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Carta de conjuntura Macro – abril

Carta de conjuntura Macro – abril

Overview Internacional

Criptomoedas

O boom das NFTs (non fungible token) que aconteceu mês passado, fez com que investidores ao menos lessem a respeito desses tipos de ativos, onde a liquidez do mercado secundário cresceu vertiginosamente assim como o preço das artes digitais, até os principais veículos de mídia internacional e nacionais divulgaram matérias a respeito desses ativos digitais, porém passado um mês, será que o hype e os preços desses ativos continuaram crescendo de forma exponencial?  

Como comentado na Carta de conjuntura Macro – março, o mercado de NFTs, com foco em artes digitais, músicas e vídeos se mostra um mercado muito imaturo, alguns dos motivos são: possibilidade de alteração da arte mesmo após a venda, tokenizar a mesma arte diversas vezes e as vender como únicas, incerteza com relação a percepção de valor futura, liquidez futura do mercado entre outros.

Com todas as incertezas sondando e o hype diminuindo, no mês de abril às NFTs diminuíram substancialmente seu tamanho de mercado, onde o número de vendas caiu, tanto primárias quanto secundárias, assim como a receita gerada (vendas primárias) e volume de mercado (vendas secundárias). Além do volume de negociações cair em mais de 80%, o preço dos ativos também diminuiu de forma substancial, o custo médio de uma NFT no mercado primário caiu mais de 70% e o custo médio do mercado secundário pouco mais de 50%. 

Mesmo com esses valores exorbitante de quedas, ainda se especula muito se essas são apenas temporárias ou pertinentes, o fato é que o ecossistema das criptomoedas têm muito a ser desenvolvido, além da curva de adoção ainda está em lento crescimento, com mais pessoas entrando no ecossistema de criptomoedas é possível que esse mercado volte a se desenvolver de forma sustentável. Por fim, deixo aqui a foto de uma NFT, chamada de C#2066 que foi vendida por US$ 1.459.440,00, um valor absurdo para uma imagem pixelada, que seu principal driver de valor pode ser atribuído a escassez do ativo.

FOMC

Na última semana de Abril, Jerome Powell realizou o pronunciamento sobre a decisão do FOMC, o qual manteve a taxa de juros próximas a 0% a.a. Durante a coletiva realizada, o presidente do FED comentou sobre o intuito de manter este valor baixo em razão dos dados econômicos ainda não estarem no nível pré-pandemia, mesmo com a rápida recuperação nos últimos meses.

Esta ascensão é vista nos setores americanos como: de bens, construção civil e de serviços. Estes tiveram um grande avanço em março, porém, segundo o discurso, ainda permanecem fracos. Apesar do rápido crescimento econômico, até mesmo maior do que o esperado, por enquanto a recuperação não encontra-se completa. 

Em relação ao mercado de trabalho – dado muito relevante para as decisões do FED – é possível observar uma ótima progressão em comparação ao mês anterior. Entretanto, devido a diferença de 3 milhões de empregados no momento antes e depois da pandemia, ainda existe espaço para um crescimento no mercado de trabalho. Já a taxa de desemprego nos EUA atua de forma diferente para as diversas classes sociais e econômicas do país, sendo os de classes mais baixas com dificuldades de recolocação no mercado de trabalho, dificuldade enfrentada principalmente pelos afro americanos.

Quanto à taxa de inflação, o ponto de maior preocupação entre os investidores, Powell enfatizou o intuito de que este valor deva estar próximo da meta de 2% ao ano no longo prazo. Assim, mesmo que a inflação atinja um patamar maior, como 3%  ao ano, espera-se que seja por um momento transitório devido a reabertura econômica e o choque de demanda e oferta. Porém, no longo prazo este valor tende a permanecer constante e próximo da meta.

Diante disso, a projeção para a taxa de juros americana, segundo o FED, para os próximos meses, será de estabilidade no patamar de zero por cento, ao menos que a inflação ao longo do tempo esteja muito acima da meta por um período suficientemente constante.

Se para Jerome Powell e o restante da diretoria a perspectiva de inflação não é um fator preocupante, para alguns analistas é algo a se atentar diante da alta nos preços das commodities. A liquidez nos mercados e a demanda da China por infraestrutura, faz com que alguns bens importantes para a indústria tenham um aumento significativo, liderado principalmente pelo cobre, o qual teve uma alta representativa em abril e dobrando praticamente o preço se comparado com a mínima em 2020. 

Outros produtos que tiveram uma alta expressiva no período de abril foram a soja e o milho, ingredientes importantes para a pecuária. Isso faz com que o preço da carne acabe subindo também e interfira no preço da cesta básica da população. Além disso, o trigo atingiu seu valor mais alto desde o ano de 2014, tendo como consequências o aumento no valor para os produtos derivados. 

Diante das altas das diversas commodities, cada vez é maior as pressões inflacionárias nos produtos tanto na cesta de alimentos como também de produtos indiretos que dependem de minérios como o cobre e o ferro.

Além desta liquidez no mercado afetar os preços das commodities, influencia também os mercados globais com maiores crescimentos na maioria das bolsas em 2021. Ao analisar as principais bolsas, vemos um forte aumento nos índices principalmente na bolsa americana, S & P500, o qual teve um crescimento de aproximadamente 13% entre janeiro e abril deste ano. Outras bolsas, como a de Frankfurt e do Reino Unido, tiveram altas de 10,27% e 5,41% no mesmo período, muito por causa da volta da retomada econômica e o aumento no ritmo de vacinação. Já por aqui, a bolsa brasileira ainda segue em queda se comparado com o início de 2021, muito diferente dos outros índices ao redor do mundo.

 

American Families Plan

O presidente norte-americano, Joe Biden, propôs um pacote de auxílio voltado às famílias, estudantes e crianças no valor de US$ 1,8 trilhões (aproximadamente R$ 9,8 trilhões), com o principal objetivo de expandir o acesso à educação, saúde e cuidados infantis . Esse valor será composto em dois blocos, US$ 1 trilhão em investimentos e US$ 800 bilhões em créditos fiscais, concedidos no decorrer de uma década. Segundo comunicado da Casa Branca, esse valor será totalmente compensado dentro de 15 anos via aumento de impostos para os mais ricos. A divisão do pacote irá ocorrer da seguinte forma:

  • Cerca de US$ 225 bi serão direcionados para creches, garantindo que as famílias paguem menos por esse serviço;

  • US$ 225 bi para criação de um programa de abrangência nacional de licença, familiar e médica, remunerada;

  • Outros US$ 200 bi serão utilizados, em parceria com os estados, para a promoção de pré-escola gratuita para crianças de 3 e 4 anos de idade;

  • Serão garantidos dois anos gratuitos em faculdades comunitárias para todos os estudantes, totalizando US$ 109 bi;

  • Cerca de US$ 85 bi serão destinados aos estudantes de baixa renda;

  • Um total de US$ 65 bi serão utilizados para aumentar a retenção dos estudantes nos cursos superiores;

  • US$ 39 bi serão utilizados para subsidiar dois anos de mensalidades de estudantes de baixa renda em universidades e faculdades;

  • Outros US$ 45 bi serão utilizados para complementar as necessidades nutricionais de crianças de famílias de baixa renda. Compra de alimentos fora do período escolar;

  • US$ 200 bi serão utilizados para estender o programa de subsídios aos planos e seguros de saúde sancionados pela “Lei de Cuidados Acessíveis”;

  • Entre outras iniciativas voltadas ao subsídio de seguros de saúde, expansão do crédito tributário infantil e crédito fiscal concedido a alguns grupos de trabalhadores.

Como dito anteriormente, o programa será financiado principalmente pelo aumento da alíquota de impostos sobre o ganho de capital (igual ou superior a US$ 1 mi) dos mais ricos e investidores. Revertendo a lei de corte de impostos aprovada no primeiro ano da administração do ex-presidente Donald Trump. A carga tributária irá aumentar para 39,6%, podendo ultrapassar 43%, levando em conta alguns impostos estaduais. Essa elevação representaria uma arrecadação de US$ 1,5 trilhões em dez anos. 

Haveria também, o estabelecimento de um imposto único no valor de 3,8% para todos aqueles com renda anual superior a US$ 400 mil, entretanto, para aqueles com renda inferior não haverá mudanças na carga tributária, segundo pronunciamento da Casa Branca.

O governo Biden apresentou também um pacote de cerca de US$ 8 bi em melhorias no sistema de transmissão de energia elétrica, conectando pontos remotos de geração de energia eólica e solar com os grandes centros urbanos. O objetivo desse pacote é financiar novas linhas de alta voltagem, assim como, promover a utilização de energia limpa expandindo a infraestrutura necessária e combatendo a mudança climática.


Pandemia e Vacinação

No mês de abril o percentual de pessoas completamente vacinadas em âmbito nacional alcançou cerca de 4,5% do total da população, ou seja, 9,6 milhões. Estima-se que pelo menos 26,2 milhões de pessoas receberam a primeira dose das vacinas, tanto da marca Corona Vac como da Oxford/AstraZeneca. Esse número corresponde a pouco mais de 12% da população brasileira.

Vale destacar o aumento do ritmo diário de vacinação do mês de abril. A soma de aplicação de primeiras e segundas doses alcançou uma média diária de 780 mil. Entretanto, no dia 8 ocorreu o maior número de óbitos em 24 horas desde o início da pandemia, totalizando 4.148 mortes (dados UFV). 

No dia 29 de abril o Brasil atingiu o montante de 400 mil mortes em decorrência do coronavírus. Apesar do aumento no número de vacinações e adoção de lockdown em diversas cidades, o ritmo de morte pela doença quadruplicou no período que compreende o mês de março e final de abril. 

Os primeiros 100 mil óbitos ocorreram em 149 dias. Dos 100 aos 200 mil óbitos em 152 dias, já dos 200 aos 300 mil óbitos apenas em 76 dias. Vale destacar a alta taxa de internação de jovens no mês de abril.

