Passivo

Os passivos são as obrigações/dívidas que a empresa possui e é dividida da mesma forma que os ativos, em passivo circulante (PC) e não circulante (PNC).
O PC é composto de dívidas/obrigações de até um ano, como salários de funcionários, fornecedores, dívidas de curto prazo, tributos e dividendos.
No PNC é onde se encontram as dívidas/obrigações de longo prazo, como empréstimos, provisões e outros.

Patrimônio Líquido

Aqui, é onde se encontra os recursos investidos pela empresa, como o capital social dos acionistas e as reservas de lucros.

É importante notar que o balanço patrimonial possui algumas particularidades quanto as suas estruturas. A equação:

A=P+PL

Significa que os ativos da empresa são iguais aos seus passivos somados ao seu patrimônio líquido, o que permite-nos inferir que todos os ativos são formados ou através de dívidas (passivo) ou através de aporte de capital (patrimônio líquido), e o contrário também, ou seja, que os passivos são pagos com caixa ou produtos/serviços vendidos (estoques) através do uso dos ativos. Sempre ao ver um balanço patrimonial, é importante notar que a fórmula sempre é válida, e a soma dos três componentes têm que obrigatoriamente ser igual a zero.

Análise do Balanço Patrimonial

Daremos agora o início a análise do BP. De modo geral, existem 3 métodos de se analisar o balanço patrimonial, e todos serão abordados aqui separadamente, porém é interessante que se aplique-os em conjunto para uma análise aprofundada e eficaz da composição da demonstração contábil.

Análise Vertical (AV)

Tal análise consiste na comparação de cada linha do ativo ou passivo com o total do mesmo. Ou seja, pega-se cada linha e mede-se a participação dessa linha dentro de cada total e transforma-se o número em porcentagem, seja no passivo ou no ativo, o formato é o mesmo. Por exemplo: usando o mesmo balanço patrimonial usado acima, pode-se notar que o Ativo total no 4T19 era de 1.413.249, o AC era de 980.665 e o ANC de 432.584, logo, dividindo o AC pelo Ativo Total e o ANC pelo Ativo Total, nota-se que o AC representa 69% do total do ativo e o ANC 31%. Já para as demais linhas, faz-se a divisão da mesma pelo total do AC ou ANC, dependendo de onde se encontrar a conta que se deseja calcular a participação. Por exemplo, Do total dos ativos circulantes, 1% é caixa, 27% aplicações e 42% contas a receber dos clientes (o que para efeitos de resumos e facilidade, pode-se unir as duas linhas caso necessário) e assim em diante.

Análise Horizontal (AH)

Tal análise consiste na comparação de um ano com o seu ano anterior, para conseguir analisar a evolução da conta que deseja-se analisar ao longo do tempo. Para chegar a tal número, divide-se o valor da conta no ano que deseja-se analisar e pela do ano anterior, diminuindo 1 e multiplicando por 100 para passar para porcentagem. Como na AV fizemos para o ativo, aqui faremos para o passivo, porém, a conta cabe para ambas as partes do balanço.

Indicadores

Dentro do Balanço Patrimonial, é possível verificar a existência de indicadores que auxiliam na tomada de decisão do investidor/analista, sendo usados para comparação com negócios do mesmo setor que sejam parecidos e também analisar dentro da própria empresa como esse indicador mudou ao longo dos anos para ver mudanças dentro da companhia.

Indicadores de Liquidez

Os indicadores de liquidez servem para ver como está a dívida da empresa, sua capacidade de pagamento e/ou aumento da mesma.

Liquidez Corrente: Composto pela divisão do AC pelo PC, ela indica como está a capacidade de pagamento da dívida de curto prazo da empresa, ou seja, se o indicador for maior que um, a empresa consegue pagar suas dívidas de até um ano apenas com o uso dos seus ativos, sem precisar negociar ou rolar a dívida.

Corrente = Ativo Circulante / Passivo Circulante

Liquidez Seca: Idêntica a Corrente, porém, é subtraído os estoques do AC, visto que nem sempre a empresa consegue vendê-los em sua totalidade e caso a empresa tenha um número muito alto de estoques que não consiga vender, o indicador de Liquidez Corrente ficará inflado, logo, recomenda-se o uso da Liquidez Seca nessas situações.

Seca = (Ativo Circulante – Estoques) / Passivo Circulante

Liquidez Imediata: Esse indicador verifica qual a liquidez da empresa para curtíssimos períodos, como uma semana ou mês, ou seja, desconta-se do ativo circulante tudo o que não possui altíssima liquidez, como estoques, duplicatas, impostos e outros.

Imediata = Disponíveis / Passivo Circulante

Liquidez Geral: O indicador mais famoso consiste em dividir o Ativo Total pelo Passivo Total com a intenção de medir a liquidez da empresa não só no curto prazo, mas por um período maior do que um ano.

Geral = Ativo Total / Passivo Total

Indicadores Operacionais

Os indicadores operacionais, como o nome indica, medem como vai a operação da empresa e indica algumas melhorias a serem adotadas pela empresa, além de ajudar com a gestão de capital de giro.

Prazo Médio de Estocagem: Mede quantos dias a mercadoria fica estocada., permitindo verificar melhorias a serem feitas no processo de estocagem para evitar demasiada depreciação do produto e seu custo de estocagem.

PME = (Estoques / Custo Mercadoria Vendida) * 360

Prazo Médio de Cobrança: Tempo medido da venda do produto até o recebimento do dinheiro da venda.

PMC = (Duplicatas / Receita) * 360

Prazo Médio de Pagamento: Tempo que a empresa leva para pagar o produto vindo dos fornecedores.

PMP = (Fornecedores / Compras) * 360

Bibliografia

IUDÍCIBUS, S. et al. “Contabilidade para Não Contadores” 5° ed. Atlas, 2008.

IUDÍCIBUS, S. et al. “Contabilidade Introdutória” 11° ed. Atlas, 2010.

REIS, Tiago. “Guia Suno Contabilidade para Investidores” 1° ed. CLA, 2019.

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Introdução à Demonstração do Fluxo de Caixa

Introdução à Demonstração do Fluxo de Caixa

A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) fornece informações sobre todas as transações que movimentaram a conta caixa de uma determinada companhia, ou seja, as entradas e saídas que ocorreram em um período específico.

Mas por que é importante analisar uma demonstração de fluxo de caixa? As outras demonstrações não são suficientes? Estas são algumas questões que serão abordadas ao longo do artigo.

Existem dois métodos de contabilização de resultados, o regime de competência e o regime de caixa. No regime de competência, os eventos (transações) são reconhecidos no momento em que esses ocorrem, sem levar em consideração se houve o recebimento ou pagamento. Ou seja, a receita será contabilizada no momento em que for gerada, independente do recebimento total ou parcial, o mesmo acontece com as despesas. Portanto, o lucro de uma empresa, pelo regime de competência, levará em consideração todas as receitas e despesas que ocorreram durante o período, porém, o resultado pode não estar refletido, de fato, no caixa da companhia. Um exemplo de relatório que é contabilizado pelo regime de competência é a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

No regime de caixa, os eventos são reconhecidos apenas no momento em que houver o recebimento ou pagamento. Portanto, a receita será considerada apenas quando houver entrada de dinheiro no caixa, e as despesas quando houver saída de dinheiro do caixa. Por exemplo, considere uma venda parcelada, onde uma parte da receita será recebida apenas no ano seguinte, pelo regime de competência o valor total da venda será considerado no ano atual, porém, pelo regime de caixa, apenas as parcelas efetivamente pagas serão consideradas. Dessa forma, o lucro de uma empresa considerará as entradas e saídas de caixa que ocorreram durante o período analisado. A Demonstração do Fluxo de Caixa é desenvolvida a partir do regime de caixa.

Existem movimentações no caixa que não estão diretamente relacionadas às operações, ou atividade-fim da empresa, como é o caso de empréstimos ou pagamento de dividendos. Por outro lado, também existem transações que não afetam diretamente o caixa da companhia, que são contabilizadas como custo ou despesa, mas não correspondem a uma entrada ou saída de dinheiro no caixa, como, por exemplo, depreciação e amortização. Esses são apenas alguns motivos que demonstram a importância dos diversos relatórios contábeis na análise da estrutura financeira de uma companhia.

Estrutura da DFC

A DFC é dividida em três seções, de acordo com a natureza da atividade.

  • Atividades Operacionais
  • Atividades de Investimento
  • Atividades de Financiamento

Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais

Fluxos de caixa provenientes das atividades relacionadas a operação da companhia, como a venda de produtos ou prestação de serviços.

A partir da análise do fluxo de caixa operacional, podemos entender melhor se a atividade-fim da empresa está gerando caixa. Mesmo gerando uma quantia significativa de receita, com o fluxo de caixa operacional podemos comparar essa receita com os gastos relacionados e avaliar se a empresa consegue honrar suas obrigações a partir da sua própria receita, ou se são necessários aportes para manter as atividades.

Exemplo de Movimentações:

  • Venda de produtos ou prestação de serviços;
  • Recebimento de juros;
  • Recebimento de dividendos e juros sobre capital próprio;
  • Pagamento de salários;
  • Pagamento de fornecedores;
  • Pagamento de juros;
  • Pagamentos de impostos.

De acordo com o IASB¹ por não haver um consenso, os juros, dividendos e juros sobre capital próprio, pagos e recebidos, podem ser classificados como atividades operacionais ou de financiamento.

Porém, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) recomenda que as entidades classifiquem os juros, recebidos ou pagos, e os dividendos e juros sobre o capital próprio recebidos como atividades operacionais, e os dividendos e juros sobre capital próprio pagos como atividades de financiamento.

Caso optem por uma classificação alternativa, devem evidenciar o fato por meio de nota explicativa.


Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento

Fluxo de caixa proveniente das alterações nos ativos de longo prazo, como investimentos não considerados equivalentes de caixa e movimentações relacionadas com despesas de capital (CAPEX), como aquisição ou venda de imobilizados ou intangíveis. O dispêndio de caixa em atividades de investimento possui a finalidade de gerar fluxos de caixa positivos para empresas em crescimento ou, para empresas que não estão expandindo suas operações, será apenas para cobrir sua depreciação no período. Caso o CAPEX seja menor que a depreciação, a empresa está deixando de renovar/manter seus ativos.

Exemplo de Movimentações:

  • Aquisição ou venda de Imobilizado e Intangível;
  • Compra de participação societária em outras empresas;
  • Aplicações financeiras não consideradas equivalentes de caixa.


Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

Fluxo de caixa decorrente do recebimento e pagamento de financiamentos, que podem ser obtidos através de acionistas ou credores externos. A partir da análise desta seção podemos prever futuras demandas de fluxos de caixa dos fornecedores de capital.

Exemplo de Movimentações:

  • Emissão de ações;
  • Emissão de debêntures;
  • Pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio;
  • Recompra de ações;
  • Amortização de empréstimos.


MÉTODO DIRETO

O método direto é elaborado com todas as informações disponíveis na tesouraria, registrando cada entrada e saída no momento em que houve o efetivo recebimento ou pagamento, por fonte. De forma mais simples, as informações contidas na DRE são convertidas para o regime de caixa.

A estrutura dos fluxos de caixa das atividades de investimento e financiamento serão idênticos nos métodos direto e indireto.

A seguir é apresentado um exemplo simplificado da estrutura de uma demonstração de fluxo de caixa pelo método direto.


MÉTODO INDIRETO

O fluxo de caixa pelo método indireto é elaborado a partir da reconciliação entre o lucro líquido e as movimentações de caixa da companhia, usando as informações obtidas através das demonstrações já elaboradas, como DRE e Balanço Patrimonial.

Como vimos anteriormente, o lucro líquido informado na DRE pelo regime de competência pode não refletir exatamente o caixa da companhia, principalmente devido a recebimentos e pagamentos parcelados. Além disso, no lucro líquido são consideradas contas como depreciação e amortização, que não afetam diretamente o caixa. A partir disso, são feitos ajustes de adição ou subtração ao Lucro Líquido.

Independentemente do método utilizado – direto ou indireto – o resultado final deve convergir para o mesmo valor, idêntico ao reportado no Balanço Patrimonial.

O método indireto é o mais utilizado pelas instituições, devido a facilidade de padronização na elaboração da DFC e caso optem pelo método direto, é necessária uma Nota Explicativa evidenciando a conciliação com o Lucro Líquido.

Como exemplo do método indireto, é apresentado a seguir o fluxo de caixa simplificado dos anos de 2018 e 2019 da empresa M. Dias Branco.


Como Analisar um Fluxo de Caixa

Analisar individualmente a DFC pode ajudar o analista a entender melhor a estrutura financeira da companhia e como seus recursos estão sendo geridos. Alguns índices podem ser usados para analisar um fluxo de caixa de uma companhia, e servir como base para uma análise comparativa entre empresas.

O fluxo de caixa da empresa M. Dias Branco, apresentado anteriormente, será usado como base para os exemplos.


Índices de Performance

Fluxo de Caixa Operacional por Receita

Expressado em porcentagem, indica qual foi o percentual da receita operacional líquida convertido em caixa, ou seja, a capacidade da empresa em transformar suas vendas em dinheiro.

Exemplo (M. Dias Branco):

Em 2019, a companhia converteu 11% da sua receita operacional em caixa operacional, houve uma variação negativa de 2%, em comparação com os resultados de 2018. Analisando os valores de receita e fluxo de caixa, percebe-se que o aumento de receita não foi acompanhado pelo fluxo de caixa operacional. Analisando o fluxo de caixa da companhia, é possível notar uma retração do lucro líquido, tal retração está relacionada a diminuição do EBITDA no ano de 2019, que deu-se, principalmente pelo aumento de 13,5% no custo médio do trigo.

IMPORTANTE: Uma análise qualitativa sobre as informações financeiras da empresa é de extrema importância para entender os motivos das variações nos índices. Além disso, a análise se torna mais eficaz quando feita uma comparação com os principais competidores da empresa.

Fluxo de Caixa Operacional por Patrimônio Líquido

Semelhante ao ROE (Return on Equity), porém, nesse caso o lucro líquido é substituído pelo fluxo de caixa operacional, portanto, esse índice permite analisar a eficiência da companhia em gerar caixa a partir dos recursos próprios.

Exemplo (M. Dias Branco):

Analisando o retorno sobre o patrimônio líquido, nota-se uma certa semelhança com o primeiro índice, que usava como base a receita operacional. Porém, podemos perceber que além de o caixa operacional não acompanhar o crescimento do capital, a variação do patrimônio líquido foi maior que a observada na receita operacional, devido a isso, a variação de ano contra ano do índice foi de -3%.

Fluxo de Caixa Livre por Receita

Comparável com o primeiro índice apresentado, a diferença é que nesse caso usamos o fluxo de caixa livre para comparar com a receita operacional líquida, e não o caixa operacional.

O Fluxo de Caixa Livre(FCF) é o caixa gerado após descontada as despesas necessárias para manter as operações da companhia. É calculado subtraindo as despesas de capital do caixa operacional.

Exemplo (M. Dias Branco):

Em 2019, a companhia converteu 6% da sua receita operacional em caixa livre, também houve uma variação negativa de 2% em comparação com os resultados de 2018. Podemos perceber que além do caixa operacional não acompanhar a receita, como mencionado anteriormente, é possível notar um aumento nas despesas de capital devido ao maior pagamento de imobilizado e licenças de software, o que impactou diretamente no fluxo de caixa livre, e consequentemente, no índice analisado.

Fluxo de Caixa Operacional por Ação

Como o próprio nome deixa claro, este índice fornece o quanto de caixa operacional foi gerado por ação da companhia. É comparável com o índice Lucro por Ação (LPA).

Exemplo (M. Dias Branco):

Como os valores do fluxo de caixa estão em milhões, o número de ações também foi ajustado para a mesma base. É importante frisar que a companhia é listada no Novo Mercado, devido a isso, só possui ações ordinárias, portanto, não há pagamento de dividendos preferenciais. Também é necessário tomar cuidado com o número de ações da empresa, muitas vezes ocorrem novas emissões de ações, e estas devem ser levadas em consideração para uma análise mais precisa.

Fluxo de Caixa Livre por Ação

Semelhante ao índice anterior, o fluxo de caixa livre por ação vai nos fornecer a informação de quanto caixa livre foi gerado por ação da companhia.

Exemplo (M. Dias Branco):

Rendimento do Fluxo de Caixa Livre

A partir do fluxo de caixa livre por ação, podemos calcular o Rendimento do Fluxo de Caixa Livre ou Free Cash Flow Yield, um bom indicador de desempenho operacional.

O fluxo de caixa livre indica se a empresa está gerando caixa com suas operações ou consumindo. Portanto, este índice irá indicar a quantidade de retorno que um acionista terá, por ação, considerando apenas o caixa livre. Também é um bom indicador de preço futuro da ação, pois um retorno maior por ação irá atrair novos investidores, pressionando o preço para cima, ou vice-versa.

Exemplo (M. Dias Branco):

Para o exemplo, foi considerado o preço da ação no último dia útil de negociação de cada ano. Quanto maior o percentual, mais interessante é para o investidor. Porém, para uma análise mais precisa, quando se trata de percentuais, é necessária uma análise comparativa com outras companhias, principalmente com as que atuam no mesmo setor.


Conclusão

A Demonstração do Fluxo de Caixa é um importante relatório contábil que, se analisado em conjunto com outras demonstrações contábeis, como a DRE e o Balanço Patrimonial, pode fornecer informações valiosas para uma análise precisa e minuciosa da estrutura financeira e desempenho operacional de uma determinada companhia.


Notas

  1. International Accounting Standards Board (IASB), é a organização internacional que publica e atualiza o IFRS (International Financial Reporting Standards).


Referências

GELBCKE, Ernesto Rubens et al. “Manual de Contabilidade Societária: Aplicável a Todas as Sociedades de Acordo com as Normas Internacionais e do CPC” 3° ed. Atlas, 2018.

CPC. Pronunciamento Técnico CPC 03: Demonstração do Fluxo de Caixa” 2010

IUDÍCIBUS, S. et al. “Contabilidade para Não Contadores” 5° ed. Atlas, 2008.

IUDÍCIBUS, S. et al. “Contabilidade Introdutória” 11° ed. Atlas, 2010.

ROBINSON, T. R. “International Statement Financial Analysis” CFA Institute, Wiley.

MURPHY, C. B. “Understanding the Cash Flow Statement” Investopedia, 2020.

HAYES, A. “Cash Flow Statement” Investopedia, 2020.

LOTH, R. “Analyze Cash Flow the Easy Way”, Investopedia, 2020.

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RAPMs – Markowitz, CAPM e indicadores de risco e retorno

RAPMs – Markowitz, CAPM e indicadores de risco e retorno

RAPMs – Risk Adjusted Performance Measures – Parte 1
 
Diversos artigos do núcleo de Risco & Derivativos abordam a questão de gerenciamento de risco em um portfólio ou instituição. Neles, os membros do Clube de Finanças dissertam sobre métricas como o VaR (Value at Risk), os avanços do ES (Expected Shortfall), Risco de mercado, Princípios de Basileia e Teoria do Valor Extremo. Essas métricas são relacionadas às exposições das instituições financeiras em determinados ativos ou conjunto de ativos (portfólio), normalmente sob responsabilidade de um gestor de risco de mercado. Entretanto, métricas de risco podem ser utilizadas por outros profissionais no mercado financeiro com propósitos diferentes, como o gestor profissional de ativos ou o investidor pessoa física.

No livro Quantitative Methods in Finance (2008), a Profa. Carol Alexander coloca diferentes papéis para o gestor de risco de mercado e o gestor de ativos. O primeiro possui a necessidade de mensurar o risco de um portfólio frequentemente (e.g. diariamente) e não possui como principal preocupação o retorno desse conjunto de ativos. Por outro lado, o gestor de ativos tem como prioridade gerar retorno para seus investidores, assim como reportá-los e contextualizar os riscos envolvidos. Em um fundo de investimentos, por exemplo, essas duas variáveis são observadas em relação ao benchmark.
 
Tomando um fundo de investimentos como referência, caso um gestor considere somente o retorno de um ativo ou portfólio, uma parte excessiva do patrimônio seria alocada em ativos com retornos esperados (E(r)) acima da média, porém, possivelmente com riscos proporcionais. Sob outra perspectiva, caso o gestor considere somente o risco, pouco do patrimônio do fundo seria alocado neste(s) ativo(s).

O intuito do presente artigo é introduzir algumas métricas de risco utilizadas na gestão de ativos, mais precisamente indicadores de risco e retorno, conhecidos como Risk Adjusted Performance Measures (RAPMs).
 
Os primeiros RAPMs foram introduzidos no mercado financeiro durante a década de 60, juntamente com o Capital Asset Pricing Model (CAPM), originalmente proposto por William T. Sharpe (1964) e posteriormente por John Litner (1965). Visto que muitos RAPMs estão ligados ao CAPM, começaremos o artigo com uma revisão desse modelo, já citado em outras publicações do Clube de Finanças. 
O CAPM foi criado com base no trabalho de Harry Markowitz sobre diversificação e teoria moderna de portfólios, introduzida na década de 50. Apesar do tempo, esses trabalhos ainda são amplamente utilizados para estimativas de custo de capital e para avaliações da performance de gestão de portfólios, esse último, objeto deste artigo.
 
De forma breve, o modelo de escolha de portfólio desenvolvido por Markowitz (1959) presume que um investidor no tempo t-1 escolhe um portfólio que produz um retorno estocástico no tempo t. Como premissa, esse investidor é avesso ao risco e preocupa-se somente com a média e variância do retorno nesse período (entre t-1 e t). Nessa escolha, o investidor opta por um portfólio “média-variância-eficiente”, portanto, portfólios que i) minimizam a variância do retorno e ii) maximizam o retorno esperado, dada a variância do retorno.

Fonte: Fama and French (2004)

A figura acima demonstra a intersecção entre o trabalho de Markowitz e o desenvolvimento do CAPM.

 

O eixo horizontal do gráfico mostra o risco de determinado portfólio através do desvio padrão dos retornos e o eixo vertical demonstra o retorno esperado dos portfólios. Ao longo da curva abc, a qual é chamada de “fronteira de variância mínima” ou fronteira eficiente, é possível observar portfólios de ativos que minimizam a variância do retorno em diferentes níveis de retorno esperado, nesse primeiro momento com uma restrição em relação aos empréstimos com taxas livres de risco. No ponto T, por exemplo, o investidor que aceita volatilidade pode encontrar um portfólio com retorno esperado maior sem adicionar tanto risco (portfólios com maior desvio padrão). O ponto T pode ser interpretado como um portfólio “média-variância-eficiente”.

Ao retirarmos a restrição de empréstimos com taxas livres de risco, a fronteira eficiente torna-se uma linha reta, como a que passa pelos pontos Rf e g. Para entendimento dessa curva, podemos imaginar um fundo que investe uma proporção x de seu patrimônio em um ativo livre de risco (títulos do tesouro dos Estados Unidos, T-bills, por exemplo) e 1-x em um portfólio g. Se todo o patrimônio for direcionado para ativos livre de risco, o retorno esperado será o ponto Rf (taxa de juros livre de risco) no eixo vertical. Dessa forma, combinações entre ativos livres de risco e alocações em g formam a linha Rf-g. 

O portfólio g é uma dentre as infinitas combinações de ativos na curva abc e abaixo dela. Considerando a premissa de que o investidor opta por um portfólio ”média-variância-eficiente”, altera-se a inclinação da linha Rf-g até o ponto de tangência T, logo, nesse exemplo, os portfólios eficientes são combinações entre um ativo livre de risco e o portfólio T. Com um entendimento das distribuições dos retornos e a premissa de simetria de informações, os investidores tendem a optar pelo mesmo portfólio T, o qual os autores passam a denominar de M, em alusão ao “mercado”. 

A reta Rf-M é definida como a Capital Market Line (CML), a representação gráfica de diversos portfólios que otimizam combinações de risco e retorno, tanto em cenários de investimento (lend), como captação (borrow) à taxas de juros livres de risco.