Mesmo assim, quem assumiu o posto de epicentro da epidemia de coronavírus foi a Índia. No dia 31 de março o país havia registrado 72 mil casos novos, já no dia 30 de abril o registro de novos casos em apenas 24 horas foi de 402 mil, com uma média de 364 mil casos diários nos últimos 7 dias do mês. Essa elevação expressiva de infecções e óbitos levou o país a um colapso no sistema de saúde e no sistema funerário. A explosão de uma nova onda de coronavírus deve-se à liberação por parte do governo de eventos religiosos e comícios eleitorais.

Nos Estados Unidos o total de pessoas vacinadas já corresponde a 32,3% da população, cerca de 106 milhões de habitantes. O maior destaque deve-se ao avanço da vacinação por faixa etária. Em muitos estados (34 dos 50), como New York, jovens entre 16 e 29 anos estão sendo vacinados desde o dia 6 de abril. Os adolescentes de 16 e 17 anos receberão apenas doses da Pfizer-BioNTech, a única autorizada pelo país para essa faixa etária.

O país é o que mais aplicou vacinas no mundo, sendo responsável por um quarto de todas as vacinas aplicadas até o momento. Segundo estimativas das instituições de saúde americana, será possível atingir a imunização de 75% da população dentro de três meses, caso o ritmo seja mantido.


Overview Nacional

CPI da Covid e Orçamento de 2021

No último dia 27 ocorreu a primeira reunião da CPI da Covid, instaurada para apurar irregularidades por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia da Covid-19. São alvos de investigação às 11 recusas de oferta para compras de vacina, a ausência de incentivo à adoção de medidas preventivas (como uso de máscara e distanciamento/isolamento social), bem como a compra e divulgação de tratamentos sem eficácia cientificamente comprovada (como a cloroquina), e que, dentre outras, totalizam 23 acusações de negligência. Entre os diversos convocados previstos para depor, estão os três ex-ministros da Saúde – Pazuello, Mandetta e Nelson Teich – e o atual, Marcelo Queiroga, além do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. A CPI tem duração prevista de 90 dias, podendo ser estendida até um ano, o que impacta negativamente na percepção do investidor em relação ao Brasil e aumenta o risco político do país. 

Apesar de a CPI da Covid possibilitar a responsabilização do presidente Jair Bolsonaro pela negligência no enfrentamento à pandemia, a previsão é a de que as investigações e averiguações se estendam até datas próximas do início do ano eleitoral, o que não fortaleceria um possível processo de impeachment, apesar de impactar em sua reeleição.

Outro fator de incerteza no mês de abril foi a aprovação do Orçamento de 2021 pelo atual presidente Jair Bolsonaro. Sancionado no último dia 22, após o maior atraso em 15 anos, necessitou de vetos no texto inicial para que se encaixasse no teto de gastos – limite que impede o governo de elevar as despesas acima da inflação do ano anterior.

O texto subestimou o montante necessário para pagamento de despesas obrigatórias (como gastos com benefícios previdenciários e seguro desemprego) e inflou despesas com emendas parlamentares (direcionadas por deputados e senadores para obras e ações em suas regiões), sendo alvo de críticas por economistas, por forçar a administração pública a operar com déficit de recursos. 

Também chama a atenção no Orçamento de 2021 a verba direcionada para realização do Censo, que deveria ocorrer este ano. Como principal pesquisa demográfica do país, o Censo traz dados essenciais para implementação e desenvolvimento de políticas públicas, contemplando saúde, educação, emprego, renda, e acesso a saneamento, entre outros. Sem essas informações, as ações governamentais no cenário pós pandemia serão impactadas, mas mesmo assim foi destinado somente 5% do valor solicitado, inviabilizando a pesquisa.

Outro problema do Orçamento foi em relação ao Plano Safra 2021/22, programa que movimenta centenas de bilhões de reais em empréstimos ao setor agrícola. Como a maior parte das verbas previstas para o programa é proveniente de obrigações já assumidas pela União, cortes que gerem déficits em operações já contratadas podem ser interpretados como empréstimos dos bancos públicos à União, algo proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A necessidade de “criar espaço” para estes gastos fez com que o Orçamento de 2021 se utilizasse de “contabilidade criativa”: com a sanção de uma nova lei no último dia 20, a Lei de Diretrizes Orçamentárias foi alterada e agora permite a alocação de mais de R$ 100 bilhões de reais em despesas fora da meta fiscal.

Fora do teto foram alocadas despesas que visam custear medidas de enfrentamento à pandemia, sendo:

  • R$ 20 bilhões para compra de vacinas e enfrentamento da Covid-19;

  • R$ 10 bilhões para renovação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm);

  • R$ 5 bilhões para o Pronampe, programa que fornece linha de crédito para pequenas e médias empresas afetadas pela pandemia;

  • R$ 44 bilhões do auxílio emergencial e outras despesas da área da saúde já definidas fora do teto de gastos em 2020 (que serão efetivadas em 2021).

A alteração na lei e a remoção destes gastos do teto foram a fórmula legal encontrada pelo Governo para que o presidente Jair Bolsonaro não corra riscos de cometer um crime de responsabilidade fiscal. Apesar de a situação ser quase idêntica à que a ex-presidente Dilma Rousseff enfrentou em 2015, e que culminou com o seu impeachment.

As mudanças no Orçamento de 2021 impactam negativamente na situação fiscal do país, e, além de fortalecer a incerteza e o pessimismo por parte do mercado, reafirmam a existência de um problema crônico. Após as alterações, o Ministério da Economia elevou a previsão do déficit primário para R$ 286 bilhões neste ano, extrapolando a meta em quase R$39 bilhões. A nova previsão equivale a cerca de 3,85% do PIB do país, sendo este o oitavo ano consecutivo com resultados negativos.

Uma notícia positiva em abril foi a publicação pelo Banco Central da primeira projeção de crescimento para o PIB em 2021, após sete quedas consecutivas, prevendo encerramento em 3,09% para este ano. Isso mostra que, apesar de ser o mês mais letal da pandemia até o momento, houve uma significativa recuperação da atividade econômica em relação aos últimos meses.


Decisão do COPOM e Taxa de juros

Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,1 % em doze meses. A inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, acelerou de 0,86% em fevereiro para 0,93% em março, acumulando alta de 6,1% em 12 meses, acima dos 5,2% observados nos doze meses imediatamente anteriores, extrapolando também o limite máximo da meta para a inflação que é definida pelo CMN em 3,75% com intervalo de tolerância de 1,5%.

A expectativa para o IPCA em 2021, segundo a pesquisa Focus, está próxima do limite superior da meta. A expectativa do mercado para o IPCA de 2021 está em 4,92%, próxima do limite superior do intervalo de tolerância do ano (5,25%), enquanto a mediana para 2022, atualmente em 3,60%, tem subido lentamente apesar de continuar ancorada ao redor do centro da meta de 3,50%. Podemos observar alguns motivos para a inflação elevada, tanto a atual quanto a expectativa para o final do ano, alguns dos principais fatores são: (1) estímulos fiscais elevados, (2) forte valorização  das commodities, (3) depreciação cambial e (4) níveis das taxas de juros que representam um grau de estímulo monetário extraordinário. 

Para ancorar as expectativas inflacionárias e aproximá-las ao centro da meta, na reunião de março do Copom, foi decidido a elevação em 75 pontos bases para a taxa básica de juros, apontando uma elevação de mesma magnitude para a reunião do dia 5 de maio.

O Copom deve manter o aumento apontado em março, dada a necessidade do aperto monetário para ancorar as expectativas inflacionárias e refletir de forma mais fidedigna a presença de um quadro de incertezas no cenário doméstico, notadamente quanto à fragilidade das contas públicas, a deterioração do cenário político e diminuição da probabilidade de passar reformas estruturantes e privatizações.

Podemos ver a partir da curva de juros brasileira que se mantém elevado o prêmio de risco no horizonte mais longo da curva. Entre janeiro e meados de abril a curva de juros deslocou-se para cima em cerca de 2,0 p.p., mostrando assim, uma elevação na balança de riscos e o mercado precificando esse maior risco na negociação dos títulos públicos no mercado secundário.

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Autores: Artur Roman, Carolina Melo, Ricardo Pering, Vinícius Cadorin

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Carta de conjuntura Macro – março

Carta de conjuntura Macro – março

Overview Internacional

No início do mês de março, foi difícil não ouvir falar da sigla NFT (non fungible token), após a venda histórica da obra de arte “Everydays: The First 5000 Days”, do artista digital Beeple, pelo valor total de US$ 69 milhões e que a tornou uma das mais valiosas obras de arte já leiloadas. 

Os NFTs são registros baseados no blockchain Ethereum que representam objetos físicos ou pedaços de mídia digital (sejam textos, vídeos, imagens, áudios, etc.). Sua principal característica é a não fungibilidade, que faz com que o NFT funcione como um certificado de unicidade, estando protegido de duplicações. Além disso, são indivisíveis, indestrutíveis, irrepetíveis, verificáveis e programáveis. No entanto, na prática, a representação adquirida pode ser alterada mesmo após a venda, trazendo incerteza ao valor final.

O mercado das NFTs, que movimentava dezenas de milhões de dólares anualmente, cresceu para mais de US$ 300 milhões apenas no mês de Fevereiro de 2021. A alta liquidez, as redes sociais e o fenômeno FoMO (fear of missing out) podem estar relacionados com este boom. Assim como aconteceu com a Bitcoin, existem diversas expectativas para as NFTs, porém é difícil prever como será a demanda no futuro.

Fazendo agora um overview do cenário internacional, no mês de março ocorreu a destituição do chefe do Banco Central da Turquia, Naci Agbal, pelo Presidente do país, Recep Tayyip Erdogan. 

Naci ocupava o cargo somente desde novembro de 2020, e a decisão de sua destituição foi tomada após o BC definir o aumento da taxa de juros de 17% para 19% ao ano, como parte de uma estratégia para conter a alta taxa de inflação, que atingiu 15,61% no mês de fevereiro. Desde o início de sua gestão, ele deu continuidade a aumentos consecutivos na taxa de juros, que se encontrava à 10,25%.