Fonte: Alexander (2008)

Feitas as considerações acima, podemos entrar no conceito do CAPM e entender a sua relação com outras métricas que serão apresentadas. O modelo surge como uma forma de explicar o retorno dos ativos como um agregado de componentes do retorno. Tradicionalmente ele é utilizado em um contexto onde um ativo com risco, como por exemplo a ação de uma empresa, está prestes a ser adicionado à um portfólio diversificado e busca responder a seguinte questão: qual deveria ser o retorno adicional para justificar a inclusão deste ativo no portfólio diversificado?

Após a introdução do conceito podemos passar para a sua definição. Originalmente, o modelo CAPM Sharpe-Lintner foi baseado no conceito de equilíbrio de mercado, onde o excesso de retorno esperado de um ativo i (E(Ri) – Rf) seria proporcional ao retorno adicional do mercado (E(Rm)-Rf), aqui citado como o portfólio M.

Equação 1:


Com base na fórmula acima e uma pequena manipulação algébrica, o retorno esperado de um ativo i é a taxa livre de risco Rf, mais um prêmio pelo risco, o qual é definido pelo Beta do ativo i (beta i) multiplicado pelo prêmio por unidade de “risco beta”, E(Rm) – Rf.

Na equação apresentada, o Beta do ativo i é a covariância dos retornos do ativo i e do mercado divididos pela variância do retorno do mercado. Na prática, ele pode ser calculado através de uma regressão linear simples dos retornos do ativo contra os retornos do mercado. O beta será o coeficiente angular da reta de regressão.

 Equação 2:

Ao pensar em um modelo de regressão para estimar o retorno esperado de um ativo, podemos chegar na seguinte equação: 

Equação 3:

 

Onde os componentes da equação continuam com o mesmo significado, porém, o retorno de determinado ativo não é explicado totalmente pelo excesso de retorno do mercado, surge um termo de erro aleatório ẽ. 

Para facilitar o entendimento das métricas que serão apresentadas, faremos uma alteração no CAPM Sharpe-Lintner. Como já foi comentado, as equações 1 e 3 podem ser eficientes para responder a principal questão do CAPM e por consequência estimar o risco sistemático de um ativo individual ou um de um portfólio não gerenciado ativamente. Porém, ao aplicar essa fórmula para um portfólio gerido ativamente, o gestor pode selecionar ativos com um ẽ significativamente maior do que zero, em função de habilidades ou conhecimentos que não estão disseminados no mercado. Com isso, o portfólio não será explicado somente pelo seu beta, o que é plausível em um contexto onde existe um gestor de ativos, portanto, um ponto falho do CAPM Sharpe-Lintner.

Em estudos posteriores, autores como Jensen (1968),  Douglas (1968), Black, Jensen & Scholes (1972), Fama & MacBeth (1973) e Fama & French (1992), encontraram que o intercepto da equação do CAPM é consistentemente maior do que a taxa livre de risco Rf. Além disso, as regressões mostraram que, em média, o prêmio por unidade de “risco beta”, é consistentemente menor do que o excesso de retorno do mercado em relação à taxa livre de risco, E(Rm) – Rf. Dessa forma, para facilitar o entendimento dos próximos tópicos do artigo, adotaremos a equação proposta por Jensen em seu trabalho de análise de performance de fundos mútuos.

 Equação 4:

Onde o intercepto 𝛼 (alpha) pode ser entendido, segundo Jensen, como o retorno médio incremental no portfólio devido à habilidade do gestor de ativos. De outra forma, é possível definir o 𝛼, posteriormente denominado de alpha de Jensen, como o retorno do portfólio não explicado diretamente pelo retorno adicional do mercado em relação ao ativo livre de risco, E(Rm) – Rf.

RAPMs baseados no CAPM

Nessa parte do artigo apresentaremos os RAPMs que surgiram concomitantemente com o CAPM, logo, fazem referência ao modelo. Esses RAPMs introdutórios podem ser utilizados para rankeamento de portfólios por uma ordem de preferência, de acordo com as intenções do investidor ou gestor de ativos. 

Sharpe Ratio 

O Sharpe Ratio foi desenvolvido por WIlliam F. Sharpe e assim como os outros RAPMs leva em conta o retorno de um ativo em relação ao risco. O indicador é interpretado como o excesso de retorno de um ativo em relação ao ativo livre de risco, por unidade de volatilidade (𝜎 desvio padrão).

Aqui, fazemos a primeira referência à parte introdutória do artigo. O Sharpe Ratio é a inclinação da Capital Market Line (CML), portanto, quanto o retorno esperado do ativo ou portfólio aumenta/diminui com mudanças na volatilidade (𝜎 desvio padrão). De forma breve, portfólios com Sharpe ratios maiores tendem a ser priorizados por investidores e gestores de ativos em um rankeamento. É importante pontuar que, ao considerar o E(R) do ativo, presume-se que os retornos sejam normalmente distribuídos, o que muitas vezes não acontece na prática.

Fonte: Alexander (2008)

Treynor Ratio
Supondo a existência de um 𝛼 (vide equação 3) nos retornos de um ativo/portfólio com risco, sob a ótica do CAPM, Treynor propôs um indicador associado à esse retorno não correlacionado com o mercado.

O Treynor Ratio possibilita ordenar portfólios de acordo com os retornos não explicados pelos retornos de mercado, por unidades de risco sistemático (Beta).
 
Information Ratio ou Appraisal Ratio

O appraisal ratio possui suas origens na teoria proposta por RIchard Grinold e aprofundada por Clarke, de Silva e Thorley sobre a Law of Active Management, a qual busca conceituar o valor adicionado pelos gestores de ativos/portfólios. O appraisal ratio foi criado com o objetivo de mensurar e distinguir as habilidades dos gestores de ativos.

Como é possível observar na fórmula acima, gestores de portfólios com retornos ativos (𝛼) por unidade de risco (𝜎 desvio padrão), possuem um appraisal ratio maior.

Limitações

O CAPM tem sido utilizado de forma ampla desde a década de 60 até os dias atuais e diversas adaptações foram feitas ao modelo, como é possível observar na equação 4 e nos estudos de Jensen (1968),  Douglas (1968), Black, Jensen & Scholes (1972), Fama & MacBeth (1973) e Fama & French (1992) citados anteriormente. Mesmo com a utilização frequente do CAPM, faz-se necessário entender as suas limitações e rigidez nas premissas. 

O CAPM Sharpe-Lintner define que o prêmio de risco esperado por um ativo está relacionado somente com o seu risco sistemático, ou seja, a sua relação com o retorno adicional de um portfólio de mercado (E(Rm) – Rf). Conforme comentado anteriormente, em outros estudos foi possível rejeitar estatisticamente que o prêmio por unidade de “risco beta”, é consistentemente menor do que o excesso de retorno do mercado em relação à taxa livre de risco, E(Rm) – Rf, assim como o intercepto é maior do que o retorno de um ativo livre de risco Rf. Uma alternativa ao modelo CAPM Sharpe-Lintner já foi discutida anteriormente em um artigo do Clube de Finanças. Ao considerar outras variáveis além do retorno do mercado, o modelo de 3 fatores de Fama e French surge como uma alternativa para a precificação de ativos.

Quanto às premissas, o modelo pressupõe que: (1) todos os investidores possuem utilidades de maximização de riqueza, em um período, avessas ao risco e podem escolher diferentes portfólios somente em função de suas médias e variâncias, (2) não existem impostos e custos de transação, (3) todos os investidores têm visões homogêneas sobre os parâmetros da distribuição conjunta de probabilidade dos retornos dos ativos/portfólios e (4) os investidores podem emprestar e tomar emprestado a uma taxa livre de risco. Dessa maneira, podemos perceber que existe certa rigidez nas premissas e na formatação do modelo ao considerar, por exemplo, que o retorno adicional de um ativo é explicado somente pelo retorno do mercado ou que todos os investidores possuem visões homogêneas sobre o comportamento da distribuição de retorno de um ativo.

Parte 2
 
Na parte dois falaremos sobre o Kappa, Omega e Sortino Ratios, assim como traremos algumas aplicações práticas desses índices.
 
> Referências

Jensen, Michael C., The Performance of Mutual Funds in the Period 1945-1964. Journal of Finance, Vol. 23, No. 2, pp. 389-416, 1967.

Vidyamurthy, Ganapathy. Pairs trading : quantitative methods and analysis. Hoboken, N.J.: J. Wiley, 2004.

Jensen, Michael C. and Black, Fischer and Scholes, Myron S., The Capital Asset Pricing Model: Some Empirical Tests. Praeger Publishers Inc., 1972.

Alexander, Carol. “Market Risk Analysis, Quantitative methods in finance”. John Wiley & Sons, 2008.

Leibowitz, Martin L. Modern portfolio management: active long/short 130/30 equity strategies, 2009.

Sharpe, William F. Capital Asset Prices: A Theory of Market Equilibrium under Conditions of Risk, The Journal of Finance, Vol. 19, No. 3, 1964.

Fama, Eugene F. and French, Kenneth R. The Capital Asset Pricing Model: Theory and Evidence, Journal of Economic Perspectives, Volume 18, Number 3, 2004.

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Introdução à Corporate Finance

Introdução à Corporate Finance

Corporate Finance (Finanças corporativas) é o nome dado a divisão das finanças que lida com situações como: fontes de financiamento, estruturação de capital e decisões de investimento. A principal preocupação aqui, na Corporate, é maximizar o valor do acionista nas decisões, tanto de curto como de longo prazo, da companhia.

Uma das principais atribuições dada aos departamentos de Finanças Corporativas é o de investimento. Não só administrar e supervisionar, mas tomar decisões que façam sentido dado o momento e o segmento da firma. Como por exemplo, podemos citar um empreendimento realizado por uma empresa de Real State. A firma sabe que precisa fazer algum projeto que rentabilize seu capital. Cabe então ao departamento de Corporate não só analisar as melhores oportunidades, mas também a estratégia a se seguir. Algumas perguntas a serem feitas em relação a estratégia: Qual investimento devo fazer? Qual investimento maximizara meu retorno? Devo fazer com capital próprio, de terceiros ou através de Equity?

Dentro das Finanças Corporativas, há uma série de instrumentos usados para calcular a viabilidade de um projeto ou investimento. Passaremos por todos, citando exemplos e suas respectivas fórmulas com o uso na HP 12C. Antes de tudo, é importante ressaltar que aqui lidaremos com o assunto de Finanças Corporativas, o que envolve o uso de matemática financeira. Iremos apresentar os termos, fórmulas e explicar cada um. Logo após, faremos um resumo de como deve ser tomada a decisão de um investimento e suas implicações, para isso, usaremos exemplos numéricos com o uso da HP12C.

Future Value e Present Value

Começando com Future Value (Valor futuro), que chamaremos de FV. O FV de um número nada mais é do um montante de dinheiro hoje, avaliado em um dado ponto do futuro. Já o Present Value (Valor Presente), é o próprio montante avaliado hoje. Podemos usar uma fórmula para ambos os termos:

  • FV = Future Value
  • PV = Presente Value
  • R = Taxa de juros ou Custo de Capital

Assim, temos que o FV é o PV multiplicado por 1 mais o custo de capital do investimento, elevado ao número de anos da duração do investimento ou projeto. Para acharmos o PV quando tivermos o FV, basta reorganizar os termos da equação para isolar o PV.

Net Present Value (NPV) ou Valor Presente Líquido (VPL)

Agora, entrando a fundo no conceito de Corporate, começaremos a aplicar funções mais úteis. Iniciando pelo Net Present Value (Valor Presente Líquido, VPL) que chamaremos de NPV. O NPV é muito utilizado para fazer valuation (estimar o valor econômico de algo, nesse caso um projeto/investimento) para se obter uma ideia da viabilidade do projeto. De forma resumida, o NPV é o valor presente de todos os fluxos de caixa que estão relacionados ao projeto. É dado pela fórmula:

  • NPV = Net Presente Value
  • CF0 = Investimento
  • CFt = Fluxo de Caixa no período t

É interessante ressaltar que o Investimento entrará com sinal negativo, visto que há uma saída de caixa, não uma entrada.