Apesar de a medida ter sido bem recepcionada pelo mercado, e a lira turca ter tido valorização de 15% frente ao dólar desde a entrada de Naci no cargo, o Presidente Erdogan se opôs à medida, por acreditar que as altas taxas de juros não estavam surtindo o efeito desejado, já que a inflação se mantinha crescente e muito acima da meta oficial de 5%.

Seu sucessor será Sahap Kavcioglu, o quarto Presidente do Banco Central Turco desde 2019, e já anunciou que não haverá cortes prematuros na taxa de juros. Para ler mais sobre a importância da autonomia nos Bancos Centrais, acesse o artigo do Clube de Finanças.

Outro país importante a ser mencionado é a Argentina, que enfrenta altíssima inflação, tendo fechado sua taxa de inflação no mês de fevereiro em 40,70%.

Em março de 2020, em meio ao início da pandemia da Covid-19, o atual Presidente Alberto Fernandez se utilizou do programa já existente “Precios Cuidados” para instituir o plano “Precios Maximos”. O primeiro foi criado em 2013, durante o mandato da ex-Presidente Cristina Kirchner, como forma de garantir preços acessíveis e disponibilidade para uma listagem de produtos de primeira necessidade. Tratava-se de um programa voluntário, com preços definidos a partir de negociações entre o governo e as fabricantes. Já o novo programa congelou os preços de mais de 2.300 itens considerados de primeira necessidade e a participação por parte das empresas está sendo obrigatória, além de terem sido realizados somente dois reajustes abaixo da inflação, em julho e outubro de 2020.

A mudança conseguiu disfarçar a inflação do ano de 2020, já que o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina) utiliza os preços mais baixos dos produtos para cálculo do índice. Porém, a arbitrariedade do “Precios Maximos” e as consequências negativas para as indústrias envolvidas, fez com que o governo fosse pressionado a retirar produtos da lista do programa a partir de 2021. Isso explicaria os novos aumentos no índice de inflação do país, que tende a continuar crescente conforme o plano vá perdendo força.

Ainda em relação ao cenário global, vale destacar os acontecimentos ocorridos nos EUA por conta de sua alta expansão de liquidez.

Como era de se esperar, a agenda do mais novo presidente americano, Joe Biden, é mais desenvolvimentista e de forte atuação do Estado acerca da economia americana, o que já ficava claro durante seus pronunciamentos na corrida presidencial, e se confirmou com a nomeação de Janet Yellen para a Secretaria do Tesouro americano.

Em linha com seu posicionamento, no começo de março deste ano foi aprovado um pacote de estímulos fiscais para o combate à crise econômica gerada pela pandemia da Covid-19. Havia quase um consenso da necessidade do estímulo para a economia americana, mas o que surpreendeu foi o tamanho do estímulo fiscal, já que foi aprovado em US$1.9 trilhões. Se compararmos com o PIB brasileiro de 2020, usando a cotação média de 2020, o PIB foi de US$1.4 trilhões, ou seja, cerca de 135% do PIB brasileiro foram aprovados em estímulos fiscais. Para entender onde estes estímulos serão dados e qual magnitude para cada setor, ler a matéria do NY Times.

Os atuais estímulos fiscais, alinhados com os estímulos monetários, proporcionam uma injeção de liquidez jamais vista.  Na crise de 2008, que até então fora o momento de maior expansão de liquidez, a maioria dos estímulos foi de natureza monetária, para manter o mercado financeiro funcional e reestruturar o balanço dos bancos americanos, que estavam muito fragilizados por conta da crise do Subprime. Isso fez com que a expansão da base monetária americana (M0) não afetasse outros agregados monetários (M2), como podemos ver a seguir:

 




                                      (Fonte: FRED Louisiana)

 Esse é talvez o principal motivo das rodadas trilionárias de Quantitative Easing de 2008 não terem efeitos inflacionários, pois toda a expansão da base monetária acabou por não fluir para a economia real, o dinheiro não foi parar na mão das famílias. Porém, desta vez é diferente, pois as rodadas de Quantitative Easing não ficaram “represadas” em balanços, dos bancos, pois os mesmos estavam com balanços sólidos. Em vez disso, o QE aumentou substancialmente a liquidez do mercado, alinhado com estímulos fiscais jamais vistos anteriormente, isso se reflete na base monetária (M0) e agora em outros agregados monetários, como podemos ver abaixo. 


                                                 (Fonte: FRED Louisiana)

E podemos ver que a MP3 (política fiscal agressiva + políticas monetárias não convencionais) vem surtindo efeitos. O primeiro a ser observado é a retomada da atividade econômica, que vem se recuperando trimestre a trimestre por quase todo o globo (muito por conta dos estímulos fiscais e monetários). Porém, a retomada da plena capacidade de funcionamento das atividades e da cadeia de suprimentos global ainda não ocorreu (por conta da pandemia), ocasionando uma elevação abrupta nos preços das commodities, podendo ser verificado no gráfico abaixo, que contém um índice composto por todas as commodities negociadas em bolsa de valores.



                                 (Fonte: Fred Louisiana)

Com todos esses estímulos fiscais e monetários, é de se esperar que o dólar Americano se desvalorize, o que já vem acontecendo. Porém, com uma desvalorização do dólar, commodities se apreciando fortemente, juros nas mínimas históricas e como já comentado, política fiscal e monetária extremamente agressiva, torna um ambiente muito propício para a retomada da inflação nos EUA. O gráfico abaixo traz a desvalorização da moeda americana, frente a uma cesta de moedas de países desenvolvidos, junto com a inflação implícita dos títulos de 5 anos do governo americano, medida que busca uma estimativa da inflação anual para um dado período de tempo no futuro. Vale ressaltar que os atuais patamares não são negociados desde Junho de 2008, período pré crise financeira global.




                                 (
Fonte: Louisiana FRED)

Assim, podemos observar que o mercado já vem precificando essa inflação maior no futuro, tendo um aumento significativo nos juros dos Treasuries de 10 anos do governo americano. Esses aumentos dos juros nominais, acabam por consequência aumentando os juros reais, que impactam negativamente os ativos de custo de oportunidade. Esses ativos são aqueles que não possuem fluxo de caixa, fazendo com que seu retorno esperado seja 0, assim, eles ficam suscetíveis ao custo de oportunidade, que aumenta à medida que os juros reais sobem. Por isso o aumento dos juros acaba impactando negativamente o ouro, como podemos ver abaixo:



                                   (Fonte: Louisiana FRED)


O Federal Open Market Committee (FOMC), assim como o Copom e outros órgãos similares presentes em outros países, decide sobre aumentos ou diminuições na taxa de juros para manter a taxa da inflação estável e previsível, de forma que haja convergência com a meta estipulada pelo FED.

Com a crise global causada pela pandemia da COVID-19, é de se esperar que nos Estados Unidos, assim como está acontecendo em outros países, a inflação tenha perspectivas de aumento. Portanto, o FOMC decidiu em sua segunda reunião de 2021 pela manutenção da taxa básica de juros entre 0% e 0,25%, mantendo-a baixa e controlada. Também foi mantido o programa de recompra de títulos públicos e privados, sendo US$80 bilhões em títulos do Tesouro e US$40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas. O FOMC espera que com estas decisões o nível de inflação e o desemprego se enquadrem nas metas estipuladas para o ano.


A pandemia da COVID-19

A pandemia da Covid-19 completou um ano no dia 11 de março, porém, ainda parece estar longe de acabar. A marca de 2,83 milhões de mortos ao redor do globo continua crescendo, enquanto muitos países enfrentam a terceira e quarta onda de contágio. Este cenário só poderá ser revertido com a vacinação em massa da população e o isolamento.

Em relação à vacinação, é possível ver que alguns países se destacam. Estados Unidos, China e Índia lideram em números de vacinas aplicadas, com 150 milhões, 119 milhões e 65 milhões respectivamente. Enquanto isso, Israel e Chile se destacam em número de vacinas aplicadas relativo à sua população, com 115% e 54%. No caso de Israel, o número significa que a vacinação se encontra já nas segundas doses.

Por outro lado, no Brasil, o mês de março foi marcado por novos recordes de mortes diárias e vacinação a passos lentos. A liderança no número médio de infecções diárias torna o país responsável por uma a cada oito infecções registradas em todo o mundo. Somente duas das quatro vacinas aprovadas pela Anvisa já foram importadas e estão sendo aplicadas na população, sendo elas a Oxford-AstraZeneca, adquiridas pela Fiocruz, e a Coronavac, do Instituto Butantan. Estoques das outras duas, BNT162 (da Pfizer/BioNTech) e Janssen (controlada pela Johnson & Johnson), ainda não chegaram ao país devido à demora na negociação com o governo, problemas de produção e atrasos nos envios.

Em contraste com o restante da situação do país, foram anunciadas duas vacinas brasileiras que podem já estar disponíveis a partir do segundo semestre. São elas a Versamune®-CoV-2FC, imunizante desenvolvido por pesquisadores da FMRP-USP, em parceria com a Farmacore Biotecnologia e a PDS Biotechnology, e a Butanvac, produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com o Instituto Mount Sinai e a Universidade do Texas.


Cenário Fiscal.


A situação fiscal do governo brasileiro está bem delicada, devido aos enormes gastos para conter uma recessão econômica em virtude da pandemia, além de um mau gerenciamento dos gastos públicos há um bom tempo. Não é de hoje que vivemos uma diminuição dos recursos dos cofres públicos, desde 2014 o país sofre com consecutivos déficits e que vieram a estourar em 2020 com um grave aumento da dívida pública.


                              (Fonte: Tesouro Nacional)


No gráfico acima, conseguimos perceber o rombo no ano de 2020 durante os meses de abril a setembro, o que mostra uma preocupação ainda maior com a questão fiscal. Em junho do ano passado, tivemos somente neste mês um Déficit Primário de aproximadamente R$ 195 bilhões, representando mais do que duas vezes o Déficit do ano de 2019, ocorrido principalmente por uma queda expressiva da receita em aproximadamente 28% e aumento da despesa em 149% principalmente pelo auxílio emergencial, conforme visto nos dados abaixo.


 

                                      (Fonte: Tesouro Nacional)


Já em relação ao último dado público divulgado pelo Tesouro Nacional, fevereiro de 2021, mesmo com um bom aumento da receita não foi o suficiente para terminarmos o mês superavitário, tendo novamente mais um déficit. Isto mostra como as reformas não estão indo de acordo com a velocidade esperada para ter um melhor gerenciamento dos gastos do governo além de uma projeção baixa para o crescimento do PIB para 2021 em torno dos 3%, sendo que tivemos uma queda de 4,1% em relação a 2020. Logo, os déficits cada vez mais comuns fazem com que a dívida pública aumente para o patamar de 89% do PIB, não tendo uma perspectiva de queda já que existe uma projeção do aumento da taxa Selic, dificuldade no andamento das reformas e aumento de casos devido à pandemia. 


PEC Emergencial e MP 1034/2021


Para conter os gastos públicos e realizar a proposta de um novo auxílio emergencial para 2021, houve uma maior discussão da PEC Emergencial, criada pela equipe econômica em 2019. O assunto em si teve uma maior agilidade pois era necessário fazer ajustes dentro da Constituição para realizar este incentivo a economia e não ultrapassar o teto de gastos, o que poderia servir como crime de responsabilidade fiscal ao governo, podendo levar até o impeachment do Presidente. 

A emenda criada primeiramente possuía pontos importantes para enxugar a máquina pública, porém o texto aprovado no Congresso acabou tendo diversos trechos retirados os quais muitos enxergavam como essenciais. Os principais pontos não aprovados foram  a redução da jornada e salário de servidores, proibição de progressões e promoções na carreira de servidores além da vedação para salário e contratação de servidores ser realizado somente quando a despesa obrigatória ultrapassar 95% da despesa primária. Um dos pontos que permaneceram inalterados foi a não ampliação e a concessão de novos benefícios tributários e também a redução gradual destes valores. 

Com isso, vale ressaltar que a PEC emergencial não irá compensar os R$ 44 bilhões gastos no auxílio emergencial e só gerarão benefícios fiscais no médio prazo para o país. Além disso, uma parte dos gastos com o bolsa família estará junto neste valor de estímulo econômico, o que gerará uma certa folga no teto de gastos.


Outro assunto debatido e também aprovado no último mês foi a MP 1034/2021. Esta medida teve como resultado o aumento do CSLL para bancos e cooperativas de crédito o qual teve o intuito de manter a arrecadação, já que o governo diminui a alíquota de ICMS para combustíveis com o intuito de frear este aumento dos preços.


Câmbio

A taxa de câmbio continua muito depreciada, devido principalmente ao risco fiscal do país, além da demora na aprovação das reformas, como esperado pelo mercado. A média para o mês de março foi de R$5,66/US$ e a comparação com o mesmo período de 2020 demonstra uma depreciação de 20,40%. Apesar das medidas de expansão monetária promovidas pelo FED e um mercado com alta liquidez que tende a estimular a saída de capital dos Estados Unidos e a entrada em outras localidades, não está sendo refletida na cotação do real que continua sendo bastante afetada.

O estudo de autoria de Lívio Ribeiro, publicado pelo IBRE – FGV, demonstra que a depreciação do real, embora acompanhe os fundamentos globais, está diretamente ligada aos fatores internos.

Esses fatores são: risco fiscal da dívida, que aumentou com os gastos relacionados a pandemia, o que traz incertezas quanto à capacidade do Governo em honrar os pagamentos no longo prazo; demora na aprovação de reformas estruturantes da economia; cenário político conturbado; e a diferença entre os juros brasileiros em relação a outros países emergentes.

No cenário político de março é possível destacar a interferência do presidente Bolsonaro na presidência da Petrobrás, assim como, a suspensão das condenações do ex-presidente Lula o que favoreceu a saída de capital estrangeiro do país. Outros fatores como o recrudescimento da pandemia, retorno de medidas restritivas e as incertezas quanto à retomada da atividade econômica também contribuíram com a depreciação cambial.

Risco Jurídico

Como dito anteriormente, a anulação das condenações da Operação Lava-Jato sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretada pelo ministro do STF, Edson Fachin, tornou o ex-presidente elegível para concorrer às eleições presidenciais de 2022, fato que trouxe maiores incertezas sobre a evolução da economia brasileira nos próximos anos, ligadas principalmente às possíveis intervenções do Poder Judiciário, aumentando o grau de instabilidade jurídica no país. Além disso, ocorreu a suspeição do ex-ministro Sérgio Moro. Com o voto de Cármen Lúcia, a 2° Turma do STF o declarou suspeito e parcial nos casos envolvendo o ex-presidente.

Nesse mesmo dia o dólar chegou ao valor de R$5,77. Já o índice Bovespa fechou em queda de quase 4%. Esses acontecimentos levaram o Banco Central do Brasil a tomar algumas atitudes.

Intervenção do BC na taxa de câmbio

Com todos esses fatores adversos ao câmbio, o BCB precisou ser atuante no mês de março, onde alternou entre ofertas de swap cambial tradicional e reverso, assim como, a venda de dólar à vista. No dia 11, por exemplo, foi efetuado um leilão de swaps cambiais no valor de US$1 bilhão. Evento que foi precedido por outra oferta de US$405 milhões no mercado à vista. Suavizando a oscilação cambial e a depreciação do real.

Elevação do IGP-M

Em relação ao Índice Geral de Preços (IGP-M), que mede o movimento de preços e serve como parâmetro para reajuste dos aluguéis, o mês de março apresentou um aumento de 2,94% – maior desde a criação do real em 1994 – e acumula uma alta de 8,26% no primeiro trimestre deste ano. No consolidado dos últimos 12 meses o aumento é de 31,10%.

Como base de comparação, o aumento para o mês de março de 2020 havia sido de 1,24%, ou seja, menos da metade do observado no mesmo período deste ano. Todos os índices que compõem o IGP-M sofreram aceleração no mês de março, ocasionados pelo aumento nos preços de matérias-primas, que influenciam os preços de bens intermediários e finais. A desvalorização do câmbio, seguido pela expansão do preço das commodities, em especial dos combustíveis, também são fundamentais para explicar a elevação dos preços ao produtor e ao consumidor.

A cesta que compõe o IGP-M compreende o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), o maior responsável pelo aumento do índice, já que a sua elevação em março foi de 3,56%. O grupo de Bens Finais aumentou 2,50%, causado principalmente pelo subgrupo de alimentos processados que saiu de -0,86% em fevereiro para 0,72% neste mês. Já o grupo de Bens Intermediários aumentou 6,33%, impactado pelo aumento de 18,33% nos preços de combustíveis e lubrificantes para a produção. No ano de 2020 esse mesmo índice apresentou um aumento acumulado de 31,64%, e neste trimestre já apresenta uma taxa acumulada de 10,57%.

Outro índice que compõe o IGP-M é o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que teve um aumento de 2,00% no mês de março. O subgrupo que mais afetou esse índice foi o de Materiais e Equipamentos que teve um aumento significativo de 4,44% comparado a 2,39% no mês anterior.

Em relação ao Índice de Preços ao Consumidor (IPC), foi observado um aumento de 0,98%, ante 0,35% em fevereiro. A principal contribuição ocorreu através do subgrupo Transportes com um aumento de 3,97% causado pela grande elevação dos preços da gasolina. Além dos Transportes também foi encontrado aumento nos grupos de Habitação, Saúde e Cuidados Pessoais, assim como Vestuário.

Através do gráfico abaixo é possível perceber o aumento acentuado do índice desde o início de 2020.



                                  (Fonte: IBRE FGV)

IPCA

No dia 25 de março foi divulgado o IPCA-15, considerado uma prévia do IPCA, que é o índice de preços oficial do Brasil. A diferença entre os dois está relacionado com o período de coleta dos dados, sendo o primeiro quinzenal e o segundo mensal.

O IPCA-15 do mês de março registrou um aumento de 0,93% comparado com 0,48% no mês anterior. É o maior resultado para um mês de março desde 2015. Oito dos nove grupos que compõem o índice apresentaram alta. Destaque para os aumentos do Transporte e da Habitação, sendo o do primeiro causado pela elevação de 11,65% nos preços dos combustíveis, em especial a gasolina com elevação de 11,18%. Já o segundo grupo foi impulsionado pela elevação de 4,60% do preço do gás de botijão. O grupo que apresentou desaceleração foi o de Educação.


                                        (Fonte: IBGE)


Em 12 meses o IPCA-15 apresenta alta acumulada de 5,52%. Já a projeção da ANBIMA para o IPCA do mês de março é de aumento de 1,04%, já a projeção Focus é de 0,93%.

O IPCA acumulado dos últimos doze meses é de 5,25%. No mês de fevereiro foi registrado alta de 0,86%, a maior nesse período desde 2016. A causa desse aumento também é proveniente dos preços dos combustíveis, que foi de 7,09%, com destaques para a gasolina, etanol e diesel que aumentaram 7,11%, 8,06% e 5,40%, respectivamente. Os grupos mais impactados foram Transportes e Educação.

A gasolina foi o principal responsável por essa elevação, devido ao reajuste de preços nas refinarias e o consequente repasse aos consumidores finais. Assim como, a depreciação cambial que favorece o aumento dos preços de bens importados em moeda local.


                              (Fonte: Banco Central)


Elevação da taxa básica de juros

Na reunião de 17 de março, o Comitê de Política Monetária – Copom decidiu por aumentar a taxa básica de juros em 0.75 ponto percentual atingindo 2,75% a.a., a primeira alta desde 2015, entendendo que no momento não há necessidade de estímulos monetários especiais. Marcando o início da fase de normalização parcial da taxa de juros que deve seguir nas próximas reuniões com ajustes semelhantes a esse, reduzindo o grau de estímulo à economia imposto pelo início da pandemia de Covid-19.

O ajuste na taxa de juros baseia-se no aumento das projeções de inflação para os próximos anos, que estão próximas do limite superior da meta. Impulsionadas pela demora na retomada da cadeia de produção e aumento dos preços e custos dos produtos em diversos setores. Assim como, desvalorização cambial e inseguranças quanto ao cenário fiscal. Vale ressaltar que a incerteza com a retomada da economia nacional ainda se mantém elevada, já que os dados utilizados para a tomada de decisão não contemplam os efeitos causados pelo recrudescimento da pandemia no primeiro trimestre de 2021.