Perpetuity (Perpetuidade)

Para seguirmos, tem-se o conceito de Perpetuity (Perpetuidade), que tem como premissa o investimento feito que durará infinitamente e os fluxos de caixa serão sempre os mesmos:

  • C = Fluxo de caixa
  • R = taxa

Já se supusermos que os fluxos de caixa não serão constantes, mas sim crescerão a uma taxa (g), temos que:

  • G = growth, taxa de crescimento

Annuity (Anuidade)

O último conceito para fluxo de caixa é o de Annuity (Anuidade), que consiste em um fluxo de caixa fixo recebido constantemente por um certo período:

Internal Rate of Return (IRR) ou Taxa Interna de Retorno (TIR)

Entrando no tema Rentabilidade, temos alguns conceitos a serem abordados. O Internal Rate of Return (Taxa Interna de Retorno), ou IRR, é a rentabilidade a ser adquirida para que o NPV seja 0, ou seja, para que o projeto seja sustentável. Temos como fórmula para o IRR:

Payback

Outro termo que vamos comentar já é bem disseminado pelo mercado em geral e é conhecido como Payback. Nada mais é o tempo em anos para a recuperação do valor investido. É fácil notar que, tudo o mais constante, o projeto com o menor payback deve ser escolhido, pois haverá o retorno financeiro mais cedo.

Profitability Index (Índice de Rentabilidade)

Já o Profitability Index é basicamente a rentabilidade do investimento e é dado por:

Quando realizar ou não um investimento?

Dado todos os índices e fórmulas dadas, podemos agora fazer a aplicação na HP12C. Porém, antes disso, é interessante que se decida quando e porque fazer o investimento. De nada adianta calcular todos os índices, se não se sabe qual decisão tomar e nem o motivo.

Então, começando pelo NPV temos que o investimento/projeto deve ser feito quando o NPV>0, ou seja, positivo. Deve-se, em teoria, aceitar todos os investimentos que tiverem um NPV acima de 0, porém na prática a empresa não possui recursos ilimitados e por muitas vezes há um limite de capital disponível para ser usado. Quando há tal restrição, deve-se fazer o investimento no qual tiver o maior NPV, visto que o valor presente de tal projeto terá um valor presente maior que os demais.

Já levando em conta o IRR, deve-se aceitar todos os projetos no qual o IRR for maior que o custo de capital da empresa. Porém, ao ter de escolher investimentos excludentes, é interessante que se escolha o maior IRR possível, pois a rentabilidade será mais alta.

Há também um outro empecilho: o desacordo entre NPV e IRR, visto que ao termos 2 investimentos a serem feitos e calculados ambos os índices, um pode obter o IRR maior e o outro o NPV maior. Nesse sentido, deve-se sempre optar pelo qual possuir o maior NPV, pois o IRR não leva em conta a ordem dos fluxos de caixa. Por exemplo, o projeto A possui um investimento de 1000, o fluxo de caixa 1 de 500 e o fluxo de caixa 2 de 1000. Já o projeto B possui o contrário, com investimento de 1000, fluxo de caixa 1 de 1000 e fluxo de caixa 2 de 500. Ambos irão possuir o mesmo IRR, porém o projeto B terá um NPV maior, por conta de receber o maior fluxo de caixa primeiro. Logo, a escolha que maximizará o retorno é o projeto B.

Aplicação na HP12C

Agora que foi visto todos os componentes de estudo da Corporate Finance, podemos partir para exemplos práticos e utilizando a HP12C.

Exemplo 1: Dado um montante de R$1230 hoje, rendendo a uma taxa de 0.5% ao mês por 6 anos, qual o montante gerado ao final do período?

Resposta: Antes de tudo, limpar a memória usando f e CLx. Clicar em: 1230, depois em CHS (esse botão faz com que o sinal do input seja negativo, visto que é uma saída de caixa) e logo após em PV, pois esse é o valor do aporte. Depois, clicar em 0.5 e na tecla i, logo após, clicar em 72 (6 anos e meses) e em n. Todos os inputs feitos, clicar em FV para obter o resultado ao final do período, que será de R$1761,41.

Exemplo 2: Uma empresa investiu 15.000 reais em uma fábrica que irá retornar os seguintes fluxos de caixas nos próximos anos: 8.000, 6000, 4500, 2000. Calcular o NPV sabendo que o custo de capital da firma é de 12%.

Resposta: Para fazermos na HP12C, começar pelo investimento. Clicar em 15000, CHS, g (opção “azul” para fluxo de caixa) e em PV. Após isso, começaremos a colocar os próximos fluxos de caixa. 8000, g e PMT para a HP12C entender que é um fluxo de caixa no período 1. 6000, g e PMT. 4500, g e PMT e, por fim, 2000, g e PMT. Feito os fluxos de caixa, clicar em 12 e em i para o custo de capital e em f e PV para obter o NPV do projeto, que nesse exemplo é de 1400. Sendo positivo, o investimento é qualificado como viável.

Exemplo 3: Usando o exemplo interior, como podemos obter o IRR?

Resposta: Podemos fazer o mesmo procedimento anterior, porém não colocamos o i e em vez de clicar em f e depois em PV para obter o NPV, clicamos em FV para obter o IRR. Como resultado, temos: 17.41%, o qual é maior que o custo de capital da firma.

Exemplo 4: Também usando o exemplo dado, temos que a rentabilidade é de?

Resposta: Clicar em 8000, ENTER, 6000, ENTER, 4500, ENTER, 2000 e em + três vezes, pois foram feitas 4 somas. Clicar em ENTER, 15000 e no símbolo de dividir. Obtêm-se o resultado de 1,37, ou 137% de rentabilidade.

Exemplo 5: Usando os fluxos de caixas anteriores, qual o payback do projeto?

Resposta: Como nesse caso os fluxos de caixa não são constante, há de se usar o payback modificado. Para isso, somamos os fluxos de caixa até obtermos o resultado mais próximo do investimento. Por exemplo, é fácil notar que o payback é algo entre o segundo e o terceiro fluxo de caixa, visto que os dois primeiros fluxos somam 14000, número próximo de 15000. Visto isso, sabemos que o Payback é 2,XX. Para descobrir o XX, temos de pegar o restante para o retorno do investimento (1000) e dividir pelo próximo fluxo de caixa. Tem-se então: 0,22. Somado com os 2 outros fluxos, tem se o payback desse projeto de 2,22 anos.

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Cinco Forças de Porter

Cinco Forças de Porter

Introdução

Muitas vezes quando se fala de competição em um setor, pensamos intuitivamente em competidores diretos, ou seja, empresas que fornecem o mesmo produto ou prestam o mesmo serviço. Ficamos presos aos concorrentes diretos, concluindo que somente estes estão competindo pelo lucro e rentabilidade. Neste artigo será apresentada a abordagem de Michael Porter sobre as forças competitivas, que vão além de concorrentes do setor e como todas elas influenciam nos resultados de uma empresa.

Forças de Porter

As “Cinco Forças de Porter” é uma análise criada por Michael Porter, professor da Harvard Business School, para identificar as características estruturais básicas de uma indústria, Porter se refere a estas forças como sendo o microambiente de uma empresa. Buscando encontrar razões pelas quais certos setores possuem uma maior atratividade do que outros. A atratividade de um setor é avaliada pelo retorno médio realizado pelas empresas inseridas nele. As forças competitivas abordadas por Porter são vistas como fatores que afetam a dinâmica competitiva na indústria, influenciando tanto na intensidade da concorrência como na rentabilidade dela, tendo como base os estudos de organização industrial (OI).

Criada em 1979, esta ferramenta ainda possui muita relevância na atualidade, ajudando empresas a obter um melhor entendimento sobre seu próprio ambiente competitivo, identificando quais as suas fraquezas e forças, usando-a para melhor posicionar a sua estratégia de competição e maximizar os seus retornos. A análise é utilizada também por analistas de empresas que buscam identificar características peculiares de um setor, comparando-o com outros, assim como analisar se as empresas inseridas nele estão melhor posicionadas frente às forças apresentadas a seguir.

Ameaça de entrada

A entrada de novas empresas em um setor aumenta a competitividade, pressionando para baixo os preços de seus produtos em geral. A ameaça de novos entrantes está fortemente relacionada com a dificuldade de uma nova empresa entrar nesta indústria, portanto, é necessário analisar o tamanho das barreiras de entradas do setor em análise.

Porter identifica sete tipos de barreiras de entradas que se adequam a qualquer indústria, sendo elas:

  • Economia de escala: Economias de escalas acontecem quando uma empresa possui instalações e distribuição eficiente, conseguindo diluir os custos fixos ao aumentar a sua produção. Se uma indústria possuir um alto grau de economia de escala, novos entrantes com uma menor produção estarão em uma desvantagem, devido à sua falta de eficiência na diluição dos custos fixos, acarretando margens menores. Economias de escala podem ser mitigadas pela diferenciação de produtos assim como o avanço tecnológico, dificultando a mudança por novas tecnologias dentro de operações de grande escala.
  • Diferenciação de produtos: Diferenciação de produtos evidencia uma forte marca dos players em um setor, sendo criada através de publicidade, design diferenciado do produto, pioneirismo no setor, entre outros. Portanto um novo entrante provavelmente precisará investir quantias significativas em promoção da sua marca para quebrar o vínculo existente entre os clientes e as empresas já estabelecidas
  • Necessidades de capital: Atualmente existe um grande número de potenciais entrantes com uma grande disponibilidade de capital, fazendo com que esta barreira se torne menos relevante na maioria dos casos. No entanto existem setores que em comparação com outros necessitam de uma grande quantidade de capital inicial assim como capital recorrente para iniciar e manter as operações, respectivamente, limitando o número de empresas dispostas a correr este risco.
  • Custos de mudanças: Esta barreira está ligada com os custos que os compradores deste setor (público alvo) incorrem ao trocar de fornecedor (players do setor), customer captivity. Geralmente ocorre em indústrias com produtos especializados.
  • Acesso aos canais de distribuição: Ocorre quando o sistema de distribuição de um setor já está saturado com os produtos das empresas existentes. Também ocorre quando as empresas já estabelecidas possuem um forte relacionamento com os canais de distribuição, dificultando o contato destes com novos entrantes.
  • Desvantagens de custo independentes de escala: A independência da economia de escala em um setor está ligada com vantagens singulares de cada empresa. Algumas destas vantagens podem ser: patentes, subsídios exclusivos, localização favorável, entre outros. A mineradora Vale possui tal vantagem, visto que a empresa tem acesso à minas cujo minério extraído possui o maior teor de concentração do mundo.

  • Política governamental: O governo pode, por inúmeras razões, estabelecer barreiras legais dentro de um setor. Beneficiando somente os players já inseridos na indústria, como aconteceu no Brasil em que o MEC suspendeu, por cinco anos, a criação de faculdades de medicina em todo o território.

Rivalidade Entre Concorrentes Existentes

Ao analisar um setor é preciso observar as empresas que atuam nele e quais as práticas adotadas por elas para obter uma vantagem competitiva. Há vários fatores que influenciam a rivalidade entre empresas de um setor e moldam a sua dinâmica competitiva. Porter divide a rivalidade entre concorrentes em oito fatores diferentes, sendo eles:

  • Concentração: Um bom indicador para medir a intensidade de competição de um setor é determinar o número de empresas inseridas nele, e a distribuição do market-share, sendo o índice de Herfindahl-Hirschman[1] uma ferramenta muito utilizada. Quando não há concentração de market-share dentro de um setor, a intensidade de competição é maior, acarretando em práticas mais agressivas das empresas atuantes. Mesmo havendo uma baixa concentração de empresas, se não houver uma empresa dominante tanto em tamanho como em recursos, a rivalidade dentro do setor ainda será prevalente.
  • Custos Fixo: Uma empresa inserida em um setor que apresenta um custo fixo alto, sofrerá com a pressão de aumentar a sua produção a fim de atingir o seu ponto de equilíbrio, mesmo não havendo a demanda para supri-la. Como consequência de um aumento na oferta e não da demanda, resultará em uma redução no preço por parte das empresas do setor, reduzindo a sua rentabilidade.
  • Custos de Armazenagem e Produtos Perecíveis: Setores com um alto custo de armazenagem ou produtos perecíveis, pressionam as empresas atuantes a vender estes produtos rapidamente quando há um excesso de capacidade sendo armazenada ou o produto possui uma alta perecibilidade, acarretando em práticas de preços baixos agressivas diminuindo a rentabilidade do setor. Estas práticas são facilmente observadas nas promoções que acontecem em supermercados quando um alimento está próximo da sua data de validade.
  • Diferenciação de produto: Quando um produto oferecido por uma indústria não possui diferenciação independente da empresa que está oferecendo-o, não há conexão entre cliente e uma marca específica, existindo somente diferença no preço. Ambientes como este possuem uma concorrência intensa buscando oferecer os menores preços.
  • Diversidade de Competidores: Competidores com diferentes objetivos, crenças, estratégias, entre outras características, podem potencialmente atrapalhar outros concorrentes com diferentes características pois alteram o ambiente competitivo do setor. Podemos exemplificar este fenômeno no mundo da moda, onde por exemplo grandes varejistas de moda buscam o lucro e rentabilidade, querendo que cada vez mais indivíduos consumam os seus produtos, no entanto há um crescente número de varejistas de modas que o seu foco principal não é o lucro e sim a sustentabilidade, possuindo uma estratégia que vai contra o tradicional conceito de empresa (ex: Patagonia).
  • Crescimento do Setor: Uma situação que aumenta a intensidade de competição dentro de um setor é quando este atinge um estado maduro, diminuindo o seu crescimento. Podemos ver este comportamento de amadurecimento na indústria ferroviária dos Estados Unidos, que nos seus primórdios crescia à altas taxas, mas atualmente é um dos setores mais estáveis do país. Já uma indústria que apresenta um crescimento elevado consegue sustentar os altos lucros das suas empresas atuantes, não havendo necessidade de práticas de competição agressiva.
  • Interesses Estratégicos: Os diferentes interesses estratégicos das empresas de um setor podem intensificar a rivalidade existente dentro dele. Uma empresa com o interesse de agressivamente obter market-share, pode buscar por uma estratégia de sacrificar a sua rentabilidade a fim de obter este resultado, potencialmente prejudicando outras empresas do setor.
  • Barreiras de Saída: Outro fator que influencia na competitividade das indústrias e prejudica todas as empresas dentro do setor, são as barreiras de saídas. Barreiras de saídas ocorrem quando um competidor não está obtendo retornos satisfatórios, mas mesmo assim permanece em operação. Esta permanência se dá por fatores como: ativos especializados, custos de saída, barreiras emocionais, restrição governamental. Uma empresa inserida em uma indústria com um investimento inicial relativamente grande, como mineração, possui uma dificuldade de encerrar suas operações, visto a grande perda que incorrerá ao liquidar os seus ativos.

Produtos Substitutos

Produtos substitutos são aqueles que conseguem satisfazer as mesmas necessidades da indústria. Estes substitutos diminuem os retornos de empresas, pois os consumidores passarão a ter mais opções que os satisfazem. Dependendo do avanço do substituto é possível este eliminar por completo a venda de outros produtos. Para analisar a intensidade desta força é preciso analisar as tendências do setor e avaliar se há produtos no mercado que são uma ameaça para ele.

Um exemplo de produto substituto é o avanço tecnológico dos celulares, possibilitando a integração de uma câmera. Esta invenção reduziu o consumo de câmeras fotográficas, prejudicando as empresas inseridas neste setor. Para uma empresa evitar uma situação parecida, é necessário possuir uma visão que vai além do produto que está produzindo, pensando em quais as necessidades que aquele produto satisfaz.

Poder de Barganha dos Compradores

Esta força mensura o grau que os consumidores conseguem pressionar as empresas de um setor e o preço dos seus produtos para baixo. O grau desta força depende do tipo de consumidor existente. Portanto se um setor possuir um consumidor de grande porte responsável por uma parcela significativa das vendas, as empresas do setor estão à mercê deste consumidor, acarretando em um alto poder de barganha para o comprador. A concentração de competidores também afeta o poder do consumidor, sendo este alto quando há uma grande variedade de produtos similares disponíveis para ele. Programas de fidelidade são medidas tomadas por algumas empresas para a mitigação do poder dos seus clientes, diminuindo assim o churn da empresa.

A sensibilidade à preços dos clientes também compõe o poder do comprador. Caso o produto adquirido representa uma grande parcela dos custos de um cliente, o fornecedor está limitado em aumentar o seu preço, com o risco de perder clientes. Em contraponto, uma empresa que fornece um produto com baixa representatividade no custo de um cliente possui mais facilidade em praticar aumento de preços.

Poder de Barganha dos Fornecedores

A última força de Porter a ser apresentada, poder dos fornecedores, possui muitas semelhanças com o poder dos compradores. Em um setor que possui poucos fornecedores para a quantidade de compradores, estes detêm um maior poder conseguindo exercer um controle significativo sobre o preço das mercadorias. Sendo assim, os clientes ficam dependentes dos fornecedores.

Os produtos substitutos também influenciam no poder dos fornecedores, principalmente em setores onde os clientes conseguem realizar normalmente suas operações utilizando produtos alternativos. Esta situação, por exemplo, limita o quanto que os fornecedores conseguem influenciar o preço, pois estão limitados ao risco do comprador optar pelo produto substituto.

O custo de mudança também molda as relações de poder entre comprador e fornecedor dentro de um setor. Caso a troca de fornecedor acarretar em um custo alto para o cliente, este tenderá a ser mais suscetível às exigências do primeiro. Este tipo de situação ocorre geralmente quando os produtos ou serviços oferecidos pelo fornecedor são altamente especializados.

Conclusão

As cinco forças de Porter, como apresentadas neste artigo, provam ser uma ferramenta extremamente útil, tanto para empresas quanto para analistas entenderem a dinâmica competitiva de uma indústria, deixando de olhar somente para os competidores tradicionais como ameaças. Buscando avaliar como cada força influencia a rentabilidade no setor, para então, saber escolher a empresa com a maior vantagem competitiva assim como reavaliar a estratégia da própria empresa dentro do setor.

Footnote

  1. O índice de Herfindahl mensura a concentração de empresas em um setor. Calcula-se o índice ao elevar o market share de cada empresa do setor ao quadrado e somando-os, podendo variar de quase zero até 10.000. Quanto maior o número menor a competitividade do setor. 

Referências

PORTER, Michael E, Estratégias Competitivas/ Técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 2º ed. Campus. Rio de Janeiro, 401p.

PORTER, M.E. “The Five Competitive Forces That Shape Strategy.” Harvard Business Review. (2008): 23-41. PDF. 05/04/2020.

BRUIJL, G.H.T. “The Relevance Of Porter’s Five Forces In Today’s Innovative And Changing Business Environment .” ResearchGate. (2018). PDF. 23/02/2020.

RIHAN, B.M.. “Porter Five Forces Analysis (Industry Analysis).” Academia.edu (2014). PDF. 23/02/2020.

CHAPPELOW, Jim. “Porter’s 5 Forces.” Investopedia (2020). Web. 11/02/2020.

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Taxas de desconto e suas aplicações

Taxas de desconto e suas aplicações

Um dos principais conceitos tratados em finanças é o do valor presente de fluxos de caixa futuros, metodologia amplamente utilizada para calcular o valor intrínseco de empresas e títulos de dívida. Neste artigo, abordaremos a base para o cálculo do valor presente, as taxas de desconto, e suas aplicações nos modelos de avaliação de empresas.

Retornos

Ao investir em ativos – que podem ser empresas, títulos públicos e privados, imóveis, entre outros – o investidor espera obter retornos financeiros ao longo do período em que seu capital está aplicado, em função do custo de oportunidade de estar com seus recursos indisponíveis durante a vigência do investimento. O retorno exigido será definido a partir da relação de risco e retorno do ativo em questão, de forma que, quanto maior for o risco do investimento, maior será o retorno exigido.

A taxa de retorno exigida é, portanto, o ganho mínimo exigido pelo investidor para investir em um ativo, por um período específico de tempo, em função dos riscos que envolvem esse ativo. Por outro lado, o retorno esperado da aplicação é consequência da expectativa futura do investidor para o ativo, que pode ser resultante de modelos de avaliação, expectativas econômicas ou percepções individuais. Assim, o retorno esperado poderá ser diferente para cada pessoa, uma vez que ele é resultante das expectativas futuras de cada indivíduo.

Caso o retorno esperado do investimento seja maior que o retorno exigido, isto é, o ganho esperado seja maior do que a compensação considerada justa pelo risco do ativo, a aplicação poderá ser considerada subvalorizada e, consequentemente, uma boa oportunidade de investimento. Em contrapartida, caso o retorno esperado seja menor que o retorno exigido, o ativo poderá ser considerado supervalorizado.

Taxas de desconto

As taxas de retorno exigidas para investir em ações ou emprestar dinheiro para uma empresa também são conhecidas como Custo de Capital Próprio (cost of equity ou Ke) e Custo da Dívida (cost of debt ou Kd), respectivamente. Tais custos serão utilizados na determinação da taxa de desconto do modelo de Fluxo de Caixa Descontado (DCF) adotado para a avaliação da firma, a qual será utilizada para calcular o valor presente da soma de todos os fluxos de caixa futuros, que podem ser livres para a firma (FCFF) ou para o acionista (FCFE). De maneira geral, o termo “taxa de desconto” se refere a qualquer taxa utilizada para encontrar o valor presente de um fluxo de caixa futuro.

Para uma empresa conseguir captar recursos, é necessário que sejam oferecidos os chamados prêmios de risco, que são retornos adicionais proporcionais ao risco de investimento na empresa.

O prêmio de risco do mercado acionário ou Equity Risk Premium (ERP) é o retorno adicional que os investidores exigem para se tornarem acionistas de empresas, dados todos os riscos relacionados ao mercado acionário. Em suma, o ERP é equivalente a diferença entre o retorno exigido por ações e uma específica taxa de retorno livre de risco.

De maneira similar, o prêmio pelo risco de crédito ou default risk será o principal determinante do retorno adicional exigido pelos credores da empresa, ou seja, quanto maior o risco de a firma não conseguir honrar as dívidas compromissadas e se tornar inadimplente, maior será o prêmio exigido para emprestar dinheiro a ela. As agências de classificação de risco de crédito, como Moody’s e Fitch, analisam as empresas com base no seu contexto operacional e financeiro, com o objetivo de determinar o seu risco de crédito. O prêmio de risco é atribuído de acordo com a classificação da empresa.

Custo de Capital Próprio (Ke)

Ao investir em uma empresa, o acionista exige uma rentabilidade sobre o capital aplicado na companhia. Esse retorno exigido é chamado de Custo de Capital Próprio (Ke) e pode ser estimado a partir de modelos já existentes ou novos modelos propostos pelo analista.

O Ke é a taxa de desconto utilizada para trazer os fluxos de caixa livres para o acionista (FCFE) ao valor presente, chegando ao valor do patrimônio líquido (equity value) da companhia. Esse modelo é uma das principais metodologias utilizadas para avaliar empresas.

O modelo clássico para estimar o Ke é o Capital Asset Pricing Model (CAPM), em função de ser uma aplicação prática, barata e amplamente utilizada na avaliação de empresas. A principal premissa desse modelo é de que os investidores avaliam o risco de um ativo em função da sua contribuição para o risco sistêmico, não diversificável, da sua carteira. Portanto, o coeficiente utilizado para quantificar o risco não diversificável de um ativo é o beta, que pode ser estimado a partir de uma regressão simples entre a série de variações percentuais no preço do ativo e na carteira de mercado. No Brasil, pode-se considerar o índice Bovespa (IBOV) como a carteira de mercado brasileira.

A equação utilizada no cálculo do CAPM é:

A taxa livre de risco é utilizada como a base de referência para estimar o retorno exigido de diferentes ativos. Assim, o retorno exigido para investir em uma empresa será igual à taxa livre de risco somada ao prêmio de risco da companhia. Segundo Damodaran (2002), um ativo será considerado livre de risco quando: (l) O retorno esperado é conhecido e igual ao retorno obtido (ll) Não houver risco de crédito (Default risk), ou seja, os únicos ativos que têm a chance de serem considerados sem risco são governamentais, pois há o controle de emissão de moeda. Apesar disso, não é seguro assumir que qualquer título público é 100% seguro, uma vez que cada país apresenta características e classificações de risco diferentes. (lll) O título não deve apresentar risco de reinvestimento, isto é, não deve haver pagamentos de juros ou amortizações ao longo do período em que o capital estiver investido. Esses títulos são chamados de Zero Coupon Bonds.