De acordo com o Copom, o aumento nos casos de Covid-19 e a deterioração da situação fiscal brasileira devido ao prolongamento das políticas fiscais e o atraso da aprovação de reformas estruturantes podem elevar o prêmio de risco do país, assim como, pressionar o balanço de riscos.

Em relação ao resultado do PIB do quarto trimestre de 2020, foi demonstrado uma recuperação da economia brasileira, mesmo com a redução do auxílio emergencial. Os indicadores de inflação permanecem acima do centro da meta, haja visto o acumulado dos 12 meses de 5,20% registrado no mês de fevereiro deste ano. Tanto é que as expectativas de inflação para 2021 estão ao redor de 4,6%, já para 2022 próximo a 3,25%, e para 2023 a expectativa é de 3,25% segundo o Boletim Focus. O aumento da inflação no ano de 2021 foi favorecido pelo aumento dos preços das commodities, em especial os combustíveis.

A elevação da taxa de juros tende a causar queda na inflação, já que diminui a atividade econômica e leva, consequentemente, a uma queda nos preços. Incentiva a entrada de capital estrangeiro devido ao aumento do retorno dos ativos nacionais, e com isso há uma valorização do real frente ao dólar. Porém, o efeito negativo é a desaceleração do crescimento econômico e aumento dos gastos com a dívida pública indexada à Selic. Como pode ser observado no gráfico abaixo, caso a taxa de juros alcance 5,00% a.a. ao final de 2021, o aumento de gastos com a dívida será de R$ 95,4 bilhões.

                                  (Fonte: Tendência consultoria)


No cenário externo destacam-se ainda novos pacotes de estímulos em diversas economias e o avanço dos programas de imunização. O Comitê ainda enxerga duração prolongada dos estímulos monetários e um processo de reprecificação de ativos financeiros.

Portanto, a forte alta na Taxa Selic tem como objetivo principal reduzir a probabilidade de não cumprimento da meta de inflação no curto e no longo prazo. Lembrando que a função fundamental do Banco Central é o de assegurar o poder de compra da moeda, por meio do controle da inflação.

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Autores: Artur Roman, Carolina Melo, Ricardo Pering, Vinícius Cadorin

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A relação entre inflação, juros e câmbio.

A relação entre inflação, juros e câmbio.

Introdução

As transações entre países estão cada vez mais rápidas e tenderão a evoluir conforme a globalização e a expansão da tecnologia. A necessidade de importar bens de outros países, realizar viagens internacionais ou até mesmo investir no exterior está presente na rotina de várias pessoas, junto com a dúvida de qual é o valor da sua moeda em relação ao do outro país. Com intuito de prover os primeiros passos para aqueles que desejam conhecer os fundamentos do mercado cambial, este artigo abordará como o preço dos bens e do dinheiro afetam a taxa de câmbio. Vale lembrar que existem diversas óticas para observar o mercado de câmbio a longo prazo, como a análise das transações internacionais através do balanço de pagamentos, dos efeitos da política fiscal e monetária no modelo de Mundell-Fleming conforme o regime cambial e também através da construção de portfólios, mas compreender a paridade do poder de compra e a paridade de juros é um bom começo.

A taxa de câmbio é um indicador macroeconômico que evidencia o elo econômico entre os países e representa um dos mercados mais voláteis do mundo, com baixos custos de transação, alta liquidez e velocidade de negociação. A pesquisa feita pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) em 2016 aponta que a captação média diária no mercado cambial foi de US$ 5,1 trilhões, sendo que os pares negociados euro-dólar e dólar-yene corresponderam a 41% de todo o mercado cambial negociado nesse ano. Por ser um ativo extremamente volátil, o dólar é considerado um instrumento de hedge pelos investidores brasileiros principalmente por ter, na maioria das vezes, correlação negativa com a bolsa brasileira. Ao atuar no mercado cambial com intuito de especular moedas e gerar lucros, é importante saber que a moeda adquirida não se multiplica pela mesma unidade monetária aplicada na transação, o investimento não gerará fluxos provenientes da aplicação. É possível lucrar através das oscilações, mas diferentemente das ações, que geram valor à uma empresa, ou uma debênture cujo investimento agregará em capital, ao comprar esse ativo de hedge o retorno estará sujeito apenas à paridade de valor com a moeda negociada bilateralmente.

Define-se taxa de câmbio como o preço de uma moeda em relação a outra. Quando se diz que o câmbio dólar real é de US$/R$ 5,00, isso significa que é necessário R$ 5,00 para comprar US$1,00 e alcunha-se a cotação em termo direto, isto é, quando a unidade monetária estrangeira é expressa em relação à unidade monetária nacional. Como a taxa de câmbio é a relação de troca entre duas moedas diferentes, ela é definida a partir da oferta de divisas -provenientes dos exportadores, entrada de turistas e capital externo e dos demais agentes que trocam dólares por reais – em comparação com a demanda por divisas entregue pelos importadores, pela saída de turistas e capitais externos e de outros agentes que trocam reais por dólares. A oscilação da cotação do câmbio pode ocorrer de duas formas: Quando há uma maior oferta de divisas, significa que tem mais moeda internacional em circulação do que moeda nacional e a taxa de câmbio é reduzida, esse fenômeno é chamado de valorização cambial. Caso aumente a demanda por divisas, a cotação do câmbio aumenta e ocorre a desvalorização na taxa de câmbio.

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Paridade de poder de Compra

A paridade de poder de compra (PPC), ou lei do preço único, tem o conceito de que em um mundo ausente de barreiras ao livre comércio entre países o preço de um mesmo bem deverá ser o mesmo em qualquer lugar ao mesmo tempo. Proveniente disso, a taxa de câmbio oscilará em torno de um valor de equilíbrio a longo prazo para garantir a igualdade dos preços dos bens em diferentes moedas. As principais hipóteses para PPC ser válida são:

  1. Não há barreiras comerciais ou arbitragem entre os bens
  2. Não há custo de transações entre os países
  3. Os bens negociados entre os países são perfeitamente homogêneos

Ou seja, como a taxa de câmbio é o preço que equilibra as ofertas e demandas por moeda estrangeira no mercado de câmbio, a paridade de poder de compra é uma forma de garantir que os negociantes não pratiquem arbitragem de moedas entre os países. Define-se arbitragem o processo de comprar um ativo por um preço mais barato e vendê-lo mais caro em outro mercado, o mecanismo funciona da seguinte forma: Considere que a taxa de câmbio entre dólar e euro seja de US$/€ 1,10 em Nova York e em Londres a taxa de câmbio seja US$/€ 1,20. O investidor poderá converter US$ 1,1 milhão para euros em Nova York e receberá € 1 milhão conforme a taxa de câmbio local, em seguida ele converterá todo o euro recebido para dólar vendendo-o no mercado de câmbio em Londres, recebendo US$ 1,2 milhão graças à taxa de câmbio local e auferirá um lucro de US$ 100 mil apenas arbitrando entre duas moedas. Essa é uma estratégia que investidores exploram sempre que possível pelo simples fato de que pessoas preferem mais dinheiro ao invés de menos e, apesar do exemplo considerar o mercado de moedas, a arbitragem poderá ser explorada para qualquer ativo quando a hipótese do preço único de que dois fluxos de caixa idênticos devem ter o mesmo preço for quebrada. Ao abrir essa janela de oportunidade, o investidor fará um short selling e auferirá lucro positivo com risco zero.

Ao lidar com o mercado cambial de dois países nem sempre será possível arbitrar, o mais provável será explorar a desvalorização relativa condicionada quando a taxa de câmbio não estiver em seu equilíbrio de longo prazo conforme a PPC. Aqui vale o exemplo de um comprador que deseja adquirir uma moto negociada tanto na Alemanha quanto na República Tchéquia, dado a hipótese de que a moto é um produto homogêneo entre os países e equivale a cesta de bens definitiva para PPC ser válida. O consumidor observa que a taxa de câmbio entre os países está em Kč/€ 20, verifica os preços e percebe que a moto vale € 10.000 na Alemanha e Kč 100.000 na República Tchéquia, então a taxa de câmbio de equilíbrio entre o euro e a coroa tchéquia será de €/Kč 10. As hipóteses implicam que a coroa tchéquia está significativamente desvalorizada em relação à PPC e deve-se apreciar ao passar do tempo, permitindo ao comprador em euro adquirir o produto na República Tcheca por um preço menor. Essa vantagem comercial será inibida quando todos os consumidores perceberem que a moeda tchéquia está mais barata que o euro, aumentando a demanda por bens desse país através de uma maior oferta de euro, levando a apreciação da moeda local até o nível de equilíbrio de longo prazo. Ao abstrair esse exemplo numa situação onde o preço dos bens oscila dentro do próprio país, o consumidor considerará a taxa de câmbio real para tomar decisão por desejar descontar os efeitos inflacionários, esse comportamento trará uma relação intrínseca entre paridade de poder de compra e taxa de câmbio real. Se a PPC é válida no longo prazo, então a taxa de câmbio real será constante pelo fato da PPC garantir o diferencial de preços entre os países com os ajustes devidos da taxa de câmbio nominal e, salvo os impactos econômicos proveniente desses ajustes no curto prazo, a taxa de câmbio real sempre tenderá a sua média histórica enquanto a PPC for válida. Quando a taxa de câmbio real é constante, a competitividade dos preços dos bens transacionados entre os países é mantida pelo seguinte mecanismo: Quando um país sofre um aumento inflacionário, os bens negociáveis tornam-se menos competitivos por apresentarem preços maiores e, ao invés de tomar a depreciação da taxa de câmbio nominal para “contrabalancear” o efeito, a taxa de câmbio real deixa de apreciar (através do aumento inflacionário) por manter-se constante ao longo do tempo. Vale esclarecer o argumento pelo fato de que se ganha competitividade não através de uma desvalorização nominal do câmbio, mas através da desvalorização real da taxa de câmbio.