O retorno esperado do mercado (Km) é o retorno mínimo exigido por investidores para investir no mercado acionário. Ao subtrair o Km da taxa livre de risco, chega-se ao retorno adicional exigido para investir no mercado acionário ou Equity Risk Premium (ERP). Para Damodaran (2002), a abordagem padrão para estimar o ERP é a histórica, que consiste na subtração do retorno anual do mercado acionário pelo retorno anual de títulos livres de risco durante longos períodos. Assim, é possível estimar a média e mediana do ERP ao longo do tempo.

Apesar de bastante utilizado, muito se discute sobre o beta do modelo CAPM descrever o risco incompletamente, uma vez que considera apenas um fator de risco. Segundo estudos da CFA Institute, o coeficiente de determinação (R²) do beta de ações individuais varia de 2% a 40%, ou seja, explica menos de 40% do risco do ativo. Para solucionar isto, os modelos de múltiplos fatores foram criados, de forma que se tornou possível incluir outros fatores de risco no cálculo do Ke, como o risco de liquidez e de tamanho. Em 1993, os pesquisadores Eugene Fama e Kenneth French criaram o modelo de três fatores ou Fama-French Model, modelo amplamente conhecido e utilizado atualmente.

Custo da Dívida (Kd)

De maneira similar, o Custo da Dívida (Kd) representa o retorno exigido por credores para emprestar recursos a uma firma. O principal fator determinante do índice é o risco de crédito, ou seja, o risco de a companhia não conseguir honrar com seus compromissos.

Uma abordagem utilizada para estimar o Custo da Dívida é a partir da média ponderada das taxas de juros de todos os empréstimos e financiamentos atuais da empresa. Outra forma de estimar o custo da dívida, utilizada por Damodaran, é estimando adicionais de risco em função da classificação de risco de crédito da companhia e do país em que ela está inserida. Dessa forma, o custo da dívida da empresa será equivalente à taxa livre de risco somada ao risco-país e ao risco de crédito da empresa.

Os juros decorrentes da dívida da empresa são dedutíveis do imposto de renda, gerando, portanto, benefícios fiscais para a companhia. Esse benefício torna o custo efetivo da dívida mais baixo após a tributação.

Tendo em vista o benefício fiscal da dívida, diversos autores adotaram o uso do custo da dívida após impostos, a fim de considerar o custo efetivo das obrigações da companhia. Dessa forma, a equação do Kd após impostos é:

‌A taxa paga em impostos irá variar de acordo com o segmento da empresa e a regulação do país em que ela está inserida. No Brasil, grande parte das companhias pagam taxas efetivas de 34% (sendo 25% de IR e 9% de CSLL), porém é importante destacar que o efetivo pagamento de impostos pode variar no tempo, em função de diversos fatores, como compensações de prejuízos fiscais e atrasos no pagamento. Para Damodaran (2002), é possível utilizar taxas de impostos diferentes durante os anos projetados em um modelo de Fluxo de Caixa Descontado (DCF), desde que se tenham premissas para fundamentar tais variações e que na perpetuidade a taxa utilizada seja a efetiva do país, pois não se pode assumir que uma companhia conseguirá taxas mais atrativas para sempre.

Custo Médio Ponderado de Capital

A taxa de retorno exigida pelos fornecedores de capital da empresa é comumente chamada de custo de capital. Esse índice é estimado a partir do custo médio ponderado de capital (CMPC ou WACC), que considera a estrutura de capital da companhia, o custo de capital próprio (Ke) e o custo da dívida (Kd), conforme a equação:

O CMPC é a taxa de desconto utilizada para trazer a valor presente os fluxos de caixa livres para a firma (FCFF), chegando ao valor da companhia (EV). É possível calcular o valor do patrimônio líquido da empresa ao subtrair a dívida líquida do EV.

Conclusão

Como discorrido no texto, as taxas de desconto são de suma importância para o processo de avaliação de empresas por meio do método de Fluxo de Caixa Descontado. É importante compreender que não há uma única maneira de se estimar as taxas de desconto; são necessárias premissas que fundamentem os valores utilizados. Portanto, bons analistas conhecerão as características das taxas de desconto, da empresa avaliada e do mercado em que ela está inserida, a fim de elaborar boas premissas e taxas que reflitam a realidade do investimento.

Referências

DAMODARAN, A., (2002), “Investment Valuation – Tools and Techniques for Determining the Value of Any Asset”. 2nd edition.

Pinto, A. et al (2002), “Equity asset valuation”. 2nd edition. (CFA Institute investment series ; 27)

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Modelos de Valuation e suas Aplicações

Modelos de Valuation e suas Aplicações

Valuation é um processo de análise que busca determinar o valor justo de um ativo. Para que esse processo seja efetivo, dado que existem vários modelos para avaliar uma empresa, o analista deve compreender profundamente as metodologias e escolher aquela que mais se aplica ao caso que ele está analisando. Desse modo, este artigo busca discutir como funcionam e quando são aplicados alguns dos principais métodos utlizados no mercado, que são divididos em dois grupos: absoluto e relativo.

Os modelos de valor absoluto buscam o valor intrínseco do ativo analisado, determinando o valor presente ao descontar os fluxos de caixa futuros. Como esses fluxos são incertos, métodos de valor absoluto acabam sendo bastante complexos e exigem um alto grau de conhecimento, tanto da indústria quanto da empresa. Já os métodos de valor relativo comparam duas ou mais empresas e estabelecem relações entre os múltiplos observados e o preço de mercado. Em razão disso, esses modelos são mais simples, exigindo menos dados e previsões por parte do analista. Contudo, uma boa análise relativa exige experiência para entender a relevância e a origem dos dados obtidos.

Além disso, há alguns modelos que não se encaixam nessas duas categorias, como valuation por valor patrimonial e valuation por soma das partes. O primeiro método busca o valor justo do patrimônio líquido da empresa, ou seja, a soma dos ativos (circulantes e não circulantes) subtraída das dívidas e obrigações. O segundo avalia quanto cada divisão da empresa valeria caso fosse adquirida individualmente por outra companhia, de forma que o valor final seria o agregado de cada uma de suas partes.

A seguir, entraremos em detalhes sobre cada um desses métodos, buscando entender como e quando aplicá-los.

Valor Absoluto

A característica fundamental desses modelos é que o valor obtido é determinado exclusivamente por características do ativo analisado, uma vez que não são considerados os valores de outras empresas no setor. Nesse campo, encontra-se o valuation de valor presente por fluxo de caixa descontado (DCF), que é uma das ferramentas fundamentais ao analista de equity. A teoria por trás desse meio de análise é que o preço de um ativo para um investidor, no longo prazo, tem que estar relacionado com os retornos que esse investidor espera receber ao mantê-lo em sua carteira. Além disso, ao escolher este método, o analista deve estar preparado para estimar os fluxos de caixa, as taxas de crescimento e determinar uma taxa de desconto apropriada.

Uma das variáveis fundamentais para o DCF é a taxa de desconto, usada para trazer ao valor presente um fluxo de caixa futuro. Uma taxa de desconto reflete a compensação exigida pelos investidores, pois leva em consideração o valor do dinheiro no tempo. Essa taxa dependerá das características do investimento, uma vez que investidores exigirão um retorno maior para ativos de maior risco e vice-versa.

Ademais, em um modelo de fluxo de caixa descontado, é preciso decidir qual fluxo de caixa será escolhido para análise. Enre os mais utilizados, podemos citar:

  • Fluxo de Caixa Livre aos Acionistas (FCFE) – é o dinheiro disponível aos acionistas após o pagamento de todas as despesas de operação, juros e dívidas e todo o reinvestimento necessário tenha ocorrido. Desse modo, o FCFE é o fluxo de caixa das operações menos o reinvestimento (CAPEX) e o pagamento aos credores. Esse método é preferível quando a empresa possui uma estrutura de capital estável, já que mudanças na dívida da empresa impactarão o FCFE. Ademais, a vantagem desse modelo é que o somatório dos fluxos futuros, trazidos ao valor presente pelo custo do capital próprio (Ke), resulta diretamente no valor da companhia (EV), sem necessidade de ajustes:
  • Fluxo de Caixa Livre à Firma (FCFF) – é o montante disponível aos fornecedores de capital de uma companhia após todos os custos operacionais terem sido pagos e o reinvestimento tenha ocorrido. Esse método ajuda a avaliar empresas que possam estar com o FCFE negativo ou com estruturas de dívida mais instáveis, pois o FCFF não leva em conta o pagamento aos credores. Para determinar o valor da empresa, soma-se o FCFF, trazido ao valor presente pelo Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC), e depois ajusta-se o valor obtido subtraindo a dívida líquida (DL), obtendo indiretamente o valor da companhia.
  • Dividendos – os modelos de desconto por dividendo (DDM) tomam como o fluxo de caixa os dividendos a serem pagos aos acionistas, de modo que o valor da empresa seria o valor presente líquido dos dividendos futuros. Entre os métodos mais famosos, temos o método de Gordon, que assume uma taxa de crescimento constante para os dividendos. A fórmula simplificada para o valor do papel da empresa é dada por:

  • Por ser necessário assumir um crescimento constante, o desconto por dividendo é melhor aplicado em companhias com longo tempo de mercado que distribuam boa parte de seus lucros aos acionistas. De maneira oposta, o modelo não fornece boas aproximações para empresas que não pagam dividendos ou empresas novas no mercado cujos dados históricos não permitam estabelecer um padrão de crescimento.

Observa-se que a aplicação do DCF exige do analista conhecimentos em contabilidade e modelagem financeira, necessários para escolher os diferentes modelos, as taxas de desconto e realizar as estimativas. Devido a essas características, os métodos de fluxo de caixa descontado necessitam de muitos dados, que nem sempre estarão disponíveis, principalmente quando tratamos de empresas não listadas na bolsa. A seguir, estudaremos um tipo de valuation mais simples, que pode ser aplicado à praticamente todas as empresas.

Valor Relativo

Os modelos relativos comparam o preço de ativos no mercado utilizando dados fundamentais da empresa, como lucro, dívida líquida ou valor patrimonial, que, quando divididos um pelo outro, passam a ser denominados múltiplos. Essa comparação é simples e os dados são de amplo acesso, o que torna um valuation de múltiplos fundamentalmente menos complexo que um fluxo de caixa descontado. Dessa forma, os múltiplos atuam como facilitadores na comunicação, resumindo em um único número relações entre o valor de mercado e outras variáveis relevantes.

Primeiramente, por comparar variáveis de empresas distintas, um modelo relativo é melhor aplicado quanto mais semelhantes forém as empresas analisadas, ou seja, buscam-se companhias com pouca diferença na operação, geralmente atuantes do mesmo setor. Isso ocorre, pois, múltiplos aparentemente altos para um setor consolidado em maturidade podem ser completamente aceitáveis em um setor novo com grande potencial de crescimento e risco envolvido.

Além disso, buscando aplicar o modelo, podemos analisar os múltiplos mais conhecidos, como o P/L (Preço sobre Lucro). Seu valor é calculado divindindo o preço do ativo por seu lucro por ação, expressando quantas vezes um investidor está pagando pelo lucro de uma empresa. Por exemplo, dada uma companhia A com P/L de 10x, o acionista estaria pagando dez vezes o lucro da empresa na compra. De maneira análoga, para comprar uma empresa B com P/L de 15x o acionista estaria pagando mais do que pagou por A para ter o mesmo lucro. Desse modo, assumindo que as empresas A e B atuam no mesmo setor e tem riscos de operação semelhantes, podemos afirmar que A está subvalorizada em relação a B ou que B está supervalorizada em relação a A. Ainda assim, vale ressaltar que existem muitos outros múltiplos relevantes além do P/L que podem expressar informações valiosas sobre o estado de uma empresa.

Embora essa análise possa parecer inicialmente trivial, em casos reais existem certos problemas na aplicação dos modelos de valor relativo que podem dificultar bastante a tarefa do analista. O primeiro problema deriva da seleção da empresa ou das empresas similares àquela que se busca avaliar. Essa escolha é fundamental e muitas vezes não é óbvia, já que a área de atuação da companhia pode ser única entre seus pares ou então seu setor pode ser muito abrangente. Outro fator a ser considerado é que, para certos múltiplos, não basta conhecer o valor numérico, de modo que o analista deve buscar a razão por trás desses números, o que pode envolver pesquisa aprofundada sobre o setor e a companhia. Por fim, mesmo uma análise relativa bem fundamentada apontando, por exemplo, uma empresa subvalorizada em relação aos seus pares, pode falhar. Isso ocorre porque todo o setor pode estar supervalorizado, de forma que, mesmo a companhia ganhando valor relativamente aos concorrentes, o retorno final da ação seja negativo dado o declínio do setor.