Nas condições práticas, o investidor deve reconhecer que outros fatores influenciam na taxa de câmbio e que as premissas da PPC são frágeis. É de amplo conhecimento que não existe livre negociação entre os países, a exemplo da guerra comercial entre Estados Unidos e China, assim como os mecanismos de ajustamento da taxa de câmbio não são necessariamente imediatos por conta de que não apenas os bens – cujos preços não são necessariamente flexíveis – afetam na oferta e demanda por câmbio, mas também os ativos financeiros transacionados entre os países, sem contar que a heterogeneidade dos bens fará com que a cesta de bens analisada entre os dois países seja inconsistente para determinar a verdadeira PPC. Essas condicionantes devem ser consideradas no curto prazo, mas a longo prazo a PPC é uma boa ferramenta para determinar a taxa de câmbio de equilíbrio. O método de PPC mais conhecido entre os analistas é o Big Mac Index desenvolvido pela revista The Economist, .

Mecanismo de transmissão e a Paridade de Juros.

A Teoria Quantitativa da Moeda afirma que os preços de uma determinada economia estarão relacionados com a quantidade de moedas em circulação. Através desse pilar da teoria clássica pode-se assumir que a política monetária – determinada pelo Banco Central – translada efeitos entre oferta monetária e preços e, conforme observado anteriormente, os preços dos bens em um país influenciarão na PPC e em sua respectiva taxa de câmbio de longo prazo, ou seja, a política monetária fornece um mecanismo de transmissão que impacta taxa de câmbio através dos preços. Ao determinar o quanto de moeda deseja distribuir na economia, a autoridade monetária irá precificá-la ao equilibrar a oferta à demanda exigida. Ao depararem-se com a taxa de juros definida do seu país em relação ao mundo num cenário de livre mobilidade de capitais, as pessoas escolhem entre manter parte do dinheiro em mãos ou aplicá-los em títulos de investimento proporcionais às taxas de juros. Isto é, as pessoas sempre comparam quais as taxas de juros mais atrativas para elas e aplicam seu dinheiro onde for mais rentável, dado o quanto ela é propensa ao risco, e optam por manterem em mãos parte do dinheiro que pretendem usufruir para consumirem bens e serviços. Caso o investidor enxergue uma taxa de juros mais atrativa no exterior, ele oferecerá sua moeda em troca da estrangeira e irá adquirir o título de investimento estrangeiro que lhe for conveniente, desvalorizando a moeda onde reside. Por esses fatores, a política monetária também é um mecanismo de transmissão que impacta taxa de câmbio através da taxa de juros. Na prática, esse mecanismo de transmissão não é instantâneo e esse atraso afetará na tomada de decisão de um investidor.

Resumindo, o preço dos bens define a taxa de câmbio e parte da condição de equilíbrio é dada pela paridade de poder de compra, assim como a taxa de juros também afeta taxa de câmbio. Antes de descrever qual a condição de equilíbrio da taxa de câmbio pela ótica monetária, entenda o raciocínio dos investidores: Se o investimento no exterior depende da taxa de câmbio e da taxa de juros externa e o investimento interno apenas da taxa de juros interna, como definir qual terá o maior retorno? Simplificando a questão, considere um investidor nos Estados Unidos que compara entre investir no seu país ou investir na Europa, se ele usar dólares para comprar um depósito em euro, quantos dólares receberá após um ano? Ele observa as seguintes condições de mercado:

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Considerando que a expectativa da taxa de câmbio esteja correta, o investidor seguirá os seguintes passos: Primeiro, ele converterá US$ 1,10 em euro e terá € 1,00. Sabendo que o título europeu renderá 5% ao ano, então no final do período obterá € 1,05. Como o investidor aguarda uma desvalorização, então ele converterá esse euro em dólar cujo resultado será a multiplicação da expectativa do câmbio com a rentabilidade obtida (€ 1,05 vezes US$/€ 1,20 = US$ 1,26). Ao final dessa operação, o retorno do investimento foi de 14,54% ao ano e será mais vantajoso investir na Europa do que nos Estados Unidos, pois mesmo a taxa de juros exterior sendo menor ela é compensada por uma desvalorização significativa da taxa de câmbio.

Os incentivos para se investir no exterior é que os depósitos externos tenham retornos esperados maiores com base nas expectativas de desvalorização cambial e taxa de juros, mas existe uma condição que acalma os ânimos dos mercados e impõe indiferença entre os investimentos dos países e iguala. Essa neutralização ocorre quando o mercado de câmbio está em equilíbrio, isto é, os depósitos em todas as moedas oferecem a mesma taxa de retorno esperada. A condição de paridade de juros implica que os detentores potenciais de depósitos em moeda estrangeira consideram esses depósitos como ativos igualmente atraentes e, nesse ponto, não há excessos de oferta e de demanda, os depósitos ficam equilibrados e todas as taxas de retorno esperada são iguais. Em termos gerais, a paridade de juros – Interest Rate Parity – assume que a variação da taxa de juros é igual à taxa de câmbio futura em função do prêmio ou desconto ao investir no estrangeiro, implicando que o câmbio futuro – termo referente quando a liquidação do contrato se dá em dois dias ou mais – entre duas moedas deve se igualar ao diferencial de juros conforme o prêmio ou desconto do país. Como os contratos futuros são instrumentos sujeitos às condições de oferta e demanda do mercado, o prêmio ou desconto podem oscilar da sua condição de equilíbrio e oferecem uma janela de arbitragem nessa ocasião.

No cenário de ruptura da paridade de juros, pode-se aplicar a estratégia de carry trade ilustrada no seguinte exemplo: Suponha que títulos brasileiros tenham maiores rendimentos que os títulos chilenos por conta do desequilíbrio entre o diferencial de juros e taxa de câmbio, isso implica que os chilenos irão se endividar em moeda local (pois eles apresentam taxas de juros menores) e demandarão títulos brasileiros, nessa operação a rentabilidade deles oferecerá margem suficiente para pagar os empréstimos tomados e e ainda obter lucros positivos. Enquanto essa janela estiver aberta, os chilenos continuarão a realizar essa operação e os preços dos títulos brasileiros se elevará ao ponto de reduzir o diferencial de juros ao nível de equilíbrio, exaurindo a oportunidade ao voltar à paridade de juros. Na realidade, essa estratégia é complexa de ser aplicada e requer uma compreensão minuciosa de como calcular o prêmio de risco na curva de juros. Através desses insights, podemos entender como a paridade de juros e a paridade de poder de compra se relacionam.

Considerações sobre a Paridade de Juros e Paridade de Poder de Compra

Descrevemos que a paridade de juros relaciona o preço da moeda com a taxa de câmbio e que a paridade de poder de compra estabelece a relação entre o preço dos bens com a taxa de câmbio, essas condições clássicas de paridade permitem a expansão de teorias entorno dos mercados de bens, monetário e cambial. Uma dessas combinações é a famosa extensão do efeito Fisher: a variação entre taxas de juros no modelo nacional é igual à variação da inflação e, no modelo internacional, a variação entre taxa de juros é igual a variação da expectativa da taxa de câmbio. As relações impostas pelo efeito Fisher permitem as projeções da taxa de câmbio e inflação dada a taxa de juros caso as paridades clássicas sejam válidas.

Cumby e Obstefeld (1982) afirmam que o mercado de bens e de ativos são cruciais para a determinação da taxa de câmbio, sendo necessário um estado de equilíbrio entre os dois mercados para que haja a determinação do terceiro, dado que a paridade do poder de compra determina a relação entre nível de preços e taxa de câmbio e a paridade de juros mantém a taxa de câmbio futura conexa à taxa nominal de juros. O pressuposto da pesquisa assume que se ambas as condições clássicas de paridade são verdadeiras no curto prazo, a política monetária não poderá influenciar a taxa de juros real ex ante, isto é, o rendimento real dos ativos não será abalada por qualquer decisão da autoridade monetária. Entretanto, caso uma das relações de paridade venham a falhar por conta de incertezas ou aversão a riscos, a política monetária terá efeitos sobre a taxa de juros real ex ante e poderá haver um desequilíbrio entre a taxa de juros internacional e a do seu próprio país. A pesquisa traz consigo aplicações reais das teorias de paridade e conclui a necessidade de outros métodos para a formulação de uma taxa de câmbio de equilíbrio que correspondam a macroeconomia atual, mas mantém a validade delas em economias pequenas e abertas. Por mais que as paridades clássicas não se adequem de forma perfeita à realidade e necessitem de outras métricas para estimarem a taxa de câmbio, elas são os pilares para a compreensão do mecanismo básico que rege as leis da oferta e demanda no mercado monetário de qualquer país. Essas teorias são utilizadas principalmente para desvendar os rumos da taxa de câmbio a longo prazo, onde os efeitos de seus mecanismos de transmissão são observáveis, e devem ser complementadas conforme o horizonte temporal de quem deseja estimar o preço relativo das moedas.

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Referências:

Rudiger Dornbusch, 1980. “Exchange Rate Risk and the Macroeconomics of Exchange Rate Determination,” NBER Working Papers 0493, National Bureau of Economic Research, Inc.

Rudiger Dornbusch, 1976. “Expectations and Exchange Rate Dynamics,” The Journal of Political Economy, Volume 84, issue 6(Dec.,1976), 1161-1176.

Callum Henderson, 2012. Currency Strategy: The Practitioner’s Guide to Currency Investing, Hedging and Forecasting, 2º edição. John Wiley & Sons Ltd, The Atrium, Southern Gate, Chichester, West Sussex PO19 8SQ, England.

CUMBY, R. E. OBSTFELD, M. (1982). International Interest-Rate and Price-Level Linkages Under Flexible Exchange Rates: A Review of Recent Evidence, NBER Working Papers, n. 0921, National Bureau of Economic Research.

Cristina Terra, 2014. Finanças Internacionais: Macroeconomia Aberta, 1º edição. Elsevier Editora LTDA.