Valor Patrimonial e Lucro Econômico

Uma outra forma de avaliar ativos, que toma uma abordagem totalmente diferente das anteriores, é dada pelos modelos de valor patrimonial. Esses métodos buscam determinar o valor do negócio a partir da diferença entre os bens ativos e os passivos da organização, o que resulta no patrimônio líquido. Dessa forma, o valor patrimonial oferece aos analistas e stakeholders uma compreensão do valor contábil do negócio. Essa métrica tem sua utilidade na declaração exigida para o pagamento de obrigações ao governo em certos países, na análise de private equity e na venda de empresas, como uma referência na negociação ou valor de liquidação na falência.

Contudo, o valor contábil não fornece uma boa estimativa para o valor real do negocio, pois não leva em conta as estruturas construídas em volta desses ativos, ou seja, o intagível, que representa, entre outras coisas, a capacidade da empresa gerir o negócio. Desse modo, para utilizarmos o valor patrimonial em um valuation precisamos introduzir uma variável que represente a capacidade de geração de riquezas pelo intangível. Esse conceito é dado pelo lucro econômico.

Lucro econômico – ou em inglês, economic value added (EVA) – é o lucro líquido deduzido do custo de oportunidade dos acionistas da empresa, ou seja, é o montante restante após considerarmos o custo de todo o capital da empresa. Esse conceito é importante porque o lucro líquido considera apenas o pagamento dos credores, capital de dívida, enquanto o EVA mostrará se a empresa realmente está gerando valor aos seus investidores. Para melhor compreender o lucro econômico, considere o seguinte exemplo:

Uma companhia C com valor de mercado de R$10 milhões é financiada 50% por dívida e 50% por equity. Os juros da dívida são 8% e seu custo de capital próprio é 12% e ela paga impostos no valor de 25%. Considerando que no período a empresa teve um EBIT de R$1 milhão, seu lucro líquido será determinado da seguinte forma:

O lucro líquido no período foi positivo em R$450 mil, de modo que a empresa demonstra ser lucrativa contabilmente. Contudo, ao considerarmos o custo de capital dos acionistas, avaliado em R$600 mil (12% dos R$5 milhões em equity), observa-se que a empresa C na verdade não oferece o retorno exigido, ficando R$150 mil aquém do esperado no período. Logo, vemos que uma empresa deve ser capaz de cobrir todo o seu custo de capital e, para isso, não basta que ela seja lucrativa de maneira contábil.

Agora que compreendemos o valor patrimonial e o lucro econômico, podemos utilizar esses conceitos para avaliar uma empresa. O preço justo de uma ação baseado nos conceitos anteriores é o seu patrimônio líquido mais a sua capacidade de gerar riqueza ao longo do tempo, ou seja, é o valor patrimonial mais o somatório dos lucros econômicos, trazidos ao valor presente, divididos pelo número de ações.

Contudo, estabelecer alguns desses valores não é uma tarefa simples. A maior dificuldade em um valuation de valor patrimonial e lucro econômico é determinar o o patrimônio líquido da empresa. Embora os reports anuais ou trimestrais já tragam esses dados, em muitos casos, ativos podem estar supervalorizados, o que exige ajustes pontuais que variam de caso a caso para tentar chegar no valor justo. Desse modo, o método demanda grande conhecimento contábil por parte do analista e estudos profundos do formulário de referência da companhia analisada.

Valor por Soma das Partes

O modelo de valuation por soma das partes é o processo de avaliação de uma empresa quando a dividimos entre suas áreas de atuação e determinamos quanto cada uma dessas partes valeria caso fosse tratada como um negócio independente. Consequentemente, o valor final da empresa seria a soma dessas subdivisões.

A partir desse conceito, uma companhia consegue entender de onde deriva seu valor, ou seja, quais os setores que mais contribuem para a geração de riquezas na empresa. Além disso, a avaliação de partes de uma empresa é muito utilizada também em fusões e aquisições, quando tratamos de uma aquisição parcial de um negócio.

Para determinar o preço de cada uma dessas partes, o analista pode utilizar qualquer um dos métodos citados anteriormente. Por fim, é valido ressaltar que modelos de soma das partes são relevantes quando tratamos de empresas que atuam em setores, ou partes de um setor, muito distintas, sendo que essa atuação deve representar parte considerável da receita do negócio.

Conclusão

Durante a análise dos modelos, percebemos que cada um pode ser aplicado de maneira mais efetiva dependendo do caso de estudo. Além disso, para estabelecer aproximações, estimativas e comparações sensatas, o analista deve, independentemente do modelo escolhido, estudar a fundo as características do negócio. A partir disso, entendemos que a compreensão dos modelos é de fundamental importância para o ferramental de um analista de equity.

 REFERÊNCIAS 

1. Equity Asset Valuation, CFA Institute
2. Valuation Models, Aswath Damodaran
3. Suno Research
4. Investopedia
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O Que os Múltiplos Podem nos Dizer?

O Que os Múltiplos Podem nos Dizer?

O QUE É UM MÚLTIPLO?

Um múltiplo é a relação entre variáveis retiradas das informações financeiras de uma empresa. A finalidade dessa relação é identificar oportunidades de investimento. Porém, os múltiplos isolados não tem muito a dizer, por isso devem ser utilizados como um complemento da análise do investidor ou ser comparado com múltiplos de empresas do mesmo setor. Em momentos de recessão, os múltiplos sofrem distorções devido aos impactos circunstanciais, por isso é necessário ficar atento. Para entender melhor a análise através de múltiplos, será exemplificado os quatro principais múltiplos de mercado e suas utilidades a seguir.

PREÇO/LUCRO POR AÇÃO (P/L)

Um dos múltiplos mais comuns é o P/L, onde P é o preço da ação da empresa a ser analisada e L é o lucro por ação, que pode ser obtido através da divisão dos lucros obtidos pela empresa nos últimos 12 meses pela quantidade de ações. O índice P/L nos diz em quanto tempo a empresa irá gerar os lucros necessários para recuperar o capital usado na aquisição da ação. Em teoria, quanto menor o P/L, mais atrativo o investimento, mas depende do quanto o investidor está disposto a pagar pelos lucros. Empresas que possuem baixo índice tendem a estar desvalorizadas.

PREÇO/ VALOR PATRIMONIAL POR AÇÃO (P/VPA)

Outro múltiplo bastante conhecido é o P/VPA. Como explicado anteriormente, P representa o preço da ação da empresa no mercado. VPA é o valor patrimonial por ação, que é calculado dividindo o Patrimônio Líquido (PL) da empresa pela quantidade de ações disponíveis no mercado. O índice indica a quantidade de vezes em que o preço da ação está sendo negociado frente ao valor patrimonial da empresa, ou seja, para cada R$1,00 de patrimônio líquido, quanto o investidor possui de valor de mercado. Espera-se que o índice esteja acima de 1, indicando que o valor de mercado da empresa é superior ao seu valor contábil.

VALOR DA EMPRESA/EBITDA (EV/EBITDA)

Do inglês Enterprise Value, EV representa o quanto custa para comprar todos os ativos de uma empresa descontado o caixa. É calculado da seguinte forma: o valor de mercado é somado à dívida líquida da empresa. Para obter o valor de mercado, multiplica-se a quantidade de ações emitidas pela empresa com a cotação da ação. O EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) é a sigla inglesa correspondente à sigla LAJIDA no português, que são os Lucros Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização. O EBITDA é o indicador que nos mostra o potencial de geração de caixa de uma companhia. O índice EV/EBITDA é responsável por indicar quantos anos levaria para chegar ao valor da empresa através de sua geração de caixa operacional. É muito utilizado para comparar empresas nacionais e internacionais, porém pode falhar em algumas situações, como em momentos onde a empresa está muito alavancada financeiramente e pagando muitos juros.

DÍVIDA LÍQUIDA/EBITDA (DL/EBITDA)

O múltiplo DL/EBITDA tem como objetivo nos mostrar em quanto tempo (anos) uma empresa consegue pagar suas dívidas frente a sua geração de caixa. A dívida líquida (DL) é a dívida bruta menos as disponibilidades. O EBITDA, como já explicado anteriormente, indica o potencial de geração de caixa de uma companhia. Ao analisar a relação DL/EBITDA, o que se busca é saber até que ponto a empresa pode cobrir suas dívidas. Se a empresa possuir mais dinheiro do que dívida, podemos obter como resultado uma relação negativa. Vale ressaltar a importância de entender como as dívidas da empresa analisada são formadas, pois pode haver uma cobrança elevada de juros ou até mesmo serem expostas a outra moeda, afetando o índice.

APLICANDO OS MÚLTIPLOS

No exemplo a seguir, vamos utilizar o setor de locação de veículos para demonstrar como funcionam os múltiplos na prática de forma simplificada. A empresa de referência será a Localiza Hertz (RENT3).

Fonte: Investsite e Planner. Elaboração própria

Analisando a tabela, podemos comparar a situação financeira das empresas através do múltiplo DL/EBITDA. Nesse caso, ele está nos indicando que a Localiza está muito bem frente a concorrência e a média do setor, tornando-a uma ação mais atrativa em relação ao nível de endividamento. Quanto ao múltiplo P/VPA, o valor de mercado da Localiza está 4,7x acima de seu valor contábil, acima da média do setor e do valor de mercado dos concorrentes. O múltiplo EV/EBITDA nos mostra que a Localiza demoraria 15,7 anos para retornar o investimento da própria empresa se mantiver a mesma produção operacional (EBITDA). Apesar de estar acima das concorrentes e da média, pode nos indicar que o mercado está otimista em relação à empresa, pois as dívidas diminuíram e/ou o caixa aumentou, aumentando, assim, o Enterprise Value e a relação com o EBITDA. Por fim, o múltiplo P/L. A Localiza possui o P/L mais alto do setor e alguns investidores interpretam que isso significa que a ação está muito cara, porém após o conjunto de múltiplos analisados podemos concluir que o P/L alto da Localiza indica que o mercado tem grandes expectativas sobre a ação, pressionando o seu preço para cima.

CONCLUSÃO

Apesar de haver limitações, a avaliação por múltiplos continua sendo uma poderosa ferramenta de análise. Existem diversos múltiplos além dos demonstrados no texto que podem ser explorados e utilizados pelos investidores. Assim, podemos concluir que os múltiplos, apesar de serem uma abordagem simples e fácil, são um complemento importante na análise de ações e, com alguns cuidados, podem ser muito úteis para encontrar boas oportunidades de investimento.

 REFERÊNCIAS 

1. http://www.investsite.com.br/principais_indicadores
2. http://xvifinance.com.br/avaliacao-por-multiplos/
3. https://www.sunoresearch.com.br/artigos/multiplos-de-mercado/
4. https://www.btgpactualdigital.com/blog/coluna-andre-bona/acoes-conhecendo-os-principais-multiplos-fundamentalistas
5. https://www.sunoresearch.com.br/artigos/evebitda/
6. https://andrebona.com.br/buggpedia-o-que-e-a-divida-liquida-ebitda/
7. https://www.investopedia.com/terms/m/multiplesapproach.asp
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Noções básicas e aplicações da Demonstração do Resultado do Exercício

Noções básicas e aplicações da Demonstração do Resultado do Exercício

O tema Demonstração do Resultado do Exercício é parte do cronograma de postagens do núcleo de Equity do Clube de Finanças da ESAG, cujo objetivo é desenvolver no leitor as habilidades básicas necessárias para a compreensão e elaboração de avaliações de empresas, por meio dos métodos de Fluxo de Caixa Descontado e de Múltiplos, temas a serem discorridos em artigos futuros.

Conceito de demonstração financeira

A dinâmica patrimonial das organizações pode ser entendida através das demonstrações contábeis. Também denominadas “relatórios contábeis” e/ou “demonstrações financeiras”, as demonstrações contábeis consistem, de acordo com Marion (2008), do conjunto de dados e informações coletados pela contabilidade, cujo objetivo é demonstrar aos stakeholders a situação financeira e econômica da empresa e as principais informações que justificam os resultados expostos, por meio de notas de rodapé explicativas e apresentações de resultados.

Assim, a situação contábil, financeira e econômica das empresas somente pode ser avaliada após a escrituração dos atos e fatos que reflitam sua situação patrimonial, de maneira clara e objetiva, atendendo princípios, normas e legislação vigente, em determinado espaço de tempo. Em 2007, o Brasil aderiu ao modelo internacional de contabilidade (IFRS), por meio da lei Nº 11.683, a fim de, principalmente, viabilizar que analistas e investidores externos possam analisar as companhias brasileiras com mais eficiência, a partir de informações mais confiáveis e comprováveis.

DRE

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) indica, ao fim de um período de tempo (normalmente um trimestre ou um ano), o resumo das receitas, despesas, custos, ganhos e perdas gerados por uma empresa. Segundo Marion (2008), a equação básica da DRE demonstra os resultados do exercício, que podem ser de prejuízo ou lucro, em função da subtração das receitas pelas despesas, além de ganhos e perdas que podem ocorrer durante o período avaliado.

As receitas são entradas de recursos decorrentes da venda de produtos ou serviços que fazem parte da atividade normal da empresa.

As despesas são as saídas de recursos utilizadas em fatores geradores de receita que não fazem parte dos gastos de produção da empresa, como despesas administrativas e com vendas.

Os custos são as saídas de recursos utilizadas em fatores geradores de receita, que fazem parte dos gastos de produção.

Os ganhos / perdas são entradas ou saídas de recursos utilizados em atividades não relacionadas diretamente ao objetivo do negócio da empresa. Estes ganhos ou perdas são imprevisíveis, ou seja, ocorrem de maneira aleatória.

Estrutura da DRE

A estrutura demonstra de maneira clara e objetiva a relação entre as receitas e as despesas incorridas no período. No topo, estão as receitas totais de vendas dos produtos ou serviços fornecidos pela companhia, seguidas pelas deduções e despesas que se subtraem desses valores, a fim de gerar novos grupos de contas, conforme demonstrado abaixo:

Receita Bruta: Toda receita de vendas reconhecida pela empresa no período. Estão inclusos os impostos sobre vendas e os valores dos produtos ou serviços que foram devolvidos.

Receita líquida: Equivale à receita bruta deduzida dos impostos diretos, perdas e danos de produtos, comissões de vendas e devoluções.

Custos: Todos os gastos que estão diretamente relacionados à produção de bens ou serviços. Por exemplo, em uma fábrica, os gastos com matéria-prima, salários e benefícios dos operários, energia elétrica usada pela fábrica, entre outros, são considerados custos. Os custos podem ser classificados em Custo dos Produtos Vendidos (CPV) para indústrias, Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) para empresas comerciais e Custo dos Serviços Prestados (CSP) para empresas prestadoras de serviço.

Resultado Bruto: É o resultado da subtração da receita líquida pelos custos.

Despesas operacionais: São saídas de recursos da empresa que não estão diretamente relacionadas com a produção de bens e serviços. A depreciação, por ser considerada uma despesa especial, é separada das outras despesas.

Selling, General and Administrative Expenses (SG&A): São as despesas relacionadas aos esforços de vendas, salários administrativos, marketing, materiais de escritório, entre outros.

Depreciação: São despesas ou custos, dependendo da função do ativo, que não tem efeito de caixa, uma vez que representam a desvalorização de um ativo tangível, em função de desgastes ou diminuição da vida útil. É importante destacar que esses ativos apresentam uma parcela não depreciável, chamada valor residual, dado que o ativo não deixa de ter valor comercial ao fim de sua vida útil. Para calcular a depreciação anual do bem, deve-se subtrair o valor residual do custo de aquisição, de forma que sejam aplicadas as quotas anuais de depreciação apenas na parcela depreciável do bem.

Amortização: Representa a perda do valor de um ativo intangível ao longo do tempo. Funciona de maneira similar a depreciação.

Earnings Before Interests and Taxes (EBIT): O Lucro Antes de Juros e Impostos (LAJIR), em português, é um indicador de eficiência operacional da empresa, calculado a partir da subtração do Resultado Bruto pelas Despesas Operacionais.

Receitas / Despesas Financeiras: Os juros recebidos de aplicações financeiras são considerados Receitas Financeiras. Por outro lado, os juros pagos, decorrentes de empréstimos e financiamentos contraídos pela empresa, são considerados Despesas Financeiras.

Lucro Antes de IR / CSLL: É o resultado da subtração do EBIT pelas Despesas Financeiras e somado às Receitas Financeiras.

Lucro Líquido: Calculado a partir da subtração do Lucro Antes de IR e CSLL pelas contribuições de Imposto de Renda para Pessoa Jurídica (15% sobre o lucro apurado, com adicional de 10% sobre a parcela que exceder R$ 20.000,00 / Mês) e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (A alíquota da CSLL é de 9% (nove por cento) para as pessoas jurídicas em geral, e de 15% (quinze por cento), no caso das pessoas jurídicas consideradas instituições financeiras, de seguros privados e de capitalização).

EBITDA

A sigla EBITDA remete a Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization. Em português, Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (LAJIDA). É um indicador financeiro da contabilidade gerencial, portanto, não é exigido que esteja presente na estrutura da DRE divulgada pelas empresas. Apesar disso, é um indicador amplamente utilizado para analisar empresas de capital aberto, uma vez que demonstra a perspectiva da geração de caixa operacional da empresa, ou seja, quanto a empresa gera em sua atividade fim, desconsiderando impostos e efeitos financeiros.

A importância desse conceito é justificada pelo seu potencial de analisar a eficiência e competitividade das empresas e pela sua aplicação nos principais modelos de Valuation de empresas. Segundo Damodaran (2002), o modelo de Fluxo de Caixa Descontado, metodologia utilizada para avaliar empresas, considera que o valor de uma firma é igual ao valor presente da soma de todos os fluxos de caixa futuros gerados por ela. Por outro lado, o modelo de Valuation Relativo considera que o preço da firma é derivado de como o mercado precifica empresas semelhantes, por meio da comparação de múltiplos, como o Valor da Empresa (EV) / EBITDA, que demonstra o valor da firma dado pelo mercado frente ao seu potencial de gerar caixa. Na prática, ambos podem ser utilizados por analistas como complementares, ao determinar o valor de uma firma.

Para calcular o EBITDA, deve-se somar ao Resultado Operacional (EBIT) os valores de depreciação e amortização incluídas nos custos e despesas da empresa, visto que esses gastos não tem efeito no caixa. Portanto, a equação do EBITDA é:

EBITDA = EBIT + Depreciação + Amortização

Análise vertical e horizontal

Para analisar a DRE de maneira eficiente e prática, utilizam-se técnicas especificas, que possibilitam a interpretação objetiva dos valores evidenciados no período. Nesse sentido, as técnicas de Análise Vertical e Horizontal, conceitos amplamente reconhecidos na área, foram desenvolvidas, a fim de possibilitar a interpretação das demonstrações de forma simples e objetiva.

A análise vertical objetiva, de acordo com Blatt (2001), determinar a representatividade percentual, de cada uma das contas apresentadas em relação ao seu total. Nesse sentido, no Balanço Patrimonial utiliza-se o Ativo Total como base, calculando a participação relativa de cada conta, enquanto que na Demonstração do Resultado do Exercício a base é o valor da Receita Operacional Líquida.

A partir da análise vertical da DRE, pode-se chegar aos índices de rentabilidade de margem, que buscam, por meio das demonstrações contábeis, informar a rentabilidade do negócio, ou seja, sua capacidade de gerar lucro. Para Silva (2005), faz-se necessária a comparação dos resultados obtidos com índices de empresas do mesmo setor, para avaliar se a performance da empresa analisada foi de fato satisfatória. Nesse sentido, denota-se a importância dos índices, uma vez que eles tornam possível comparar empresas de diferentes níveis de faturamento, complexidade e setores. Além disso, as margens possibilitam avaliar a qualidade dos resultados evidenciados.

As quatro principais margens utilizadas para avaliar empresas e suas características estão evidenciadas na tabela a seguir.

Araújo e Assaf Neto (2010), atribuem à análise horizontal o objetivo de demonstrar, de maneira dinâmica, a evolução dos resultados da empresa, nos anos que se propõe, mostrando suas tendências. Para Assaf Neto (1989), a comparação é indispensável, uma vez que as contas, quando tratadas isoladamente, não fornecem informações suficientes para analisar a importância dos valores evidenciados e os seus comportamentos históricos. A comparação é feita entre os valores de um período em comparação aos de períodos anteriores.

Para demonstrar a aplicação da análise vertical e horizontal, utilizou-se a DRE simplificada da empresa Localiza Hertz (RENT3), publicada no ano de 2019, conforme a tabela abaixo:

Fonte: Demonstração de resultados da Localiza Hertz. Elaboração própria.

A partir da análise Vertical e Horizontal é possível tirar conclusões sobre o desempenho da Localiza entre o período de 2016 e 2018. Por exemplo, pode-se observar que o Lucro Bruto da companhia, quando comparado com o ano imediatamente anterior, aumentou 29% e 21,9% nos anos de 2017 e 2018, respectivamente. Apesar disso, a Margem Bruta da empresa decaiu durante o mesmo período, demonstrando que os custos da Localiza aumentaram mais que a sua receita líquida nos últimos dois anos.

Quando se fala de análise fundamentalista de empresas, deve-se levar em consideração os fatores quantitativos, como os obtidos na análise vertical e horizontal, e os qualitativos, como estratégias e qualidade do serviço. Nesse sentido, após analisada a relação entre o crescimento da Receita líquida e dos custos da Localiza, no exemplo acima, é importante estudar as estratégias e ações que a levaram ao resultado evidenciado, para que seja possível avaliar a situação da empresa e, a partir disso, o valor que as estratégias adotadas trouxeram ou podem trazer para a companhia.

Após analisadas as estratégias e os resultados da Localiza, consideramos recomendável que fossem analisados os mesmos critérios dos principais players brasileiros e internacionais que atuam no setor, a fim de compreender se, quando comparada a seus pares, a empresa está em uma situação satisfatória e bem posicionada. Dessa forma, foram calculadas as margens brutas das empresas Movida e Unidas, principais concorrentes nacionais da Localiza, conforme a tabela abaixo:

Fonte: Demonstração de resultados da Localiza Hertz, Movida e Unidas. Elaboração própria.

Analisando a evolução das margens brutas dos principais competidores da Localiza no cenário brasileiro, no período em estudo, pode-se perceber que, apesar de ter enfrentado redução nos últimos dois anos, a empresa apresenta índices de rentabilidade aceitáveis para o setor. Além disso, é importante destacar que em agosto de 2017, a Localiza adquiriu as operações brasileiras da Hertz Corp, por meio de uma aliança estratégica entre as empresas, que resultou na marca combinada “Localiza Hertz”, o que pode justificar a redução de sua margem, uma vez que a empresa assumiu uma frota de 8.162 carros com a aquisição e, portanto, passa por um processo de adaptação de suas operações.

Conclusão

Como discorrido no texto, as demonstrações financeiras possibilitam a análise de empresas de maneira objetiva e eficiente, por meio de técnicas e ferramentas que tornam possível analisar os dados e informações coletados pela contabilidade, viabilizando a determinação da situação econômica e financeira da empresa. Portanto, o entendimento dos relatórios contábeis e dos fatores que justifiquem os valores evidenciados nas demonstrações são de grande importância para que o investidor possa alocar seu capital de maneira consciente.

Referências

BLATT, A. Análises de balanços – estrutura e avaliação das demonstrações financeiras e contábeis. São Paulo: Makron, 2001.

MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 13a ed – 2a reimpr. São Paulo: Atlas, 2008.

ARAUJO, A. M. P. de; ASSAF NETO, A. Aprendendo Contabilidade. Ribeirão Preto SP: Inside Books, 2010.

ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1989.

SILVA, José Pereira da. Análise Financeira das Empresas. 7a ed. São Paulo: Atlas, 2005.

DAMODARAN, A., (2002), “Investment Valuation – Tools and Techniques for Determining the Value of Any Asset”. 2nd edition.

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