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Carta de Conjuntura Mensal Outubro 2019

Carta de Conjuntura Mensal Outubro 2019

Comentário Macroeconômico Mundial

No contexto global, a segunda metade do mês de setembro apresentou uma menor tensão entre Estados Unidos e China com relação a guerra comercial, devido à rodada de negociações que estava por vir no dia 11 de outubro, em Washington. Contudo, os resultados desse encontro representam passos pequenos na direção de resolver um conflito de tamanha escala, em linha com nossa expectativa exposta na carta anterior.
Entre as medidas mais importantes anunciadas, a China concordou em comprar de 40 a 50 bilhões de dólares da agricultura americana e o governo estadunidense comprometeu-se em não elevar tarifas de importação de produtos chineses. Além disso, houveram conversas sobre um possível pacto monetário, que, para os EUA, significaria uma menor manipulação do Yuan pelo governo chinês, porém nada de concreto foi estabelecido. Dessa forma, observamos que o mini acordo mantém em vigor todas as tarifas previamente impostas e não se refere aos principais assuntos que deram início a guerra comercial 15 meses atrás, como os subsídios à agricultura e o desrespeito às leis de propriedade intelectual por parte da China. Em razão disso, seguimos com nossa visão de que a guerra comercial deva se estender para 2020 sem qualquer direcionamento para uma resolução definitiva.
Ademais, outros conflitos emergiram na China com a escalada de tensões nos protestos de Hong Kong. As manifestações, que ocorrem desde junho, começaram como parte de um movimento contra a Lei de Extradição e ganharam uma escala muito maior, incluindo pautas como a liberdade e autonomia da ex-colônia britânica. Esse clima de violência afetou de maneira severa a economia, com a redução da expectativa de crescimento local em 2019 de 3% para 1%, além da queda de 23% nas vendas do varejo em agosto contra o mesmo período em 2018. Desse modo, entendemos esse cenário como mais uma fonte de incertezas na economia global, uma vez que Hong Kong é uma grande parceira comercial de Japão e Estados Unidos – economias que já demonstram fraqueza – e é porta de entrada de muitos produtos na China.
Outra fonte de incertezas em setembro foi o ataque de drones às refinarias na Arábia Saudita no dia 14, destruindo 5% da capacidade de produção de petróleo mundial em questão de instantes. Consequentemente, os preços do petróleo dispararam, chegando a subir quase 20% em um único dia e gerando a maior alta desde a Guerra do Golfo de 1991. Contudo, um mês após o incidente, a Saudi Aramco – companhia de petróleo saudita – anunciou que já retornou ao ritmo de produção que apresentava antes da tragédia, de modo que o preço do petróleo Brent já se encontra no mesmo patamar de antes do dia 14. Ainda assim, o ataque expôs uma fragilidade entre os maiores produtores da OPEP e levanta o questionamento sobre a sustentabilidade da rápida recuperação apresentada pela Aramco. Isto posto, esperamos maior risco associado às questões do petróleo no mundo, prejudicando ainda mais a já enfraquecida economia global.
Na Europa, a decisão sobre a nova rodada de quantitative easing pelo BCE sofreu oposição interna. Embora tenha sido aprovada, nove dos 25 membros do conselho votaram contra a medida, mostrando a divergência de opiniões dentro da instituição. Assim sendo, a nova presidente do BCE, Christine Lagarde, que deve assumir o cargo no dia primeiro de novembro, terá que alinhar as ideias do comitê se quiser manter as medidas de Draghi. Nessa linha, entendemos que a manutenção dos estímulos é fundamental para evitar uma desaceleração econômica ainda maior da zona do euro, que continua sofrendo das incertezas relativas ao Brexit e à trade war.
No Reino Unido, a situação do Brexit inseriu ainda mais incertezas no mercado após um desentendimento entre Boris johnson e Angela Merkel, em que a chanceler da Alemanha enfatizou que um acordo seria extremamente improvável. Nossas expectativas são de que um acordo antes do dia 31 de outubro, data limite estabelecida por Boris Johnson para saída do RU da UE, não se realize. No entanto, a lei aprovada pelo parlamento britânico que dá o poder para o primeiro ministro prorrogar por três meses a saída do RU deixa a situação do Brexit sem qualquer direcionamento.
A economia dos EUA, em setembro, mostrou-se enfraquecida, com dados das vendas do varejo abaixo do esperado, caindo 0,3% como resultado das tensões comerciais. Dados como este forneceram mais munição para os membros votantes do federal reserve que estão tomando uma posição mais dovish, frente aos cortes de juros. Os dirigentes do Fed estão, em comparação com meses anteriores, mais divergentes em relação ao seu posicionamento quanto ao grau de estímulo que a entidade deverá influenciar na economia do país, evidenciado pelo voto de corte nas taxas de juros em 50 pb pelo presidente do St Louis Fed, James Bullard. O Federal Reserve também anunciou que expandirá a sua balança com a compra de 60 bilhões de dólares em Treasury Bills, com o objetivo de injetar liquidez nos mercados de curto prazo, fortalecendo uma perspectiva de um corte na taxa de juros na próxima reunião em novembro. Acreditamos que, apesar das divergências dentro do Fed, acontecerá um corte de 25 pb, seguindo o padrão dos cortes antecedentes.

Outro ponto de estresse para o mercado americano é a abertura do processo de impeachment contra Donald Trump. A acusação teve origem em uma conversa com o presidente da Ucrânia em que Trump supostamente pede para que investiguem o filho de Joe Biden, que é o primeiro nas pesquisas dos pré-candidatos entre os democratas. Observamos que a possibilidade de impeachment seja baixa, visto que este é um processo demorado e as eleições para presidente dos EUA estão muito próximas.

Comentário Macroeconômico Brasileiro

No cenário doméstico, continuamos acreditando em um Brasil com uma recuperação gradativa para o médio prazo, porém, ainda lenta para o ano de 2019. Essa perspectiva se deve aos dados divulgados não tão fortes quanto as expectativas do mercado – vide IBC-BR, Pesquisa Mensal de Serviços e Vendas no Varejo – que tem impactado nas projeções para o PIB deste ano.

Fonte: Bacen

Com relação às políticas monetárias conduzidas pelo Bacen, vislumbramos um corte da taxa SELIC no final de outubro de mais 50 bps – resultando em 5,0%. Reiteramos que os dados de inflação estão vindo abaixo do esperado, como exemplo, a deflação de 0,04% em setembro de 2019 – menor taxa para o mês desde 1998 – o que auferiu uma inflação anualizada pouco menor que 3%.
Isto posto, avaliamos maior espaço para uma Selic inferior a 5%, convergindo, em um futuro de curto prazo, para nosso cenário base de 4,5%. Em cenários mais otimistas, eventualmente, a SELIC poderia chegar a 4%, caso a economia e, consequentemente, a inflação continuem com este comportamento.

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Carta de Conjuntura Mensal Agosto 2019

Carta de Conjuntura Mensal Agosto 2019

Conjuntura Internacional
No contexto da Guerra Comercial, o começo de agosto trouxe ainda mais incerteza ao mercado internacional. A escalada de tensões ocorreu em razão do anúncio por parte dos EUA, no dia primeiro, de que seriam impostas tarifas de 10% sobre outros $300 bilhões de produtos chineses, efetivamente taxando todas as mercadorias importadas. Tal movimento agitou o mercado, que esperava que a trégua anunciada por ambas as partes na reunião do G20 em junho contivesse o conflito e o levasse a um possível acordo. Consequentemente, esperamos que a disputa comercial não se resolva em um curto horizonte de tempo, podendo se estender até 2020, ano das eleições americanas.

Nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia foram as mais afetadas pela guerra comercial, devido ao setor de produção de muitas dessas companhias estar fortemente atrelado ao mercado chinês. O segmento liderou as perdas dentro do índice S&P 500 com baixa de 1,25%. Impulsionado pelos resultados negativos do setor, o S&P fechou em queda de 0,46% na última semana.

Um outro lado desse conflito internacional que recebeu destaque no começo deste mês, foi a queda do Yuan chinês para os valores mais baixos desde a crise econômica de 2008. Esse movimento, muito atrelado às tensões do comércio global, fez com que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusasse oficialmente a China de manipulação cambial. O motivo por trás dessa ação é que, mantendo a taxa de câmbio mais baixa, a potência asiática permanece competitiva mesmo com as novas tarifas anunciadas. Assim sendo, entendemos esse episódio como mais um catalisador de estresse na economia mundial.

Acerca da última reunião do Federal Reserve, nos dias 30 e 31 de julho, ocorreu um corte de 25 bps do Fed funds rate, menor que a expectativa média do mercado. Jerome Powell justificou o corte de juros como sendo um ajuste preventivo. Entendemos que as decisões subsequentes do Fed neste segundo semestre estarão atreladas fortemente a evolução da relação comercial entre os EUA e China.

Avaliamos, no entanto, que o Fed não possui muito espaço para cortar juros, com o intuito de “guardar munição” para uma situação econômica mais crítica, considerando principalmente o aumento da probabilidade de uma recessão. Além disso, a imprevisibilidade da trade war está trazendo incertezas para os mercados globais, aumentando a aversão ao risco do mercado. Com este cenário, houve uma fuga de capital para ativos notoriamente seguros, diminuindo, então, os juros em Treasury de 10 anos para 1,7% a.a, e os juros dos Bunds (títulos alemães) de 10 anos para -0.567% a.a. Isso elevou também o fluxo de capital para ativos com juros negativos, que atingiram o seu maior volume na história.

Identificamos também a possibilidade dos EUA desvalorizarem a sua moeda artificialmente, após falas do presidente Donald Trump sobre os benefícios que tal ação traria para o país. No entanto, para o curto prazo, pensamos que essa política parece improvável, visto que as reservas dos EUA necessárias não são significativas. Seria preciso uma mobilização política considerável para o governo conseguir apoio para movimentar um montante financeiro grande o suficiente que pudesse desvalorizar o dólar.

Na Europa, com a eleição de Boris Johnson, as discussões a respeito da saída do Reino Unido da União Europeia se intensificaram. O primeiro-ministro britânico adotou uma postura mais dura em relação ao Brexit, definindo uma data limite para o fim da relação. Não há um consenso entre os analistas do mercado sobre os impactos efetivos na economia do Reino Unido. Entretanto, no dia primeiro de agosto, o presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Mark Carney, disse esperar uma separação “amigável” e, caso ocorra, os juros de mercado e a libra tenderiam a subir.

Comentário Macroeconômico Brasileiro

Durante o mês de julho e início de agosto, a tramitação da reforma da previdência no congresso superou nossas expectativas. Após aprovação do texto na câmara em segundo turno, a proposta seguiu para o Senado Federal com uma economia projetada para os próximos 10 anos de R$ 933 bilhões. Dentro do Senado, a reforma passará pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa e posteriormente será votada em dois turnos em plenário. Acreditamos que o texto não sofrerá grandes desidratações e que a emenda constitucional deva ser promulgada pelo Congresso Nacional entre o fim de setembro e início de outubro.

A redução do risco de insolvência fiscal do país e o alívio no endividamento governamental devem repercutir positivamente na economia brasileira e na percepção do risco soberano. Não obstante, entendemos que a reforma do sistema previdenciário é o primeiro passo, porém, não é suficiente para maior estabilidade econômica no longo prazo. No sentido de reformas estruturais, a MP nº 881 (apelidada de MP da Liberdade Econômica) e a reforma tributária visando a simplificação de impostos, pautadas pelo governo atual, devem contribuir para um ambiente favorável ao crescimento econômico.

Como ação de recuperação da atividade no curto prazo, ao final do mês de julho, o governo anunciou novas modalidades para saque do FGTS através da MP nº 889. Acreditamos que a medida será positiva para estimular o lado da demanda, com liberação de aproximadamente R$ 30 bilhões em 2019 e R$ 12 bilhões em 2020. Através da nova regra, dada a alta propensão marginal a consumir do brasileiro, acreditamos que o consumo terá um novo catalisador no segundo semestre de 2019.

Adicionalmente, ao final do mesmo mês, o Comitê de Política Monetária decidiu cortar a meta da taxa Selic em 50 basis-points, de 6,50% a.a. para 6,00% a.a.. Acreditamos que acontecerão mais dois cortes de 50 bps até o fim do ano, alterando a taxa de juros básica para 5,00% a.a. Haja vista o histórico de ciclos de corte de juros no país, como a partir de outubro de 2016, e a atividade ainda anêmica da economia brasileira, não descartamos o cenário da Selic abaixo de 5% a.a., dependendo da inflação observada no próximo semestre.

A partir do observado, no nosso entendimento a retomada significativa da economia ainda está por vir e vislumbramos alguns sinais de que alterações estão sendo feitas para destravar o crescimento. Nos últimos meses, principalmente em junho e julho, os índices de confiança do consumidor da construção e do varejo – elaborados pela FGV – mostraram sinais otimistas em relação ao crescimento. Posto isso, com o avanço dos importantes catalisadores citados, como retomada na confiança de consumidores e empresários e fechamento do grau de ociosidade da economia brasileira, esperamos uma mudança positiva no preço dos ativos brasileiros nos próximos meses.

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Carta de Conjuntura Mensal Julho 2019

Carta de Conjuntura Mensal Julho 2019

Conjuntura Internacional

Nas últimas semanas, a incerteza prevaleceu no cenário internacional. Vimos os EUA ameaçando imposição de novas tarifas ao Irã, devido às declarações de que este não mais respeitaria o acordo nuclear de 2015. A reunião do G-20 no Japão deveria ter marcado o reinício das negociações pelo fim do conflito comercial sino-americano, no entanto, Trump decretou novas taxações ao aço estrutural importado do México e da China, nos levando a acreditar que o conflito não cessará tão cedo, ainda que exista a possibilidade de reinício das negociações nas próximas semanas.

Na recente fala de Jerome Powell, presidente do FED (Banco central dos EUA), para o senado americano no dia 10 de julho, foi reforçada a postura de incerteza em relação aos próximos passos da economia americana. Muitos analistas já dão como certo um corte na taxa básica de juros ainda no mês de julho, o que levou a uma queda no rendimento do título do tesouro americano de 2 anos após o discurso de Powell (o rendimento e o preço do título são inversamente proporcionais na metodologia de cálculo, o que denota um aumento na procura do título).

Um mercado de trabalho que ainda segue estável (tendo adicionado 224 mil postos de trabalho no mês de junho), somado ao aumento de esperança no corte de juros, levou o S&P a bater 3 mil pontos, algo inédito até então. Entretanto, esperamos que o ponto de inflexão do ciclo de crescimento americano esteja se aproximando.

Na semana do dia 15 de julho começará a temporada de divulgação dos balanços das empresas do S&P em relação ao 2T19, onde esperamos ver os primeiros impactos da guerra comercial. Acreditamos que alguns setores, como o financeiro e o de energia, têm boas chances de apresentarem resultados já afetados pelas tarifas impostas por Trump. Além disso, cerca de 40% das receitas totais das empresas americanas listadas no S&P derivam de suas filiais internacionais, que são afetadas pela diminuição da atividade econômica global, aumentando os riscos externos.

Na Europa, a desconfiança é gerada pela escolha do novo premier do Reino Unido, que acontecerá até 22 de julho. Os dois possíveis candidatos defendem energicamente o Brexit, até mesmo sem acordo comercial. Além disso, os dados econômicos europeus mostram o segundo mês consecutivo de corte de postos de trabalho, a quinta redução seguida do índice de produção industrial e correções negativas nas projeções de crescimento e inflação para os próximos anos.

Na China o segundo trimestre de 2019 apresentou ritmo de crescimento mais lento dentre quase 30 anos. As estimativas apontam para uma taxa de crescimento acumulada em 12 meses de 6,2%, frente a 6,4% no período de janeiro a março. Desaceleração, esta, que foi puxada pela queda nas exportações e queda maior do que a esperada nas importações, justificadas pelo contexto de conflito comercial.

Finalmente, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE tem grande potencial de incentivar ganhos de produtividade na economia sul americana. No entanto, não esperamos que esse acordo seja ratificado antes do final de 2020, devido aos numerosos trâmites necessários para sua aprovação.

Conjuntura Nacional

No cenário doméstico, as perspectivas para o crescimento em 2019 continuam desanimadoras. No primeiro trimestre, o PIB apresentou queda de 0,2%, abaixo do esperado, assim como a queda de 0,5% do IBC-Br em abril. Tal desempenho levou o Banco Central a rever duas vezes sua projeção de crescimento para esse ano, de 2,4% para 2,0% em março e para 0,8% em junho. Dados mais recentes mostram desemprego estável em 12,3% e utilização da capacidade instalada em 67%, o que explicita o hiato do produto ainda acentuado.

Após uma das piores recessões, onde o PIB encolheu 3,8% e 3,5% em 2015 e 2016 respectivamente, o crescimento em 2017 e 2018 frustrou as expectativas e foi de apenas cerca de 1% em ambos os anos. Em 2018, incertezas perante as eleições, a crise argentina e a greve dos caminhoneiros contribuíram para um menor crescimento. Hoje, avaliamos que tais episódios já não influenciam nosso produto.

A lenta retomada do crescimento pode ser explicada pelas incertezas quanto à consolidação de reformas com alto impacto fiscal, visto que a última crise foi decorrente do descompasso entre gastos e receitas do governo. Ainda, vemos a economia brasileira no meio de um fiscal drag, conceito que representa o efeito refreador da contração de gastos públicos sobre o crescimento economia. Desde que atingimos o ápice do déficit em 2016, estamos presenciando um esforço extra, do atual e antigo governo, na mudança da trajetória fiscal. O fato é que o fiscal drag está mais intenso do que o esperado e, considerando o PIB pela ótica da demanda, a menor participação dos gastos do governo não está sendo compensada pelo crescimento dos investimentos privados.

A reforma da previdência é o carro-chefe da equipe econômica do governo. Após vagarosa tramitação, o texto base foi aprovado em primeiro turno no plenário com votação acima do esperado, o que gerou otimismo para os próximos passos. Mesmo não sendo igual a proposta original, a economia projetada de aproximadamente R$900 bilhões é bem vista. A PEC deve continuar sua trajetória em 06/08, após o recesso parlamentar e esperamos que seja aprovada no terceiro trimestre, próximo da reunião do Copom em setembro.

A inflação segue apresentando níveis tímidos, com 0,01% medido pelo IPCA de junho. Vemos isso como reflexo da lenta recuperação e alto desemprego. Em sua última ata, o Copom reconhece que houve uma interrupção do processo de recuperação da economia. O balanço de riscos sobre a inflação evoluiu favoravelmente, entretanto, o BCB continua atento à possibilidade de frustração com o avanço de reformas e ajustes, sendo esse o maior risco. O comitê pondera que o atual cenário de inflação baixa e estável, com expectativas ancoradas, somado ao lento crescimento do produto prescreve queda na taxa de juros a um ponto estimulativo. A abordagem usada foi a mais aberta até então, mas o corte está condicionado ao progresso das reformas.

As reformas e medidas do governo com viés contracionista não potencializam retomada de crescimento logo no curto prazo, porém, esperamos que elas contribuam para uma diminuição do risco de investimentos no Brasil e abram espaço para maior confiança dos empresários no médio e longo prazo, liberando investimentos contidos pelas incertezas quanto a agenda reformista. Estímulos adicionais foram sinalizados, como privatizações e liberação de saques do PIS/PASEP e FGTS equivalente a 1% do PIB para impulsionar a demanda no curto prazo.

Com a retomada de investimentos, aumento de contratações facilitadas pela alta oferta de mão de obra e maior liquidez na economia, projetamos uma retomada robusta de crescimento a partir de 2020.

Reflexo disso está na bolsa brasileira, que performou muito bem no primeiro semestre de 2019 e fechou junho com cerca de 10% de valorização no ano, batendo recordes históricos do Ibovespa. O que contribuiu, certamente, não foram os indicadores econômicos. Os vetores positivos foram: a) a forte sinalização do FED em iniciar um novo ciclo de afrouxamento monetário, atraindo o capital para ativos de risco e beneficiando os mercados emergentes; b) compromisso com a agenda de reformas, traduzindo para um menor risco país; c) sinalização de corte na Selic.

Posted by Bernardo Ramos in Conjuntura Macro / Renda Fixa, 0 comments